Capítulo 4 O Impossível

A lua cheia permanecia alta sobre o acampamento, testemunha silenciosa da celebração que incendiava o acampamento Kalderash. Nunca o clã parecera tão vivo. O som dos violinos, tambores e pandeiros misturava-se ao riso, às palmas e ao rodar das saias coloridas. O vento frio da montanha fazia as chamas das fogueiras dançarem como serpentes douradas.

No centro do acampamento, um grande círculo de pedras fora preparado - o espaço sagrado onde o destino de Liliana Bari e Drago seria selado. As mulheres haviam decorado as tendas com fitas vermelhas e flores secas; os homens traziam vinho e pão, símbolos de fartura e continuidade.

Liliana surgiu de dentro da tenda comunal, vestida de vermelho profundo, a cor da paixão e da vida. O vestido, bordado à mão com fios dourados, ajustava-se ao corpo com elegância cigana, e o véu leve caía sobre os cabelos castanhos que reluziam sob a luz da lua. Em seus pulsos, fitas vermelhas e douradas entrelaçadas, e no pescoço, um amuleto em forma de lua crescente.

Todos se calaram ao vê-la. Até as chamas pareciam arder em silêncio.

Drago esperava ao centro do círculo, vestindo um traje escuro e simples, mas sua presença eclipsava tudo. A luz refletida na pele pálida fazia dele algo mais que um homem - um símbolo. Ele estendeu a mão, e Liliana a tomou, unindo o calor da vida ao frio da eternidade.

O patriarca ergueu o cajado e começou as bênçãos antigas, em romani:

- "Que o vento leve as dores e traga apenas a verdade. Que o fogo una os caminhos. Que o sangue guarde o pacto."

A drabarni, com o rosto coberto por um véu escuro, aproximou-se com uma taça de vinho e um punhal cerimonial.

- "Que a lua testemunhe o juramento, e que o sangue una o que o destino escreveu."

Drago então colocou a mão sobre o coração de Liliana.

- "A partir desta noite, não há reinos separados, nem sangue dividido. Somos um só."

Ela respondeu, a voz firme e suave:

- "Nem o dia, nem a noite, nem o tempo há de separar o que foi escolhido pela lua."

O violino chorou uma última nota, longa e bela. A festa explodiu em aplausos, danças e gargalhadas. O vinho correu, os tambores ecoaram pelas montanhas, e a lua brilhou mais forte - prateando o acampamento como se a própria Ishtar sorrisse sobre eles.

Quando a madrugada se aproximou, a drabarni acendeu sete velas ao redor da tenda onde Liliana e Drago repousariam. Era o rito da união eterna - quando o amor e o destino se tornavam uma só essência.

Lá dentro, o vento parecia suspenso, e a lua, filtrada pelo tecido fino, banhava tudo em luz prateada. Drago e Liliana permaneceram frente a frente, em silêncio. Nenhum deles precisava de palavras. O que se cumpriria ali não era apenas o desejo, mas a promessa feita há séculos.

Ele a despiu com a paciência de quem desvela um segredo, retirando cada peça como se fosse uma pétala preciosa. E ela, em silêncio, retribuiu o gesto com igual delicadeza. Seus olhos traçavam cada contorno do torso másculo perfeitamente delineado, como quem admira uma obra-prima em mármore, e suas mãos, leves como plumas, exploravam os músculos com uma suavidade que parecia desafiar o tempo. Ele a ergueu pela cintura, e por um instante que parecia eterno, seus lábios percorriam com sutileza a pele dela macia como a pétala de uma rosa, o cheiro dela era inebriante. "Eu te quero, eu te amo, seja minha..", ele sussurrava entre os beijos a roçar-lhe a pele. Liliana sentia um pequeno arrepio a cada palavra dita.

Ele a deitou entre os lençóis e por um instante hesitou como se quisesse pedir permissão para invadir o corpo dela, e ela se limitou a olhar com ternura e anseio.

Então seus corpos se fundiram como dois rios que finalmente se encontram, movendo-se em perfeita harmonia, tornando-se um só sob a luz silenciosa do momento.

O mundo pareceu suspender a respiração - o tempo se diluiu, e o luar, filtrado pelas rendas da tenda nupcial, envolveu-os como uma só pulsação, quente e luminosa. As respirações se entrelaçaram, acelerando a cada toque. Havia urgência e ternura no ritmo crescente, como se o próprio coração do mundo batesse junto aos deles. Cada toque, cada suspiro, reverberava nas paredes de tecido, apagando tudo além daquele instante sagrado e privado. O ápice do amor deles veio com gemidos mútuos e ferozes.

Quando finalmente se separaram, exaustos e ofegantes, recostaram-se sobre os mantos macios e almofadas espalhadas, ainda sentindo a vibração de cada gesto. O ar perfumado com velas e incenso parecia pulsar ao ritmo de seus corações, e, embora permanecessem em silêncio, compartilhavam a mesma consciência: aquele momento havia deixado uma marca indelével, um fio invisível que agora os ligava para sempre, selado sob a luz suave da lua que entrava pela tenda.

A pequena mancha vermelha sobre o lençol fez Drago olhar de relance e sorrir, e voltou ao rosto de Liliana beijando-lhe a testa suavemente e tirando uma mecha de cabelo dos olhos dela.

- Agora és minha mulher, minha esposa, minha rainha... mas o que realmente somos ainda está por nascer.

...

- Você tem certeza de que quer isso? - murmurou Drago, cada palavra quase um roçar de fogo contra a pele dela.

Liliana sentiu o mundo se estreitar até aquele momento. Seus olhos encontraram os dele, firmes, decididos. - Sim. - A palavra era um suspiro e uma entrega, ao mesmo tempo.

Ele sorriu, um gesto lento e predador, e inclinou-se. Seus dentes tocaram o pescoço dela com precisão letal, e o calor do sangue explodiu na boca dele, pulsando com a força da vida dela. A cada gole, algo antigo e luminoso despertava dentro dele, uma presença que atravessava séculos, que se erguia como chama eterna. O sangue dela era diferente de tudo que Drago experimentou em centenas de anos. Não era à toa que todos temiam ela ser desejada por outros vampiros. O poder, do sangue dela, era único e inegável. O coração dela, pequeno e acelerado, batia contra os lábios dele, até que, gradualmente, foi diminuindo o ritmo e ela começou a ceder nos braços dele, a respiração lenta, os olhos turvos. Naquele instante, não era apenas sangue que fluía; era vida, desejo, eternidade - e Drago sentiu-se consumido e completo, preso àquele instante impossível de esquecer.

Antes que ela pudesse atravessar completamente a ponte entre a vida e a morte, ele a segurou firme, inclinando sua boca gelada em direção ao próprio pescoço. O tempo pareceu congelar, cada respiração carregada de tensão e expectativa.

- Morda e beba, minha pequena flor - ordenou, a voz baixa, firme e carregada de um magnetismo quase impossível de resistir.

Liliana hesitou por um instante, e então, com uma coragem que o fez estremecer, seus dentes tocaram a pele dele. A mordida foi rápida e decidida, quente e intensa, sugando não apenas sangue, mas também a força antiga que pulsava em seu corpo. Um arrepio percorreu ambos, como se a vida e a eternidade se entrelaçassem naquele toque. O calor do desejo, o choque da dor e do prazer, e a consciência de que nada seria igual, tudo se condensava naquele instante ritualístico, perigoso e absoluto.

A dor foi breve. Depois veio apenas calor, e uma sensação de imensidão. O sangue de Drago corria agora junto ao dela - fogo e sombra entrelaçados.

Quando abriram os olhos, havia algo diferente no ar. A chama das velas tremulava, mas não se apagava. A respiração dela era calma. O coração batia - lento, mas firme.

Drago a observou, os olhos suaves e ardentes ao mesmo tempo, e murmurou acariciando os cabelos dela:

- "Renascida sob a lua. Rainha de todos os caminhos. E minha, para sempre, em todas as vidas que ainda virão. Eu te amo, serei somente teu, Liliana Bari Farkas."

Liliana sorriu, sentindo cada palavra penetrar na alma. Suas mãos tocaram o rosto dele, firme e ternamente, e respondeu, com a voz baixa e cheia de convicção:

- "E eu te amo, Drago. Meu sangue, minha vida, meu destino são teus, agora e para sempre. Em todas as vidas, em todos os mundos, serei tua."

A noite caía lentamente sobre o acampamento, tingindo de prata os contornos das Dolomitas. Liliana ajustava o vestido vermelho cuidadosamente, sentindo o tecido leve e frio contra a pele, enquanto a respiração acelerava com a expectativa. Seus cabelos escuros estavam soltos sobre os ombros, e o véu leve balançava com a brisa da noite.

Drago apareceu diante dela, trajando um manto escuro que parecia absorver a luz da lua. A imponência do Strigoi, mesmo imóvel, enchia o espaço entre eles.

- Está pronta? - perguntou ele, voz baixa, firme, mas com uma ponta de suavidade que só Liliana conseguia perceber.

Ela sorriu, erguendo o queixo com a mistura de rebeldia e fascínio que sempre marcara seu espírito.

- Pronta, sim. E curiosa.

Eles caminharam lado a lado pelo acampamento silencioso, rodeados pelas carroças do bando, até a carroça principal de Drago. Diferente das outras, esta era completamente selada, sem janelas, apenas uma única porta robusta. A madeira escura refletia a luz da lua, e a sensação que emanava era de segurança absoluta e mistério contido.

Drago abriu a porta, e Liliana sentiu um frio estranho misturado a uma atração silenciosa. O interior era inesperadamente confortável e luxuoso, um contraste com a austeridade da vida no acampamento. Tapetes espessos cobriam o chão, as paredes eram decoradas com painéis entalhados e cortinas de veludo profundo pendiam. apenas lampiões iluminavam o recinto.

No canto, um baú transformado em cama chamava a atenção: largo, coberto por lençóis e mantas de veludo vermelho, perfumados com essências suaves de flores e ervas. Havia travesseiros macios, e cada detalhe parecia pensado para conforto e privacidade - como se aquele fosse um pequeno mundo à parte, longe de olhares curiosos.

Liliana permaneceu parada diante do baú-cama, os dedos deslizando pelo veludo. O silêncio da carroça parecia engolir cada som, cada respiração. Ela ergueu os olhos para Drago, a luz do lampião refletindo em seu rosto, e disse, quase em um sussurro:

- Então... este será nosso refúgio e nosso túmulo? O lugar onde o tempo se curvará diante de nós, e a eternidade nos envolverá?

Drago inclinou-se levemente, observando-a com olhos que pareciam conter séculos de conhecimento e promessas não ditas. Um leve sorriso curvou seus lábios, frio e caloroso ao mesmo tempo, e sua voz profunda soou como uma prece antiga:

- Não um túmulo, Liliana. Um santuário. Um lugar onde o mundo lá fora não pode nos tocar, mas onde cada instante será nosso. Aqui, a eternidade não é prisão... é liberdade. Liberdade para escolher, sentir, e ser nós mesmos, sem limites, sem medo.

Ela engoliu em seco, o coração batendo acelerado, e deu um passo em direção à cama. O toque do veludo sob os dedos a fez suspirar, mas não de cansaço - de antecipação, de descoberta.

Sorriu, sentindo uma estranha paz misturada à tensão. - Então escolho estar aqui. Com você. - A voz firme, mas o coração disparado.

Drago se inclinou devagar, tão próximo que ela podia sentir a presença intensa dele, e por um instante o mundo lá fora deixou de existir. Um silêncio profundo se formou, carregado de promessas e destino, antes que ele tocasse os lábios dela com um beijo, selando o começo de algo eterno.

Ele soltou-se suavemente do beijo, mas permaneceu próximo, observando Liliana com um olhar que misturava ternura, fascínio e proteção. Lentamente, ele se dirigiu ao baú-cama.

A cama de veludo parecia abraçá-lo, macia e acolhedora, e ele se acomodou cuidadosamente, fechando a tampa atrás de si como se fosse o portal para o refúgio deles.

Liliana se aninhou ao lado dele, sentindo a presença e a segurança que emanava de Drago. Havia algo na firmeza de seus braços, que dissipava todas as inquietações do dia, toda a tensão da profecia e do destino que os unia.

Ela descansou a cabeça contra o peito dele, permitindo-se finalmente relaxar. O mundo lá fora desapareceu; o vento, as fogueiras, os tambores do acampamento se tornaram apenas uma lembrança distante.

E então, envolta pelo silêncio e pelo toque de Drago, Liliana caiu em um sono profundo, sereno e tranquilo, aninhada na segurança e no amor daquele estranho milenar que agora compartilhava sua eternidade.

...

Liliana se remexeu no sono, mergulhando em um sonho vívido. Chamas altas dançavam em torno de uma paisagem sombria, iluminando apenas o contorno de um homem poderoso e sombrio, com olhos cinzentos que pareciam conter séculos de domínio e mistério. Sobre ele, a lua cheia brilhava intensamente, pendendo baixa e luminosa, refletindo-se em feixes prateados.

No céu acima, uma figura feminina surgia entre as chamas - Ishtar, a mãe primordial, a Primeira Bruxa, a Deusa da Magia.

Sua presença era magnética e impunha respeito, como se os elementos obedecessem a cada gesto seu. Liliana sentiu que algo estava sendo exigido dela, uma promessa ou escolha que transcendia o tempo. O homem poderoso ergueu a mão em sua direção, e a chama dançou em torno dos dedos dele, aquecendo-a de forma intensa, enquanto a deusa a observava em silêncio, os olhos brilhando como estrelas.

Um estalo de luz e um arrepio percorreu seu corpo, e Liliana despertou. Seus olhos se abriram lentamente dentro da escuridão da carroça, e ela se moveu com cuidado para não acordar Drago.

Ao sair da cama-baú, sentindo o veludo macio sob os pés, percebeu algo inesperado: um raio de luz solar entrava pelo canto da carroça, passando por um minúsculo buraco no teto, uma brecha no selamento perfeito da madeira. A luz não era intensa, atingia apenas uma pequena parte do espaço, tocando o chão e o batente da porta.

Liliana engoliu em seco. Lembrava-se das lendas sobre vampiros e do perigo da luz do sol, e seu coração disparou. Movida pela curiosidade, estendeu a mão, imaginando sentir o calor ardente como se colocasse o dedo numa chama de vela.

Para sua surpresa, não houve dor alguma. O dedo atravessou o raio de luz como se fosse transparente, sem queimaduras, sem choque.

Ela ficou por alguns instantes, observando o pequeno feixe de sol que brincava sobre o chão da carroça. Um sorriso curioso se formou em seus lábios. Ainda com Drago dormindo ao lado, ela murmurou baixinho:

- Então... algumas lendas não são exatamente verdadeiras.

A sensação era estranha, fascinante. Pela primeira vez, Liliana sentiu que poderia tocar a luz do dia sem medo, mesmo sendo a companheira de um Strigoi. Um misto de coragem e admiração percorreu seu corpo, e ela permaneceu ali, sentindo a quietude da manhã e a presença silenciosa de Drago. O mundo lá fora ainda dormia, mas dentro da carroça, naquele pequeno raio de sol, algo se tornava possível: descobrir o equilíbrio entre luz e sombra, humano e eterno.

Ela percebeu que a porta da carroça, fechada por dentro para a segurança de Drago, estava coberta por uma cortina grossa, bloqueando qualquer raio de luz que pudesse penetrar. Mesmo aberta, o sol não invadia o interior, preservando o descanso do vampiro.

Curiosa e silenciosa, Liliana aproximou-se da porta. Com cuidado, destravou o mecanismo , deslizou os dedos pela pequena fresta, imaginando sentir o calor ardente do sol, como se encostasse numa chama viva. Para seu espanto, não houve dor alguma - apenas o calor gentil do sol matinal, aquecendo a ponta dos dedos.

Um sorriso curioso cruzou seu rosto, e ela suspirou baixinho. Sem se apressar, levantou o vestido e colocou o pé e a perna nua para fora, cautelosa, esperando o mesmo ardor que as lendas anunciavam. Mas novamente, nada aconteceu. O calor era suave, acariciando a pele como se nada tivesse mudado.

Liliana respirou fundo, sentindo uma mistura de alívio e fascínio. Decidida, finalmente colocou o corpo inteiro para fora da carroça. O sol da manhã tocou sua pele com delicadeza, aquecendo-a sem ferir, sem que o mundo à sua volta perdesse a normalidade.

Mas não foi apenas a temperatura que a surpreendeu. Conforme a luz tocava sua pele, ela percebeu mudanças sutis e profundas em seus sentidos, como se algo dentro dela tivesse despertado.

Seus sentidos se intensificaram: cheiros, sons e cores se tornaram vivos e precisos, cada detalhe do acampamento e da natureza ao redor saltando com clareza quase predatória. O mundo se desdobrava diante dela com profundidade e nitidez, e ela percebeu uma conexão instintiva e poderosa com tudo à sua volta. Um arrepio percorreu sua espinha, não de medo, mas de fascínio e exaltação - como se tivesse ganho sentidos novos, capazes de perceber a vida em sua plenitude.

Liliana respirou fundo, sentindo o corpo vibrar com essa percepção ampliada, e percebeu que o sol não apenas não a feria - ele despertava nela algo novo, conectando-a à vida ao redor de uma forma instintiva, primitiva e poderosa. O mundo finalmente se revelava, pleno e vibrante, e ela sentiu a própria essência expandir-se com cada sensação aguçada, cada cor mais viva, cada cheiro mais intenso.

Um arrepio percorreu sua espinha, mas não de medo. Era exaltação e fascínio, a sensação de que agora podia sentir, ouvir, ver e compreender tudo com clareza, como se tivesse ganhado os sentidos de predadores e caçadores, mas também a percepção profunda e silenciosa de quem observa a vida em sua plenitude.

...

Liliana estava maravilhada com a sensação do sol tocando sua pele, cada raio matinal aquecendo-a suavemente, quando um grito estridente cortou o ar:

- "Strigoaică viu!!!"

O som veio de uma das mulheres do clã, que se aproximava apavorada do local onde a carroça estava estacionada. Liliana gelou o coração, sentindo imediatamente o pânico se espalhar pelo acampamento. Ela recuou instintivamente, mas a claridade do sol já lhe dera coragem suficiente para permanecer ali, firme, observando a reação da mulher horrorizada.

Dentro da carroça, Drago despertou bruscamente. O som do grito cortou seu sono profundo como lâmina, e ele se ergueu de um salto, os sentidos em alerta total. Instintivamente estendeu o braço para fora da porta... e sentiu uma queimadura breve e ardente onde o minúsculo raio de sol havia tocado sua pele. Um lembrete cruel e imediato de que ele não podia sair.

O coração dele acelerou, não de medo, mas de preocupação e alerta. Ele percebeu imediatamente: Liliana não estava ao seu lado. Não estava na cama-báu. Não estava sequer dentro da carroça.

O alarme se espalhou como fogo pelo acampamento. Mulheres e homens começaram a correr, suas vozes se elevando em choque e medo. "Ela está fora!" alguém gritou. "Sob o sol!" outra voz respondeu, trêmula. O murmúrio cresceu em um coro de horror e incredulidade, até que se transformou em um rugido coletivo que reverberou pelas montanhas.

Liliana recuou instintivamente, o coração batendo acelerado. Apesar de não sentir dor, a intensidade da luz e a reação do clã a deixavam tensa. Cada passo que dava era observado, cada movimento parecia amplificado aos olhos daqueles que, para ela, agora pareciam pequenos e vulneráveis.

O clamor do acampamento ainda ecoava pela clareira quando Liliana percebeu que precisava agir rápido. Sem hesitar, desviou-se dos humanos que se aproximavam, seus passos ágeis e silenciosos como os de um predador matinal, e correu para o interior da carroça. Cada segundo longe da luz intensa e do olhar preocupado de Drago parecia uma eternidade.

Ao abrir a porta e entrar, encontrou Drago em desespero contido, os olhos faiscando de preocupação e instinto de proteção. Ele avançou até ela, a aura imponente e perigosa misturada à tensão do medo.

- Liliana! - rugiu, a voz grave e urgente. - O sol... ele não te feriu?

Ela ergueu as mãos, mostrando a pele intacta, e sorriu com uma mistura de fascínio e leve provocação.

- Não, Drago... nada aconteceu. Apenas calor... nada mais.

- Mas...como? Como, minha pequena flor... isto é...impossível.

            
            

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