Capítulo 8 Um homem mais velho

Sophia Hayes

Olhei em volta e notei os quadros lotados de informações, tantas descobertas alinhadas. Me perguntei se meu pai tinha algo parecido em sua casa. Eu nunca o visitei depois que ele se mudou para Washington D.C, ainda não tive coragem para ir até a casa dele. Ainda não pude sequer pensar no assunto, porém o endereço continua na minha bolsa junto com as chaves e o controle da garagem.

Já passava da hora de fazer isso. Talvez eu precise de ajuda.

Fotos de vigilância, mapas, transcrições de depoimentos grifados, relatórios de prisão, entre tantas outras coisas, tudo milimetricamente organizado, era como se eu pudesse ver a batida acontecendo através desses quadros, cada passo dado, cada pessoa que participou e cada decisão tomada pelo homem que agora estava parado atrás de mim. Sim, eu sinto em cada fibra do meu corpo, cada célula sente a proximidade, elas esquentam, elas queimam. Sinto que se ele me tocar, mesmo que seja apenas passageiro, eu vou explodir.

- Você é incrível - verbalizei o que a minha cabeça estava pensando, me arrependendo em seguida do que havia acabado de dizer, mas ele se manteve em silêncio sobre isso apesar de tudo. Nem mesmo uma risadinha debochada característica.

- Aqui você vai ver de maneira sistemática aquilo que leu nos relatórios, mas os meus informantes e os do seu pai eram diferentes, - ele andou até a mesa e se encostou nela de uma maneira que já o vi fazer várias vezes e ainda assim me arrancou um suspiro quando notei a calça de moletom marcar as coxas bem torneadas e fortes. Olhando mais atentamente, dava para ver o contorno do músculo, de cada um deles. Ele sabe que continuo olhando, mas não fez questão. Ele apenas continuou o assunto como se estivesse acostumado com o fato de eu estar sempre secando ele. Eu nunca senti tesão por homens mais velhos, claro, admiro alguns e até acho gostosos, como o Jon Bon Jovi, Mads Mikkelsen, o Kevin Costner, e sim talvez eu tenha uma quedinha pelo Severus Snape do filme, mas esse tesão louco que sinto quando olho para o meu parceiro, isso é novo demais para mim e assustador.

- Cada agente tem uma maneira de se preparar, essa é a minha, talvez o seu pai tenha um registro mais detalhado, o que você achou?

Encarei o homem na minha frente, braços fortes cruzados na frente do peito, enquanto segurava uma cerveja da minha marca favorita. Vestindo uma camisa preta como a que estou vestindo, calça de moletom cinza que estava muito baixa e que não escondia parte do cinturão de Aquiles quando a camisa sobe só um pouquinho.

E descalço. Bom, belos pés.

Foi aí que notei que seu piso estava aquecido.

A voz dele me trouxe de volta. - Hayes, no que você está pensando - olhei para ele piscando os olhos para voltar a mim. - Seu piso é aquecido... - ele sorriu tomando um gole da cerveja e me olhando como se eu fosse uma Idiota, ele faz muito isso. - Gosto de andar descalço. - Disse como se não fosse uma grande coisa, mas era uma informação muito pessoal, balancei a cabeça em concordância, estando em um piso de madeira quentinho eu também não usaria sapatos.

Bom, eu não estou usando sapatos.

Tomei um gole da cerveja tentando voltar ao meu raciocínio, encarando tudo em volta, menos o homem que me tira do eixo, - Você tem algo para me dizer, não tem? - perguntou, mas eu sei que ele queria apenas afirmar isso. E eu suspirei. - Você já ouviu a história da "Rainha do coração que sangra?" - Era uma pergunta idiota para se fazer a um homem como ele, mas eu precisava saber se meu pai já mencionou a história para ele antes.

Percebendo a sua confusão, eu sabia que não e que seu silêncio era um indicativo para que eu continuasse.

- A rainha do coração que sangra é uma história do tipo conto de fadas, mas sem o final feliz, bom, pelo menos sem os finais felizes tradicionais. Se parece mais com "Os contos de Grimm"...

...Conta a história de Salma, uma futura rainha que se apaixona por um homem mal, e que para detê-lo precisa matá-lo. - Ele está prestando total atenção em mim enquanto conto a história resumidamente, e isso me faz sentir bem, ele estava me ouvindo, era bom que alguém como ele fizesse isso.

- A história tem muitas reviravoltas, mas o ponto é: ela o amava, mas tinha que matá-lo pelo bem do reino. E ela o faz. Por isso a moral da história é: "Um coração que sangra é mais forte do que um coração que parou de bater.".

- Foi o que o seu pai disse quando deixou a mensagem para você? - arregalei os olhos em choque por que ele realmente me ouvia quando eu falava, suspirei - Foi isso - Segui tomando a cerveja até esvaziar a garrafa - Vai com calma - A voz forte de Hendrix soou muito perto e notei que ele segurava a garrafa que eu estava bebendo - Tudo bem - disse e ele soltou a garrafa se aproximando.

- Então você acha que "Salma", a Informante, é a mesma da história? - Era mais ou menos o que eu pensava, sim. Mas não ousei falar com as mesmas palavras - Acho que meu pai me deixou uma mensagem para eu saber quem procurar se algo desse errado como ele estava prevendo. - Era isso, esperava que ele pudesse acreditar em mim e me ajudar com isso. Tinha certeza de que eu estava suplicando, porque meu tom de voz estava choroso e eu sentia um nó na garganta.

- Sophia, - Senti uma lágrima teimosa escorrer pela minha bochecha.

Logo em seguida os dedos quentes do meu parceiro segurando meu queixo, enxugando cordialmente meu rosto, mas não foi isso o que senti. Na verdade, não foi só isso. Os calos nos dedos da mão grande e firme, a temperatura morna mesmo que tenha segurado uma garrafa de cerveja segundos antes, o hálito quente.

Mas, principalmente o tom de voz dizendo pela primeira vez o meu nome, - "Sophia" - Era o meu nome, mas na boca dele, parecia ser dele, total e completamente dele.

- Você está bem? - Essa era uma pergunta difícil.

Eu não estava bem, eu não dormia há dias, estava sobrevivendo com congelados, café e álcool, devorando relatórios que não me diziam nada, procurando pistas em um história inventada por um pai, um homem que na maioria das vezes era frio e direto demais. Estava quase tendo um colapso mental, eu estava sozinha, não tinha mais família, e agora estava com as minhas pernas trêmulas pela proximidade do meu parceiro. - Vou ficar bem. - Disse, mas era uma mentira, uma muito grande.

Pelas deusas, eu tomei duas cervejas e já estava chorando na frente do meu parceiro, do homem que deveria confiar em mim em um tiroteio. - Hendrix, por favor, isso... - me afastei para conseguir respirar, mas seu cheiro entrou por meu nariz e eu simplesmente fechei meus olhos, era isso. Ele também deu um passo para trás, senti seus dedos deixando meu rosto e imediatamente senti falta do seu toque, e inferno, isso me assustou como nem mesmo uma arma apontada para minha têmpora o fez.

- Acho que devo ir... - Disse, temendo que minha voz fosse apenas um gemido e suspirando ao perceber que não foi.

- Porque não fica, eu tenho um quarto de hóspedes e a chuva continua lá fora, não gostaria que dirigisse nesse tempo e nem neste estado, Sophia... - E lá estava ele, meu nome nos lábios mais suculentos que já vi.

- Pela Deusa, eu estava babando no meu parceiro novamente.

            
            

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