Meu despertador em todas as manhãs, era o som dos galos cantando e o cheiro de café que meu pai sempre fazia antes de o sol nascer. Nossa pousada não era grande, mas era familiar e exigia dedicação todos os dias, o que eu fazia com muito gosto. Entre hóspedes, arrumação, contas e meus estudos na faculdade, eu vivia com a sensação de que o tempo corria mais rápido para mim do que para os outros. Queria que meu dia tivesse mais de 24 horas.
Desci a escada ainda com meu pijama do Park Boo Gum, eu amava ele, e encontrei meu pai sentado à mesa, já com a xícara de café na mão e o jornal aberto. Ele sempre lia as notícias como se fosse a coisa mais importante do mundo, mesmo que fosse só para reclamar do preço do arroz.
- Bom dia, filha. - Ele levantou os olhos do jornal e sorriu. - Dormiu bem?
- Dormi. - puxei a cadeira e me sentei de frente para ele. - E o senhor, sonhou com a mamãe de novo?
Ele suspirou, desviando o olhar para o jornal. Sempre que tocava no nome da minha mãe, era assim: um silêncio que falava mais do que qualquer palavra.
- Às vezes sonho. Mas não foi essa noite. - disse, com a voz baixa.
Sorri de leve, tentando não prolongar o assunto. Eu não tinha lembranças dela, mas, pelo jeito como meu pai falava, era como se ela ainda estivesse aqui.
Enquanto bebia o café, ouvi o motor de um carro estacionando na frente da pousada. Normalmente, não tínhamos hóspedes naquela época do ano, e a maioria era gente de passagem. Mas aquele carro me chamou a atenção de imediato. Um SUV preto, com vidros escuros, diferente dos carros simples que costumavam parar ali.
Levantei-me para espiar pela janela. Foi quando o vi pela primeira vez.
Um homem alto, imponente, com cerca de um metro e noventa, ombros largos e corpo forte. Os cabelos castanhos estavam levemente desgrenhados, e os olhos azuis pareciam frios e atentos, como se analisassem tudo ao redor. Sua presença era quase intimidadora, mas ao mesmo tempo impossível de ignorar.
- Quem será esse homem? Até que é bonito. - murmurei, sem perceber que tinha falado em voz alta.
Meu pai se levantou também, ajeitando a camisa. Quando olhou pela janela, sorriu de um jeito que não via há tempos.
- Esse eu conheço. - disse, antes de sair em direção à porta.
Curiosa, segui atrás dele. Quando meu pai abriu a porta da pousada, o homem já estava subindo os degraus da varanda.
- Antonio! - A voz dele era firme, grave, mas ao mesmo tempo calorosa. - Quanto tempo, meu amigo.
- Nathaniel! - meu pai abriu os braços, recebendo-o com um abraço forte. - Eu não acreditaria se me contassem. O que faz por aqui?
- Decidi me esconder do mundo. - respondeu ele, com um meio sorriso. - E lembrei da sua pousada.
Fiquei parada na porta, observando os dois se cumprimentarem. Meu pai parecia feliz, mas ao mesmo tempo surpreso. Eu, por outro lado, não conseguia tirar os olhos do estranho.
Meu pai percebeu minha presença e fez um gesto para me apresentar.
- Essa é minha filha, Zoe. Não sei se você se lembra dela, era apenas um bebê da última vez.
Nathaniel voltou o olhar para mim, e por um instante senti um arrepio. Seus olhos azuis se fixaram nos meus, e eu quase perdi o fôlego.
Eu tinha apenas um metro e sessenta e três, pele clara e cabelos cacheados, compridos e cheios, da cor de chocolate. Meus olhos, da mesma cor dos cabelos, sempre me fizeram parecer mais séria do que eu realmente era, e meus lábios carnudos eram motivo de comentários desde a adolescência. Eu sabia que não chamava atenção por ser delicada ou frágil, mas sim pelo meu jeito determinado - e, às vezes, bravo.
- Claro que não lembraria. - disse ele, com um leve sorriso. - Prazer, Zoe.
- Prazer. - respondi, tentando soar natural, mas minha voz quase falhou.
Ele estendeu a mão, e quando segurei a dele, a sensação foi estranha. Uma mistura de segurança e perigo, calor e frieza. Algo que eu não sabia se queria soltar ou segurar para sempre.
Meu pai não percebeu meu silêncio, ocupado em fazer perguntas sobre a vida do velho amigo. Mas eu... eu sabia, naquele instante, que a chegada de Nathaniel mudaria minha vida de um jeito que eu jamais imaginava.