Ela olhou para o rosto atordoado dele, uma máscara de incredulidade. "Fui eu que corri atrás dele", disse ela, seus olhos encontrando os de Dante enquanto ele saía do escritório, atraído pela comoção. "Eu fui tola. Ele nunca me aceitou. Foi tudo culpa minha. Fui eu que não soube superar."
Arthur a encarou, a boca ligeiramente aberta de choque. Ele não podia acreditar que ela estava assumindo a culpa, protegendo-o mesmo agora.
Mas ela não o estava protegendo. Estava se libertando. Estava aceitando a verdade completa e amarga de sua situação. Ela era um caso de caridade que ousou amar. Era um peão que fora jogado por mestres. Ao admitir, ao tomar toda a vergonha para si, ela estava cortando as cordas.
"Fui eu quem desonrou esta família", disse ela, a voz estranhamente calma. "Fui eu quem não teve vergonha."
O corredor caiu em um silêncio mortal. Beatriz, que havia seguido Dante, parecia horrorizada. Arthur estava pálido de incredulidade. O rosto de Dante era uma máscara de fúria.
"Isso é uma bagunça", Beatriz finalmente sussurrou, quebrando o feitiço. "Dante, deveríamos chamar seus pais."
"Eles já sabem", comandou Dante, a voz afiada. Ele não deixaria isso se transformar em um escândalo familiar público. "Isso fica aqui. Eu sou o chefe desta casa agora. Eu vou resolver isso."
Ele olhou para Lara, e pela primeira vez, ela viu não apenas raiva, mas uma dor profunda e possessiva. Ele estava ferido, não por seu suposto amor pelo irmão, mas pela perda de seu controle sobre ela.
"Nesta família", disse ele, a voz baixa e ameaçadora, "a desonra tem consequências. Existem regras."
Arthur se lançou à frente. "Dante, não. Se alguém deve ser punido, que seja eu. Eu aceito."
"Não, você não vai", disse Lara, sua voz o detendo. "Essa bagunça é minha. E eu cansei dela. Cansei de você." Ela olhou diretamente para Arthur, o olhar vazio. "Estou pegando de volta cada sentimento que já tive por você. Todos eles se foram."
Sem outra palavra, ela se virou e caminhou em direção ao grande escritório, o coração do império Monteiro, onde o Sr. Monteiro estava esperando. Era um lugar reservado para negócios, para contratos e para demissões cerimoniais.
Ela ignorou o grito chocado de Arthur e os olhos sombrios e vigilantes de Dante.
Ela parou diante do Sr. Monteiro, que estava sentado atrás de sua enorme mesa como um rei em seu trono. Suas costas estavam retas. Ela estava pronta.
O chefe de segurança da família, um homem de rosto sombrio que estava com eles há décadas, entrou com um documento legal grosso e uma caneta. Ele era o executor da disciplina da família Monteiro.
"Este é um contrato", disse o Sr. Monteiro, a voz fria como gelo. "Ele anula seus direitos como membro adotivo desta família. Você renunciará ao sobrenome Monteiro e a qualquer reivindicação sobre o patrimônio. Em troca, a família fornecerá seu dote ao Sr. Salles. Assine."
A caneta era uma linha de fogo em sua mão. As palavras na página, uma dor branca e ofuscante, a atravessaram. Assinar aquilo parecia como arrancar a própria pele.
Ela mordeu o lábio, sentindo o gosto do próprio sangue. Ela não choraria. Não lhes daria essa satisfação.
Ela assinou seu nome: Lara Campos. Não Lara Monteiro.
O mundo começou a embaçar nas bordas. A dor era um oceano rugindo, ameaçando puxá-la para o fundo. Através de uma névoa, ela viu duas figuras paradas na porta. Dante e Arthur. Observando.
Depois que ela empurrou o documento assinado de volta pela mesa, ela desabou contra a cadeira, sua força se esvaindo.
"Você sabe qual foi o seu erro?", a voz do Sr. Monteiro trovejou acima dela.
Ela se ergueu, a visão turva. Olhou para além dele, para os dois irmãos silhuetas na porta.
"Eu sei", ela sussurrou, a voz um arranhão rouco e quebrado. "Meu erro... foi ter amado alguém nesta casa."
E então, o mundo ficou preto.