A Vingança da Noiva Desprezada
img img A Vingança da Noiva Desprezada img Capítulo 2
2
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
img
  /  1
img

Capítulo 2

Eliza POV:

Eu me arrastei para fora da mansão, o frio da noite cortando minha pele como mil facas. Cada passo era uma tortura, mas eu me recusava a olhar para trás. Não havia mais nada para mim ali. Eu estava livre, mas a liberdade vinha com um preço: a solidão e a certeza da morte iminente. Meu corpo tremia incontrolavelmente, não apenas pelo frio, mas pela exaustão e pela dor.

Eu me joguei em um táxi, dando o endereço de uma pousada barata que eu havia pesquisado em segredo. O motorista me olhou pelo retrovisor, a preocupação em seus olhos. Eu apenas balancei a cabeça, indicando que estava tudo bem. Mas não estava. Eu nunca estive tão longe de estar bem.

Cheguei à pousada, um lugar decrépito com cheiro de mofo e cigarro velho. As paredes descascadas, o carpete manchado. Não era o que eu estava acostumada, mas era um abrigo. E, pela primeira vez em muito tempo, era meu. Eu paguei em dinheiro, sem dar meu nome verdadeiro. Não queria ser encontrada.

Naquele quarto, eu desabei. Eu me olhei no espelho, e a mulher que me encarava de volta era um fantasma. Pálida, com olhos afundados e sem brilho. Seus lábios manchados de sangue seco. Eu ri, uma risada sem humor, rouca e amarga. Eles nunca acreditaram em mim. Lorenzo, meus pais, Bruna. Ninguém. Eu era fraca demais para ser levada a sério, doente demais para ser amada.

Agora, vendo meu reflexo, eu entendi. Eles realmente nunca me viram. Nunca. Para eles, eu era apenas um fardo, uma noiva problemática para os negócios e uma filha que não se encaixava em seus planos ambiciosos. Lorenzo, o homem com quem eu estava prometida desde a infância, nunca me amou. Ele apenas me suportou por causa do contrato, por causa das empresas de nossas famílias. E agora, nem isso.

Eu me recompus, a dor lancinante em meu corpo sendo ofuscada pela raiva fria que começava a borbulhar dentro de mim. Eu não morreria em silêncio. Eles me subestimaram. Eles iriam se arrepender.

Eu tinha que resolver o contrato. A dor em meu peito intensificou, mas eu respirei fundo, puxando forças de alguma reserva profunda. Eu me recusei a ser um fardo até o fim. Mesmo que eu estivesse morrendo, eu faria isso sozinha. Não precisava da assinatura de Lorenzo, mas eu tinha que formalizar o processo para que, após minha morte, não houvesse pontas soltas, não houvesse mais nada que me ligasse a ele. Eu o queria completamente fora da minha vida, para sempre.

Naquela noite, enquanto Lorenzo brindava com Bruna, alheio à minha dor e à minha decisão, eu preenchi os papéis da dissolução do noivado. A caneta parecia pesada em minha mão trêmula, mas eu escrevi meu nome com uma determinação feroza. Eu não estava apenas rasgando um contrato; eu estava rasgando a última esperança de amor e aceitação que eu tinha, e me entregando à verdade cruel. Era um ato de autodeterminação, de libertação final.

No dia seguinte, reuni minhas últimas forças para enviar os papéis. Na rua, o sol parecia um insulto, brilhando indiferente à escuridão que me consumia. Eu sabia que minha vida estava se esvaecendo, mas havia uma estranha paz em tomar as rédeas do meu próprio destino, mesmo que fosse apenas para dar um fim digno à minha existência.

Voltei para casa, para a mansão Covilhã, um lugar que um dia chamei de lar, agora apenas um mausoléu de memórias dolorosas. Eu precisava pegar minhas poucas coisas. A porta estava destrancada, como se eles esperassem que eu voltasse, rastejando, como um cão abandonado. Mas eu não o faria.

O corredor que levava ao meu quarto estava escuro e silencioso. O ar estava pesado, como se a própria casa soubesse que eu estava ali para me despedir. Eu abri a porta do que costumava ser meu santuário. Mas não era mais meu.

Meu quarto, que um dia foi meu refúgio, havia sido transformado em um depósito. Caixas empilhadas, móveis cobertos com lençóis empoeirados. Minhas memórias jogadas de qualquer jeito. Minhas roupas, minhas fotos, meus livros... tudo estava coberto por uma fina camada de poeira. Era como se tivessem tentado apagar minha existência, remover qualquer vestígio de que eu um dia estive ali.

Eu caminhei entre as caixas, meu coração apertado. Eu encontrei um pequeno álbum de fotos, um presente que Lorenzo me deu quando éramos crianças. Ele estava amassado e sujo. Eu o abri, e a poeira que me cobria o rosto, embaçando minha visão. Uma foto minha, aos dezoito anos, sorrindo, cheia de esperança. Meus olhos brilhavam, meu cabelo estava sedoso. Eu era tão ingênua. Eu era tão cheia de vida.

Eu me olhei no espelho novamente, o contraste brutal. Meu rosto estava pálido, sem vida, os olhos vazios. Eu tinha a mesma idade da foto de Bruna que Lorenzo guardava em seu escritório, mas parecia ter envelhecido décadas. Bruna havia roubado não apenas meu noivo e meu status, mas minha juventude, minha imagem, minha própria essência.

Enquanto eu observava a foto, uma ligação inesperada tocou. Era do crematório que eu havia contatado dias atrás. "Senhorita Covilhã? Sua solicitação foi aprovada. O custo é de dez mil reais."

Dez mil reais. Eu não tinha esse dinheiro. Não mais. Eu havia gastado quase tudo que tinha em médicos e remédios. A família havia cortado meus cartões após eu ser considerada "incapaz". Eu estava sem um centavo. Eu não teria um lugar para descansar, nem mesmo depois da morte.

Eu desliguei o telefone, a risada amarga subindo à garganta novamente. Nem a morte me daria paz. Eu não podia me dar ao luxo de morrer com dignidade. Patético. Tudo em minha vida era patético.

O som de passos no corredor me alertou. Eu congelei. A porta se abriu, e Lorenzo entrou. Ele parecia irritado, os olhos varrendo o cômodo e parando em mim, encolhida entre minhas caixas empoeiradas.

"Que cheiro é esse?" ele perguntou, o nariz enrugado em desgosto. "Cheira a doença, a mofo. É por isso que você está aqui? Para cheirar a doença em um quarto empoeirado?" Ele tossiu, cobrindo a boca.

Ele parecia procurar algo, talvez o cheiro de um perfume que ele esperava encontrar, mas não encontrou. Aquele quarto, uma vez meu, não carregava mais nenhum vestígio do meu cheiro. Não havia nada ali que o lembrasse de mim, da mulher que uma vez dormiu naquela cama.

"O que você está fazendo aqui, Eliza?" ele perguntou, sua voz fria. "Eu te disse para não voltar. E o que era aquela ligação? Sobre um crematório? Ele me olhou com desconfiança, como se eu estivesse tramando algo. "Mais uma de suas tentativas de chamar atenção? Fingir que está morrendo de verdade?"

Eu queria gritar, queria dizer a ele a verdade, mas as palavras ficaram presas em minha garganta. Minha fraqueza me impedia de me defender. Eu já estava morrendo, e ele ainda me acusava de mentir.

"Não há nada para dizer," eu murmurei, minha voz quase inaudível.

"Exatamente," ele disse, me interrompendo. "Porque não há nada para você aqui. Nunca houve." Seu olhar era gelado, cada palavra um golpe. "Você nunca pertenceu a este lugar, a esta família. Você nunca foi boa o suficiente para ser minha noiva. Você era apenas um contrato, um fardo."

Eu senti as lágrimas escorrerem novamente, quentes e dolorosas. Ele tinha arrancado a minha dignidade, a minha esperança, a minha vida. E agora, ele estava me negando até mesmo o direito de me lamentar. Eu era um nada para ele.

Mas, ao invés de chorar, eu me levantei, a raiva me dando forças. Eu não seria mais uma vítima. Eu não seria mais um fantasma. Eu o olhei nos olhos, e pela primeira vez, vi um brilho de algo neles. Talvez arrependimento, talvez culpa. Mas era tarde demais. Eu não era mais a Eliza que ele conhecia. Aquela Eliza havia morrido.

Eu não disse uma palavra. Apenas o olhei, o vazio em meus olhos refletindo o vazio em sua alma. Eu sabia que ele se arrependeria. Não pela minha morte, mas pela verdade que viria à tona. E eu estaria assistindo, de onde quer que eu estivesse.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022