"De joelhos", ela rugiu. "Beije o chão. Mostre algum respeito."
Uma humilhação ardente me invadiu. Tremi, mas me levantei. "Não. Sou inocente. Não fiz nada."
Uma mão estalou no meu rosto, com tanta força que meus ouvidos zumbiram. Caí para trás, o gosto de sangue na boca.
"Acha que é melhor que a gente, patricinha?", a mulher cuspiu. As outras se aproximaram, uma matilha de lobos cercando sua presa.
Elas me bateram. Chutaram e socaram até que eu me encolhi em uma bola no chão, tentando proteger minha cabeça. A dor era imensa, mas foi a degradação que me despedaçou.
Isso foi apenas no primeiro dia.
Por sete dias, elas me atormentaram. Me forçaram a beber água do vaso sanitário. Me seguraram enquanto outra mulher usava uma agulha improvisada e tinta para esculpir uma flor grosseira e feia nas minhas costas. Me despiram e riram das cicatrizes que Heitor havia deixado em meu corpo.
Cada dia era um pesadelo do qual eu não conseguia acordar. Passei meu tempo encolhida em um canto, contando os minutos, as horas, até a libertação prometida por Heitor. O pensamento da liberdade era a única coisa que me mantinha sã.
Quando o dia finalmente chegou, um guarda destrancou a cela. "Moraes, você está fora."
Tropecei para a luz, meu corpo uma tela de hematomas, meu espírito uma casca vazia.
Heitor estava me esperando, encostado em seu elegante carro preto. Jasmim estava ao seu lado, agarrada ao seu braço.
Ele me viu e, pela primeira vez, um olhar de choque genuíno cruzou seu rosto. Ele viu meu lábio cortado, o hematoma escuro na minha bochecha, o olhar vago em meus olhos.
"O que aconteceu com você?", ele perguntou, sua voz tensa.
O rosto de Jasmim azedou. "Ah, pare com isso, Aline", ela choramingou. "Não seja tão dramática. São apenas alguns arranhões."
O olhar de Heitor endureceu, seu breve lampejo de preocupação extinto pelas palavras de Jasmim. "Ela está certa. Pare de fazer cena."
Eu não tinha energia para discutir. Um sorriso amargo tocou meus lábios. "Você está certo. Não farei isso de novo."
Nunca mais.
O pensamento foi um voto silencioso. Era a hora.
De volta à mansão, fui direto para o meu quarto. De um compartimento secreto na minha caixa de joias, peguei um pequeno frasco. Uma droga especial que Caio me deu, uma que imitaria os sinais da morte, diminuindo o coração a um batimento quase indetectável.
Heitor me encontrou olhando para ele. Um lampejo de inquietação cruzou seu rosto.
"O que é isso?"
"Meu remédio", eu disse, minha voz seca. "Para o trauma."
"Você acha que eu não me importo com você, não é?", ele disse, sua voz tingida com um tom estranho e defensivo. "Você acha que eu sou apenas um monstro."
Eu apenas olhei para ele, meu silêncio uma resposta mais condenatória do que qualquer palavra poderia ser.
Ele desviou o olhar, desconfortável. "Olha, amanhã é o aniversário da Jasmim. Eu tenho que ir. Já disse a todos que você não está bem por causa do seu... calvário. Voltarei depois de amanhã. Vou te compensar."
"Ok", eu disse, minha voz estranhamente calma.
Ele pareceu satisfeito com minha conformidade. "Não cause mais problemas."
Ele saiu. Ele realmente acreditava que eu ficaria sentada aqui esperando por ele. A arrogância era de tirar o fôlego.
Naquela noite, enquanto ele a celebrava, o céu do lado de fora da minha janela explodiu em um caleidoscópio de cores. Fogos de artifício. Para Jasmim. Uma mensagem escrita em luz cintilante: Feliz Aniversário, minha estrela.
Olhei para as palavras, uma única lágrima traçando um caminho pela sujeira na minha bochecha.
Abri o frasco e engoli o conteúdo sem pensar duas vezes. O líquido amargo queimou minha garganta.
Saí de casa, entrei em um dos carros menos chamativos de Heitor e comecei a dirigir em direção à sinuosa estrada costeira. Minhas mãos estavam firmes no volante.
Meu celular vibrou. Era Caio.
"Você está pronta?", ele perguntou, sua voz tensa.
"Pronta", respondi.
"A ambulância está a cinco minutos. Estou nela. A cena montada está pronta um quilômetro à frente. Faça parecer real, Aline."
"Farei", eu disse.
Pisei no acelerador, o motor rugindo. Mirei na curva mais acentuada, aquela com o penhasco íngreme que descia para as rochas abaixo.
Era isso.
Aline Moraes estava prestes a morrer.