A Lição Mais Cruel do Bilionário
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A Lição Mais Cruel do Bilionário

Gavin
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Capítulo 1

Todos na cidade de São Paulo diziam que eu era a mulher mais sortuda do mundo. Eu era a garçonete de lanchonete que salvou o bilionário da tecnologia com amnésia, Heitor Scottini. Ele se apaixonou por mim e, quando sua memória voltou, casou-se comigo contra a vontade de sua família, dizendo ao mundo que eu era seu único e verdadeiro amor.

Mas era tudo mentira. O homem que eu amava desapareceu no dia em que o bilionário voltou. Em seu lugar, havia um monstro possessivo que me via como um objeto, e ele acabara de encontrar uma nova obsessão: uma artista chamada Jasmim.

Foi quando os castigos começaram. Esta noite, porque Jasmim alegou que eu a encarei com raiva, ele me arrastou para um galpão abandonado. Minha mãe doente estava amarrada a uma cadeira, cercada por latas de gasolina abertas.

Ele acendeu um isqueiro, me dando dez segundos para confessar uma mentira. O homem que um dia fez bicos para comprar os remédios dela agora ameaçava queimá-la viva porque outra mulher chorou.

Mas era tudo uma encenação doentia. Assim que ele jogou o isqueiro e as chamas explodiram, seus homens arrastaram minha mãe para um lugar seguro. "Viu o que acontece quando você não é uma boa menina?", ele sussurrou, antes de sair com Jasmim.

Enquanto eu carregava minha mãe para fora daquele inferno, fiz uma ligação para um número que não usava há anos.

"Caio? Preciso da sua ajuda. Preciso desaparecer."

Desta vez, o mundo dele é que ia pegar fogo.

Capítulo 1

Todos na cidade diziam que eu, Aline Moraes, era a mulher mais sortuda do mundo.

Diziam que eu tinha subido na vida, um conto da Cinderela para a era moderna.

Diziam que Heitor Scottini, o bilionário da tecnologia, o homem que segurava a economia da cidade na palma da mão, me mimava, me idolatrava, me amava até os ossos.

Era uma história linda.

Uma garçonete de lanchonete compassiva resgata um belo homem com amnésia após um terrível acidente de carro. Ela cuida dele até que ele se recupere em sua pequena cidade operária, Sorocaba. Eles se apaixonam, um amor simples e puro, construído em um apartamento minúsculo que sempre cheirava a gordura e água sanitária.

O nome dele era apenas Heitor, na época. Ele não tinha nada além da roupa do corpo e a mim.

Eu não tinha nada além da minha mãe doente e dele.

Éramos tudo um para o outro.

Ele fazia bicos, suas mãos, que mais tarde descobri serem feitas para acordos de bilhões de reais, ficavam calejadas de trabalho braçal. Ele economizava cada centavo para comprar os remédios caros da minha mãe, Iara.

Então, um ano após o dia do acidente, sua memória voltou.

O mundo ficou chocado quando Heitor Scottini, o magnata implacável da tecnologia que fora dado como morto, reapareceu. Ficaram ainda mais chocados quando ele, contra as objeções furiosas de sua família e o ridículo de todo o seu círculo social, insistiu em se casar comigo.

Na coletiva de imprensa anunciando seu retorno, ele segurou minha mão e disse ao mundo: "Aline é minha esposa. Meu amor por ela nunca mudará, não importa quem eu seja."

Era um conto de fadas.

Mas eu sabia a verdade. Eu soube no momento em que seus olhos, antes tão gentis, me olharam com um brilho novo e arrepiante.

O homem que eu amava, o Heitor gentil que descascava laranjas para mim, morreu no dia em que Heitor Scottini voltou à vida.

Em seu lugar, havia um monstro. Um estranho paranoico e patologicamente possessivo que me via não como uma esposa, mas como uma propriedade.

Seu amor se tornou uma jaula.

E então ele conheceu Jasmim Neves. Uma artista performática provocadora, autoproclamada, que respirava o caos. Ele ficou obcecado.

Foi quando os castigos começaram.

"Você olhou para o garçom por tempo demais, Aline", ele dizia, sua voz um rosnado baixo. E por isso, eu ficava trancada em um quarto escuro por um dia.

Esta noite, o castigo era por algo novo. Jasmim tinha lhe contado, aos prantos, que eu a "fuzilei com o olhar" durante um evento em uma galeria, fazendo-a se sentir "insegura".

"Heitor, eu não fiz isso", implorei, minha voz tremendo enquanto ele me arrastava para fora do carro. "Eu nem falei com ela."

Ele não disse nada. Seu rosto era uma máscara de fúria fria. Ele me puxou pelas portas de um galpão abandonado nos arredores da cidade, o ar pesado com o cheiro de mofo e gasolina.

Meu sangue gelou. Eu conhecia este lugar. Ele o comprara no mês passado.

Ele me empurrou para dentro do salão principal, e meu coração parou.

Minha mãe, Iara, estava amarrada a uma cadeira no centro da sala. Seu rosto estava pálido de terror, seus pulmões fracos lutando por ar. Latas de gasolina a cercavam.

"O que você disse para a Jasmim?", a voz de Heitor era calma, o que era muito mais aterrorizante do que sua raiva. Ele caminhou até minha mãe, um isqueiro se abrindo em sua mão. A chama dançava na escuridão.

"Heitor, não! Por favor!", eu me arrastei em sua direção, caindo de joelhos. "Ela é minha mãe! Ela é tudo que eu tenho!"

Ele olhou para mim, sua expressão indecifrável. "Vou perguntar mais uma vez. O que você disse para fazer a Jasmim chorar?"

"Eu não disse nada! Eu juro que não disse!", lágrimas escorriam pelo meu rosto. Agarrei a perna da calça dele, meu corpo inteiro tremendo. "Por favor, Heitor, ela está doente. O estresse vai matá-la."

"Você tem dez segundos para me dizer a verdade, Aline", ele disse, sua voz baixando para um sussurro. "Ou vou descobrir o quão inflamável este lugar realmente é. Dez."

Minha mente se partiu. O homem que uma vez economizou seu dinheiro para comprar os remédios dela agora ameaçava queimá-la viva. Por uma mentira contada por outra mulher.

Ele nunca me amou. Não a verdadeira eu. Ele amava a ideia de mim, a garota simples que o salvou, sua posse. E agora, ele estava obcecado por um novo brinquedo.

Eu havia pedido o divórcio um mês atrás, depois da primeira vez que ele me trancou no armário. Ele tinha rido, sua mão apertando meu maxilar até deixar uma marca roxa.

"Divórcio?", ele zombou. "Aline, você me pertence. Você não pode ir embora. Nunca. Jasmim é só por diversão. Você é minha esposa. Você precisa aprender o seu lugar."

Eu não tinha escolha. Estava presa.

"Cinco", ele contou, seu polegar pairando sobre a roda do isqueiro.

"Quatro."

Os vapores de gasolina estavam me deixando tonta. Minha mãe chorava silenciosamente, seus olhos suplicando para mim.

"Três."

"Fui eu!", gritei, as palavras rasgando minha garganta. "Eu admito! Eu disse a ela para ficar longe de você! Eu estava com ciúmes! Me desculpe!"

A contagem parou. O rosto de Heitor estava sombrio, seus olhos cravados em mim. Ele fechou o isqueiro e o guardou no bolso.

Ele caminhou até mim, agarrou meu cabelo e forçou minha cabeça para trás. "Tarde demais."

Meu sangue congelou. "O quê?"

Ele acendeu o isqueiro. Uma pequena chama surgiu, e ele a jogou em direção a uma das latas de gasolina abertas.

"NÃO!"

O mundo explodiu em fogo. O rugido foi ensurdecedor. Chamas dispararam em direção ao teto, engolindo a cadeira, engolindo os gritos da minha mãe.

Eu desabei, um lamento cru e animalesco rasgando minha alma. Rastejei em direção ao inferno, minhas mãos se arranhando no concreto áspero. "Mãe! MÃE!"

O calor era insuportável. A fumaça me sufocava. Minha visão embaçou através de uma cortina espessa de lágrimas. Ela se foi. Ele a tinha matado.

De repente, uma porta lateral se abriu. Os seguranças de Heitor entraram correndo com extintores de incêndio, seguidos por Jasmim Neves, que parecia perfeitamente bem, um sorriso presunçoso brincando em seus lábios.

Eles apagaram o fogo rapidamente.

E eu a vi.

Minha mãe estava no chão, a alguns metros das chamas, tossindo e ofegando, mas viva. Um dos guardas a desamarrou e a arrastou para longe pouco antes de Heitor jogar o isqueiro.

Era tudo um show. Uma performance doentia e distorcida para me ensinar uma lição.

Eu encarei, minha mente uma câmara de horror oca e ecoante. Comecei a rir. Um som quebrado e histérico que ecoou no espaço cavernoso.

Heitor caminhou até mim, agachando-se. Ele enxugou uma lágrima da minha bochecha com o polegar, seu toque como gelo.

"Viu, Aline?", ele sussurrou, sua voz tingida com uma ternura doentia. "É isso que acontece quando você não é uma boa menina. Lembre-se dessa dor. Nunca mais me faça fazer isso de novo."

Ele se levantou, imponente sobre mim. "Leve sua mãe e vá para casa. Espero que você tenha o jantar pronto para mim quando eu voltar."

Ele se virou e saiu com Jasmim, que me lançou um olhar triunfante por cima do ombro.

Fiquei no chão, tremendo, até que finalmente consegui me mover. Rastejei até minha mãe, ajudando-a a se levantar. Ela tremia incontrolavelmente.

Eu a carreguei, meio arrastando, para fora daquele inferno. Uma vez do lado de fora, no ar frio da noite, peguei meu celular, meus dedos desajeitados na tela.

Encontrei o número. Um número para o qual não ligava há anos.

"Caio?", sussurrei, minha voz falhando. "É a Aline. Preciso da sua ajuda. Preciso desaparecer."

Olhei para trás, para o horizonte da cidade, para a torre reluzente com o nome dele.

Isso acabou. Eu ia queimar tudo até o chão.

            
            

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