Três dias haviam se passado desde que Liliana fora levada por Léo até aquele refúgio subterrâneo.
O tempo ali parecia suspenso.
O ar úmido e pesado impregnava cada pedra das paredes, e o único som constante era o gotejar da água em poças escuras e o rangido das vigas antigas.
Liliana permanecia nas sombras, evitando despertar a atenção daquele vampiro errático que a havia salvado - e que, apesar da aparência desleixada e do comportamento anárquico, exalava uma presença impossível de ignorar.
O covil de Léo era uma mistura de eras: velhos baús e ferramentas enferrujadas dividiam espaço com livros antigos, manuscritos, jornais amarelados e mapas rabiscados com coordenadas, nomes e símbolos enigmáticos. E entre tudo isso, telas, computadores, vigilância. A organização caótica escondia uma mente meticulosa.
No terceiro dia, Liliana se aproximou da mesa principal, examinando os documentos espalhados. Entre relatórios sobre vampiros conhecidos, arquivos sobre desaparecimentos e registros do Conselho, encontrou menções à algo como "Coligação de Sangue" e às purificações ordenadas pelo Conselho Real.
Enquanto folheava os papéis, uma sensação começou a se formar em sua mente.
Não era apenas o conhecimento ou a coragem de Léo que a surpreendia. Havia algo mais profundo, algo que ela não podia ignorar: os registros, as ordens e até a forma como ele interagia com o rádio antigo indicavam que aquele homem, por baixo da aparência de mendigo e trabalhador de obra, tinha poder real na rede vampírica.
Ela percebeu, subitamente, que o Conselho não apenas temia Léo - eles respeitavam-no profundamente. Cada movimento seu, cada palavra, cada ameaça velada era suficiente para que os mais poderosos recuassem.
Ele não estava ali apenas por acaso.
Ele era o Mestre das Informações de toda a rede vampírica. O verdadeiro nó que mantinha todos os vampiros interconectados, o homem que sabia demais para ser ignorado.
Liliana revirava os papéis sobre a mesa de carvalho, a lâmpada lançando um círculo trêmulo de luz sobre o amontoado de documentos antigos. O cheiro de pergaminho mofado se misturava ao perfume amargo do sangue com vinho que Leo deixara pela metade. Ela não sabia bem o que procurava - talvez uma pista, talvez uma desculpa. Até que um nome, meio apagado pela poeira do tempo, fez seu olhar congelar: Kalderash.
O coração dela deu um salto discreto, mas o rosto permaneceu sereno. Passou os dedos sobre o nome, como quem toca uma cicatriz esquecida.
- Kalderash... - murmurou, quase em reverência, quase em raiva. - Então era isso o que ele escondia de mim.
Outros papéis mencionavam datas, nomes fragmentados, rituais descritos em uma mistura de latim e romani. E, entre as margens, uma anotação em letra apressada: "A linhagem persiste - mesmo quando esquece de si."
Liliana ainda tinha o papel entre os dedos quando ouviu o rangido suave da porta. Não se virou de imediato - apenas deslizou o documento para dentro do manto, com a calma de quem não tem nada a esconder.
- Costuma ser perigoso ler o que não foi deixado para seus olhos, Liliana. - disse Leo, a voz baixa, rouca, mas firme. Ele encostou-se ao batente, os braços cruzados, observando-a como quem mede uma distância invisível.
Ela ergueu o olhar, um sorriso breve curvando os lábios.
- E costuma ser prudente deixar segredos espalhados à vista de curiosos, Leo? - retrucou, arqueando uma sobrancelha. - Se não queria que alguém encontrasse, devia ter queimado.
Leo deu um passo à frente, o olhar cravado nela. A chama da lamparina projetava sombras sobre seu rosto, tornando-o ainda mais indecifrável.
- Há coisas que não devem ser queimadas. - respondeu. - Só entendidas... no tempo certo.
Liliana inclinou levemente a cabeça, estudando-o.
- Ah, o famoso "tempo certo". - disse com doçura fingida. - Sempre um truque conveniente para quem tem algo a esconder.
Por um instante, o silêncio entre eles pareceu ganhar corpo. O nome Kalderash pulsava na mente de ambos, sem que fosse preciso pronunciá-lo.
Leo respirou fundo, desviando o olhar para o papel amassado sobre a mesa.
- Você não devia mexer nisso.
Ela deu um passo em sua direção, o olhar firme, voz serena, mas afiada como uma lâmina fina.
- E você não devia subestimar o que eu já sei.
A tensão os envolveu por um instante - não era hostilidade pura, mas algo mais complexo, feito de confiança ferida e curiosidade mútua.
Leo quebrou o silêncio primeiro, com um suspiro resignado.
- Um dia, você vai entender por que eu guardei isso.
Liliana deu um meio sorriso, desviando o olhar para a janela.
- Ou talvez, Leo... um dia você entenda por que eu fui procurar.
O rádio antigo estalou novamente, a voz metálica do outro vampiro anunciando, ríspida:
- Leo, o Conselho Real está ciente que a ladina está sob sua guarda. Exigem que seja entregue para a guarda real imediatamente.
Liliana prendeu a respiração. Seu coração disparou, e por um instante sentiu um frio cortante percorrer a espinha.
Ele vai me entregar... pensou, os olhos fixos em Léo.
Ele permaneceu em silêncio, imóvel, os braços cruzados, o olhar sombrio e indecifrável fixo nela. Era impossível saber o que passava pela mente daquele homem. Liliana sentiu como se estivesse sendo medida, cada hesitação, cada traço de dúvida exposto. O ar pesado da cripta parecia se comprimir, deixando o tempo suspenso em segundos que pareciam horas.
Então, com um gesto firme, Léo pegou o rádio e apertou o botão. Sua voz soou firme, cortante:
- Avisem ao Conselho que qualquer julgamento sobre a ladina deve ser adiado até a Assembléia amanhã. Ela está sob minha guarda e eu advogo a favor dela. Qualquer movimento contrário será considerado um erro grave.
O silêncio caiu novamente, pesado. Liliana manteve os olhos nele, cautelosa, sem saber se poderia realmente acreditar.
Léo apenas inclinou a cabeça levemente, e seu sorriso torto desapareceu, deixando apenas o olhar frio e calculista.
Naquele instante, Liliana percebeu que não era apenas proteção - Leo tinha poder o bastante para dobrar o Conselho, e o fazia com a naturalidade de quem aprendeu a se mover nas sombras. Mas havia nele algo ainda mais perigoso: vontade própria.
- Ser o Mestre das Informações precisa servir para alguma coisa, afinal - disse ele, com um meio sorriso, a voz carregada de ironia e um toque de desafio.
Liliana respirou fundo, os músculos ainda tensos, mas com uma ponta de alívio cauteloso. Ela não sabia se estava salva... ou se estava apenas entrando em outro jogo ainda mais perigoso.
Entretanto, o que antes parecia risco absoluto agora poderia ser uma oportunidade, ela pensou. Se o Conselho tivesse receio dele, talvez isso pudesse ser usado a seu favor.
Ela percebeu que se esconder para sempre não era a melhor estratégia. Estar sob a tutela de Léo a colocava em uma posição única: infiltrar-se na Sociedade Vampírica sem ser imediatamente destruída, observar, aprender e talvez descobrir pistas sobre a Coligação de Sangue, essas tais ordens para "purificações" e o que tudo isso tinha a ver com os ciganos, principalmente, com seu clã massacrado. Conseguiria mais pistas do ataque e da morte de Drago, mas a um custo alto e de risco.
Liliana respirou fundo, o olhar tranquilo, mas atento a cada detalhe do que aquela decisão significava. Quando falou, sua voz era suave - cortesia envolta em lâmina.
- Então... vamos para a Assembleia - disse, ajeitando o casaco com calma estudada. - Sempre é bom comparecer quando se discute o destino dos outros... especialmente quando suspeito que o "outro" sou eu.
Um leve sorriso curvou seus lábios - não de desafio, mas de alguém que já percebeu o tabuleiro e escolheu jogar nas entrelinhas.
Léo ergueu o queixo, um sorriso torto surgindo:
- Bom. Mas lembre-se: não é um jogo. E não me teste - já vi o que acontece com quem cruza a linha sem saber onde pisa. Há limites que cobram caro.
Liliana assentiu. A confiança, a curiosidade e a fome por respostas queimavam dentro dela.
Ela sabia que, mesmo em meio às sombras, aquele homem, o anárquico, o mendigo que burlava todas as regras, era a chave para sua vingança e sobrevivência.
E ela finalmente estava pronta para usar essa chave.
...
A noite seguinte chegou com um vento frio cortando as ruas estreitas de Londres.
Liliana e Léo se moveram pelas sombras, silenciosos como predadores, até se afastarem do burburinho urbano. Depois de horas, surgia diante deles uma mansão colossal, isolada em um terreno amplo, circundado por árvores retorcidas e jardins selvagens. Nenhuma luz moderna atravessava suas janelas estreitas; apenas a lua cheia refletia no telhado inclinado e nas torres de pedra escura.
Ao se aproximarem, Liliana sentiu a atmosfera densa e quase sufocante.
Havia luxo, mas não o brilho contemporâneo; cada detalhe exalava opulência de séculos atrás: escadarias de mármore gasto, tapeçarias desbotadas pendendo das paredes, candelabros de ferro forjado cobertos por uma leve camada de poeira, lustres de cristal que refletiam a luz da lua em mil tons desiguais. O ar estava impregnado de um perfume antigo, misto de incenso, madeira envelhecida e algo mais... metálico, quase sanguíneo.
- Parece que entramos num mausoléu - murmurou Liliana, sentindo um arrepio percorrer-lhe a espinha.
Léo não respondeu imediatamente. Seus olhos percorriam cada detalhe, avaliando entradas, corredores, janelas e torres, enquanto guiava Liliana com passos silenciosos pelos caminhos de pedra.
- Mais do que parece - disse finalmente, num sussurro grave. - É um lugar parado no tempo, mas cada pedra aqui conhece o sangue que passou por ele. O luxo e a decadência coexistem, e aqueles que aqui entram estão à mercê das regras que jamais mudaram.
O portão se abriu diante deles com um ranger profundo, ecoando como um aviso. Ao atravessarem o hall de entrada, a mansão parecia viva, respirando através das sombras projetadas pelas paredes cobertas de tapeçarias.
O salão principal se estendia à frente, imenso, com colunas de mármore marcadas pelo tempo, candelabros gigantes pendendo do teto alto e uma iluminação que mesclava o brilho tênue das velas com a luz prateada da lua que entrava pelas janelas arqueadas. As paredes estavam forradas de retratos antigos de aristocratas ancestrais, alguns com olhos que pareciam seguir qualquer movimento. Tapetes persas gastos cobriam o chão, amortecendo passos e sussurros.
Havia uma sensação de majestade decadente. Cada detalhe indicava poder e riqueza acumulados por séculos, mas também abandono e obsolescência, como se o tempo tivesse decidido congelar aquele lugar em uma era distante.
Léo conduziu Liliana por corredores estreitos até uma antecâmara, onde outros vampiros aguardavam, alguns sentados, outros em pé, observando com olhares atentos e medidos.
- Lembre-se - murmurou ele, a voz baixa e firme -agora que está aqui, aproveite cada momento para aprender, observar e entender. Cada gesto, cada palavra pode revelar mais do que imagina.
Liliana assentiu, sentindo a adrenalina subir.
Enquanto respirava fundo, absorvendo a atmosfera de poder antigo e decadente, compreendeu que estava prestes a entrar num jogo perigoso, onde apenas inteligência, furtividade e coragem poderiam mantê-la viva.
E naquele instante, a mansão não parecia apenas um local de reunião; era um palco de segredos, intrigas e ameaças, e ela seria uma peça essencial - ainda que oculta - naquele tabuleiro.
Ao atravessarem a antecâmara, a porta dupla se abriu, revelando o salão principal. O espaço era imenso, com colunas de mármore antigo, tapeçarias desbotadas e lustres de cristal cobertos por uma leve camada de pó. A luz prateada da lua cheia atravessava as janelas arqueadas, lançando sombras longas e inquietantes pelo salão, que exalava uma opulência decadente, quase congelada no tempo.
Liliana engoliu em seco. O salão não apenas impressionava pelo tamanho e luxo; vibrava com poder concentrado, cada vampiro movimentando-se como se o ambiente fosse seu território, cada olhar calculando os demais.
Ela rapidamente distinguiu três grupos distintos:
Os extravagantes ostentavam trajes luxuosos e joias reluzentes, movendo-se pelo salão como atores em cena. Os executivos exibiam ternos impecáveis e olhares estratégicos, analisando alianças e rivalidades em silêncio. Os errantes de rua, com tatuagens, couro e correntes, mantinham-se à espreita - prontos para reagir a qualquer provocação.
Sussurros, gestos discretos e cumprimentos estratégicos cruzavam o ar em um ritmo quase ritualístico.
Léo conduziu Liliana pelo salão com passos silenciosos, mantendo-a próxima, protegida, e observando cada reação de cada vampiro que encontravam.
- Olhe - disse ele, baixo, quase um sussurro - cada grupo tem suas regras, e cada olhar revela alianças e inimizades. A política aqui é mortal, e qualquer deslize pode custar caro.
Liliana respirou fundo, absorvendo cada detalhe. Cada vampiro parecia carregar séculos de experiência, cada gesto era estudado, e ela compreendeu que entrar naquele salão significava entrar no coração pulsante da sociedade vampírica, onde qualquer passo em falso poderia ser fatal.
Apesar da tensão, Léo caminhava ao lado dela com calma imperturbável, transmitindo segurança silenciosa. Liliana percebeu que não se tratava apenas de olhares sobre sua presença, mas sobre o que Léo representava: autoridade, imprevisibilidade e respeito velado. Cada sombra parecia esconder intenções, cada gesto era medido, e ela compreendeu que simplesmente existir ali já era um teste de sobrevivência no coração da sociedade vampírica.
O salão mergulhou num silêncio quase religioso quando as portas se abriram. O ar pareceu mudar - denso, elétrico, pesado de expectativa. A penumbra se curvou diante da figura que atravessava o umbral.
Era o Rei.
Sua presença não era apenas imponente; era irreal, como se o próprio ar ao redor se curvasse em reverência.
A aparência era de um homem de cerca de 35 anos, mas claramente deveria ter de fato centenas de anos. Pele pálida como se tivesse sido moldada pela própria lua. Os cabelos negros e desalinhados, caíam sobre o rosto com uma desordem elegante, movendo-se sutilmente como se respirassem com ele - ou com a noite.
Os olhos, de um azul cinzento profundo e antinatural, não pareciam feitos para o olhar humano. Eram abismos calmos, silenciosos, onde o tempo e o sofrimento se misturavam em camadas de eras esquecidas. Neles havia algo angelical, mas corrompido - uma beleza que feriria, um encanto que sangrava.
Sua feição, perfeita e severa, lembrava as estátuas antigas de deuses caídos, criadas para serem adoradas e temidas em igual medida. Cada gesto, cada inclinação mínima da cabeça, exalava um poder contido, frio, impossível de medir.
Atrás dele, o grande vitral circular do salão projetava uma luz carmesim intensa, tingindo o ar de vermelho - um halo de sangue e lua que o envolvia como uma coroa profana. Naquele instante, parecia menos um rei e mais uma divindade exilada, um ser feito da intersecção entre a graça e a ruína.
Liliana sentiu algo percorrer seu corpo - um arrepio elétrico, um toque invisível, como se o olhar dele a atravessasse e encontrasse cada sombra em sua alma.
Logo atrás, caminhava o Conselheiro, esguio, de feições finas e olhar afiado, os cabelos claros refletindo o brilho das chamas das tochas. Seu semblante era glacial, a postura perfeita, e o leve sorriso que curvava seus lábios parecia esconder segredos e intenções.
A passagem dos dois foi acompanhada de murmúrios contidos. Vampiros de aparência aristocrática se curvaram em respeito; os executivos de ternos escuros baixaram a cabeça, calculistas; e até os errantes das margens do poder recuaram um passo, instintivamente, diante da presença daquele que todos chamavam apenas de O Soberano da Noite.
Léo, ao seu lado, manteve-se imóvel. Mas Liliana percebeu - em seu olhar firme e nos punhos cerrados - que até ele estava tenso.
O Conselheiro deteve-se a poucos passos do trono, o olhar cortante como uma lâmina ao pousar sobre os dois.
Um sorriso breve e enigmático cruzou seu rosto.
Então falou, sua voz profunda e calma preenchendo cada canto do salão:
- A assembleia está reunida. Esta noite, sombras antigas despertarão... e verdades há muito adormecidas verão a luz. Salve o nosso Rei e sua sabedoria imortal - guardião da eternidade e da ordem que nos sustenta.
Um arrepio coletivo percorreu a multidão.
O silêncio reinava absoluto quando o Rei tomou seu lugar no trono de pedra negra, elevado por degraus cobertos por um tapete carmesim. Seu conselheiro postou-se à direita, ligeiramente curvado, como uma sombra viva.
Foi então que o olhar do Rei encontrou o de Liliana.
O tempo pareceu suspender-se. O ar, denso e imóvel, tornou-se quase palpável entre os dois.
Os olhos dele - frios, insondáveis, cor de tempestade contida - cravaram-se nos dela como lâminas de gelo. Mas, por trás daquela impenetrável muralha de poder, havia algo mais. Uma centelha de curiosidade. De reconhecimento.
Liliana sentiu um leve estremecimento percorrer seu corpo, um choque sutil e elétrico, como se algo adormecido dentro dela despertasse ao contato invisível com aquele olhar.
Por um instante, ela esqueceu onde estava. O murmúrio contido da assembleia desapareceu, o peso das luzes e das sombras deixou de importar. Só havia aquele olhar - distante e eterno, e, ainda assim, tão próximo que parecia tocar-lhe a alma.
O Rei, contudo, manteve sua expressão serena, inabalável. Mas nos olhos dele, uma fagulha cintilou por um segundo - tão breve que apenas Liliana a percebeu.
A tensão entre eles crescia, silenciosa, magnética, como um fio de aço prestes a romper. Foi apenas um segundo, mas pareceu uma eternidade.
E então, o momento se desfez.
O Conselheiro inclinou-se levemente para frente, quebrando o feitiço com o som controlado de sua voz suave e cortante:
- Majestade, o Conselho aguarda suas palavras. O caso da ladina deve ser iniciado.
O Rei desviou o olhar de Liliana, e a magia invisível que os envolvia se dissipou no ar frio do salão. Ela respirou fundo, mantendo a postura firme, mesmo com o leve tremor nas mãos e o coração acelerado. Por fora, nada denunciava; por dentro, uma mistura de temor e algo mais profundo pulsava, mas ela não deixaria transparecer.