Antonina e Vicente, meus pais, se aproximaram, os olhares de censura fixos em mim. "Eliza, Bruna está sendo tão compreensiva. Peça desculpas, pelo amor de Deus!" Antonina implorou, sua voz carregada de desespero.
O colar de flores. A memória me atingiu como um raio. Eu havia passado dias colhendo as flores mais raras e bonitas do jardim, com as mãos já tremendo de fraqueza, para fazer o presente de aniversário perfeito para Bruna. Eu queria que ela se sentisse amada, que soubesse que eu me importava. Eu estava tão feliz em vê-la sorrir.
Mas, naquela noite, Bruna desmaiou. Seu corpo jovem se contorceu em convulsões, a pele coberta por uma erupção vermelha e inchada. Meus pais, aterrorizados, a levaram correndo para o hospital. Eu fui deixada para trás, acusada de ter tentado envenená-la com "flores venenosas". Fui trancada em meu quarto por uma semana, sem comida, sem água, enquanto Bruna se recuperava. Eu fiquei fraca, febril, e meus pais me olhavam com horror. Eles não me deixaram explicar. Eles não me deixaram dizer que Bruna nunca teve alergia a flores.
Quando eu finalmente fui liberada, Bruna veio até mim, seus olhos cheios de lágrimas. "Eu sei que você não fez por mal, Eliza," ela disse, com a voz suave. "Eu sei que você me ama. Não se preocupe, eu disse a eles que foi um acidente." Ela me abraçou, e eu senti um arrepio. Ela era a heroína, e eu, a vilã.
"Bruna sempre teve alergia a flores," Vicente disse, sua voz dura. "Como você pôde esquecer?"
"Ela nunca teve," eu respondi, minha voz rouca. "Ela podia tocar em qualquer flor. Ela as colhia comigo quando éramos crianças." A tensão na sala aumentou. O ar ficou pesado. Meus pais me olharam com desconfiança.
Nesse momento, Lorenzo entrou no quarto, seus olhos varrendo a cena. Ele devia ter ouvido a discussão. Ele me olhou, seu rosto endurecido.
Outra memória me atingiu. Ele havia me visitado secretamente naquele quarto, durante minha "punição". Trazia-me água e dava-me comida. Nossos olhos se encontraram na escuridão, e ele me prometeu que eu ficaria bem. Ele parecia acreditar em mim então. Mas agora... agora ele era diferente.
Bruna, percebendo o olhar de Lorenzo, rapidamente interveio. "Sim, Eliza. Eu tinha alergia. Mas eu superei, não se lembra?" Ela estendeu a mão para mim, como se estivesse me oferecendo um abraço, um gesto de reconciliação. "Veja, não há mais nada. Eu posso tocar nas flores agora." Ela tocou seu próprio braço, como se para demonstrar.
Eu sabia que era uma armadilha. Eu sabia que ela estava mentindo. Mas meus pais e Lorenzo pareciam acreditar nela. Eu me recusei a corresponder ao seu gesto.
Bruna, então, fez a sua jogada. Ela se jogou para trás, como se eu a tivesse empurrado, e caiu no chão com um grito de dor. Ela se contorceu, o rosto contorcido em agonia. "Eliza! Por que você fez isso?"
Em segundos, sua pele começou a ficar vermelha, inchada. Urticária. Era uma reação alérgica perfeita, rápida e violenta. Meus pais gritaram, correndo para o lado dela.
"Bruna! Meu amor!" Antonina exclamou, em pânico.
"Eliza, o que você fez?" Vicente rugiu, sua voz cheia de ódio.
Eu estava paralisada, as palavras presas na garganta. Era tudo uma farsa. Ela havia se machucado de propósito. Ela havia se envenenado para me incriminar. Ela sempre foi assim.
Bruna, no meio de suas convulsões, abriu os olhos e olhou para mim. Um sorriso diabólico. "Não... não culpe Eliza... ela... ela não quis... me machucar..." Sua voz era fraca, mas a malícia em seus olhos era inegável.
Sua "defesa" só inflamou a raiva dos meus pais. "Ela está defendendo você, mesmo depois do que você fez!" Antonina chorava.
Lorenzo se aproximou de mim, seus olhos em chamas, um ódio puro e inegável. Sua mão se ergueu, e eu me encolhi, esperando o golpe.
"Você de novo, Eliza," ele sibilou, sua voz baixa e perigosa. "Você sempre precisa causar dor, não é? Você sempre precisa destruir tudo ao seu redor." Ele se curvou, levantou Bruna com cuidado, e a segurou em seus braços. "Você está bem, meu amor," ele sussurrou para ela, ignorando minha existência.
Bruna, contra o peito dele, me lançou um olhar de triunfo, seus lábios se movendo em um sussurro quase inaudível. "Eu não sei por que... por que eu tive essa reação... eu juro que não toquei em nada..."
Ela me olhou, e eu vi a vitória brilhar em seus olhos. Ela havia conseguido. Ela havia me destruído novamente. E eu não podia fazer nada.