Capítulo 5 Nina

CAPÍTULO CINCO (Enzo Cooper)

Eu ponho meu trabalho na frente de tudo. Menos minha família e meus amigos, mas você estará no meio para sempre. Então acho que devemos dar um passo atrás, olhar a situação com cuidado. Pois misturar negócios e sentimentos só vai levar a complicações.

- Ed Sheeran, Nina

Abri os olhos naquela manhã e a primeira coisa que me veio à mente foi saber se a Cristtine estava bem.

O nosso show foi incrível, assim como ela estava na noite passada. E eu não poderia passar mais nenhum segundo junto dela se não reagiria da minha forma mais selvagem e quebraria a promessa que eu fiz. Por causa disso, eu acabei saindo de perto dela por uns minutos, encontrei uma fã e a trouxe para o hotel. E pela primeira vez, eu achei aquilo errado.

Depois da minha tarde com a Cristtine falando sobre o "amor" e durante a noite agir daquela forma, foi algo que me fez ficar a noite em claro, enquanto meus extintos masculinos falavam mais alto e ele só pedia: Cristtine, Cristtine. E foi assim que eu passei grande parte da noite acordado pensando em seus olhos vermelhos por lágrimas.

Pela manhã, me levantei da cama e tomei um banho tentando refrescar a minha mente e também tentando acalmar a excitação ao lembrar dela toda suada e incrivelmente sexy em cima daquele palco. Saí do banho e troquei de roupas no momento que a garota morena acordava.

- Bom dia. – Ela me saudou.

- Bom dia. Suas coisas estão aí, estou saindo. Foi um prazer. - Falei enquanto colocava meus óculos escuros.

- Aonde você vai? Vai me deixar aqui? - Ela perguntou e eu a olhei.

- Já deixei tudo claro antes de você vir aqui. – Me afastei e saí.

Chegando fora do quarto me bateu uma vontade enorme de ir até a Cristtine, mas acabei desistindo. Não seria nada sobre o trabalho o que eu queria falar e eu não saberia como ela iria reagir. Então, eu desci para tomar café e encontrei a minha empresária e seu marido. Me juntei a eles.

- Bom dia. – Eu os cumprimentei tirando os óculos escuros.

- Bom dia, Enzo! - Viviane falou no momento que uma garçonete se aproximava.

- Escolhe aí, Viviane. - falei enquanto bocejava.

- Sério que vou ser sua nutricionista também? - Ela perguntou e eu ri.

- E aí, Rafael. Como vai? – perguntei ao seu esposo sentado em minha frente.

- Está tudo bem. E parabéns pelo show de ontem. – Ele acenou com a cabeça.

- Valeu. - Bocejei pela segunda vez.

- Você não dormiu, não é? - Viviane me encarou com os seus olhos enormes e castanhos.

- Bem pouco. - Tomei um gole de café.

- Dormiu com outra fã. - Rafael comentou apontando para a escada atrás de mim. De onde imaginei que a garota estivesse descendo.

- Como assim? A Cristtine não estava com você? - Viviane perguntou.

Mudei minha posição na cadeira e fiquei ereto. Em estado de alarme. O porquê dessa reação, eu não sabia. Mas eu estava mais curioso com outra coisa.

- Não. Ela ficou. - Franzi a testa.

- Não. – Viviane insistiu. - Assim que você saiu, alguns minutos depois ela também foi embora. Pensei que vocês estavam juntos. – Ela sorriu em insinuação.

- Mas ela não ficou para as entrevistas? – perguntei, ignorando sua provocação.

- Não. Ela estava totalmente desanimada depois do show. Acho que foi pelo término do namoro com o Isaac. - Viviane falou séria.

- A internet já está cheia disso, acho que ela já viu. -Rafael comentou.

Eu bufei. Irritado comigo mesmo por não ter ficado ao lado dela e por não ser capaz de me controlar. Eu vi como ela estava frágil na última tarde, não sei por que diabos achei que ela iria ficar bem no resto da noite. Mas eu não podia demonstrar minha frustração, porque teria que explicar suas razões. Preferi ignorar.

- Esse é o problema, você não tem mais privacidade. Não que eu me importe com isso. – Respondi a observação de Rafael.

- Não se importa mesmo. Eu vi que estavam fazendo estudos pra saber com quantas mulheres você já dormiu, Enzo. - Rafael disse e eu gargalhei.

Eu adorava saber como a minha vida pessoal era mais interessante do que problemas mundiais como guerras e pobreza. Idiotas.

- Já estão em quantas mulheres? - Eu perguntei, para saber se aquela fonte ao menos saberia de alguma coisa sobre mim.

- Na última vez em que vi estava de cinquenta e três.

- Ah, então até agora só contou as de um mês. – Eu brinquei.

- Caralho, todo seu dinheiro é para comprar camisinha? - Rafael falou e eu gargalhei mais uma vez.

- Enzo nunca vai aprender até se apaixonar. - Viviane comentou e eu revirei os olhos.

Detestava quando as pessoas insistiam em dizer aquilo. Que eu iria me apaixonar. Que iria pagar minha língua por tudo que fiz e falei. Eles só não entendiam que eu era quase incapaz de amar. Paixão não estava em minha meta de vida porque eu simplesmente não queria.

- Como estão os ingressos do show de amanhã? – eu quis mudar de assunto.

- Já foram esgotados um dia depois de anunciado. - Viviane anunciou e eu arregalei os olhos. - Isso mesmo. Acho que você e a Cristtine têm os melhores fãs que alguém poderia ter.

- Eu com certeza tenho. – Eu disse e olhei o relógio.

- Olha só quem está ali, Enzo. - Viviane indicou para escada e eu me virei para ver uma morena de cabelos longos

Me levantei da cadeira no mesmo instante e caminhei até a mulher que agora subia as escadas.

- Ana! -gritei enquanto me aproximava. - Eu estou aqui.

Ela parou de subir os degraus e sorriu quando me viu.

- Eu estava indo te ver. - ela me abraçou.

- Percebi.

Ela jogou os braços sobre minha cintura e eu coloquei os braços sobre seus ombros e seguimos até o meu quarto.

- Não pude ir ao show ontem, mas soube que foi fantástico. A internet está em fúria. – Ana levantou os braços em comemoração.

- Já viu algum início de turnê minha não ter esse efeito? - sentei-me no pequeno sofá enquanto pegava o meu inseparável videogame.

- Você é metido. – Ana sorriu sentando-se na minha cama. - Como você está, Enzo?

- Do mesmo jeito. E você?

A Ana era uma grande amiga. Desde o início da minha carreira até agora. Estudamos na mesma escola durante o colegial, mas no fim do terceiro ano, sua família se mudou para Holanda e só cultivamos uma amizade de poucos encontros, mas que era mais real do que qualquer outra amiga que eu visse todo dia.

- Isso não é resposta. - Ela revirou os olhos.

- Eu estou bem e voc... droga! – xinguei e bati no controle remoto.

- Para de jogar e me escuta! – Ana censurou, parecia irritada. Mas ela era sempre assim.

- Estou ouvindo.

- Estou com um pequeno problema, Enzo. – Sua voz diminuiu algumas oitavas.

- O quê?

- Acho que estou apaixonada.

E essa foi a minha vez de soltar o controle-remoto. Encarei os olhos escuros de Ana tentando decifrar alguma coisa. Mas ela estava séria.

- Isso é um problema pra você? – eu realmente queria saber.

- Dessa vez é! - ela fez biquinho. - Ele é virgem... - ela comentou baixo e eu caí na risada. - Muito obrigada, Enzo Cooper. - Ela me encarou.

Tentei disfarçar o riso, mas falhei.

- Desculpa. Mas é que não dá. Você, Ana? - ri ainda mais.

- Eu sei. - Sua risada se misturou a minha. - Se ele não for virgem, tem pouca experiência.

Eu respirei fundo e parei de sorrir. Aquela história parecia realmente incomodar minha amiga.

- Eu preciso conhecer esse cara. – disse, com sinceridade.

- Não! Você não. - Ela gritou - Ele é incrível, em tudo. Mas...

- Você quer ser a Ana e pôr empecilhos. – Eu completei.

- Não é emp... – Ela quis questionar e eu só a encarei, sério. - Tá, é. Mas eu não quero tirar virgindade de ninguém, Enzo. - Choramingou.

- Qual o problema nisso? Quando eu tirei a sua, não foi tão ruim assim.

Ana jogou uma almofada em mim e nós sorrimos.

- Não me lembra disso. Estávamos bêbados – ela fez uma careta. - É diferente. Eu sou a mulher da história.

- Ana: A feminista com ideais machistas. Daria um filme legal. – Provoquei.

- Não brinca. É complicado. – Ela choramingou outra vez.

- Você que complica. Isso não é um defeito, e você sabe. Qual o problema de ser a primeira mulher de um cara? Se você o amar, isso será uma dádiva e nunca um problema.

- Você e suas frases de efeitos. – Ela revirou os olhos.

- Não terminei. – Levantei a mão em protesto. - Caso precise saber como tirar a virgindade de alguém, posso te ensinar.

- Idiota. - Ela revirou os olhos outra vez.

- Estou brincando, Aninha. Só quero que você seja feliz. – Eu disse e abri um sorriso curto para ela.

- Obrigada. Mas e você? – ela jogou o assunto para o caminho que eu não queria.

- Eu o quê? - Voltei a jogar.

- Não se apaixonou ainda?

- Não.

- Nem quer?

- Nem quero.

- Por quê?

- Porque não.

- Você é muito fechado quando se trata de você.

- Todos dizem iss... não morre! – esmurrei o sofá.

- Não vou falar mais de mim, se você não falar de você. – Ana insistiu em tirar alguma coisa de mim.

- Você já me falou isso.

- Enzo. – Ela choramingou outra vez e isso me irritou.

- Você ama o meu nome, hein? Eu só não tenho nada para contar e nada interessante aconteceu. – Foquei a visão na tela da TV.

- E a Cristtine? – Ana falou devagar.

Eu parei o jogo e a observei.

- O que tem ela? – eu quis saber.

- Você e ela não...

- Não. – A interrompi.

- Por quê?

- Caralho, cadê o seu virjão? Dá pra ele te levar de volta? – desliguei o jogo que estava acabando comigo naquele dia.

- Te odeio, Enzo. – Minha amiga fechou a cara.

- Te amo, Ana. – Eu me levantei e me aproximei dela na cama. - E o Arthur, como está?

Ana era mãe de um menino lindo chamado Arthur, que por incrível que pareça eu o considerava meu filho, já que o babaca do seu pai o abandonara. Isso que diziam que era ser um homem? Então, eu agradecia por ser um galinha pegador que nunca abandonaria um filho.

- Está com o pai. - Ela revirou os olhos. - Quis passar o sábado com ele, mas já estou indo buscá-lo. - levantou-se da cama.

- Traz ele enquanto eu estiver por aqui ainda. – Eu pedi

- "Mamãe, eu quero ver o tio Enzo" - Ela enfatizou a voz. - Ouço isso quase todos os dias e tudo que posso fazer é te procurar no YouTube.

Eu ri e a acompanhei até a porta.

- Se cuida, tá? - ela me abraçou.

- Fica bem e seja delicada com a sua princesa donzela. – Provoquei.

- Vai se ferrar, Enzo. - Ela sorriu e saiu pelo elevador.

Voltei ao meu quarto e uma parte de mim ainda se inquietava. Será que a Cristtine estava bem? Ou ainda chorava pelo Isaac?

            
            

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