Uma noite, ela estava no quarto de Arthur, esperando que ele saísse do banho. O notebook dele estava aberto na escrivaninha. Uma notificação de chat apareceu na tela. Era de um de seus colegas de banda.
"E aí, cara. Ainda tá nessa de enrolar a protegida? Não cansa de fingir, não?"
Lara congelou. Seu sangue gelou.
Com as mãos trêmulas, ela rolou o histórico da conversa.
"Não é tão ruim", Arthur havia escrito algumas semanas antes. "Ela é fácil de manipular. Algumas palavras doces, uma música triste, e ela se derrete. Qualquer coisa pra manter ela longe do Dante e da Beatriz. Não posso deixar que ela estrague isso para a Beatriz."
Outra mensagem: "A Beatriz parecia tão feliz hoje. Contanto que ela esteja feliz, eu aguento a Lara por mais um tempo. Não é como se eu estivesse realmente tocando nela. Só o suficiente para mantê-la na minha."
As palavras se embaralharam. Cada toque terno, cada "eu te amo" sussurrado, cada momento compartilhado - tudo era uma mentira. Uma performance cuidadosamente construída. Ele não a estava protegendo. Ele estava protegendo Beatriz. A mulher com quem seu irmão estava noivo. A mulher por quem Arthur era secreta e obsessivamente apaixonado.
Ele usou sua dor, sua vulnerabilidade, seu amor. Ele a fez de peão em seu próprio jogo doentio de amor não correspondido.
Uma onda de náusea a atingiu. Ela cambaleou para longe do notebook, um soluço sufocado escapando de seus lábios. Ela havia sido traída. Não uma, mas duas vezes. Por dois irmãos.
A porta do quarto se abriu. Arthur estava lá, uma toalha na cintura, um sorriso no rosto. O sorriso desapareceu quando ele viu a expressão dela.
"Lara? O que foi?"
Ele viu o notebook aberto, a janela de chat, e seu rosto ficou pálido. Ele sabia que tinha sido pego.
O beijo foi desesperado, com gosto de pasta de dente de menta e o cheiro fraco e amargo de álcool em sua respiração. Era um cheiro que Lara não havia notado antes. Ele estava bebendo.
Sua mente, aguçada pela clareza fresca e brutal de sua traição, reagiu instantaneamente. Aquilo não era um beijo de paixão ou amor. Era um ato de posse, uma tentativa frenética de reafirmar o controle.
Suas mãos se ergueram e empurraram o peito dele. Com força.
"Me solta."
Arthur cambaleou para trás, genuinamente surpreso. Ele estava acostumado com ela sendo dócil, ansiosa.
"Lara? Amor, o que foi?" Ele tentou puxá-la para perto de novo, sua voz caindo para o tom suave e persuasivo que ele usava tão bem. "É sobre o que você leu? Não é o que parece. Eu posso explicar."
Suas palavras eram veneno. Cada sílaba era uma mentira que ela agora via com dolorosa clareza.
"Você ainda está pensando nele, não é?" A expressão de Arthur mudou, a preocupação fabricada se transformando em algo feio quando ela não se derreteu imediatamente. "Dante. É isso. Você está usando isso como desculpa porque está chateada que ele vai se casar."
Seu aperto nos braços dela se intensificou, seus dedos cravando na pele dela. O músico gentil havia desaparecido, substituído por um homem cujo carisma era um véu fino para uma raiva sombria e possessiva.
"Não importa", disse Lara, sua voz plana e fria. "Pare de fingir que se importa."
"Fingir?" Ele riu, um som áspero e sem humor. "Fui eu quem esteve aqui por você! Fui eu quem juntou os cacos depois que ele partiu seu coração!"
Ele entendeu errado. Ele pensou que as palavras dela eram sobre Dante. Seu ego não conseguia conceber nenhuma outra razão para sua rejeição.
"Eu te dei tudo!", ele rosnou, o rosto perto do dela.
Ele a agarrou, empurrando-a de volta para a cama. A força do empurrão tirou o ar de seus pulmões.
Antes que ela pudesse reagir, ele estava sobre ela, seu peso a prendendo. Ele rasgou a gola do vestido dela, o tecido azul simples se partindo com um som que ecoou o estraçalhar de suas últimas ilusões.
Seus olhos estavam selvagens, cheios de um olhar desesperado e faminto que ela nunca tinha visto antes.
"Por que você ainda é tão obcecada por ele?", ele exigiu, sua voz um rosnado baixo. "Eu estou aqui. Sou eu quem te ama. Por que você não consegue ver isso?"
Humilhação e um medo frio e agudo a invadiram. Ela lutou, empurrando seus ombros, mas ele era forte demais.
"Arthur, pare", disse ela, a voz firme. "Eu não quero isso."
Sua rejeição pareceu apenas alimentar sua fúria. Ele estava bêbado, com raiva e fora de controle.
"Você é minha, Lara", ele sibilou, sua boca se chocando contra a dela novamente, uma enxurrada de beijos molhados e agressivos que a fizeram sentir como se estivesse se afogando.
Então ele começou a falar, suas palavras uma confissão quebrada e arrastada contra a pele dela.
"Por que ele consegue tudo? Ele fica com a empresa... ele fica com ela. Ela é tão perfeita. Por que ela não olha pra mim?"
Ele estava chorando agora, lágrimas quentes caindo na bochecha dela. Ele não estava falando com ela. O "ela" em seu apelo desesperado não era Lara. Era Beatriz.
As peças se encaixaram com uma velocidade aterrorizante. Os registros de chat. Sua obsessão. Essa exibição bêbada e violenta. Ele estava sobre ela, mas em sua mente, ele estava com Beatriz. Ele estava encenando uma fantasia doentia, e Lara era apenas a substituta.
O frio em suas veias se transformou em gelo. Foi uma violação tão profunda que transcendeu o físico.
Com uma onda de adrenalina, ela ergueu a mão e deu um tapa no rosto dele. O som foi agudo, chocante no quarto silencioso.
Ele congelou, a cabeça virando para o lado. A selvageria em seus olhos vacilou, substituída por uma confusão atordoada.
"Quem sou eu, Arthur?", ela perguntou, a voz tremendo de raiva e uma tristeza terrível e profunda. "Com quem você acha que está agora?"
A ardência do tapa pareceu deixá-lo sóbrio. Ele piscou, seu olhar clareando, e pela primeira vez, ele pareceu realmente vê-la. Ele viu o vestido rasgado, o terror em seus olhos, a marca vermelha em sua pele onde seus dedos haviam cravado.
Um olhar de horror crescente cruzou seu rosto.
"Lara... eu... eu sinto muito", ele gaguejou, saindo de cima dela. "Eu não quis... eu estava bêbado."
Ele estendeu a mão para ela, mas ela se encolheu como se ele estivesse em chamas.
"Sinto muito", ele implorou, a voz falhando. "Por favor, Lara. Eu te amo."
As palavras não tinham mais sentido, um roteiro automático do qual ele não conseguia se desviar.
Ela se sentou, juntando o tecido rasgado de seu vestido. O calor de sua presença era agora um veneno arrepiante. Ela estava tremendo, mas sua mente estava estranhamente calma. O pior havia acontecido. Não havia mais ilusões para quebrar.
"Aquelas coisas que você disse", ela afirmou, a voz firme. "Eram só conversa de bêbado?"
"Sim! Claro", disse ele, rápido demais. "Apenas bobagens. Eu te amo, Lara. Só você."
Ela olhou em seus olhos e viu a mentira. Ele era um bom ator, mas ela conhecia o roteiro agora. Ela conhecia todas as falas. E ela estava farta de fazer o seu papel.
Ela se levantou, movendo-se em direção à porta.
"Lara, espere", ele implorou, segurando sua mão. "Não vá."
Ela fechou os olhos por um momento, uma onda de exaustão a invadindo. Ela estava tão cansada desta casa, desta família, dos jogos deles. Era hora de acabar com isso.