O Legado da Verdadeira Herdeira
img img O Legado da Verdadeira Herdeira img Capítulo 9 O Voto Silencioso
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Capítulo 10 A Noiva do Silêncio img
Capítulo 11 A Voz da Verdadeira Herdeira img
Capítulo 12 A Mancha img
Capítulo 13 O Peso do Coração img
Capítulo 14 O Peso do Anel img
Capítulo 15 Sob os Olhos da Farsa img
Capítulo 16 O Suspiro img
Capítulo 17 As Sombras e o Sussurro img
Capítulo 18 A Noiva Louca img
Capítulo 19 Entre o Riso e o Suspiro img
Capítulo 20 O Murmúrio img
Capítulo 21 O Eco do Silêncio img
Capítulo 22 O Veneno e o Suspiro img
Capítulo 23 O Elo e a Ruína img
Capítulo 24 O Peso da Palavra img
Capítulo 25 O Despertar no Silêncio img
Capítulo 26 O Segredo no Quarto img
Capítulo 27 O Segredo Revelado img
Capítulo 28 O Despertar Negado img
Capítulo 29 Vozes e Provas img
Capítulo 30 O Olhar Entreaberto img
Capítulo 31 O Sussurro e o Alvoroço img
Capítulo 32 A Voz Entre as Sombras img
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Capítulo 9 O Voto Silencioso

O sol nasceu tímido naquele dia, escondendo-se entre nuvens densas, como se o próprio céu respeitasse o que estava prestes a acontecer. A cidade seguia sua rotina alheia, mas no hospital Castellani, uma capela discreta se tornava palco de um dos atos mais ousados e silenciosos da história daquela família.

A Sabrina caminhava pelo corredor com passos firmes, o vestido simples de seda branca deslizando pelo chão como um sussurro. Não havia joias ostentosas nem véus luxuosos. Apenas um buquê de lírios em suas mãos e a certeza de que nenhum ouro do mundo poderia pesar mais do que aquela decisão.

Dentro da capela, Navarro e o juiz de paz a aguardavam. Alguns médicos e enfermeiras assistiam em silêncio, testemunhas discretas de um matrimônio incomum. Os tios de Gael também estavam ali, não por respeito, mas porque haviam exigido presença. Os rostos deles eram de pura indignação, como se cada vela acesa fosse uma afronta pessoal.

Gael fora trazido em sua maca, ligado às máquinas que mantinham sua respiração e monitoravam cada batida do coração. O som regular dos aparelhos contrastava com a solenidade do ambiente, lembrando a todos que, embora o noivo não pudesse pronunciar votos, sua vida pulsava ali, inegável.

Quando ela se aproximou, um silêncio reverente tomou conta da capela.

- Estamos reunidos aqui... - começou o juiz, com voz firme, mas carregada de estranheza - ...para unir em matrimônio, perante a lei e a fé, esta mulher e este homem que, embora em estado de inconsciência, é representado por sua curadora legal.

Os sussurros começaram de imediato entre os presentes. Um dos tios ergueu-se, furioso.

- Isso é uma palhaçada! Um casamento sem consentimento é inválido!

Navarro levantou-se, o olhar frio.

- O consentimento está registrado. Há documentos, testemunhos do vínculo deles desde a infância e a autorização judicial. Nada do que diga aqui mudará o que já está autorizado.

A Sabrina manteve-se serena. Não permitiria que a raiva dos inimigos manchasse aquele momento. Segurou a mão de Gael, fria e imóvel, mas surpreendentemente firme.

- Eu estou aqui - disse, em voz baixa, apenas para ele. - Não importa quem queira impedir. Eu escolho você. Hoje e sempre.

O juiz prosseguiu, conduzindo a cerimônia com a rigidez da lei, mas, para ela, cada palavra soava como promessa eterna.

Quando chegou o momento dos votos, os olhos dela se encheram de lágrimas.

- Prometo cuidar de você, Gael - disse, a voz embargada. - Prometo proteger sua vida, sua herança, seu nome e sua memória. Prometo não deixar que ninguém roube o que é seu, nem que a mentira se sobreponha à verdade. E, mesmo que o mundo inteiro me chame de louca, eu permanecerei ao seu lado até que desperte.

O silêncio da capela foi absoluto. Até os tios, por um instante, pareciam não ter palavras para atacar. O juiz pediu o anel. Ela mesma havia escolhido dois simples, de prata, sem ostentação. Colocou o anel no dedo de Gael, sua mão trêmula de emoção. Depois, deslizou o outro em sua própria mão, sentindo o peso da decisão gravado em sua pele.

- Eu os declaro marido e mulher. - A voz do juiz ecoou pela capela. - O que foi unido aqui, nem os homens nem os tribunais poderão separar sem justa causa.

Houve um momento de silêncio, como se o ar tivesse parado. Então, ela inclinou-se e beijou a testa de Gael, selando o voto com a ternura de quem não esperava retorno, mas oferecia tudo.

As enfermeiras suspiraram baixinho. Navarro desviou o olhar para esconder a emoção. Já os tios saíram abruptamente, cuspindo ofensas pelo corredor.

- Você cavou a própria ruína! - gritou Domingos antes de desaparecer porta afora.

Ela permaneceu ajoelhada ao lado de Gael, segurando sua mão com firmeza.

- Não, Domingos - murmurou, mais para si mesma do que para ele. - Eu cavei a ruína de vocês.

Após a cerimônia, o hospital ficou tomado pelo burburinho. Alguns funcionários a olhavam com admiração, outros com pena, mas ninguém ousava se aproximar. A notícia se espalharia em minutos, e no dia seguinte os jornais estampariam manchetes histéricas: "A noiva do homem em coma", "Casamento por interesse ou devoção?". Mas nada disso importava.

Naquela noite, ela voltou ao quarto de Gael como esposa. Sentou-se ao seu lado, agora com a sensação de que um elo invisível os ligava para sempre.

- Somos marido e mulher, Gael - disse, acariciando-lhe o rosto. - O mundo pode não entender, mas eu sei. Eu sei que você é a única pessoa que não me abandonou, mesmo quando já era tarde demais. Agora, eu vou viver por nós dois até que você acorde.

Fechou os olhos e recostou a cabeça na beira da cama, exausta. Ficou ali por horas, em silêncio, ouvindo apenas o compasso da respiração dele.

E, em algum lugar profundo de sua mente adormecida, Gael sentiu. Uma memória acendeu-se: o riso dela no orfanato, a mão quente segurando a sua, a promessa feita sob o luar. Seu corpo permaneceu imóvel, mas seu coração disparou por um instante, forte, como se respondesse: "Eu escuto. Eu estou aqui."

Do lado de fora, os tios já se reuniam às pressas em um escritório luxuoso, planejando os próximos passos.

- Precisamos anular isso imediatamente! - Domingos rugia, batendo na mesa. - Se ela consolidar essa posição, perderemos o controle da Castellani Group!

O outro tio, mais frio, acendeu um charuto.

- A anulação não será simples. Legalmente, ela é esposa dele. A única forma de tirá-la do caminho é provar que... não merece confiança.

- Difamação? - Domingos estreitou os olhos.

- Muito mais que isso. Vamos expô-la, destruí-la em público, como fizemos com outros antes.

As fagulhas do charuto brilharam no escuro, refletindo o início de um plano sombrio.

De volta ao quarto, Sabrina finalmente adormeceu ao lado de Gael, ainda de vestido simples, como uma sentinela vencida pelo cansaço. Seus dedos, porém, continuaram entrelaçados aos dele.

E, no silêncio da noite, quando o mundo inteiro parecia dormir, uma lágrima escorreu do canto do olho fechado de Gael.

                         

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