A menção ao baile despertou Clara completamente. Seu plano. Jairo.
Ela se lançou, a adrenalina superando a dor, e arrancou o celular da mão dele. Seu corpo gritou em protesto, mas ela o ignorou.
Bruno franziu a testa, sua expressão padrão de aborrecimento voltando ao rosto. "E agora, Clara? O que você está planejando?"
Ela apertou o celular contra o peito, o olhar caindo para o colo. "Não é da sua conta."
"Desde que não envolva machucar a Kaila, não me importo com o que você faz", disse ele, a voz pingando condescendência. Ele pegou seu talão de cheques. "Isso foi... um mal-entendido. Diga o seu preço. Vou te compensar pelo seu problema."
Uma risada, seca e sem alegria, escapou de seus lábios. "Me compensar? Como você coloca um preço em quase morrer de frio, Bruno? Como você compensa alguém pela vida?"
Ela ergueu o olhar, seus olhos se fixando nos dele. "Só me diga uma coisa. Por que você me odeia tanto? O que eu fiz para você me desprezar?"
Ele ficou em silêncio. Por um momento, ela viu algo piscar em seus olhos - um lampejo de culpa, talvez. Mas então seu celular vibrou. Era Kaila.
Seu rosto se suavizou. Ele olhou para o relógio. "Eu tenho que ir."
Ele se levantou e vestiu o casaco. Nem sequer se despediu. Sua secretária apareceu um momento depois, um cheque em branco na mão.
"O Sr. Barreto disse para preencher com o valor que você achar adequado", disse a secretária em um tom monótono.
Clara olhou para o cheque, depois para a porta vazia onde Bruno estivera. O último resquício de sua esperança, a última de sua dor, virou cinzas.
"Diga ao Sr. Barreto", disse ela, a voz clara e fria, "que não quero o dinheiro dele. Só quero que ele esteja no meu baile de aniversário. Na hora."
Ela terminaria a farsa do noivado deles na frente de todos. Era a única compensação de que precisava.
Depois de se recuperar, ela se jogou no trabalho. A AURA era sua criação, um símbolo de sua independência. Ela era uma Gouveia, herdeira de uma dinastia, mas a AURA era só dela. Ela a construiu do zero, e agora era uma grande jogadora no mundo da moda tecnológica.
Ela despejou toda a sua energia no próximo lançamento de sua nova coleção. Verificou cada detalhe do desfile, garantindo que tudo estivesse perfeito.
O desfile foi um triunfo. As luzes, a música, os designs - foi impecável.
E então o mundo desabou.
Uma hora depois que a última modelo deixou a passarela, a internet explodiu. Uma hashtag, #AURAplagiadora, estava em alta no mundo todo.
Uma designer independente desconhecida estava acusando a AURA de roubar toda a sua coleção.
Clara ficou atordoada. "Isso é impossível. Cada design é original. Nossa equipe trabalhou nisso por um ano."
Sua equipe de relações públicas se apressou. Eles rapidamente identificaram a fonte da campanha: uma postagem no blog da designer, cheia de "provas" - esboços que eram assustadoramente semelhantes aos designs finais da AURA. A postagem estava sendo amplificada por um exército de bots e influenciadores.
O nome da designer era Kaila Barros.
Clara olhou para a tela, uma constatação fria e doentia surgindo nela. Kaila esteve em sua casa. Esteve em seu escritório. Ela deve ter roubado os arquivos de design preliminares.
E então o golpe final. Uma postagem do próprio Bruno Barreto, um link para o blog de Kaila. Tão orgulhoso de ver o verdadeiro talento recebendo o reconhecimento que merece. Sempre apoie artistas originais.
Ele estava nisso. Ele a estava ajudando a destruir a única coisa que era verdadeiramente dela.