As palavras eram afiadas, nem mesmo veladas. Eles queriam que eu ouvisse. Senti meu rosto empalidecer, minhas mãos ficarem frias. Eu não tinha percebido. Ele me deu este vestido esta manhã, dizendo que seria perfeito. Ele sabia. Ele queria que eu fosse humilhada.
Então, um balde de algo molhado e pegajoso de repente me encharcou de cima.
Eu ofeguei, tropeçando para trás. O líquido era espesso, vermelho e cheirava horrivelmente a ferro.
Sangue de porco.
Fiquei ali, pingando, uma caricatura de uma vítima de filme de terror. A multidão explodiu em risadas.
"Combina com ela!", alguém gritou. "Lixo pertence ao lixo!"
Olhei para cima e vi uma das amigas bajuladoras de Jasmim em uma varanda acima, um balde vazio na mão, um sorriso malicioso no rosto. Foi ela. E eu soube, com certeza absoluta, que Jasmim havia orquestrado tudo.
Meus olhos se voltaram para Heitor, um apelo desesperado e silencioso por ajuda.
Ele estava olhando diretamente para mim. Não com pena, não com raiva em meu nome, mas com um olhar frio e claro de culpa. Como se eu tivesse provocado isso. Como se minha própria presença tivesse criado essa cena nojenta.
Meu coração, que eu pensei que não poderia se partir mais, simplesmente esfriou. Foi uma morte final e silenciosa. A última brasa de esperança se extinguiu.
Sua condenação silenciosa foi uma lâmina se torcendo em minhas entranhas.
Eu sou inocente, uma voz gritou dentro da minha cabeça. Eu não fiz nada. Por que você não me vê?
A luz em meus olhos, aquela que sempre o procurou, finalmente se apagou. Acabou. Eu não o amava mais. A percepção não trouxe alívio, apenas um vasto e vazio deserto onde meu coração costumava estar.
Do outro lado da sala, o telefone de Jasmim vibrou. Ela olhou para ele, e seu rosto se contorceu. Primeiro choque, depois uma raiva tão potente que seus olhos ficaram vermelhos.
Ela soltou um grito agudo e correu em minha direção, seu rosto uma máscara de dor teatral.
"Aline! Como você pôde?!", ela gritou, enfiando o telefone na minha cara. "Como você pôde fazer algo tão vil!"
Eu recuei. Ela agarrou meu braço, suas unhas cravando. "Você desenterrou o túmulo da minha mãe! Você desenterrou as cinzas dela e as espalhou! Sua monstra!"
A acusação era tão monstruosa, tão insana, que eu não conseguia nem processar. "O quê? Não! Isso é mentira!"
"Mentira?", ela soluçou, mostrando o telefone para todos verem. Era um vídeo, escuro e granulado. Uma figura que se parecia vagamente comigo estava em um cemitério à noite, cavando freneticamente um túmulo.
"As câmeras de segurança te pegaram!", ela lamentou. "Está tudo lá!"
Heitor estava ao lado dela em um instante. Sua mão se fechou em meu pulso como um torno, seu rosto uma máscara horripilante de fúria.
"Você fez isso?", ele rosnou. "Depois de tudo, você fez isso?"
"Não", engasguei, balançando a cabeça freneticamente. "Heitor, você tem que acreditar em mim. Eu não fiz."
"O vídeo não mente, Aline", ele disse, sua voz baixando para uma calma mortal. Ele puxou Jasmim para seus braços, deixando a festa com ela. Ao passarem, ele rosnou para seus seguranças: "Tragam-na."
Eles me arrastaram, coberta de sangue e sujeira, para o carro dele.
O destino era um cemitério. O jazigo da família de Jasmim.
Um dos túmulos estava de fato remexido, a terra recém-virada. Heitor não disse uma palavra. Ele foi até o porta-malas do carro e tirou uma pesada sacola de lona. Ele esvaziou seu conteúdo no chão.
Cacos de vidro quebrado e pedaços de metal pontiagudos.
"Você foi longe demais desta vez, Aline", ele disse, sua voz seca e desprovida de qualquer emoção. Ele gesticulou para a pilha. "Ajoelhe-se. Cem reverências. Até você implorar por perdão."
Meu rosto ficou branco. "Heitor... estou te dizendo, não fui eu." Olhei para ele, realmente olhei para ele. "Você faria isso? Por ela?"
Ele não respondeu. Apenas acenou para seus homens.
Eles me agarraram, me forçando para baixo.
Meus joelhos atingiram o vidro afiado. Um grito de pura agonia foi arrancado da minha garganta.
Vi um brilho de algo nos olhos de Heitor - pena? Arrependimento? Estava lá por um segundo, depois sumiu, substituído por uma máscara fria.
"Você mesma provocou isso", ele disse.
Eles forçaram minha cabeça para baixo, de novo e de novo. O mundo se tornou um borrão de dor excruciante, o cheiro de terra úmida e o som dos soluços silenciosos e triunfantes de Jasmim.
Quando acabou, minha testa era uma bagunça sangrenta, meus joelhos dilacerados. Desabei no chão molhado, meu corpo e alma gritando em uníssono.
Se eu pudesse voltar no tempo, pensei, minha visão embaçando, eu o teria deixado morrer na beira daquela estrada. Amá-lo foi o erro que me custou tudo.