Com uma lentidão deliberada e teatral, Kaila começou a rasgá-los ao meio, deixando os pedaços flutuarem no chão como confete.
"Viu?", disse Kaila, a voz carregada de veneno. "Eu te disse. Eu sempre venço."
Ela jogou o último punhado de papel picado diretamente no rosto de Clara. Uma borda afiada do papel grosso cortou a bochecha de Clara, e uma gota de sangue brotou.
Algo dentro de Clara se partiu. Os anos de humilhação, os espancamentos, as traições - tudo culminou em um único e explosivo momento.
Ela deu um tapa forte no rosto de Kaila.
Kaila cambaleou para trás, um olhar de choque no rosto. Então, sua expressão se transformou em uma de alegria maliciosa. Ela se virou e correu para fora da sala, gritando. "Bruno! Me ajude! Ela me bateu!"
Clara não se moveu. Ficou em meio às ruínas de seu trabalho, esperando.
Bruno invadiu a sala, Kaila soluçando ao seu lado. Ele viu a marca vermelha na bochecha de Kaila e o corte na de Clara. Não precisou perguntar o que aconteceu. Ele já havia escolhido seu lado.
"Você simplesmente não consegue parar, não é?", ele rosnou. "Você perdeu tudo e ainda é essa vadia arrogante e violenta."
Ele gesticulou para seus guarda-costas, que o seguiram. "Segurem-na."
Eles prenderam os braços dela atrás das costas.
"Agora, Kaila", disse Bruno, a voz perigosamente suave. "Você pode bater nela de volta."
Clara o encarou, os olhos arregalados de incredulidade. "Bruno, você não ousaria."
Ele soltou uma risada curta e feia. "Tente me impedir." Ele acenou para Kaila. "Vá em frente."
Kaila, após um momento de hesitação fingida, deu um passo à frente e deu um tapa em Clara. Depois outro. E outro. Cada golpe era uma nova onda de humilhação. O rosto de Clara ardia, e o gosto metálico de sangue encheu sua boca.
Quando Kaila terminou, Bruno correu para o lado dela, examinando sua mão. "Dói? Deixe-me ver. Deveríamos pegar um pouco de gelo para isso."
Ele nem olhou para Clara, o rosto agora inchado e sangrando. Apenas levou Kaila embora, murmurando palavras de consolo.
Clara os viu partir, e uma risada borbulhou de dentro dela, um som selvagem e de coração partido.
Está tudo bem, ela disse a si mesma, as palavras um mantra frenético. Cancele o noivado. Tudo acabará em breve.
Ela não apenas terminaria. Ela se tornaria sua inimiga. Sua rival. Até o dia em que morressem.
No dia seguinte, ela se mudou da cobertura que haviam compartilhado. Embalou os poucos itens pessoais que restavam e saiu sem uma palavra.
Mudou-se para uma pequena vila nos arredores da cidade, uma propriedade onde Jairo havia ficado quando estava começando.
O lugar tinha um telhado com goteiras. Ela ligou para a administração do imóvel para consertá-lo.
No escritório da administração, ela ouviu uma conversa que a fez congelar.
"A Sra. Barreto tem tanta sorte", dizia o agente ao gerente. "O marido dela é tão generoso."
"Ele é", concordou o gerente. "Ele está supervisionando toda a reforma pessoalmente. Disse que quer que tudo seja perfeito para ela."
Clara ficou em silêncio, ouvindo, enquanto eles se derretiam sobre como Bruno Barreto estava projetando pessoalmente uma nova casa para sua amada futura esposa, Kaila. Cada detalhe, cada escolha, tratado com cuidado amoroso.
Para Kaila, ele construiria um palácio. Para Clara, ele não se dava ao trabalho nem de consertar um telhado com goteiras.
Os últimos resquícios de seu coração tolo e teimoso viraram pó. Era hora de parar de sofrer. Era hora de começar a revidar.
Quando ela se virou para sair, Kaila bloqueou seu caminho, um sorriso presunçoso e vitorioso no rosto.
"Indo a algum lugar?", Kaila perguntou, a voz pingando desprezo. "Fugindo agora que perdeu tudo?"