"Parar com o quê, Lorenzo?" Minha voz era um sussurro, quase inaudível, mas cheia de uma amargura que vinha das profundezas da minha alma. "De lembrar você das promessas que fez? Das palavras de amor que sussurrava quando éramos crianças?"
Ele franziu o cenho. "As promessas de infância não significam nada agora, Eliza. Cresça."
"Crescer?" Eu ri, uma risada sem alegria. "Você se esqueceu do meu último aniversário, Lorenzo? Do penúltimo? De todos os meus aniversários desde que Bruna chegou? Você sempre se lembra do aniversário dela. Mas do meu?" O silêncio era a resposta mais cruel. "Você nunca se lembrou."
Ele explodiu. A contenção se quebrou. "Chega, Eliza! Eu não aguento mais os seus dramas! Você sempre foi assim, fazendo-se de vítima, sempre fraca, sempre precisando de atenção. É exaustivo! Sua fragilidade me exausta!" Ele gesticulou, a raiva em seus olhos. "Você acha que eu gosto de ser o vilão? Suas fraquezas, suas doenças, sua sensibilidade... tudo isso me transformou no homem que sou forçado a ser!"
Eu o encarei. Seus olhos negros me pressionavam, me esmagavam. Eu sabia que, para ele, eu era apenas um erro, um fardo que ele desejava desesperadamente se livrar. Eu era a mulher que ele não conseguia amar, a que o envergonhava, a que o impedia de ser o homem perfeito ao lado da mulher perfeita, Bruna.
"Você está certo," eu disse, a voz vazia. "Eu não sou boa o suficiente. Eu nunca fui." A dor em meu peito era uma ferida aberta, mas a aceitação dessa verdade trouxe uma estranha sensação de paz. Eu não lutaria mais. Não havia mais nada para lutar.
Eu me virei, o rosto impassível, e comecei a arrumar meus poucos pertences. "Os papéis para a dissolução do nosso noivado estão sobre a mesa na sala de estar. Eu os enviei para a formalização. Você pode abri-los em três dias. Não antes." Minha voz era calma, sem emoção. Eu não queria mais olhá-lo, não queria mais sentir a dor que seu olhar me trazia.
Ele não respondeu. Eu senti seu olhar nas minhas costas, a confusão misturada com a raiva. Ele saiu do quarto tão abruptamente quanto entrou, deixando-me sozinha com o silêncio e a escuridão.
A meia-noite chegou, e o som do relógio batendo as doze badaladas ecoou pela mansão vazia. Eu me encolhi na cama empoeirada, abraçando o pequeno álbum de fotos, o único vestígio da minha vida antiga que eu ainda tinha. O corpo doía, a cada respiração era uma pontada aguda. Eu calculei o tempo que me restava. Menos de três dias. Eu não dormi.
Ao amanhecer, o som de carros se aproximando. As vozes de meus pais, Antonina e Vicente, e a risada doce de Bruna. Eles haviam voltado da festa. E eu sabia que a tormenta estava apenas começando.
A porta do meu quarto se abriu com um estrondo, revelando Antonina e Vicente, os rostos contorcidos em raiva. Bruna estava atrás deles, seu rosto inchado de lágrimas, mas seus olhos brilhavam com um triunfo secreto.
"Eliza! Como você pôde?" Antonina gritou, sua voz aguda. "Você estragou a festa de Bruna! Ela está devastada! Você a fez chorar! De novo!"
Vicente se aproximou, o rosto vermelho. "Peça desculpas a ela, Eliza! Agora!"
Eu fechei os olhos, respirando fundo. Resisti à vontade de desabar. Três dias. Apenas três dias. Aquela certeza era a única coisa que me mantinha de pé. Eu me lembrava de quando eu era pequena, quando Antonina me abraçava e me protegia. "Você é minha guerreira, Eliza," ela dizia, sua voz suave. Ela me ensinou a lutar, a ser forte. Ela me ensinou a defender a honra da nossa família.
Mas Bruna havia mudado tudo.
Bruna era a estrela. Desde que ela chegou, perfeita, linda, inteligente, eu me tornei a sombra. Aos dez anos, Bruna já era uma prodígio. Ela dominava as artes, as línguas, os negócios. Eu, por outro lado, comecei a ficar doente. Comecei a ter resfriados, tonturas, febres. Eu era a "fraca", a "sensível".
"Eliza é delicada," a médica dizia, após inúmeros exames que nunca encontravam nada. "Ela tem uma fraqueza congênita. Precisa ser protegida."
Mas Bruna, ela era forte. Ela era a herdeira perfeita, a noiva perfeita para Lorenzo, mesmo que o contrato fosse meu. Eu tentava, eu juro que tentava. Eu me arrastava para as aulas de esgrima, para as aulas de piano, mas meu corpo não respondia. Eu caía, eu errava, eu ficava tonta.
Meus pais me olhavam com desapontamento crescente. "Por que você não pode ser como Bruna?" Vicente perguntava, a voz carregada de frustração. "Ela é tão talentosa, tão forte. Você deveria se casar com Lorenzo, mas como você vai liderar ao lado dele se é tão fraca?"
A decepção deles se transformou em vergonha. Eu me tornei a mancha na reputação da família Covilhã. Bruna, por outro lado, era o orgulho deles, a joia que brilhava mais a cada dia. E eu? Eu era a fraqueza, a doença, a vergonha. Eu era a que estava morrendo, lenta e silenciosamente.
"Eliza! Você ouviu o que seu pai disse? Peça desculpas a Bruna!" Antonina me tirou das minhas lembranças.
Eu a olhei, então olhei para Bruna, que desviava o olhar, fingindo tristeza. A verdade começou a se encaixar, como peças de um quebra-cabeça macabro.