Heitor estava no convés do iate, uma taça de champanhe na mão, mas as bolhas pareciam sem graça em sua boca. Uma ansiedade inexplicável o corroía, um nó frio em seu estômago que vinha se apertando a noite toda.
Ele não parava de pensar em Aline. O rosto dela quando saiu da cadeia. O vazio em seus olhos. A maneira como ela se encolheu ao seu toque.
Ele sentiu uma onda de irritação. Por que ela não podia simplesmente se comportar? Por que ela tinha que tornar tudo tão difícil?
Algo estava errado. Ele sentia isso no fundo de seus ossos, uma sensação de perda que era aguda e aterrorizante.
"Heitor, querido." A voz de Jasmim, doce e possessiva, interrompeu seus pensamentos. Ela envolveu os braços em seu pescoço, seu corpo pressionando o dele. "Obrigada pelos fogos de artifício. Eles foram lindos."
Ela inclinou a cabeça. "Eu sei que você me ama. Eu posso sentir."
Ele olhou para ela, para esta mulher que ele perseguiu, esta mulher que ele usou para punir Aline. Ele a quis, ou pensou que quis. Mas ali, com ela em seus braços, ele não sentia nada. Apenas um vazio oco e ecoante.
"Heitor", ela ronronou, seus dedos traçando a linha de sua mandíbula. "Agora que o lixo está fora do caminho... quando você vai me fazer sua esposa?"
Ele não respondeu. Estava olhando para além dela, para a água escura e agitada.
"Ela não te merece", Jasmim continuou, sua voz se tornando afiada. "Ela não é digna de ser a Sra. Scottini."
Ele sentiu uma repulsa súbita e violenta. Ele a empurrou para longe, com tanta força que ela tropeçou e caiu no convés.
"O que você está fazendo?!", ela gritou, chocada e magoada.
"Nunca mais", ele rosnou, sua voz um grunhido baixo e perigoso, "pronuncie o nome dela. Você não passa de um brinquedo. Um passatempo. Você entendeu? Aline é minha esposa."
"Mas-"
"A única razão pela qual ela não está aqui é porque precisa aprender uma lição. A única razão pela qual você está aqui é para me ajudar a ensiná-la. Não se esqueça do seu lugar."
Jasmim o encarou, seu rosto pálido com uma mistura de medo e fúria. "Ela quer te deixar, sabia! Ela te odeia!"
Sua cabeça se virou para ela. "O que você disse?"
"Ela me disse!", Jasmim mentiu, sentindo que havia tocado em um ponto sensível. "Ela disse que te desprezava! Que preferia morrer a ser sua esposa!"
Seu sangue gelou. Ele cerrou os punhos, seus nós dos dedos ficando brancos. O pensamento de Aline o deixando, de ela pertencer a qualquer outra pessoa, era uma agonia física. Ele a punia porque ela era dele. Ele a disciplinava porque ela era desobediente. Mas a ideia de ela o odiando... odiando-o de verdade...
Uma visão de seus olhos assombrados brilhou em sua mente. O desespero. A total falta de esperança.
Seu coração se apertou.
Ele estava prestes a agarrar Jasmim, a sacudi-la para arrancar a verdade, quando seu assistente, Marcos, veio correndo para o convés, seu rosto pálido.
"Sr. Scottini! Sr. Scottini, são notícias terríveis!"
"O que foi?", Heitor latiu, sua paciência esgotada.
Marcos estava ofegante, sua voz tremendo. "É... é a Sra. Scottini. Houve um acidente."
O mundo pareceu parar.
"Um acidente de carro na estrada costeira", Marcos gaguejou. "Ela... ela caiu do penhasco."
O rosto de Heitor ficou branco. Ele se levantou tão rápido que sua cadeira caiu no convés.
"O que você acabou de dizer?", ele rugiu, sua voz falhando.