Uma selfie dela e de Bruno, o braço dele protetoramente em volta dela. Ele não saiu do meu lado.
Clara olhou para as imagens, o coração uma pedra entorpecida e pesada no peito. Ela não as apagou. Salvou cada uma delas. Eram combustível.
Ela recebeu alta em uma manhã cinzenta e chuvosa. Enquanto assinava a papelada final, viu Kaila do outro lado do saguão, parecendo perfeitamente saudável e presunçosa. Clara a ignorou e saiu, a perna em um gesso pesado, usando muletas para se mover.
Quando chegou em casa, Bruno a esperava, o rosto uma máscara trovejante.
"Onde ela está?", ele exigiu, a voz como gelo.
Clara ficou confusa. "Onde está quem?"
"Não se faça de boba comigo, Clara", ele rosnou. "Kaila. Ela está desaparecida. As imagens de segurança do hospital mostram que você foi a última pessoa a vê-la."
Ele achava que ela tinha feito algo com Kaila. Depois de tudo, depois de tê-la deixado para morrer, ele ainda acreditava que ela era a vilã.
A pura e impressionante injustiça de tudo aquilo era quase cômica.
"Não faço a menor ideia de onde ela está", disse Clara, a voz seca.
"Não estou com humor para seus joguinhos!", ele retrucou, aproximando-se. "Isso não é sobre um design roubado ou uma discussão mesquinha. A segurança dela está em jogo."
Ele agarrou o braço dela, os dedos cravando em sua pele. "Se algo acontecer com ela, Clara, eu vou fazer você pagar. Você vai desejar ter morrido naquele terraço."
Um arrepio percorreu-a. Ela sabia que ele estava falando sério. Ele era capaz de qualquer coisa quando se tratava de Kaila.
"Eu não sei onde ela está", ela repetiu, a voz quebrando.
A paciência dele se esgotou. Ele a arrastou, com muletas e tudo, para a cavernosa adega no porão do prédio. O ar era gélido, as paredes forradas de garrafas empoeiradas.
"Você vai ficar aqui até estar pronta para me dizer a verdade", disse ele, a voz ecoando no espaço frio.
Ele bateu a porta pesada, a fechadura estalando no lugar.
O frio penetrou em seus ossos quase imediatamente. Ela ainda estava fraca por causa dos ferimentos, vestindo apenas um suéter fino. Encolheu-se em um canto, tremendo violentamente. Seus dentes batiam, e a dor na perna latejava com o frio.
Horas se passaram. A sala ficou mais fria. Bruno havia diminuído a temperatura. Gelo começou a se formar nas prateleiras de metal. Sua pele ficou mortalmente pálida, depois roxa e manchada. Seus movimentos tornaram-se lentos, seus pensamentos lentos e xaroposos.
A cada poucas horas, a porta se abria, e Bruno ficava ali, silhueta contra a luz.
"Onde ela está?"
Ela apenas balançava a cabeça, a mandíbula rígida demais pelo frio para formar palavras. Ela o encarava, os olhos avermelhados e cheios de um desafio silencioso e teimoso.
O rosto dele ficava mais sombrio a cada visita. Ele baixou a temperatura novamente.
Ela sentiu seu coração desacelerar, sua respiração vindo em baforadas rasas e geladas. Ela ia morrer aqui. Por um crime que não cometeu. Por uma mulher que ele amava mais do que a vida dela.
A porta se abriu uma última vez.
"Esta é sua última chance, Clara", disse ele, a voz um rosnado baixo. "Diga-me onde ela está, ou vou trancar esta porta para sempre."
Ela olhou para ele, e em seus olhos, ela viu. Um ódio profundo e duradouro. Ele queria que ela morresse.
Uma única lágrima congelou em sua bochecha. Ela estava fraca demais para sequer balançar a cabeça. Só conseguiu um suspiro fraco e ruidoso.
Ele interpretou como uma recusa final. "Tudo bem", ele sibilou, e começou a fechar a porta.
Mas então, uma voz o chamou do corredor. "Bruno? O que você está fazendo aqui embaixo? Está congelando!"
Era Kaila.
Ela apareceu na porta, envolta em um luxuoso casaco de pele. "Eu só fui para um fim de semana de spa com as meninas", ela chilreou, fazendo beicinho. "Meu celular morreu. Sentiu minha falta?"
Ela jogou os braços ao redor do pescoço dele. Bruno congelou, a mão ainda na porta. Ele olhou para Kaila, depois para a figura meio congelada de Clara encolhida no chão.
Ele abraçou Kaila de volta, um abraço desesperado e aliviado, como se ela fosse um tesouro que ele quase perdera.
Clara os observou, um sorriso amargo e irônico tocando seus lábios congelados. Então, a escuridão finalmente a consumiu.
Ela estava flutuando em um vazio negro e silencioso. Um pesadelo se repetia em um loop. Ela era uma garotinha de novo, correndo atrás de um jovem Bruno, tentando alcançar sua mão. Ele se virava, o rosto frio e desdenhoso, e a empurrava. Repetidamente, ele a empurrava.
Ela acordou com um grito, lágrimas escorrendo pelo rosto. Estava em uma cama de hospital novamente. Bruno estava lá, sentado ao seu lado.
Ele estava segurando o celular dela. Uma chamada recebida iluminou a tela.
Ele atendeu. "Alô?"
Ele ouviu por um momento, a expressão indecifrável. Quando desligou, seu rosto era uma máscara complexa de confusão e suspeita.
"Quem era?", ele perguntou, a voz estranha. "Ele disse que estava confirmando os arranjos... para o seu baile de aniversário."