"Eu vi você!", ele rugiu, apontando um dedo acusador para ela. "Você a empurrou! Você estava bem ali, sua mão estava estendida!"
"Eu estava tentando segurá-la", disse Alice calmamente. Ela gesticulou para o canto da varanda. "Há uma câmera de segurança bem ali. Verifique a filmagem."
A mandíbula de Guilherme se apertou. Ele latiu uma ordem para um de seus seguranças, que imediatamente correu em direção à sala de segurança.
"Se essa filmagem mostrar o que eu acho que mostra", Guilherme rosnou para Alice, "eu vou te destruir."
"Oh, Guilherme, não", Kátia choramingou, agarrando seu braço. "A culpa foi minha. Devo ter escorregado. Por favor, não fique bravo com a Alice." Sua atuação foi impecável. Ela parecia uma vítima aterrorizada e inocente.
Mas Guilherme não estava ouvindo. Ele estava consumido por uma raiva justa, convencido da culpa de Alice. "Eu não vou deixar ninguém te machucar, Kátia", ele declarou, sua voz ressoando com autoridade. "Nem ela, nem ninguém."
Ele olhou para Alice, seus olhos prometendo retribuição. "Você vai pedir desculpas a ela. Agora mesmo."
"Eu não tenho nada pelo que me desculpar", disse Alice, com o queixo erguido.
"Não me teste, Alice", ele avisou. "Peça desculpas."
"Você é tão cego assim?", ela retrucou, sua própria raiva finalmente subindo. "Não consegue ver que ela está te manipulando?"
O rosto de Guilherme escureceu. Ele pegou o celular e fez uma ligação. Um segundo depois, o telefone de Alice tocou. Era da clínica particular onde Davi estava hospedado.
Seu coração parou.
"Alô?", ela atendeu, sua mão tremendo.
Era uma das enfermeiras. "Sra. Medeiros, há uma emergência. O monitor cardíaco de Davi está disparando. Ele está em sofrimento. Não sabemos o que está acontecendo!"
Pelo telefone, ela podia ouvir. O mesmo ruído agudo e estridente da noite anterior. E por baixo, os gritos aterrorizados de Davi.
Ela olhou para Guilherme. Ele segurava seu próprio telefone, um sorriso cruel no rosto. Ele havia manipulado o sistema. Ele podia torturar Davi de qualquer lugar.
"Por favor... para", ela sussurrou, seu corpo tremendo incontrolavelmente.
"Peça desculpas", ele repetiu, sua voz como pedra.
Os sons do telefone estavam piorando. Os gritos de Davi estavam mais fracos agora, mais como gemidos de dor. Ela sentiu uma onda de náusea e tontura.
Ela fechou os olhos, uma única lágrima traçando um caminho por sua bochecha fria. O som de seu próprio orgulho se quebrando foi ensurdecedor.
"Sinto muito", disse ela, sua voz um sussurro engasgado. Ela olhou para Kátia, que a observava com uma expressão presunçosa e triunfante. "Sinto muito, Kátia."
Kátia não disse nada, apenas a olhou com desdém.
Os gemidos de Davi desapareceram do telefone. As pernas de Alice cederam, e ela caiu de joelhos na pedra fria. Ela estava derrotada. Quebrada.
"Por favor", ela implorou, olhando para Guilherme. "Por favor, apenas deixe-o ficar bem."
A expressão de Guilherme suavizou por uma fração de segundo. Um flash do homem que ele costumava ser. Ele deu um passo em direção a ela, sua mão estendida como se para ajudá-la a se levantar.
Mas Kátia chegou primeiro, agarrando seu braço. "Guilherme, querido, eu a perdoo", disse ela, sua voz doce como veneno. "Podemos ir agora? Estou com frio."
O momento de humanidade de Guilherme desapareceu. Ele olhou para Alice, seu rosto mais uma vez uma máscara de indiferença.
"Você causou isso a si mesma, Alice", disse ele. "Se você não fosse tão teimosa, nada disso teria acontecido."
Ela o encarou, sem palavras. Ele a estava culpando. Depois de tudo o que ele tinha feito, ele a estava culpando. O homem que ela amara estava verdadeiramente morto, substituído por este monstro frio e cruel.
Enquanto ela lutava para se levantar, Kátia soltou outro pequeno suspiro de aflição.