Capítulo 8 Only Hope

CAPÍTULO OITO (Cristtine Miller)

Canta pra mim a canção das estrelas da sua galáxia dançando e rindo e rindo de novo. Quando parece que os meus sonhos estão tão distantes, canta pra mim os planos que você tem pra mim outra vez.

- Mandy Moore, Only Hope

A minha noite anterior foi incrivelmente linda, as estrelas brilhavam forte e eu sentia como se eu fosse feita do seu brilho. A tranquilidade daquela noite foi de certa forma confortante para todas aquelas novidades que estavam acontecendo dentro de mim e rodando em minha mente.

Andar com o Enzo pelas escuras ruas de Amsterdam sendo iluminados apenas pelas estrelas e a brilhante lua era a coisa mais próxima do paraíso que eu já tinha previsto. E em todos os momentos que passamos naquela noite, um sorriso lindo que poderia iluminar toda aquela cidade estava preso em seu rosto, e me fazia ficar sem ar. Depois de um bom tempo voltamos ao hotel, Enzo se despediu de mim beijando de leve o meu rosto me fazendo ter dificuldade para respirar e tudo que eu sabia fazer era apenas corar, enquanto o seu sorriso se mantinha.

E agora, eu estava acordada naquela manhã quente. Tudo ali era tranquilo e suave. E eu respirava fundo, sentindo a liberdade e paz me abraçando de pouquinho em pouquinho.

A nossa agenda naquele dia estava corrida. Nós iríamos nos apresentar em um programa de TV á tarde e logo após, quando a noite caísse, teríamos outro show.

Eu estava no meu quarto, deitada na cama e observando a minha empresária falar ao telefone com os apresentadores do programa, enquanto eu estava navegando na internet.

- Tudo certo, Cris. – Carol avisou quando desligou o celular e se sentou ao meu lado.

- Às três da tarde mesmo? – eu perguntei, ainda mantendo o meu rosto na tela do notebook e terminava de ler uma matéria crítica sobre nossa nova turnê. Carol assentiu e ficou em silêncio.

- Você está bem? – senti o olhar dela sobre mim.

- Muito bem. Por quê? – a encarei.

Me conhecendo como nenhuma outra pessoa, Carol me olhou com desconfiança e eu mordi o lábio.

- Porque você está muito animada para quem acabou um namoro há três dias. Nem parece aquela Cristtine que chora tanto após um romance acabar. – Ela revirou os olhos e eu sorri.

- A minha vida não acabou porque uma pessoa foi embora. – Eu dei de ombros. – "Para você ser feliz, você tem que se amar primeiro, ser completa." E...

- Frase feita! De quem é essa? – ela me interrompeu, e eu voltei a sorrir mais uma vez.

- Enzo. – Eu disse baixo.

- Do Enzo, uau. – Carol suspirou. - De qual música?

- Não é de nenhuma música dele. Ele mesmo que me falou quando eu acabei com o Isaac.

Narrei para minha amiga a conversa que tivemos no dia em que nosso relacionamento acabou. E em como as palavras de Enzo fizeram tanto sentido para mim e eu fui cega demais por não ter percebido durante os últimos anos que eu havia desperdiçado ao lado de Isaac.

- Hum. Então o nome dessa superação é Enzo Cooper. – Carol concluiu com um sorriso irônico.

- A gente tem um bom relacionamento tanto profissional quanto pessoal. E não me olha assim! – mudei de linha de raciocínio quando observei aqueles pares de olhos negros me olhando com desconfiança, e observando com precisão cada palavra que saía da minha boca, junto com qualquer reação que poderia eu está tendo.

- Estou te olhando como? – Carol sorriu. – Eu só não sabia que você e o Enzo tinham contato pessoal também.

- Não tínhamos, mas tudo mudou. – Eu dei de ombros.

- Vocês já transaram? - ela foi direta e me fez dar um pulo para trás na cama. - É muito raro alguém não ter transado com ele ainda.

Eu gargalhei. Aquilo era verdade. Ele sabia bem aproveitar sua vida de solteiro e não se importava nem um pouco com a chuva de opiniões alheias que caiam sobre sua vida. E isso era mais um dos seus charmes.

- Não. – Respondi, por fim. - A gente só se beijou uma vez. - Umedeci os lábios com a lembrança.

- Só isso? – Carol franziu a testa.

- Nós somos só amigos. - Quis mudar de assunto e voltei a atenção para tela do meu notebook.

- Nem você acredita no que falou. – Ela insistiu.

- Carol, você sabe que... O que foi? – eu parei de falar enquanto ela continuava a ver através de mim.

- O quê?

- Por que você continua me olhando assim? - Choraminguei.

Seus olhos negros me olhavam desconfiados e eu me sentia exposta demais.

- Já disse que não sei como estou te olhando. E vem cá, ainda vamos escolher sua roupa. – Ela percebeu o meu incômodo e mudou de assunto.

Agradeci. Carol era minha empresária, mas acima de tudo era minha amiga. Nós criamos um vínculo incrível. Ela sempre esteve comigo e construímos um laço forte de amizade. Eu a considerava como uma irmã mais velha. Ela era linda. De cabelo cortado estilo Joãozinho e escuros e alta. Muito alta.

- Vem, Cris. Eu sou sua empresária, não sua estilista. Venha comigo. – Ela voltou a chamar minha atenção.

- Estou indo.

Já eram duas e quarenta e oito da tarde e eu estava pronta. Calçava sapatilhas vermelhas, junto com um short de tecido também vermelho e uma blusa listrada de preto e branco. Maquiagem a de sempre e o meu cabelo preso.

- Está linda. - Carol ajeitou minha franja, como a detalhista que era. - Que música vocês irão cantar? – ela me perguntou.

- Bem, Enzo e eu somos ótimos em improvisos. – Sorri com orgulho para ela.

- "Enzo e eu" - Carol repetiu e eu fiz uma careta.

Nós saímos do meu quarto no mesmo instante que Viviane e Enzo saíam do dele.

- Que homem lindo! - Carol sussurrou ao meu lado enquanto o Enzo virava e sorria para mim.

Ele estava usando uma camisa xadrez e sem nenhuma novidade, ele estava lindo.

- Olá, Cristtine. – Enzo me dirigiu a palavra quando nos aproximamos.

- Oi. - Eu falei e sorri enquanto ele me observava dos pés à cabeça e eu sentia meu corpo pegar fogo.

- Vocês estão atrasados, se lembram disso? - Carol falou ao nosso lado.

- Já falei isso ao Enzo umas quinze vezes. - Viviane resmungou. - Eu ganho muito pouco para isso. – Ela revirou os olhos.

Enzo sorriu. E o meu coração errou uma batida. Eu não aguentava vê-lo sorrir daquele jeito sem também sorrir.

- E então, Enzo, você e a Cristtine já tinham contato antes dessa nova turnê? - O apresentador agora perguntava ao Enzo.

Nós já estávamos naquele programa e no meio da nossa entrevista quando Enzo dirigiu o olhar para mim pela vigésima sétima vez e sorriu.

- Eu e a Cristtine temos coincidências que nos ligam, mas acho que nosso relacionamento tanto profissional quanto pessoal mudou desde o início da turnê. – Enzo respondeu.

Eu estava sentada ao seu lado naquele sofá vermelho e de repente, tudo ficou um pouco mais quente.

- Então foi a primeira vez que vocês subiram em um palco juntos? – o apresentador continuou a perguntar e Enzo assentiu.

- O fato de vocês estarem juntos pela primeira vez e alcançarem essa quantidade de público é um fenômeno – o apresentador falou com empolgação. - Cristtine, você tem alguma coisa para falar a respeito do seu término de namoro? - Ele me olhou com um sorriso falso no rosto.

Tudo bem. Não era como se eu esperasse que as pessoas já tivessem parado de comentar sobre aquilo, eu apenas não esperava que em um programa ao vivo de TV aquela pergunta realmente iria ser feita. Não quando as perguntas para o Enzo eram estritamente profissionais, sobre o seu trabalho e para mim, as perguntas sempre envolviam minha vida amorosa e pessoal. Privilégios da indústria...

- Não acho que isso seja assunto de domínio público, mas respondendo sua pergunta, eu não tenho que falar nada a respeito do que já acabou. Não estava dando certo, apenas isso. – Forcei um sorriso.

Essa era a parte que eu mais odiava. Não era porque eu expunha minha vida que isso daria o direito de outras pessoas opinarem sobre o que não a interessavam.

- Enfim... - o apresentador continuou meio sem graça. - Hoje terá o segundo show de vocês aqui!

- Sim, teremos. E todos estão convidados. - Eu disse, sorrindo.

- Bom, infelizmente chegamos ao fim do programa. – Já havia passado duas horas e eu estava a ponto de surtar. - Foi um prazer, Enzo Cooper e Cristtine Miller, desejamos todo sucesso do mundo para vocês. Agora vocês podem terminar cantando mais uma para gente?

- Claro. – Enzo disse e pegou minha mão, me ajudando a levantar e me levou até um pequeno palco ao nosso lado.

- O que vamos cantar? – eu sussurrei para ele porque o repertório que havíamos preparado e ensaiado já havíamos usado todos naquele programa.

- Não sei. Cover de Everything Has Changed? Conhece? – ele sussurrou de volta.

- Conheço, mas como? – me perguntei, me sentindo ansiosa.

- Improvisa e vai.

Enzo começou a tocar os primeiros acordes em seu violão e eu o acompanhei e comecei a cantar:

-"Tudo que eu sabia esta manhã quando acordei, é que eu sei de uma coisa agora, agora sei de algo que não sabia antes. E tudo que eu vejo há dezoito horas são olhos verdes, sardas e seu sorriso na minha memória, me fazendo sentir que...

Enzo entrou comigo com sua voz incrivelmente linda entoando o refrão:

- "Eu só quero te conhecer melhor, conhecê-lo melhor, conhecê-lo melhor agora. Eu só quero te conhecer melhor, conhecê-lo melhor, conhecê-lo melhor agora. Porque tudo o que eu sei é que nós dissemos "oi" e seus olhos são como voltar para casa, tudo o que eu sei é um simples nome. Tudo mudou. Tudo o que sei é que você segurou a porta. Você vai ser meu e eu serei sua, tudo o que sei desde ontem é que tudo mudou."

Me calei e foi a vez de Enzo cantar sozinho, a calmaria de sua voz tocou em meu coração assim que ele começou:

- "E todas as minhas paredes são altas e pintadas de azul, mas eu vou derrubá-las, vou derrubá-las e abrir a porta para você. E tudo que eu sinto são borboletas no estômago do tipo bonito, recuperando o tempo perdido, pegando voo, me fazendo sentir que: Eu só quero te conhecer melhor, conhecê-lo melhor, conhecê-lo melhor agora..."

Eu voltei a cantar, e dessa vez era como se aquele trecho daquela música resumisse tudo que eu quisesse falar a ele:

- "Volte e me diga o porquê. Estou me sentindo como se tivesse sentido sua falta durante todo esse tempo. Me encontre lá esta noite e me deixe saber que não é tudo coisa da minha cabeça."

Enzo sorriu como se entendesse, o que talvez, estivesse estampado em meus olhos. E voltamos a cantar juntos e dessa vez, eu olhando em seus olhos e ele nos meus:

-" Então se livre das suas maiores esperanças, tudo o que lembro é a chuva caindo e tudo mudou. Tudo o que conheço é um novo encanto, por todos os meus dias lembrarei do seu rosto. Tudo o que sei desde ontem, é que tudo mudou."

Ouvimos aplausos assim que terminamos de cantar e logo em seguida recebi seu abraço caloroso e entendi o que era aquilo.

Desde ontem tudo realmente mudou. Estrelas, Enzo e meu coração carente...

É, só iria terminar assim.

            
            

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