"Nós terminamos, Dante", disse ela, a voz rouca pelo desuso. "Há muito tempo. Lembra? Quem eu amo agora não é da sua conta."
Ele se levantou, sua figura alta projetando uma longa sombra sobre a cama dela. "Fique longe do Arthur", ele avisou, a voz um rosnado baixo. "Ele não é o certo para você. Quero que você termine o que quer que seja isso entre vocês."
"Eu concordo", disse ela, a voz calma. "Ele não é o certo para mim. Já acabou."
"Tudo acabou", ela acrescentou suavemente, mais para si mesma do que para ele.
Um lampejo de inquietação cruzou o rosto dele. "O que isso significa?"
Antes que ele pudesse pressioná-la, seu celular vibrou. Ele olhou para a tela. Beatriz. Claro.
Com um último olhar conflituoso para Lara, ele se virou e saiu do quarto para atender a ligação. Ele sempre escolhia seu dever.
Uma enfermeira entrou alguns minutos depois. "Senhorita Campos, está na hora do seu exame de acompanhamento."
Lara, lenta e dolorosamente, se levantou da cama. Cada movimento enviava uma nova onda de fogo por suas costas. Ela cerrou os dentes e se arrastou pelo corredor em direção ao consultório médico.
Ao se aproximar da esquina, ouviu vozes. A de Arthur.
"...encontre o melhor creme para cicatrizes do mundo", ele dizia para alguém, a voz urgente. "Não me importa o custo. As costas dela... não pode ficar assim."
A voz de um amigo respondeu, cética. "Cara, por que você está se dando todo esse trabalho? É por causa da Beatriz? Está tentando fazê-la se sentir menos culpada?"
Houve uma pausa. Então a voz de Arthur, baixa e tingida com um veneno familiar.
"A Beatriz ficou horrorizada. Ela se sente responsável. Estou fazendo isso para acalmá-la. Eu tentei levar a punição pela Lara, mas você sabe como ela é teimosa. Ela insistiu em fazer isso sozinha."
A mentira era tão descarada, tão egoísta, que lhe roubou o fôlego.
"Você poderia simplesmente tornar isso real com ela", sugeriu o amigo. "Ela está claramente apaixonada por você."
Uma risada sem alegria. "Não seja ridículo. Eu nunca senti nada por ela. Foi só um jogo para passar o tempo."
A dor em suas costas não era nada comparada à finalidade fria e morta daquelas palavras. Seus dedos se curvaram na palma da mão, as unhas cravando na carne macia até sentir a picada.
Ela se virou para sair, para se afastar da voz dele, da verdade que já sabia, mas que ainda tinha o poder de feri-la.
Mas a porta do consultório se abriu, e ela ficou cara a cara com ele.
Arthur pareceu surpreso ao vê-la. "Lara! Quando você chegou?"
"Agora mesmo", ela mentiu, o rosto uma máscara em branco.
Ele ergueu um pequeno tubo de creme de aparência cara. "Eu comprei isso para você. Para as cicatrizes."
Ela olhou para o creme, depois para o rosto dele, seu rosto bonito e mentiroso. "Não, obrigada", disse ela, a voz educada e distante. "As cicatrizes são uma lição que eu mereci. Quero mantê-las."
A pálpebra dele tremeu. "Você ainda está com raiva? Lara, me desculpe pelas cartas. Eu não estava pensando."
"Está tudo bem", disse ela, a voz desprovida de emoção. "Eu já disse ao Dante que ficaria longe de você. Não vou mais te incomodar."
Ele pareceu em pânico. "Não, não é isso que eu quero! Escute, me dê um tempo. Depois do casamento, depois que as coisas se acalmarem, eu vou te fazer minha namorada oficial. Eu prometo."
A promessa era um insulto. Uma bugiganga barata e sem sentido oferecida a uma tola. Ela sabia que ele estava apenas tentando apaziguá-la, manter sua pequena "boneca substituta" na linha até que não precisasse mais dela.
Ela não se deu ao trabalho de discutir. Não tinha energia.
Apenas assentiu, deixando-o acreditar que suas mentiras ainda funcionavam com ela. Ela continuaria o jogo por mais um tempo. Ela esperaria. Em breve, tudo isso acabaria.