/0/16775/coverbig.jpg?v=8c36fe8d522e3e5aa6a94eb2f69da988)
CAPÍTULO UM (Enzo Cooper)
Sinto falta do sabor de uma vida doce, sinto falta das conversas. Estou procurando uma canção esta noite, estou mudando todas as estações.
- Maroon 5, Maps
O meu celular vibrava em cima do criado-mudo daquele hotel. Resmunguei palavras incoerentes enquanto, ainda em completo sono, me remexia na cama. Olhei para a ruiva que ainda estava dormindo ao meu lado e em seguida consegui pegar o celular e deslizei para atender.
- Qual foi, Viviane? - perguntei com a voz rouca de sono.
- Enzo, onde você está? – a voz fina e em estresse soou alta.
Senti minha cabeça doer e afastei o telefone da orelha. Meu corpo todo ainda estava adormecido.
- Eu estou no hotel com muito sono e falando com vocêê. – Eu disse, bocejando.
- Enzo, é sério! O seu voo sai daqui a meia hora. – Ela continuava a gritar.
- E para onde vamos dessa vez? - Me levantei da cama indo até o banheiro.
- Amsterdam, Enzo! – ela exclamou, repetindo novamente o meu nome. - Esqueceu que hoje inicia sua nova turnê com a Cristtine Miller?
Soltei a respiração e encarei meu reflexo no espelho.
- Como se você me deixasse esquecer. – Bufei. - Em dez minutos eu encontro vocês no aeroporto. - Peguei minha escova de dentes.
Percebi que Viviane estava prestes a gritar novamente, mas ela hesitou. E seu humor mudou rapidamente. Isso acontecia com frequência.
- Não me diz que você está dormindo com outra fã? - ela indagou rindo alto.
- É para dizer ou não? - perguntei com a boca cheia de espuma.
- Você é tão idiota. – Ela sorriu e desligou.
E era isso que toda mídia comentava sobre mim e sinceramente, eu não me importava nem um pouco.
Naquela geração, eu era uma das "estrelas de maior reconhecimento" das últimas décadas, mas eu não me sentia uma estrela ou nada disso. Eu só fazia o melhor que podia para ver o olhar brilhante de cada fã meu. E eu dividia as coisas em que acreditava e as coisas que sentia usando a arte, transformando em música. E com isso eu me importava. Reconhecimento era só uma consequência.
Eu havia lutado por tudo que conquistei no decorrer desses dezenove anos de carreira. E naquele dia, eu começaria mais uma turnê e dessa vez não estaria sozinho no palco. Mas sim, com a Cristtine Miller. Uma das artistas que também estava naquela colocação.
Assim que eu arrumei tudo o que era meu naquele quarto de hotel, deixei um pequeno recado para aquela menina que dormiu comigo que eu já não conseguia lembrar mais o nome.
Segui para o elevador e fui até o aeroporto. Chegando lá, fui saudado pela Viviane, minha empresária, em todo seu estresse me relembrando do quão irresponsável eu estava sendo. E como melhor resposta, coloquei meu fone de ouvido e entrei no avião.
✨
Uma hora depois estávamos pousando na graciosa Amsterdam e indo ao hotel que ficaríamos por mais uma semana.
- A Cristtine já está aqui. - Viviane comentou ao meu lado logo que passamos pelas portas do hotel com várias pessoas de nossa produção.
- Eu estou vendo.- eu disse quando a observei chegar ao topo daquela longa escada dourada.
Cristtine Miller usava um curto vestido vermelho e estava com óculos escuros. O loiro do seu cabelo reluzia com as luzes da janela à medida que ela descia os degraus da escada.
- E eu vou subir. Acho que vou dormir. – falei com Viviane.
- Enzo! - Ela me repreendeu do jeito que eu sabia.
- Estou brincando, boba. - Beijei sua testa e me afastei.
Comecei a me movimentar, subindo as escadas e me aproximando de Cristtine. Notei que ela falava em total estresse ao telefone. Seus cabelos claros balançavam com seus movimentos frenéticos com a cabeça.
- Então é isso, Isaac? Eu estou cansada disso tudo. - Ela falava com seu namorado.
É, Isaac e Cristtine sempre foram um dos casais mais comentado da imprensa. Mas de alguma forma, eu sabia que tudo ali apenas se mantinha por pressão da mídia, um jogo de marketing, talvez. Isso era mais fácil de acontecer nesse mundo do que um namoro de verdade e só quem estava no meio disso tudo sabia.
- Espera. – Ela falou afastando o telefone e me olhou enquanto se aproximava. - Oi, Enzo. - Ela sorriu ao dirigir a palavra a mim.
- Olá, Cristtine. - Dei um curto sorriso.
- Olha, eu vou ter que resolver umas coisas ali. - Ela revirou os olhos e levantou o celular. - Mas em breve passarei em seu quarto e nós resolveremos tudo que ainda falta, está bem?
- Claro, sem pressa. E espero que tudo se resolva. - Apontei para o celular.
Cristtine acabou rindo. Um sorriso tão bonito quanto ela era.
Então, subi até o meu quarto e dei de cara com a arrumação estava do jeito que eu gostava. Além da cama, metros depois estava um sofá com o meu violão. Encarei meu instrumento e naquele instante, me deu uma vontade enorme de compor. Uma canção diferente de todas que eu já tinha escrito antes.