"Deve ter caído quando eu caí na piscina", disse Kátia, olhando significativamente para Alice. "Por favor, Guilherme, temos que encontrá-lo."
Guilherme suspirou, sua paciência se esgotando. Ele se virou para um dos funcionários do clube. "Esvaziem a piscina. Encontrem o medalhão."
"Senhor, isso levará horas", disse o funcionário.
O olhar de Guilherme caiu sobre Alice. Um sorriso lento e cruel se espalhou por seu rosto. "Há um jeito mais rápido."
Ele olhou para Alice, seus olhos brilhando. "Você. Entre na piscina e encontre."
Um murmúrio percorreu a multidão restante. Era final de outubro. O ar da noite estava frio, e a água da piscina não aquecida estaria gelada. Alice já estava pálida e fraca, seu suéter simples oferecendo pouca proteção.
"Encontre o medalhão", disse Guilherme, sua voz não deixando espaço para discussão, "e ficaremos quites por hoje. Não vou mais punir o Davi."
A ameaça era clara. A segurança de seu irmão em troca de sua humilhação.
Alice olhou para ele, seus olhos vazios. Ela sabia o que aconteceria se recusasse. Sabia os sons que ouviria pelo telefone.
"Não estou me sentindo bem", ela tentou uma última vez, sua voz mal um sussurro.
Guilherme se aproximou. "Kátia está com frio e molhada por sua causa. Você é quem está vestida para um mergulho. É justo."
Kátia fez um show de protesto. "Oh, Guilherme, não, você não pode pedir isso a ela. Ela vai ficar doente."
"Ela é mais forte do que parece", disse Guilherme, seus olhos nunca deixando os de Alice.
Kátia sorriu, um flash de pura vitória.
Alice fechou os olhos. Ela respirou fundo e, quando os abriu novamente, não havia mais nada dentro. Sem medo, sem raiva, sem amor. Apenas um vasto e frio vazio.
Ela caminhou até a beira da piscina e, sem um momento de hesitação, entrou na água.
O frio foi um choque, um ataque físico brutal. Roubou-lhe o fôlego e fez seus músculos se contraírem. Mas ela perseverou. Submergiu a cabeça, seus olhos ardendo com o cloro, e começou a procurar no fundo da piscina por um medalhão que ela sabia que não estava lá.
Ela subiu para respirar, ofegante, seu corpo tremendo incontrolavelmente. Viu Guilherme parado na beira, observando-a, com os braços cruzados sobre o peito. Alguns dos espectadores sussurravam, seus rostos uma mistura de pena e curiosidade mórbida.
"Talvez esteja perto do filtro", sugeriu uma mulher, sua voz cheia de simpatia.
Guilherme não se moveu. Apenas a observou sofrer.
Depois do que pareceu uma eternidade, ele finalmente pareceu se cansar do jogo. Ele jogou uma toalha aos pés dela.
"Saia", disse ele, sua voz plana. "Provavelmente não está aí de qualquer maneira."
Ele se virou e se afastou sem olhar para trás, Kátia agarrada ao seu braço como um troféu.
A multidão se dispersou, deixando Alice sozinha na água gelada, tremendo e quebrada. Ela olhou para suas mãos, azuis e dormentes de frio, e soube que este era o fim. Ele não apenas quebrara seu espírito. Ele matara cada último resquício de amor que ela tinha por ele.