A Vingança da Noiva Desprezada
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Capítulo 7

Eliza POV:

Bruna se levantou, os olhos faiscando com um ódio que eu nunca havia visto antes, mas que agora fazia todo o sentido. "Eu te odeio, Eliza," ela cuspiu, as palavras carregadas de veneno. "Eu te odeio porque você não merecia nada do que tinha. Você era a herdeira, a noiva de Lorenzo, a protegida da família. E para quê? Para ser fraca, patética, doente. Você era um fardo, Eliza. Um fardo para todos."

Ela gesticulou, a voz subindo de tom. "Eu sempre fui melhor que você. Mais forte, mais inteligente, mais ambiciosa. Mas o mundo queria que você tivesse tudo apenas por ter nascido em berço de ouro. Isso me revolta!"

"Você... você me envenenou?" eu sussurrei, a ficha finalmente caindo, a verdade nua e crua rasgando meu peito. Era ainda pior do que eu imaginava.

Bruna gargalhou, um som cruel e sem alegria. "Sim! Desde os seus doze anos. Aquelas 'flores venenosas' que você me deu? Eu mesma as troquei. Aquele 'chá de ervas' para te fortalecer? Era um veneno lento, que te tornava cada vez mais fraca. Aquele empurrão no penhasco? Fui eu. Eu te dei o remédio errado, te confundi, te sabotei em cada treino, em cada prova, em cada momento da sua vida."

Ela deu um passo à frente, seus olhos fixos nos meus, cheios de triunfo. "Eu observei você se definhar, dia após dia, ano após ano. Eu vi você perder a força, a vitalidade, a esperança. E eu..." Ela sorriu, um sorriso macabro. "Eu amei cada segundo. Eu amei ver você se transformar em uma sombra do que era."

A raiva me consumiu. Eu tentei me levantar, tentei atacá-la, mas meu corpo não respondeu. Eu caí de joelhos, a dor nas mãos queimadas e no peito exausto era insuportável. Eu era tão fraca. Tão indefesa.

Bruna me chutou no estômago, e eu soltei um gemido de dor. Ela me chutou de novo, e de novo, rindo a cada golpe. "Você é patética, Eliza! Fraca! Inútil! Você não serve para nada além de ser um objeto de pena! E agora, você vai morrer. E eu serei a única noiva de Lorenzo. A única herdeira. A única Covilhã que importa!"

Ela me chutou uma última vez, e eu senti minha consciência escorregar. A dor era insuportável, mas a raiva era maior. Eu não morreria assim. Não sem antes desmascará-la. Não sem antes fazer com que ela pagasse.

Bruna, satisfeita, se virou e saiu do quarto, cantarolando uma melodia alegre. A porta se fechou atrás dela, e eu fiquei sozinha, encolhida no chão frio, o corpo tremendo, o sangue escorrendo do canto da minha boca.

Minha mão, meio que por instinto, tateou o chão e esbarrou no meu celular. Eu o havia deixado cair quando Bruna me empurrou. A tela estava ligada, e eu vi a pequena luz vermelha piscando. Gravando.

Eu havia gravado tudo. A confissão de Bruna. Cada palavra. Cada detalhe da sua crueldade.

Uma risada subiu à minha garganta, uma risada que misturava dor, desespero e um triunfo frio. Finalmente. Finalmente eu tinha a prova. Finalmente eu poderia desmascará-la.

Eu me arrastei até a cama, puxando o celular para perto. A bateria estava fraca, mas eu tinha uma última missão. Eu tinha que enviar isso. Para Lorenzo. Para meus pais. Para o conselho de administração do Grupo Caetano. Para todos que haviam me desprezado, me humilhado, me abandonado.

Eu me apressei, o corpo tremendo, as mãos queimando. Eu enviei o áudio para todos os contatos importantes, incluindo os anciãos do conselho. O áudio era claro, nítido. A voz de Bruna, cada palavra de sua confissão, gravada para sempre.

Quando terminei, eu tirei o chip do celular e o esmaguei com a mão. Eu não queria mais nenhum laço com aquele mundo. Eu não queria que eles me rastreassem. Eu não queria mais nada.

Eu havia feito isso. Eu havia cumprido minha última missão. Eu havia garantido que a verdade viria à tona. Agora, eu só queria paz. Eu só queria morrer em paz.

O sol estava se pondo, pintando o céu de tons alaranjados e roxos. As luzes da cidade começaram a piscar. Eu me arrastei para fora do quarto, o corpo quase sem forças. Eu tinha que encontrar um lugar. Um lugar para descansar. Um lugar para morrer.

Eu andei sem rumo pelas ruas escuras, sentindo a vida se esvair de mim a cada passo. Meu corpo estava pesado, minha respiração superficial. Eu vi uma pequena lanchonete, com luzes quentes e um cheiro delicioso de comida caseira. Parecia um refúgio. O único lugar que eu sentia que talvez me acolhesse, mesmo que por alguns instantes.

Eu abri a porta, e o sininho tocou, anunciando minha chegada. Uma mulher mais velha, com um sorriso gentil e olhos cheios de calor, estava limpando o balcão. Nazaré Valim. Eu a conhecia de vista, ela sempre me cumprimentava quando eu passava por ali, o que era raro.

"Senhora Nazaré," eu sussurrei, minha voz quase inaudível.

Ela se virou, e o sorriso em seu rosto se desfez ao me ver. Seus olhos se arregalaram, cheios de preocupação. "Eliza! Meu Deus! O que aconteceu com você? Você está pálida como um fantasma!"

"Eu... eu preciso de um lugar," eu disse, as lágrimas brotando em meus olhos novamente. "Só por um tempo. Eu não tenho para onde ir."

Nazaré largou o pano de limpeza e correu até mim. "Oh, minha querida! Claro que sim! Venha, sente-se. Venha, venha." Ela me guiou até uma cadeira, sua voz suave e acolhedora. "Você precisa de um caldo quente. Você está tremendo. Não se preocupe, minha filha, você está segura aqui."

Ela não fez perguntas. Ela apenas me acolheu, com uma bondade que eu nunca havia conhecido. Eu chorei, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, lavando a dor e a raiva. Pela primeira vez em anos, eu me senti segura.

Nazaré trouxe uma tigela fumegante de caldo verde, com legumes frescos e ervas aromáticas. O cheiro era divino. Eu tomei um gole, e o calor se espalhou pelo meu corpo, trazendo um alívio momentâneo.

"Por que você não está em casa, minha filha?" Nazaré perguntou, a voz suave. "Sua família... eles não deveriam estar com você?"

"Eu não tenho casa," eu respondi, a voz embargada. "Eu fui expulsa. Eu não tenho família. Eu não tenho ninguém."

Nazaré me olhou, e eu vi uma sombra de dor em seus olhos. "Eu entendo, minha querida. Eu perdi minha filha há muitos anos. Ela era a luz da minha vida. Eu sei o que é se sentir sozinha. Eu sei o que é perder tudo." Ela me acariciou os cabelos, um gesto maternal que eu nunca havia recebido. "Você me lembra tanto dela. Tão linda, tão delicada. Deixe-me cuidar de você, minha filha. Deixe-me fingir que tenho minha filha de volta, só por um tempo."

Eu desabei em seus braços, as lágrimas escorrendo em um rio incontrolável. Eu nunca havia sentido um amor tão puro, tão incondicional. Eu nunca havia conhecido o que era ter uma mãe.

Nazaré me levou para um pequeno quarto nos fundos da lanchonete. Era simples, mas aconchegante. Havia fotos de uma jovem sorridente na parede, sua filha. Ela me ajudou a tirar minhas roupas sujas, a me vestir com uma camisola limpa e macia. Ela escovou meus cabelos, com delicadeza, como se eu fosse um cristal.

"Seu cabelo é tão lindo, minha filha," ela sussurrou. "Tão macio."

Eu me aninhei em seus braços, sentindo o calor do seu corpo, o cheiro de comida caseira, a maciez do seu cabelo. Eu nunca havia me sentido tão segura, tão amada. A dor em meu corpo parecia diminuir, como se o amor de Nazaré tivesse o poder de curar até mesmo a morte.

"Obrigada, Nazaré," eu sussurrei, as lágrimas ainda escorrendo pelo meu rosto.

"Não há de quê, minha filha," ela respondeu, sua voz embargada pela emoção. "Basta me deixar te amar. Basta me deixar cuidar de você."

Eu fechei os olhos, a exaustão me consumindo. Eu senti a vida se esvair de mim, como um fio se desfazendo. Mas não havia medo. Não havia mais dor. Apenas uma paz profunda e reconfortante. Eu estava morrendo, mas estava morrendo nos braços de alguém que me amava. Finalmente.

Eu ouvi Nazaré sussurrar meu nome, chamando-me de "minha filha". Eu queria responder, queria dizer a ela o quanto eu a amava, o quanto ela havia me salvado. Mas as palavras não saíram. Eu senti meu corpo se tornando leve, como uma pena, flutuando para o alto. Minha alma estava se desprendendo, pronta para partir.

                         

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