O Legado da Verdadeira Herdeira
img img O Legado da Verdadeira Herdeira img Capítulo 8 As Correntes Invisíveis
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Capítulo 10 A Noiva do Silêncio img
Capítulo 11 A Voz da Verdadeira Herdeira img
Capítulo 12 A Mancha img
Capítulo 13 O Peso do Coração img
Capítulo 14 O Peso do Anel img
Capítulo 15 Sob os Olhos da Farsa img
Capítulo 16 O Suspiro img
Capítulo 17 As Sombras e o Sussurro img
Capítulo 18 A Noiva Louca img
Capítulo 19 Entre o Riso e o Suspiro img
Capítulo 20 O Murmúrio img
Capítulo 21 O Eco do Silêncio img
Capítulo 22 O Veneno e o Suspiro img
Capítulo 23 O Elo e a Ruína img
Capítulo 24 O Peso da Palavra img
Capítulo 25 O Despertar no Silêncio img
Capítulo 26 O Segredo no Quarto img
Capítulo 27 O Segredo Revelado img
Capítulo 28 O Despertar Negado img
Capítulo 29 Vozes e Provas img
Capítulo 30 O Olhar Entreaberto img
Capítulo 31 O Sussurro e o Alvoroço img
Capítulo 32 A Voz Entre as Sombras img
Capítulo 33 Vozes que Não Podem Ser Caladas img
Capítulo 34 O Ataque na Madrugada img
Capítulo 35 A Força do Desespero img
Capítulo 36 Vozes Quebradas, Mentiras Inteiras img
Capítulo 37 Voz e Silêncio img
Capítulo 38 O Amor e a Guerra img
Capítulo 39 O Primeiro Movimento img
Capítulo 40 Passos e Feridas img
Capítulo 41 Vozes e Mentiras img
Capítulo 42 Rumores e Primeiros Passos img
Capítulo 43 Preparativos e Armadilhas img
Capítulo 44 O Peso da Verdade img
Capítulo 45 Entre a Vida e a Verdade img
Capítulo 46 Mentiras em Manchetes img
Capítulo 47 O Retorno Silencioso img
Capítulo 48 A Voz que Quebra o Silêncio img
Capítulo 49 O Dia Seguinte img
Capítulo 50 O Tribunal em Chamas img
Capítulo 51 A Aparição img
Capítulo 52 A Queda dos Poderosos img
Capítulo 53 Entre o Amor e a Sombra img
Capítulo 54 Quando a Noite Sangra img
Capítulo 55 O Cerco img
Capítulo 56 O Último Jogo img
Capítulo 57 O Dia da Verdade img
Capítulo 58 O Tribunal em Chamas img
Capítulo 59 Sangue no Tribunal img
Capítulo 60 O Fio da Justiça img
Capítulo 61 Entre a Luz e a Sombra img
Capítulo 62 Rastros na Sombra img
Capítulo 63 O Retorno ao Trono img
Capítulo 64 A Teia Oculta img
Capítulo 65 Fogo por Dentro img
Capítulo 66 Entre Promessas img
Capítulo 67 O Ataque em Plena Luz img
Capítulo 68 Vozes da Cidade img
Capítulo 69 O Espetáculo da Crueldade img
Capítulo 70 A Virada img
Capítulo 71 O Galpão do Porto img
Capítulo 72 Cortando as Veias img
Capítulo 73 O Golpe do Desespero img
Capítulo 74 O Coração da Cidade img
Capítulo 75 O Cerco img
Capítulo 76 Ecos no Escuro img
Capítulo 77 A Emboscada img
Capítulo 78 O Teatro da Loucura img
Capítulo 79 O Outro Lado da Porta img
Capítulo 80 O Encontro img
Capítulo 81 Sangue nos Espelhos img
Capítulo 82 Corações em Chamas img
Capítulo 83 Verdades na Chama img
Capítulo 84 Entre o Amor e a Guerra img
Capítulo 85 O Duelo da Verdade img
Capítulo 86 A Virada img
Capítulo 87 A Alma da Batalha img
Capítulo 88 Sangue e Fogo img
Capítulo 89 O Peso da Escolha img
Capítulo 90 Depois da Tempestade img
Capítulo 91 Entre Ruínas e Promessas img
Capítulo 92 O Peso do Nome img
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Capítulo 8 As Correntes Invisíveis

A manhã nasceu cinzenta, e a cidade parecia respirar sob um manto pesado de rumores. Nas colunas sociais, manchetes questionavam a sanidade da jovem herdeira que ousava ligar seu nome ao de um homem em coma. Os jornais se dividiam entre zombarias e especulações: uns a chamavam de calculista, outros de romântica desesperada. Mas nenhum deles conhecia a verdade. Nenhum sabia da promessa que corria por baixo da pele, alimentada pela lembrança de duas crianças que, um dia, olharam as mesmas estrelas e juraram reencontrar-se.

Na mansão Castellani, Sabrina caminhava pelos corredores com passos firmes, ignorando os olhares desconfiados das empregadas e os cochichos abafados dos parentes que se reuniam em cantos escuros. Já não se permitia tremer. Cada olhar de desprezo era combustível para a chama que ardia em seu peito. Ao abrir a porta do quarto de Gael, encontrou-o do mesmo jeito: imóvel, sereno, preso ao silêncio das máquinas. Mas, para ela, havia vida em cada detalhe.

Sentou-se ao lado da cama e segurou-lhe a mão.

- O mundo inteiro pode rir de mim, Gael. - Sua voz estava baixa, mas carregada de convicção. - Que riam. Quando você acordar, verá que não restou nada deles. Só nós.

Por um instante, jurou sentir os dedos dele moverem-se sob os seus, mas talvez fosse apenas sua imaginação teimando em criar sinais. Ainda assim, esse detalhe bastou para reacender sua determinação.

Naquela tarde, reuniu-se novamente com o advogado Navarro, desta vez acompanhada de um juiz de paz e de um representante do cartório. A sala estava repleta de papéis, carimbos e olhares sérios. A decisão que tomava não era apenas simbólica: era legal, irrevogável, e arriscava transformá-la em alvo de ataques ainda mais ferozes.

- Entende bem o que está pedindo? - perguntou o juiz, os olhos fixos nela. - Um casamento com alguém em estado de coma exige justificativas sólidas.

Ela respirou fundo.

- Justificativas? - Um sorriso triste surgiu em seus lábios. - Eu as tenho em excesso. Ele não tem voz agora, mas eu vou ser essa voz. Se preciso enfrentar tribunais, colunas sociais ou a fúria dos próprios deuses, eu enfrentarei. Porque eu sei quem ele é. Sei quem sempre foi.

O silêncio da sala se fez denso. Navarro, discreto, inclinou-se para frente.

- Meritíssimo, já apresentamos registros da convivência entre ambos desde a infância. Há também a concordância da curatela e a manifestação expressa da família da requerente, que apoia a decisão.

O juiz suspirou, cético, mas assentiu.

- Muito bem. Prosseguiremos. Mas prepare-se, senhorita: haverá contestação.

- Eu já me acostumei a ser contestada. - respondeu ela.

No mesmo dia, enquanto deixava o prédio, encontrou-se com os tios de Gael. Eles a esperavam como predadores à espreita.

- Você enlouqueceu - disse Domingos, a voz carregada de fúria. - Casar-se com um homem em coma? Isso é ridículo.

Ela não parou de andar, mas suas palavras foram afiadas como navalha.

- Ridículo é roubar a herança de alguém que não pode se defender.

- Você está cavando a própria sepultura. - O outro tio, mais contido, apertou os olhos. - A sociedade não perdoa escândalos.

Ela se virou, encarando-os com a serenidade de quem já havia conhecido a morte.

- Eu já estive no fundo de uma sepultura. E garanto: lá não havia vocês para me amedrontar.

Seguiu adiante, deixando-os paralisados pela firmeza de sua resposta.

Os preparativos começaram em silêncio. Não haveria festa, nem convites espalhados, nem flores enfeitando catedrais. O casamento seria discreto, realizado apenas para selar o vínculo legal. Mas, em segredo, ela cuidava de cada detalhe como se fosse um ritual sagrado.

Na primeira noite em que entrou na capela do hospital, sozinha, ajoelhou-se diante do altar vazio. O cheiro de incenso antigo e madeira encerada a envolveu, e pela primeira vez em muito tempo deixou as lágrimas rolarem sem contenção.

- Eu não estou fazendo isso por conveniência - murmurou, olhando para as velas apagadas. - Estou fazendo porque você foi o único que se importou quando todos me abandonaram. Mesmo que tenha sido tarde demais.

Acendeu uma vela e deixou que a chama tremulasse. Era como se selasse um pacto silencioso com o destino.

Nos dias seguintes, a pressão social aumentou. As colunas sociais estampavam seu nome ao lado de termos como "aliança improvável" e "noiva insana". Jovens de famílias tradicionais cochichavam ao vê-la em eventos, e até alguns parentes distantes começaram a questionar sua sanidade. Mas ela não cedia. Cada vez que sentia o peso da dúvida, corria até o hospital e passava horas ao lado de Gael, lendo relatórios em voz alta, contando-lhe cada vitória, cada golpe frustrado dos inimigos.

- Eles pensam que você está sozinho, mas não está. - dizia, segurando sua mão. - Cada contrato que assino, cada documento que carimbo, é mais uma parede que construo ao seu redor. Até que desperte.

E, embora ele não respondesse, havia algo em seu rosto imóvel que a fazia acreditar que ouvia.

Na véspera da cerimônia, foi chamada às pressas para uma reunião do conselho. Os tios de Gael exigiam explicações, tentando atrasar o casamento.

- Isso é uma farsa - gritou Domingos, batendo na mesa. - Você está se casando apenas para controlar os bens!

Ela permaneceu sentada, calma, e respondeu:

- Sim, é para controlar os bens. Mas não para mim. Para ele. - Apontou para o retrato de Gael na parede. - O que vocês esqueceram é que este império tem dono. E eu sou apenas a guardiã até que ele desperte.

O silêncio tomou a sala. Pela primeira vez, alguns dos conselheiros desviaram os olhos dos tios, como se começassem a enxergar nela a liderança que faltava.

Na madrugada, voltou ao quarto de Gael. Sentou-se à beira da cama, segurou sua mão e apoiou a testa sobre ela.

- Amanhã seremos marido e mulher, ainda que você não saiba. - sussurrou. - Não sei se um dia vai me agradecer ou me odiar por isso. Mas não me arrependo. Eu quero estar ao seu lado, de todas as formas possíveis.

As lágrimas caíram silenciosas, molhando os lençóis. Por um instante, jurou sentir uma leve pressão em seus dedos, como se Gael, em algum lugar de seu sono profundo, tivesse ouvido e respondido.

Ela fechou os olhos e sorriu entre lágrimas.

- Amanhã, Gael. Amanhã começamos juntos.

            
            

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