Capítulo 10 Like A Virgin

CAPÍTULO DEZ (Cristtine Miller)

Estava vencida, incompleta, fui enganada, estava triste e deprimida, mas fizeste-me sentir novinha em folha. Como uma virgem tocada pela primeira vez. Como uma virgem, quando o teu coração bate próximo do meu depois da primeira vez.

- Madonna, Like A Virgin

Era estranho e ao mesmo tempo inexplicável a maneira que eu estava me sentindo quando estava com o Enzo. E eu também sabia que era completamente idiota qualquer coisa que pudesse ser. Porque em um dia eu estava terminando um namoro de dois anos e nesse mesmo dia eu estava conhecendo o Enzo Cooper de uma maneira totalmente desconcertante e íntima ao mesmo tempo. E eu poderia sentir que alguma coisa havia mudado porque tudo parecia se resumir a nós dois juntos. Cantando juntos, saindo juntos, tínhamos uma estrela juntos! Mas talvez poderia ser apenas coisas da minha cabeça, como sempre era.

- Ei. – A voz de Enzo me libertou dos meus pensamentos.

- Oi, desculpa. – Sorri para ele e comecei a brincar com as minhas próprias mãos.

- Está tudo bem? - Sua mão pousou em meu ombro e eu engoli em seco.

- Está sim, só estava pensativa. – Ignorei todos os instintos do meu corpo.

- Então, o que você quer fazer primeiro? – ele arqueou a sobrancelha com expectativa.

Eu estava no quarto de Enzo. É, isso mesmo. Eram duas da manhã e eu estava no quarto do Enzo Cooper, e estranhamente, eu estava nervosa. Pensei em quantas meninas já não estiveram ali naquele mesmo horário após cada show dele.

- A gente veio ver filmes, não é? - O encarei ao meu lado e ignorei os meus pensamentos cruéis.

- Temos muitas coisas para fazer além de assistir filmes. – Ele deu um pequeno sorriso.

Eu engoli em seco enquanto umedecia os lábios ao imaginar o que talvez ele quisesse fazer. O que ainda poderíamos fazer juntos. Ouvi a risada de Enzo quebrando o silêncio e a expectativa que estava crescendo em mim.

- Vou te relembrar. – Ele tocou em seu nariz bem desenhado. – Podemos fazer coisas do tipo pôr músicas e dançar e você rir da minha dança malfeita, podemos beber, jogar videogame... Uma longa lista!

- Suas danças não são malfeitas. Você tem uns passos muito sexys. - Sorri enquanto ele me encarava com um rosto impassível e com aquela barba bem-feita que me fez ter vontade de deslizar os dedos sobre ela. – Tem muita coisa legal para escolher só uma. - Eu disse, por fim.

- Temos longos dias pela frente, Cristal. – Enzo se levantou da cama.

Ele não sabia o quão me fazia bem me chamar daquele jeito, o quão era gentil e o quanto eu ficava encantada.

- Eu topo um filme. – Acabei por escolher.

Fui até a cabeceira da cama, me aconcheguei melhor e pus o travesseiro branco em meu colo e encarei Enzo sorrindo logo em minha frente.

- Tudo bem. Qual de romance? – ele perguntou e aquele sorriso torto que fazia minhas bochechas rosarem apareceu.

- Você gosta de romance? – eu perguntei maravilhada.

- Sério isso? – ele deu uma pequena gargalhada. - Não, eu não gosto. Mas você gosta, então eu posso suportar.

- Ah. - Acabei rindo decepcionada. – E do que você gosta?

- De sangue, violência, suspense, aventura, pau... Esse último ficou meio estranho, não é? - Enzo fez uma careta e eu assenti entre risos. - Acho que suspense é o meu preferido.

- Qual a graça em sentir medo? – eu quis saber.

- Qual a graça em chorar? – ele sorriu me encarando.

- Qual problema? Eu gosto. - Tentei parecer ofendida, mas falhei.

- Masoquista. - Enzo resmungou ligando a TV.

E naquele momento, eu estava disposta a aceitar um desafio. Estava disposta a tentar compreender qual era a graça de sentir medo ou qualquer coisa que filmes daquele gênero pudessem atiçar.

- Quero assistir filme de terror. – Eu disse, por fim.

- Acho que eu não ouvi. – Enzo virou-se para me encarar e um sorriso pairou sobre todo o seu rosto.

- Vai, Enzo. Eu aguento. Pode pôr. – falei, pausadamente.

Enzo me lançou um olhar provocativo e me encarou por um longo intervalo de segundos e eu continuava com a expressão mais rígida que eu poderia.

- Ok. Sexta-feira 13. – Enzo escolheu o filme.

- Ai! - um gritou escapou da minha garganta sem que eu pudesse disfarçar.

- O que foi? - Enzo parou de mexer no aparelho e me olhou.

- Eu tenho um medo irracional do Jason. – Confessei, mordendo o lábio e Enzo segurou o riso.

- Então diga que quer ver Titanic. – Seus lábios subiram lentamente.

E eu percebi o quão irritante Enzo poderia ser, mas ele não sabia o quão competitiva eu era.

- Não. Vamos ver o Jason Voorhees. – falei com a voz firme.

- Certeza? – seus olhos me desafiavam.

- Sim. Mas eu vou te acordar de madrugada para ficar comigo. – Dei de ombros.

- Então pretende dormir aqui? – ele arqueou uma sobrancelha e eu hesitei antes de corar.

- Eu não consigo dormir sozinha, já deixei claro. E com Jason não consigo nem ficar sozinha. – Dei ênfase no ficar e tudo já havia sido decidido.

Enzo virou-se sorrindo, e antes de dar play no filme tirou sua camisa preta de linho me fazendo ter dificuldades para respirar e não parar de olhar para toda aquela rigidez, todas aquelas tatuagens, aqueles músculos... Sacudi a cabeça. E Enzo apagou a luz e eu respirei alto.

- Vai querer assistir filme no claro? – sua voz soou na escuridão.

- Será que eu não posso respirar que significa que estou com medo? – eu perguntei firme.

- Você é tão clara quanto um cristal, não precisa fingir nada comigo. – Enzo deitou-se ao meu lado.

Assistimos os primeiros dezoito minutos de filme em silêncio até eu ter um primeiro arrepio e me agarrar ao Enzo que sorria a cada fechada de olho que eu dava, a cada grito abafado, e quando a cena era mais forte, ele me apertava contra seu peito.

E se passaram quase duas longas horas de filme.

- Está vendo? Ninguém morreu. - Enzo comentou ao meu lado.

- Ninguém o quê? – eu gritei.

- Eu e você. – Ele corrigiu, levantando-se e pegando um copo d'água para me entregar.

- Eu não acho graça nesse filme. – Confessei, aceitando a água.

- Talvez porque não seja de comédia. - Enzo sorriu antes de beijar minha testa e fazer sinal para eu me deitar novamente.

- Acende a luz! – pedi.

- Isso ainda é med...

- Não. – O interrompi. – Eu só quero ver o seu rosto. – Eu sorri enquanto ele acendia as luzes e se deitava ao meu lado.

Me aconcheguei na cama, me encolhendo em mim mesma e sentindo o meu corpo tremer com o frio da madrugada.

- Não precisa ter medo. - Enzo me puxou para mais perto, me fazendo descansar a cabeça em seu peito assim como estávamos horas atrás.

O seu perfume, a rigidez de seu tórax, e sua mão sobre minhas costas fizeram com que o medo que eu sentia diminuísse. Enzo estava com olhos fechados quando levantei o rosto pra encará-lo.

- Eu não estou com sono. – Eu disse.

- Sei que não. - Seus olhos cinza se abriram e me fitavam próximos demais. - Seus olhos cor de avelã estão enormes, sem nenhum vestígio de vermelhidão. E esperando qualquer barulho de pesadas fortes com um facão.

Acabei rindo e deixei a minha cabeça tombar por seu peito outra vez. Eu sei que eu deveria ficar calada e ficar quietinha até o sono chegar, mas eu simplesmente não conseguia. Eu precisava muito conversar, tirar as dúvidas que ainda estavam martelando em minha cabeça.

- Tem certeza de que todas aquelas letras de amor não são inspiradas em alguém? – eu puxei o assunto de nossa primeira conversa.

Enzo ficou um minuto em silêncio, mas percebi quando ele soltou a respiração.

- É inspiração de alguém, mas um alguém diferente do que vocês estão acostumados. – Ele disse, por fim. Fiquei em silêncio. - E você? Tem inspiração de alguém?

Me virei para o encarar e fiz uma careta.

- Sério que você está me perguntando isso? – ele franziu a testa. - Eu sou conhecida como a mulher que compõe para cada término de namoro.

- Não falo disso. Falo de alguém especial, que se eternizou de alguma forma. – Sua voz estava baixa, profunda.

- Não. – Eu disse.

Mas naquele instante eu desejei ter alguém para que eu pudesse eternizar nas outras milhares canções de amor que eu ainda escreveria. E eu percebi que eu desejava que Enzo fosse esse alguém.

Notei que o rosto de Enzo me encarava parcialmente, e próximo o bastante para que pela segunda vez, sua boca capturasse a minha. Me aproximei mais do seu corpo para tentar ficar a sua altura enquanto sua mão passeava em cada contorno meu. O seu beijo era quente, doce e tão desejável por mais e mais. E por isso que em instantes, eu estava por baixo daquele homem, quando de repente, ele soltou meus lábios.

- Cristtine... – sua voz estava rouca e baixa. - Eu não posso...

- Enzo, eu quero! Só isso. - Me ouvi falando.

E então...

Depois de quase uma noite inteira acordada enroscada ao Enzo, meu corpo implorava por descanso, mas antes do sono me invadir por inteira pude ouvir de longe um sussurro de Enzo sobre meus cabelos:

- Obrigado por isso, minha Cristal. Boa noite.

Logo depois, Enzo beijou o topo de minha cabeça e eu já estava inconsciente.

            
            

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