Ele colocou a mão na cadeira e me encarou. Os olhos âmbar, quase dourados, pareciam ouro puro.
"Eu vou soltá-la, mas você vai ser boazinha e me ouvir, tudo bem?"
"Tudo bem," respondi, mas não pretendia ser boazinha coisa nenhuma! Ele começou a me soltar e eu olhei para a porta, mas ele segurou meus braços. Sem muita força, mas o suficiente para que eu não pudesse escapar.
"Tem uma festa acontecendo, nesse momento. Preciso que seja o meu par. É um favor. Mais um. Sei que estou lhe devendo,"
"Pelo menos tem essa consciência, não é mesmo?" Suspirei. "Eu não vou correr. Pode me soltar."
Ele o fez, mas não saiu de perto.
"E por que quer que eu seja o seu par nessa festa?", perguntei, esfregando meus pulsos. "Deve ser muito importante, para chamar uma completa estranha... Não, chamar não. Para sequestrar uma estranha!"
Ele ficou mais ereto e colocou as mãos nos bolsos, sem tirar os olhos de mim.
"Sim, é importante. Eu fui atacado e quase morto. Se não fosse por você. Quero que fique perto de mim, porque é a melhor forma que eu tenho de proteger você."
"Me proteger? Ficar perto de você é perigoso, então, eu deveria ficar o mais longe possível!"
Me levanto e olho em volta, sem qualquer sinal da minha bolsa, onde meu celular deve estar.
"Olha, com todo o respeito, eu não quero me envolver em seja lá o que for que você está metido. Boa sorte pra você e com licença. Ah... onde estão as minhas roupas? Bom, eu vou com esse vestido e você pode passar pra buscar amanhã. Eu vou deixar na portaria."
Tentei passar por ele, mas o homem se colocou na minha frente. Fui para o lado e ele seguiu. Olhei no rosto dele e era óbvio que ele estava achando aquilo divertido. Apertei meus lábios em uma linha fina.
"Eu pago."
"Perdão, o quê?"
"Eu pago. Não estou lhe chamando de acompanhante de luxo, antes que se sinta ofendida. Mas vou pagar pelo seu tempo e dedicação,"
"Dedicação?", fechei meus olhos e inspirei fundo.
"Sim, porque eu preciso que finja ter um relacionamento amoroso comigo."
Abri os olhos, e ele me olhava com a maior cara cínica. Não era possível que aquele homem precisasse daquele tipo de truque pra ficar com uma mulher!
"Eu vou embora."
"Espera!", ele ficou na frente da porta. "Falo sério. Eu pago."
"Não vou fingir ser sua namorada!", o atrevimento dele! E, com a maior cara-de-pau, ele respondeu:
"Eu não falei sobre ser namorada."
Cruzei os braços na frente do peito.
"E sobre o que estamos falando, então?"
"Eu quero que finja ser a minha noiva."
Nos encaramos em silêncio, pelo que pareceu uma eternidade. Então, eu soltei uma gargalhada.
"Que piada! Essa é a sua profissão? Você é... Ha, ha! Você é comediante? Levou um tiro por fazer... piada com a pessoa errada?" E continuei a rir, até ver o sorriso dele morrendo.
No segundo seguinte, eu estava imprensada contra a parede, ele bem na minha frente, os braços na parede, nas laterais da minha cabeça.
"Acha que eu sou um piadista, senhorita Walton?", ele perguntou com uma voz rouca e baixa. Aquela proximidade deu um nó no meu cérebro, porque o perfume dele invadiu as minhas narinas, eu podia sentir o calor do corpo dele, de tão próximo que estava. Os lábios dele quase encostavam na minha orelha. "Eu posso fazê-la rir, com certeza. Você só precisa ser boazinha,"
Eu nem sabia o que fazer: se fechava os olhos e me deixava levar pelas sensações, ou agia racionalmente, dando um chute nas partes daquele homem e correndo dali. Meu cérebro me dizia para escolher a segunda opção, porém, meu corpo não queria obedecer.
"Você e eu vamos descer e cumprimentar os convidados. Você vai sorrir e fingir que me ama. Como se eu fosse o único ser do seu universo inteiro. Depois, vamos nos retirar e, se você quiser continuar ao meu lado essa noite, podemos subir para o meu quarto. Se não, peço que te levem pra casa. De um jeito ou de outro, você será recompensada. E protegida. Você e os seus."
"Por 'os seus' ele se referia a... Droga!
Mas que falta de sorte do caralho! Aquele desgraçado, se não era da máfia, tava metido em alguma merda das grandes e eu, claro, tinha que me meter em uma enrascada simplesmente por ajudar alguém!
Engoli em seco. Se eu dissesse não, talvez eu nem mesmo saísse dali viva. E o pior, dependendo do grau de doidice daquele homem, ele poderia realmente ir atrás da minha família. De Spencer!
'Ele te drogou e te sequestrou. Acha mesmo que ele não machucaria outras pessoas?', a voz da razão perguntou lá dentro do meu cérebro e eu acabei soltando um ar de frustração.
"Além disso, tem aquele abrigo... ele está pra fechar as portas, não é mesmo?", o sorriso nos lábios dele, mesmo que ainda o deixassem bonito, era assustador! "Você me ajuda e eu ajudo você. No que você precisar. Mas, se recusar a minha oferta, eu juro que vou dificultar a sua vida e a de quem quer te tenha tido contato com você."
Desgraçado!
"Muito bem," eu falei, inspirei fundo e levantei o queixo. "Mas nem pense que vai tirar proveito de mim."
Ele sorriu de lado enquanto os olhos dele baixaram para a minha boca.