Me instalei na pousada por uns dias. Até ter meu próprio canto, que não iria demorar pois já estava de olho em uma casa, ao lado da pousada. E era essa mesmo que seria minha.
Quando comprei a casa ao lado da pousada, sabia que estava adquirindo mais do que paredes e telhados. Era uma mansão antiga, bonita, mas com marcas de abandono e necessidade de cuidado. Para mim, aquilo não era um problema; era um desafio. Sempre gostei de colocar as mãos na massa, de sentir o suor escorrendo, de ver algo ganhar forma com meu esforço.
Naquele primeiro dia, acordei cedo, vesti apenas um short, tênis e um boné para proteger a cabeça do sol forte. Sem camisa, senti o vento bater na pele, misturando calor e liberdade. Peguei as ferramentas e comecei a trabalhar, arrancando pedaços de madeira podre, limpando o jardim, consertando telhas soltas. Cada martelada era uma pequena vitória, e o silêncio da manhã era o único som que ouvia... até que ela apareceu.
Eu a vi primeiro no portão da pousada, observando. Zoe. A menina que cresceu praticamente na frente da minha casa sem eu nunca imaginar que um dia me tiraria o fôlego. Ela estava de uniforme da faculdade, mochila nas costas, cabelos cacheados caindo pelos ombros, pele clara que parecia refletir a luz do sol, e aqueles olhos... cor de chocolate, atentos, intrigados, talvez até incomodados com a visão de um homem sem camisa trabalhando ali.
Por um instante, senti o peso da minha própria consciência. A diferença de idade, a prudência que sempre carreguei... e mesmo assim, não consegui desviar o olhar dela.
- Oi Nathaniel... - a voz dela soou nervosa, curiosa. - O senhor... faz tudo sozinho?
- Sim. - respondi, limpando o suor da testa. - Gosto de fazer minhas próprias reformas. Não confio em ninguém para essas coisas.
Ela se aproximou um pouco, só o suficiente para sentir o cheiro do meu suor misturado ao perfume do cimento e da madeira. Meus músculos trabalhavam sob a pele bronzeada pelo sol, e eu senti o olhar dela percorrendo cada detalhe. Eu tinha uma marca de tiro no peito, era imperceptível, o que quase tirou a minha vida uma vez. Mas sou como fênix, e renasci das cinzas. Zoe era observadora, curiosa... e não parecia se intimidar.
- Você... - começou, hesitando, - sempre foi assim? Forte, decidido, impossível de ignorar?
Sorri de leve, o que a fez franzir a testa, como se não soubesse se eu estava debochando ou falando sério.
- Sempre. Mas é engraçado você perceber só agora. - brinquei, e ela revirou os olhos.
Os dias passaram rápido, mas cada manhã começava igual: eu na mansão, trabalhando nas reformas, e ela passando pela frente da casa a caminho da faculdade ou da pousada. Nunca foi coincidência. Sempre que ela aparecia, meu corpo reagia antes da mente. Um arrepio subia da nuca até a coluna, o calor no peito aumentava, e eu me lembrava, com irritante clareza, que aquele sentimento que eu jurava controlar estava bem vivo.
Zoe tinha esse jeito único de se aproximar, mesmo sem querer, sem saber. Caminhava com postura firme, cabeça erguida, e ainda assim, os cabelos cacheados balançando com cada passo, como se cada fio tivesse vida própria. A pele clara dela contrastava com o sol da manhã, e aqueles olhos cor de chocolate me avaliavam, inquisitivos, como se tentassem adivinhar cada pensamento meu.
- Nathaniel... - chamou uma manhã, enquanto eu martelava uma tábua solta na varanda. - Não vai se machucar com esse peso?
- Não se preocupe. - respondi, sem tirar os olhos dela. - Sei o que estou fazendo.
Ela se aproximou, estudando cada músculo trabalhando sob a pele bronzeada. Zoe era fascinante. A jovem de 24 anos, apenas um metro e sessenta e três, pele clara, cabelos cacheados e compridos cor de chocolate, lábios carnudos e expressão determinada, conseguia ser ao mesmo tempo provocante e inocente.
- Você nunca descansa, né? - disse, com tom misto de reprovação e admiração.
- Descansar é para os fracos. - respondi, arqueando as sobrancelhas. - E, sinceramente, não consigo descansar quando você está me observando.
Ela corou, desviando o olhar, e senti um sorriso se formar em meus lábios. Cada olhar, cada palavra, cada gesto dela me deixava inquieto. Zoe me puxava para perto mesmo sem encostar, provocando algo que eu não queria admitir.
- Então... você gosta que eu fique por perto? - perguntou baixinho, curiosa e desafiadora.
- Depende de quem está por perto. - disse, firme, mas deixando o duplo sentido claro. - Você consegue ser bastante... intrigante.
Ela engoliu em seco, um sorriso tímido nos lábios. Aquilo era perigoso. Perigoso e delicioso. Zoe invadia meu espaço de paz sem pedir licença. E, embora eu tentasse resistir, sabia que cedo ou tarde essa tensão explodiria - e eu não estava certo se estaria pronto para lidar com isso.
Mas uma coisa era clara: não conseguiria fugir dela, não por muito tempo.