Alice parou. Thompson e Hayes eram seus VPs seniores, ambos na casa dos cinquenta. Mas Rodrigues?
"Quem é Rodrigues?", ela perguntou, um pequeno nó de desconforto se apertando em seu estômago. Nos dois anos em que estiveram juntos, Guilherme nunca teve uma mulher em seu círculo profissional próximo. Ele dizia que era "mais limpo" assim.
Guilherme finalmente levantou o olhar, uma luz estranha em seus olhos. "Kátia Rodrigues. A nova estagiária. Ela é... perspicaz. Diferente."
O nó em seu estômago se apertou. "Você vai levá-la para Angra? Só com você e dois sócios seniores?"
Ele deu de ombros, desdenhoso. "É trabalho, Alice. Não seja dramática. Você sabe como este mundo funciona. Conexões são tudo para uma garota como ela." Ele então sorriu, aquele sorriso charmoso e desarmante que costumava derretê-la. "Além disso, é para você que eu volto para casa. Você será a futura Sra. Rizzo. Isso é tudo que importa."
Ela queria acreditar nele. Ela se agarrou a essa promessa, a esse futuro que ele pintava tão lindamente. Então ela engoliu sua dor e não disse nada. Disse a si mesma que era apenas um interesse passageiro. Um jogo de homem rico.
Mas não era.
A estagiária "perspicaz" tornou-se uma presença permanente. No início, eram pequenas coisas. Guilherme mencionava a ideia inteligente de Kátia em uma reunião, ou ria de uma piada que Kátia contou. Então, Kátia começou a aparecer em jantares, em eventos, sempre ao lado de Guilherme, seus olhos cheios de adoração por ele e um triunfo mal disfarçado quando olhava para Alice.
Os sussurros começaram. Alice se tornou "a antiga", a substituta. Kátia era a nova e excitante favorita.
Uma noite, Alice os encontrou na biblioteca. Kátia estava empoleirada no braço da cadeira de Guilherme, a mão apoiada em seu ombro. Eles riam intimamente. Alice se sentiu uma intrusa em sua própria casa.
"Guilherme", ela disse mais tarde naquela noite, sua voz tremendo. "Você prometeu. Você prometeu que era só eu."
"E é", disse ele, sem encontrar seus olhos.
"Então a demita", Alice implorou. "Mande-a embora. Transfira-a. Eu encontrarei outro emprego para ela, um melhor, eu juro. Apenas a afaste de nós."
O rosto de Guilherme endureceu. Seus olhos, antes cheios de paixão por ela, tornaram-se lascas de gelo frias e duras. "Não se atreva a me dizer o que fazer, Alice. E não se atreva a ameaçar a carreira da Kátia. Qualquer um que falar mal dela descobrirá como é não ter nada."
Ele se inclinou para mais perto, sua voz caindo para um sussurro aterrorizante. "E se você insistir nisso, vou me certificar de que Davi acabe em uma instituição pública tão imunda que você não deixaria um rato viver lá. Você me entendeu?"
A ameaça pairou no ar, sufocando-a. Ele estava amarrando o destino de Davi ao seu silêncio.
A partir daquele dia, a crueldade começou. Foi lenta no início, depois escalou com um ímpeto aterrorizante. Estava sempre ligada a Kátia. Se Kátia reclamava que Alice era fria com ela, a música calmante favorita de Davi era substituída por um ruído estridente por uma hora. Se Kátia queria uma nova bolsa de grife que Alice tinha, Guilherme fazia Alice entregá-la a ela, e então assistia enquanto Kátia "acidentalmente" derramava vinho nela.
Tornou-se um jogo doentio e perverso. Guilherme usava os desejos de Kátia para atormentar Alice, e Kátia, deleitando-se em seu poder, tornava-se cada vez mais exigente em suas queixas.
O incidente com a sala sensorial foi apenas a última e mais brutal virada.
Depois que Guilherme saiu, Alice correu para o monitor, suas mãos tremendo. Davi ainda estava encolhido, mas sua respiração estava se acalmando.
Ela tinha que tirá-lo de lá. Tinha que tirar os dois de lá.
No dia seguinte, enquanto Guilherme estava em uma reunião, ela levou Davi ao hospital para um check-up. O rosto do médico estava sombrio.
"O estresse está agravando a condição dele, Sra. Medeiros", disse o médico gentilmente. "O coração dele está mostrando sinais de esforço. A sobrecarga sensorial que você descreveu... é extremamente perigosa para ele. Ele precisa de um ambiente estável e calmo. Existem clínicas especializadas no exterior, na Suíça, que mostraram resultados incríveis com casos como o dele."
Suíça. Parecia tão longe quanto a lua. Como ela poderia escapar do alcance de Guilherme? Ele tinha olhos e ouvidos em todos os lugares. Ele uma vez a rastreou em uma cafeteria a quarteirões da cobertura só porque ela havia esquecido o celular. Seu controle era absoluto.
Derrotada, ela caminhou pelo corredor do hospital. E então ela os viu.
Guilherme estava do lado de fora de um quarto particular e, aninhada em seus braços, chorando dramaticamente, estava Kátia.