Capítulo 5 A Promessa

Drago recuou um passo, o olhar fixo nela como se tentasse decifrar um enigma antigo.

O sol - aquele inimigo ancestral, que já reduzira tantos vampiros a cinzas - derramava-se sobre Liliana, e ela permanecia ilesa. A pele não fumegava, os olhos não ardiam, o sangue não gritava. Estava viva. Intocada. Bela como nunca.

Por um longo instante, o silêncio reinou.

Drago, imóvel. Liliana, respirando com força, tentando entender o que se passava com seu próprio corpo.

Então, o ranger pesado da porta cortou o ar, e o Patriarca entrou, a longa túnica escura varrendo o chão de madeira.

O velho, que carregava no olhar o peso de gerações, deteve-se ao ver Liliana. Seus olhos se arregalaram, um brilho misto de assombro e temor dançando em suas pupilas.

- Ela é mais do que esperávamos... - murmurou, quase para si mesmo. - Ela é maior que a profecia...

Drago o fitou, tenso. - O que está dizendo?

O Patriarca respirou fundo, aproximando-se um passo.

- Ela é uma Strigoaică.

A palavra pairou no ar.

Liliana arqueou uma sobrancelha, tentando disfarçar o nervosismo que começava a surgir.

- Uma o quê? - ironizou, cruzando os braços. - Vão começar a me chamar de novo tipo de monstro agora? Isso explica alguma coisa?

Drago se virou para ela, o rosto rígido, a voz carregada de algo que beirava o sagrado.

- Não é brincadeira, Liliana. Você... você é algo que não deveria existir.

Ela riu, mas a risada soou mais trêmula do que o esperado.

- Ah, claro. Então o grande e temível Drago Farkas, o vampiro milenar, está assustado comigo?

Ele não respondeu. Apenas a encarou - e havia, no fundo dos olhos dourados, algo que ela nunca vira antes: medo.

Não do mundo. Mas dela.

Liliana tentou sustentar o olhar, mas vacilou.

- Fale logo. O que sou, afinal? - murmurou, e já não havia ironia em sua voz.

O Patriarca olhou de um para o outro, e suas mãos trêmulas se elevaram, como se buscassem conter a intensidade da verdade que estava prestes a revelar. A tenda comunal ficou em silêncio absoluto; até o crepitar da fogueira parecia ter cessado.

- Uma Strigoaică Viu - começou ele, a voz grave e carregada de reverência - é uma raridade que surge apenas uma vez em eras. Um ser que atravessa a linha entre os vivos e os mortos, entre o sangue e o espírito. Ela não é apenas vampira, nem apenas humana... é algo mais, algo que poucos olhos mortais ou imortais já tiveram a honra - ou o terror - de contemplar.

Ele respirou fundo, os olhos percorrendo os rostos de todos ali, gravando o medo, a admiração e a perplexidade.

- Herda o poder dos vampiros - continuou, a voz agora firme - mas não a maldição que os prende à noite, à escuridão, ao sangue que consome sem descanso. O coração bate, o corpo respira... ela vive como qualquer mortal, sente como qualquer mortal, mas o poder... - o Patriarca estreitou os olhos, e suas mãos tremiam levemente - o poder é como o de um deus.

Houve um murmúrio entre os anciãos e guerreiros, alguns inquietos, outros maravilhados, mas nenhum ousou questionar.

- Uma Strigoaică Viu - concluiu o Patriarca, a voz carregada de solenidade - não é apenas forte. Ela é única. Aquela que detém essa dádiva pode mudar o destino de clãs, de povos, de toda a história que conhecemos... ou destruí-la, se seu sangue for cobiçado por aqueles que não compreendem seu valor.

Drago, ao seu lado, apertou sua mão discretamente, reconhecendo que aquela revelação não mudava apenas o mundo ao redor deles - mudava a própria maneira de como precisariam viver, ocultos e vigilantes.

- Por isso - finalizou o Patriarca, a voz quase um sussurro, mas cortando a tensão como lâmina - ela deve ser protegida, e seu segredo guardado com a vida.

Liliana sentiu o chão oscilar.

- Então... vocês estão dizendo que eu sou... o quê? Metade viva, metade morta? - perguntou num tom baixo, quase sufocado. - Um erro?

Drago se aproximou lentamente, os movimentos calculados, o olhar ainda intenso.

- Não um erro. Um fenômeno. Um milagre... ou uma arma, dependendo de quem a veja. Os planos de Ishtar se mostram mais complexos que imaginávamos.

Ela deu um meio sorriso, tentando recuperar a coragem.

- Milagre, arma, sei lá... mas não me parece que vocês estejam muito felizes com isso.

Drago suspirou, e a rigidez em sua voz cedeu a uma preocupação sincera.

- Liliana, compreenda. Nenhum vampiro sobreviveria ao sol. Nem eu, nem os mais antigos. Se essa verdade se espalhar, você será caçada. Haverá vampiros que verão em você um perigo. Outros... uma fonte de poder.

Liliana cruzou os braços, desafiando-o - mas algo no olhar dele a desarmou.

- Então é isso? Agora sou o prêmio de caça mais cobiçado do submundo?

- Não fale assim. - A voz dele era um murmúrio grave. - Você não tem ideia do que representa.

Ela desviou o olhar, tensa. A coragem dava lugar a uma sensação amarga, como se o peso do destino tivesse acabado de cair sobre seus ombros.

- E o que eu sou, então? - perguntou baixinho. - Uma criatura que não pertence a lugar nenhum?

Drago se aproximou e segurou o rosto dela entre as mãos.

- Você pertence ao que vem depois. À nova era. - As palavras saíram como um juramento. - A profecia dizia que um dia, sob o sangue e o luar, nasceria alguém capaz de unir vivos e imortais. O sol não te queima porque você é o elo entre os dois mundos.

Liliana o encarou por um longo momento.

O tom brincalhão se fora. O riso que antes vibrava na garganta havia secado.

Ela se sentia exposta, frágil e poderosa ao mesmo tempo - como se o próprio universo a tivesse marcado com um segredo perigoso demais para existir.

- Então... o que fazemos agora? - perguntou, num fio de voz.

Drago recuou um passo e inspirou fundo.

- Ainda é manhã, não posso sair da carroça. Esperamos a noite cair. Chamaremos os anciãos, os guerreiros e a vidente. Todos precisam entender o que está diante de nós - e o que deve ser ocultado do resto do mundo.

Liliana assentiu lentamente.

Por dentro, sentia o coração bater rápido - e o som desse batimento a fazia lembrar que ainda era viva, mas algo dentro dela já não era humano.

Quando a noite enfim cobriu o céu, eles se reuniram na clareira, sob a lua pálida.

Os anciãos, os guerreiros, os vampiros aliados e a drabarni formaram um círculo silencioso. A tensão era quase tangível.

Drago ergueu a voz, grave, solene:

- O que aconteceu hoje não pode ser esquecido... nem revelado. Liliana sobreviveu ao sol. Ela é uma Strigoaică.

Murmúrios atravessaram o grupo como vento entre árvores. Alguns recuaram, outros se ajoelharam em reverência. A drabarni, os olhos brancos de catarata e sabedoria, estendeu as mãos em direção a Liliana.

- O sangue dela é antigo como a lua e livre como o vento. O que nasce desta união mudará o destino do clã e de todos os povos.

Drago olhou para Liliana, e o semblante dele era de decisão.

- Você não está amaldiçoada, Liliana. Está abençoada. Mas será caçada. Seu sangue é cobiçado. Seu poder, incompreendido. Nós devemos proteger o segredo da Strigoaică - custe o que custar.

Liliana respirou fundo, olhando ao redor, vendo os rostos humanos e vampíricos refletirem medo, devoção e espanto.

Por fim, voltou-se para Drago.

- E se eu falhar? - perguntou. - Se eu não conseguir carregar tudo isso?

Ele se aproximou e, pela primeira vez, a voz grave suavizou-se num tom terno:

- Então eu carregarei por você. - Tocou o rosto dela com os dedos frios. - E se mesmo assim o mundo vier abaixo... nós o reconstruiremos juntos.

Liliana sustentou o olhar dele. O medo, o fascínio e a centelha de confiança misturaram-se em seu peito.

Ela sorriu - não com ironia, mas com algo novo, mais contido.

- Então, Drago Farkas... - murmurou - parece que o destino resolveu nos prender de vez.

Ele respondeu com um leve sorriso, quase triste.

- O destino apenas nos deu uma escolha, Liliana. O resto... será nossa guerra.

- Sim. Você será mais do que qualquer humano. Mais do que qualquer vampiro. Terá nossos dons, mas ainda terá a essência de Liliana, o coração que bate, a mente que pensa, a coragem que sempre existiu em você.

Liliana fechou os olhos por um instante, sentindo os sentidos aguçados pulsarem em seu corpo. O vento trouxe-lhe os cheiros do acampamento, o leve farfalhar das árvores e até o som distante de um animal na floresta. Cada sensação parecia ampliada, intensificada, e ela compreendeu, com um arrepio de êxtase, o que Drago queria dizer.

- Você será viva, mas com o poder de um vampiro - continuou ele, a voz baixa e firme, carregada de segurança. - Quase nada no mundo humano poderá detê-la. E mesmo entre os vampiros, poucos ousarão cruzar seu caminho.

...

Drago caminhava silencioso pela clareira ainda iluminada pela lua, o manto negro esvoaçando sobre os ombros. Ao lado dele, surgia Miklos Lovari, seu braço direito, um vampiro imponente com pele bronzeada marcada por cicatrizes profundas, rosto maduro, duro e anguloso, sobrancelhas espessas e olhos negros como carvão, refletindo uma experiência de séculos. Seus músculos pareciam esculpidos na luta e na sobrevivência, e a presença dele impunha respeito imediato.

- Miklos - começou Drago, a voz grave, carregada de preocupação - temos uma situação que exige toda a nossa atenção. Liliana... ela é mais poderosa do que imaginávamos. Mas também é visível, vulnerável, e existem vampiros que perceberão isso rapidamente.

Miklos franziu o cenho, a mandíbula cerrada.

- Sim, ouvi rumores. Ela é uma Strigoaică, e com poderes como os dela, qualquer um de nós seria um alvo... imagine alguém sedento por mais força ou domínio. Alguns vampiros não hesitariam em usá-la para seus próprios planos de poder.

Drago respirou fundo, olhando para a lua cheia refletida nas Dolomitas.

- Exatamente. E é por isso que eu a protegerei a todo custo. Não apenas eu - todo o clã, humanos e inumanos, devem fazê-lo. É o dever de todos nós. Liliana é nossa rainha, e ocultá-la, protegê-la, garantir que nenhum vampiro a alcance, é nossa responsabilidade sagrada.

Miklos assentiu, os olhos penetrantes fixos no amigo e líder.

- Eu entendo. Ela não é apenas uma jovem escolhida... ela é o símbolo da profecia, a essência de nosso povo, de nossa força. Qualquer erro, qualquer descuido, e não será só ela em perigo - será o futuro de todos os ciganos, humanos e vampiros.

Drago fechou os punhos levemente, a expressão dura, mas determinada.

- Exato. E mesmo que o mundo tente interferir, mesmo que outros vampiros cobicem seu sangue e seu poder... ninguém vai tocá-la sem que nós saibamos. Miklos, nossa prioridade é protegê-la e mantê-la oculta. Tudo o mais vem depois.

Miklos esboçou um sorriso sombrio, mostrando os dentes apenas levemente.

- Pode contar comigo, Drago. Até o último fio de sangue, até o último suspiro... ela ficará segura. E todos os nossos aliados, humanos ou vampiros, devem entender que proteger nossa rainha é a única lei que importa agora.

Drago assentiu, o olhar grave e intenso, sentindo o peso da responsabilidade e a força de quem o acompanhava.

- Então está decidido. Nada e ninguém interferirá. Ela será nossa, protegida por todos que têm sangue cigano e sangue imortal correndo em suas veias. E assim será até que os ventos da profecia mudem de curso.

Miklos deu um passo à frente, ombros largos contra a brisa fria da montanha.

- E se alguém ousar, saberá que encontrou mais do que uma Strigoaică. Encontrará todo o clã contra si.

Drago sorriu levemente, a tensão diminuindo apenas um pouco.

A lua cheia iluminava a clareira enquanto Drago e Miklos se afastavam da reunião. O murmúrio distante do acampamento humano e dos vampiros aliados se misturava ao vento frio da montanha, criando um ambiente carregado de tensão.

- Primeiro passo - disse Drago, a voz firme - é que nenhum movimento dela passe despercebido. Humanos ou vampiros, ninguém deve saber de seus poderes sem a nossa autorização. Isso significa patrulhas constantes, esconder seu paradeiro e garantir que ela permaneça protegida durante o dia e invisível à noite quando outros vampiros possam observá-la.

Miklos assentiu, os olhos negros percorrendo a clareira como se visualizasse cada canto e sombra.

- Teremos vigias estratégicos, disfarçados entre o acampamento. Qualquer estranhos que se aproximarem, será notado antes mesmo de cruzar o perímetro. E os humanos? Devemos mantê-los informados ou... controlá-los discretamente?

Drago fechou os olhos por um instante, meditando sobre a melhor forma de equilíbrio entre confiança e segredo.

- Informá-los parcialmente. Precisamos que saibam que ela é importante e deve ser respeitada, mas não podem ter consciência de toda a extensão de seus poderes. Se algum humano ousar expor ou interferir, enfrentará consequências severas.

Miklos franziu o cenho.

- E quanto ao treinamento dela? Seus sentidos aumentaram, mas ela ainda não sabe controlar totalmente a força e os reflexos que herdou. Vampiros mais antigos poderiam perceber uma falha e tentar explorá-la.

Drago concordou, a expressão se tornando ainda mais determinada.

- Exatamente. Vamos começar hoje mesmo, em segredo. À noite, longe do acampamento humano. Ela precisa aprender a controlar sua força, testar seus sentidos, perceber os perigos antes mesmo de serem reais. E eu estarei ao lado dela, guiando cada passo.

Miklos sorriu, sombrio, mas confiante.

- Eu posso organizar exercícios de caça e rastreamento, testes de percepção, situações que desafiem os reflexos dela. Se ela dominar isso, nenhum outro vampiro terá vantagem sobre ela.

Drago colocou a mão sobre o ombro de Miklos, firme.

- E além disso, Miklos... a lealdade de todos os nossos aliados é essencial. Humanos e vampiros que conhecem nosso segredo devem entender que proteger Liliana é o dever mais sagrado, acima de qualquer desejo ou ambição. Qualquer traidor será eliminado antes que possa sequer tentar tocá-la.

Miklos cerrou os punhos, a face marcada pelas cicatrizes iluminada pela lua.

- Então está decidido. Treinamento, vigilância e alianças reforçadas. Ela será segura.

Drago assentiu, respirando fundo.

- E assim deve ser, até que o mundo inteiro reconheça que Liliana não é apenas uma escolhida da profecia - ela é a força que unirá humanos e vampiros, e ninguém terá o poder de destruí-la.

A noite avançava, e os dois vampiros caminharam pelo acampamento, já traçando mentalmente a rede de proteção, enquanto a lua cheia lançava sua luz prateada sobre o mundo, testemunha silenciosa de uma aliança que moldaria os séculos vindouros.

...

O silêncio suave da noite envolvia a carroça selada como um véu protetor. Do lado de fora, o vento deslizava pelas tábuas de madeira, fazendo-as ranger em intervalos suaves, quase como uma canção antiga. Dentro, o ar estava impregnado com o perfume de cera quente, madeira e pele. A pequena lamparina sobre a mesa lançava uma luz âmbar e trêmula, projetando sombras que dançavam preguiçosas sobre os tecidos ricos que adornavam o interior.

Liliana repousava contra o peito de Drago, o corpo dela ainda quente, o dele sereno, mas com a firmeza de quem domina a eternidade. Os dois respiravam juntos - o ritmo suave, quase humano - e por um instante, o tempo parecia suspenso. O mundo lá fora, com seus perigos e presságios, parecia distante, quase esquecido.

Drago moveu-se lentamente, um gesto deliberado, como quem desperta de um sonho. Seus dedos deslizaram até o bolso interno de seu manto, e de lá ele retirou algo que brilhou sob a chama da lamparina: um colar dourado, de delicada confecção, pendendo de uma fina corrente. O pingente - uma gota de rubi translúcida - pulsava na luz, como se respirasse.

- Liliana... - a voz dele era grave, rouca, envolta por uma ternura rara. - Quero que tenha isto.

Ele ergueu o colar, e a gota rubra balançou levemente, projetando reflexos carmesins sobre a pele nua dela. Liliana o observou com curiosidade enquanto ele colocava a joia em torno de seu pescoço, o toque frio do metal contrastando com o calor de sua pele. A pedra repousou entre seus seios, cintilando como uma pequena chama viva.

- Este é o meu símbolo - continuou Drago, ajustando o fecho com cuidado. - Se um dia precisar se identificar... ou buscar ajuda entre meus aliados... mostre-o. Ele fala por mim. E agora, por você.

Liliana arqueou uma sobrancelha, os lábios curvando-se num sorriso provocador.

- Acha mesmo que eu vou precisar de ajuda? - disse, num tom leve, quase zombeteiro. - Estou com o vampiro mais poderoso do mundo, aninhada no peito dele. Acho que, se alguém ousar me ameaçar, vai ser só para me servir chá e bolinhos - completou, rindo baixinho.

Drago não riu. Apenas observou-a com aquele olhar que parecia atravessar a alma - prateado, antigo, cheio de peso.

- Não falo de ameaças simples - disse ele, num tom baixo, mas firme. - O mundo é vasto... e antigo. Existem forças que nem mesmo eu compreendo por completo. Se o pior acontecer... - ele tocou o rosto dela, com a delicadeza de quem teme que o toque possa quebrar algo precioso - você deve seguir vivendo. Por mim.

O sorriso de Liliana vacilou, transformando-se em uma expressão mais suave. Ela virou o rosto e beijou-lhe a palma da mão, o toque quente e reverente.

- Você fala como se estivesse se despedindo - sussurrou. - E eu detesto despedidas.

- Não é uma despedida - respondeu ele, a voz quase um murmúrio. - É uma promessa.

Liliana suspirou, apoiando a cabeça no peito dele, ouvindo aquele som estranho - o coração morto de um vampiro que, por algum mistério, batia apenas para ela.

- Tudo bem, Sr. Vampiro Dramático - disse, sorrindo outra vez, para quebrar o peso daquilo. - Prometo que vou sobreviver. E vou usar seu pingente se precisar... mesmo que pareça uma gota de sangue tentando me seduzir.

Drago inclinou-se, roçando os lábios na testa dela.

- Não é só um pingente. É o eco da eternidade - murmurou. - Enquanto você o carregar, uma parte de mim sempre estará com você.

Liliana ergueu o rosto e o beijou com lentidão - um beijo calmo, profundo, que misturava amor e pressentimento. Quando se separaram, o silêncio retornou, denso e sereno.

Ela sorriu de leve, os olhos brilhando à luz da lamparina.

- Está bem, milenar dramático - brincou, a voz baixa e doce. - Prometo sobreviver... e lutar, se for preciso. Mas espero nunca precisar desse seu rubi encantado para pedir socorro. Isso seria humilhante.

Dessa vez, um raro sorriso curvou os lábios de Drago. Ele a puxou para mais perto, envolvendo-a em seus braços fortes e frios.

- Espero que nunca precise - sussurrou, enterrando o rosto nos cabelos dela. - Mas se um dia precisar... que seja pelo bem do mundo. E por mim.

Liliana fechou os olhos, sentindo o toque dele, o calor, a segurança - o tipo de calma que só existe antes da tragédia. O rubi sobre o peito dela brilhou uma última vez sob a chama da lamparina, refletindo a luz como um pequeno coração de fogo.

E naquela noite, antes que o sono os levasse, ambos fingiram acreditar que o amanhã ainda lhes pertencia.

            
            

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