Assim que a porta se abriu, eu ouvi o burburinho de pessoas e imediatamente senti meu peito sendo esmagado. Eu odiava locais cheios, ainda mais eventos sociais. Cheios de estranhos. E o pior: quando eu estava sendo obrigada a participar.
"O que eu tenho que falar?", sussurrei para Cesare, que mantinha um sorriso nos lábios.
"Não fale muito. Deixe que eu lido com as pessoas," ele disse e cumprimentou um homem de meia idade, que acenou com a cabeça para mim. Eu devolvi a gentileza. Continuamos andando. "Se perguntarem como nos conhecemos, eu responderei,"
"E se eu estiver sozinha?" Era uma possibilidade, não é?
"Apenas faça o seu papel!"
Que homem grosso! Eu estava tentando ajudá-lo a mentir, ingrato de uma figa!
"Cesare!", um homem de cabelos negros, com os olhos âmbar como os de Cesare, se aproximou de nós, olhando dele para mim. "Não vai me apresentar?"
"Não olhe demais, irmão, essa aqui é a minha noiva,"
Os olhos do outro homem se arregalaram e ele me olhou de cima a baixo, agora, com a boca aberta e um meio sorriso nos lábios.
"Mamma mia! Não acredito! Meu irmão finalmente vai casar?"
Aquilo explicava a semelhança entre eles. Irmãos. Bom, eu só podia dizer isso: a genética deles era muito boa! Ambos eram altos, fortes, com traços que eu consideraria perfeitos e uma aura dominadora.
"Já estava em tempo, não é mesmo?" Cesare perguntou e o outro homem assentiu.
"Definitivamente. Já está quase beirando os quarenta, irmão. Não é jovem como eu!"
Quarenta? Com quase quarenta anos? Olhei Cesare da cabeça aos pés. Aquele homem... ele não parecia ter mais do que trinta anos!
"Não são quarenta anos, são trinta e seis!", Cesare respondeu comum entortar de boca. "E mesmo que você seja novo, irmão, não é páreo para mim."
O irmão dele soltou um suspiro.
"Não posso discutir contra isso," ele disse e voltou a me olhar, dessa vez, oferecendo a mão de maneira cavalheiresca. não pude deixar de notar que ele tinha tatuagens que subiam pelo pulso e, bem no dorso da mão, uma cobra enrolada em chamas. Eu tinha visto a mesma tatuagem em Cesare. Curioso. "Eu sou Magno Varricchio. Creio que já saiba disso, uma vez que será a minha cunhada."
Eu olhei para Cesare e ele acenou levemente com a cabeça, positivamente. Eu coloquei a minha mão na de Magno e ele beijou o dorso.
"Bellissima!" Magno sorriu ainda mais e olhou para trás, antes de encarar o irmão. "Nosso pai vai ficar muito satisfeito, irmão."
Cesare nada disse e eu percebi que ele ficou mais tenso.
Magno então se afastou e Cesare continuou me levando pelo salão, porém, o rosto dele estava mais rígido. Será que o pai dele tinha algo a ver com aquilo?
Não precisei pensar muito a respeito, até que um homem mais velho se aproximou de nós. Ele definitivamente era da família, porque os olhos e o físico, apesar dele já ser um homem de seus, pelo menos, cinquenta anos.
"Chi è la bella ragazza? (Who is the beautiful girl?)
Cesare beijou a mão do pai, que, percebi, tinha a mesma tatuagem. Algo dentro de mim se agitou, como se aquele fosse o sinal de que algo muito perigoso, mais do que eu pudesse imaginar, estivesse se enroscando no meu pescoço.
"Buonasera, padre (Good evening, father). Esta é Melanie Walton," eu sorri educadamente e o homem acenou com a cabeça para mim, sem um pingo de entusiasmo. "Minha noiva."
Vi o sorriso morrendo nos lábios do pai de Cesare. Ele olhou para mim, para Cesare e a expressão dele ficou ainda mais tensa.
"Noiva?" o homem perguntou e eu vi como o olhar dele para o filho endureceu ainda mais.
"Sim, pai. Você estava certo, eu deveria me estabelecer na vida, e... me casar. Começar a ter os herdeiros da nossa família. E eu levei isso muito a sério!" Cesare disse com um tom de diversão, como se tentasse melhorar o clima. Não funcionou, devo acrescentar.
"Levou... Você está com um bambino à caminho?" Ele olhou para o meu tronco e eu precisei me segurar a fim de não me cobrir com os braços.
"Sim," O quê? Eu não estava grávida! O que... o que aquele homem pensava que estava fazendo? E ele respondeu tão naturalmente que até mesmo eu quase duvidei de mim mesma! "Mel e eu estamos esperando a primeira criança da nova geração dos Varricchio."
Por mais que a conversa não estivesse em um megafone, parecia que todos tinham parado para ouvir. Ou seria a minha impressão? Porque eu juro, tudo ficou silencioso depois daquilo.
Exceto por um suspiro de surpresa. Eu me virei e vi uma mulher de cabelos loiros e olhos muito verdes olhando para nós, a mão cobrindo a boca. Os olhos dela estavam enchendo de água e ela encarava Cesare.
"Vamos ao escritório," o pai de Cesare disse.
Olhei de um para o outro e Magno rapidamente apareceu ao meu lado, seguido de uma mulher de cabelos escuros e olhos como o mar. Cesare soltou o braço dele do meu, olhou para o irmão e, então, se afastou de mim.
--- --- ---
CESARE
As coisas não estavam levando o rumo que eu queria. A ideia era que o meu pai ficasse feliz, me passasse o poder do grupo empresarial de uma vez, antes que eu pudesse subir como Don. E isso seria questão de tempo.
Meu pai definitivamente estava de mau humor e eu teria que suportar o que ele tinha pra mim. Eu não desistiria do que era meu por direito de nascença, e pelo qual eu trabalhei duro a vida inteira!
Assim que a porta do escritório se fechou atrás de mim, um tapa estalou no meu rosto.