O Legado da Verdadeira Herdeira
img img O Legado da Verdadeira Herdeira img Capítulo 3 O Sorriso da Serpente
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Capítulo 10 A Noiva do Silêncio img
Capítulo 11 A Voz da Verdadeira Herdeira img
Capítulo 12 A Mancha img
Capítulo 13 O Peso do Coração img
Capítulo 14 O Peso do Anel img
Capítulo 15 Sob os Olhos da Farsa img
Capítulo 16 O Suspiro img
Capítulo 17 As Sombras e o Sussurro img
Capítulo 18 A Noiva Louca img
Capítulo 19 Entre o Riso e o Suspiro img
Capítulo 20 O Murmúrio img
Capítulo 21 O Eco do Silêncio img
Capítulo 22 O Veneno e o Suspiro img
Capítulo 23 O Elo e a Ruína img
Capítulo 24 O Peso da Palavra img
Capítulo 25 O Despertar no Silêncio img
Capítulo 26 O Segredo no Quarto img
Capítulo 27 O Segredo Revelado img
Capítulo 28 O Despertar Negado img
Capítulo 29 Vozes e Provas img
Capítulo 30 O Olhar Entreaberto img
Capítulo 31 O Sussurro e o Alvoroço img
Capítulo 32 A Voz Entre as Sombras img
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Capítulo 3 O Sorriso da Serpente

O som de cascos de cavalos ecoou pelo pátio da mansão, seguido pelo ranger elegante das rodas de uma carruagem luxuosa. Do alto da escadaria, Sabrina observava a chegada de quem, em outra vida, roubara não apenas sua confiança, mas também seu futuro.

Ele desceu da carruagem com a graça estudada de quem sabe o peso que carrega em cada gesto. Alto, imponente, com o olhar seguro e um sorriso que tantas vezes a havia feito acreditar em ilusões, o homem aproximava-se como se fosse dono de tudo ao redor. O noivo prometido, aquele que, por anos, havia fingido ser seu guardião e amante, mas que não passava de uma serpente envenenada escondida sob pele de príncipe.

Seu coração apertou-se. A memória de suas mãos frias a empurrando para a ruína voltou como uma lâmina, mas desta vez não houve lágrimas. Havia, em seus olhos, apenas a clareza gélida de quem já não se deixava enganar.

- Minha querida - ele disse ao subir os últimos degraus, inclinando-se para beijar-lhe a mão. - Está ainda mais linda do que me lembrava.

Na vida anterior, aquele simples gesto teria arrancado-lhe um sorriso tímido, teria feito seu coração disparar e acreditar que o destino lhe sorria. Agora, ela conteve o impulso de recuar e permitiu o toque, mas seus olhos permaneceram frios, observando cada detalhe, cada nuance da expressão dele.

- É bom vê-lo novamente - respondeu, a voz suave, mas firme, como se fosse uma atriz em sua melhor atuação.

Ele ergueu os olhos, tentando decifrá-la, e por um breve segundo pareceu surpreso. Havia algo diferente nela, algo que não se encaixava na imagem da noiva ingênua que ele conhecia. Mas logo o sorriso perfeito retornou, ocultando qualquer suspeita.

Durante o almoço, o salão foi tomado por risadas e conversas animadas. O pai dela, orgulhoso, falava dos negócios em expansão, enquanto a mãe comentava sobre os preparativos para o noivado. O noivo traidor fingia interesse, elogiando cada detalhe, lançando olhares ternos para a noiva como se ela fosse seu mundo. Mas ela sabia. Sabia que, por trás de cada palavra doce, escondia-se a promessa secreta feita à falsa filha - a impostora que, naquele momento, talvez estivesse sorrindo em algum canto, acreditando-se vencedora de uma batalha que nem havia começado.

Ela observava em silêncio, deixando que a encenação continuasse. Queria gravar em sua mente cada gesto dele, cada mentira bem colocada, para um dia poder destruí-lo com as próprias armas.

Quando a refeição terminou, caminharam juntos pelos jardins. Ele segurou-lhe o braço com delicadeza, conduzindo-a entre as flores recém-regadas.

- Parece cansada - comentou, a voz suave, quase preocupada. - Espero que não esteja sobrecarregada com os preparativos.

Ela sorriu, um sorriso que não alcançou os olhos.

- Estou bem. Apenas refletindo.

- Refletindo? - Ele arqueou uma sobrancelha. - Sobre o quê?

Ela parou diante de uma roseira e tocou uma pétala vermelha. O coração batia acelerado, mas sua voz permaneceu firme.

- Sobre como as aparências podem enganar.

O silêncio entre eles durou um segundo a mais do que deveria. Ele a observou, o sorriso vacilando por uma fração de instante, antes de recuperar a compostura.

- Que pensamento curioso para uma jovem prestes a se casar.

- A juventude aprende rápido quando precisa - respondeu ela, erguendo o olhar para o dele, que tentava sondá-la.

Ele riu, mas o som pareceu vazio. Aproximou-se mais, baixando a voz.

- Você sempre foi diferente das outras. Talvez seja isso que mais me fascina.

Ela conteve o impulso de cuspir-lhe a verdade na cara: que o único fascínio que ele nutria era pelo poder que sua família representava, e que seu coração já estava entregue à falsa filha. Mas respirou fundo. A vingança precisava ser construída com paciência, tijolo por tijolo.

Ao entardecer, quando ele finalmente se despediu, inclinou-se outra vez para beijar-lhe a mão. Dessa vez, ela não apenas permitiu, como também inclinou-se ligeiramente para que ele acreditasse em sua docilidade. O jogo precisava continuar.

Mas, quando a carruagem se afastou, o olhar dela escureceu. O sorriso da serpente não a enganaria mais.

Retornou ao quarto e trancou-se sozinha, abrindo novamente o caderno onde rabiscava planos. Escreveu em letras firmes:

"Não me apaixonarei novamente. Não cairei na farsa. Vou proteger meu pai, minha mãe, e... vou encontrá-lo."

A lembrança do homem em coma, do amigo de infância que jurara estar ao lado dela, veio como um sopro de esperança. Enquanto o traidor tramava pelas sombras, ela se fortalecia na luz da determinação.

E assim, naquela noite, selou em silêncio o pacto com si mesma: nunca mais seria a noiva enganada. Seria a herdeira verdadeira, e seu legado começava a ser escrito naquele instante.

            
            

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