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A Profecia Dele, o Espírito Estilhaçado Dela
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A Profecia Dele, o Espírito Estilhaçado Dela

Autor: Gavin
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Capítulo 1

Quatro abortos espontâneos haviam estilhaçado meu espírito, mas foi o silêncio do meu marido, Bernardo, que verdadeiramente me matou. Eu deveria ser sua parceira predestinada, o receptáculo para os filhos gêmeos que garantiriam o império imobiliário de sua família, tudo de acordo com seu guia espiritual.

Então, descobri a verdade em uma celebração secreta. Lá estava Bernardo, radiante ao lado de sua namorada do colégio, Cíntia, que segurava dois filhos recém-nascidos.

"A profecia se cumpriu!", declarou o guru.

Meu mundo implodiu. Bernardo me chamou de "estepe", admitindo que havia orquestrado meus abortos porque aquelas não eram as crianças "predestinadas". Ele trouxe Cíntia para nossa casa, deu aos filhos dela os nomes que eu havia escolhido para os meus, e até destruiu o roseiral da minha mãe, alegando que sua "energia negativa" estava deixando os bebês doentes.

Ele então me forçou a um ritual brutal de "purificação" que me deixou com cicatrizes e quebrada, tudo para "limpar" a casa para sua nova família. Minha agonia era apenas uma parte inconveniente de seu plano doentio.

Eu escapei e construí uma nova vida, encontrando o amor com um homem gentil e seu filho. Mas, assim que aceitei seu pedido de casamento, Bernardo me encontrou, seus olhos ardendo em obsessão.

"Você é minha, Amélia", ele rosnou. "E você vai voltar comigo, ou eu vou garantir que você se arrependa!"

Capítulo 1

Amélia POV:

As palavras do médico ecoaram em meus ouvidos quatro vezes, cada aborto uma ferida nova, mas foi o silêncio de Bernardo que realmente me matou. Um silêncio que agora eu sabia ser uma sinfonia de seu plano sombrio. Eu o amei, tola e cegamente, acreditando em suas grandes promessas e no futuro que ele prometia sob a orientação de seu guia espiritual. Eu deveria ser sua parceira predestinada, o receptáculo para os filhos gêmeos que garantiriam o legado de sua família. Em vez disso, eu era uma casca quebrada, meu corpo devastado, meu espírito estilhaçado, e tudo isso, uma mentira meticulosamente orquestrada.

Bernardo Hodge era da realeza de São Paulo. O império imobiliário de sua família se estendia pela cidade, monumentos de concreto ao seu poder e influência. Ele era charmoso, inteligente e possuía uma seriedade que desmentia sua idade. Mas sob o verniz polido, havia um homem totalmente consumido por um sistema de crenças esotéricas. Seu guia espiritual, um homem com olhos penetrantes e uma voz hipnótica, ditava cada decisão significativa na vida de Bernardo. Ele afirmava se comunicar com espíritos antigos, prever destinos, e Bernardo, para meu espanto ingênuo, acreditava em cada palavra. Não era apenas um hobby excêntrico; era a base de sua existência.

Essa fé cega não era apenas uma filosofia abstrata para Bernardo. Moldava suas ações, solidificava suas convicções e, terrivelmente, justificava sua crueldade. Eu vi isso sutilmente no início, na maneira como ele se submetia aos pronunciamentos enigmáticos do guru, mesmo sobre o conselho de seus próprios diretores. Depois, tornou-se mais evidente, influenciando investimentos, compromissos sociais, até mesmo o design de seus novos arranha-céus. Bernardo realmente acreditava que este guru detinha as chaves para a prosperidade contínua de sua família, para sua realização pessoal, para tudo que importava.

E então, guiou sua escolha de esposa. Eu. Amélia Levine. Uma mulher de origem humilde, uma órfã que lutou por tudo que tinha. Eu trabalhava como artista botânica, encontrando consolo na natureza após a morte prematura de meus pais. Bernardo, o príncipe dourado, me arrebatou, sua proteção e charme um bálsamo poderoso para minha alma marcada. O guru havia previsto, ele afirmou - uma mulher com o espírito da terra, destinada a gerar vida. Eu acreditei nele, acreditando em Bernardo.

Nosso casamento foi um espetáculo, um evento comentado nas colunas sociais por semanas. Todos viram o belo e poderoso Bernardo Hodge tomando uma garota quieta e despretensiosa como sua noiva. Eles chamaram de conto de fadas, um testemunho do amor verdadeiro transcendendo as divisões sociais. Eu certamente senti que era. Bernardo era atencioso, me cobrindo de presentes e afeto. Meu estúdio foi ampliado, minha arte celebrada. Ele falava do nosso futuro com tanta convicção, tanta ternura, que pensei ter encontrado meu porto seguro, meu para sempre.

Éramos a inveja de muitos, um retrato do romance moderno e da elegância do dinheiro antigo. O público adorava a escolha não convencional de Bernardo, vendo-a como prova de que a riqueza não havia corrompido seu coração. Eu caminhava ao lado dele, um sorriso tímido no rosto, banhando-me no brilho refletido de sua adoração, totalmente inconsciente da corrente sinistra que fluía sob a superfície de nossa vida aparentemente perfeita.

A adesão de Bernardo à orientação do guru era absoluta. Cada passo importante, desde a escolha do nosso destino de lua de mel até o momento de nossos empreendimentos filantrópicos, era aprovado pelo líder espiritual. Ele falava de destino, de alinhamento, de forças cósmicas. Achei um pouco estranho, talvez, mas certamente inofensivo. Era simplesmente parte do homem enigmático que eu amava.

Então veio a nova profecia. Filhos gêmeos. "Eles serão as âncoras de sua dinastia, Bernardo", declarou o guru. "Nascidos da terra, abençoados pelas estrelas." Bernardo ficou obcecado, seu foco mudando inteiramente para a procriação. Eu também estava ansiosa. Ansiava por filhos, pela família que havia perdido.

Mas então os abortos começaram. O primeiro foi um choque, uma dor súbita e brutal que me rasgou. Bernardo foi externamente solidário, segurando minha mão, sussurrando garantias. Ele me disse que simplesmente não era o momento certo, que o universo tinha outros planos. Então veio o segundo. E o terceiro. Cada um me deixou oca, meu corpo doendo, meu coração estilhaçado em mais pedaços do que eu pensava ser possível. O quarto, um ano depois, pareceu uma zombaria deliberada de minhas esperanças.

Depois do quarto, meu corpo não me deixou sair da cama por dias. Bernardo insistiu que eu visse os melhores especialistas em fertilidade, prometendo que encontraríamos uma solução. Eu me agarrei a essa esperança, a essa nesga de razão científica em um mundo que parecia cada vez mais caótico e doloroso. Os médicos fizeram inúmeros exames, suas expressões ficando mais preocupadas a cada visita.

"Amélia", disse a Dra. Campos, sua voz gentil, mas firme, "seu corpo não mostra sinais de problemas congênitos. Seu revestimento uterino, níveis hormonais, tudo aponta para um sistema reprodutivo saudável. No entanto, seu corpo está sistematicamente rejeitando cada gravidez em um estágio inicial. Já vimos isso antes, mas geralmente, há uma explicação médica." Ela fez uma pausa, seu olhar encontrando o meu. "Precisamos investigar mais a fundo. Talvez um procedimento de diagnóstico mais invasivo. Ou consideramos fatores externos."

As palavras me atingiram como golpes físicos. Meu corpo saudável estava falhando. Minha culpa. Tinha que ser. Lágrimas brotaram em meus olhos, uma onda de náusea me invadindo. Senti um pavor frio se instalar profundamente em meus ossos. Eu era um fracasso. O que havia de errado comigo?

Bernardo chegou pouco depois, me encontrando pálida e trêmula. Ele ouviu o resumo sombrio da médica com uma calma distante que me perturbou mesmo naquela época. Ele passou um braço em volta do meu ombro, um gesto que parecia mais posse do que conforto. "Não se preocupe, meu amor", ele murmurou, sua voz suave, quase suave demais. "O universo funciona de maneiras misteriosas. Talvez estas não fossem as crianças predestinadas." Suas palavras, destinadas a acalmar, pareciam lixa em uma ferida aberta. Elas não ofereciam consolo real, nenhum luto compartilhado.

Eu me fechei, a culpa e a tristeza um manto pesado. Passei horas em meu estúdio, não pintando, mas olhando fixamente para telas em branco, as cores vibrantes agora parecendo opacas e sem sentido. Por que eu não conseguia levar uma criança a termo? Por que meu corpo estava me traindo? A dor era uma companheira constante, uma dor surda que nunca desaparecia de verdade.

Numa noite fresca de outono, após outra consulta longa e estéril, me vi atraída pelos portões ornamentados e familiares do centro espiritual de Bernardo. Era um lugar que eu geralmente evitava, mas uma compulsão estranha me puxou para lá. Talvez, pensei, eu pudesse encontrar alguma paz, algumas respostas, na reverência silenciosa que supostamente permeava suas paredes.

Ao me aproximar do salão principal, ouvi. Risadas. Gritos de triunfo. Uma cacofonia de celebração que parecia totalmente fora de lugar neste santuário geralmente silencioso. Meu coração batia forte, uma estranha mistura de curiosidade e inquietação vibrando em meu peito. Empurrei a pesada porta de carvalho apenas o suficiente para espiar lá dentro.

O grande salão, geralmente reservado para meditações solenes, estava em chamas com luz e folia. Bernardo estava no centro, radiante, uma taça de champanhe na mão. Ao seu lado, uma mulher que eu conhecia, Cíntia Hatfield, sua namorada do colégio, segurava dois pacotes enrolados em seus braços. Dois bebês. Cíntia, que havia acabado de voltar da Europa algumas semanas antes. Meu fôlego ficou preso na garganta.

Então a voz do guru trovejou, amplificada pela acústica do salão. "Contemplem! A profecia se cumpriu! Filhos gêmeos, nascidos da verdadeira parceira predestinada, Cíntia! Eles garantirão o legado Hodge!"

Meu sangue gelou. A taça de champanhe escorregou de meus dedos trêmulos, quebrando-se no chão de pedra polida. O som, pequeno e agudo, silenciou momentaneamente a sala. Todos os olhos se voltaram para mim. O sorriso triunfante de Bernardo vacilou, substituído por um lampejo de irritação. O olhar de Cíntia, antes cauteloso, agora continha um brilho triunfante.

Eu fiquei ali, congelada, os pedaços da minha vida, do meu amor, da minha confiança, espalhando-se ao meu redor como os cacos de vidro. Filhos gêmeos. Cíntia. Parceira predestinada. As palavras giravam na minha cabeça, um carrossel vertiginoso e horrível. Não, não podia ser. Não assim.

O rosto de Bernardo era indecifrável, uma máscara de aborrecimento. "Amélia", ele disse, sua voz desprovida de calor, "o que você está fazendo aqui?" Seu tom calmo e acusatório era um contraste gritante com a celebração extasiada que eu acabara de interromper.

Minha voz saiu como um sussurro rouco. "O que é isso, Bernardo? O que são essas crianças?"

Cíntia, com um sorriso doentiamente doce, deu um passo à frente, os gêmeos aninhados com segurança em seus braços. "Estes são os filhos de Bernardo, Amélia. Os que você não pôde dar a ele." Meu estômago revirou. A crueldade casual de suas palavras foi um soco no estômago.

Bernardo suspirou, passando a mão por seu cabelo perfeitamente penteado. "Parece que o segredo foi revelado, minha cara. A sabedoria do guru foi clara desde o início. Cíntia sempre foi a mãe pretendida dos meus herdeiros. Você, infelizmente, era apenas uma estepe."

Minha mente cambaleou. Estepe? Quatro abortos. Quatro vezes meu corpo falhou, ou assim eu acreditava. Minha visão embaçou, as lágrimas borrando a cena hedionda diante de mim. "Os abortos", eu engasguei, uma percepção aterrorizante surgindo. "Não foram acidentes, foram? Você... você fez isso."

Os olhos de Bernardo, geralmente tão quentes quando encontravam os meus, agora estavam frios, totalmente desprovidos de emoção. "O guru aconselhou que aquelas não eram as crianças predestinadas", ele afirmou, sua voz plana, como se estivesse discutindo uma transação comercial. "A energia delas não era pura o suficiente para carregar a linhagem. Tivemos que garantir que o caminho estivesse livre para os verdadeiros herdeiros."

O ar saiu dos meus pulmões em um suspiro irregular. Ele disse isso tão casualmente, tão desdenhosamente. Minha agonia, meu desespero, minhas esperanças estilhaçadas - tudo fazia parte de seu plano doentio. Eu queria gritar, rasgá-lo em pedaços, mas meu corpo parecia de chumbo. Eu só conseguia encarar seu rosto sem emoção, o rosto do homem que me destruiu sistematicamente, tudo por uma profecia.

Meu sangue gelou, mais frio que qualquer inverno. O mundo ao meu redor escureceu, as cores desbotando para um monocromático de desespero. Olhei para Bernardo, sua expressão de leve inconveniência, não de remorso. Ele acabara de admitir ter orquestrado a interrupção deliberada de minhas gestações, de nossos filhos, e me olhava como se eu fosse uma bebida derramada.

"Mas... por quê?" A palavra era um sussurro quebrado, arranhando minha garganta. "Por que eu? Por que passar por tudo isso?"

Bernardo finalmente encontrou meu olhar, uma pitada de impaciência em seus olhos. "O guru viu seu espírito, Amélia. Ele acreditava que você seria adaptável, uma influência calmante, até que o verdadeiro caminho se revelasse. E você foi, por um tempo." Ele fez uma pausa, quase pensativo. "Mas o destino sempre encontra um caminho, não é?"

Cíntia então deu um passo à frente, seu sorriso largo e zombeteiro. "Bernardo e eu sempre fomos destinados um ao outro. O guru simplesmente confirmou. Você foi apenas uma distração temporária, um receptáculo conveniente até que as estrelas se alinhassem." Ela gesticulou para os dois bebês, que se mexeram levemente em seus braços. "Estes são os verdadeiros herdeiros. Meus filhos. Nossos filhos, de Bernardo e eu."

As palavras se contorceram em meu estômago, uma lâmina afiada. Cíntia esteve aqui o tempo todo, à espreita nas sombras, esperando por seu momento. Não era apenas a crueldade de Bernardo; era uma conspiração, um engano calculado que havia esvaziado meu próprio ser. Eu não era nada além de um peão em seu jogo grotesco.

Minhas pernas pareciam desconectadas do meu corpo, pesadas e sem resposta. Eu me virei e tropecei para longe das luzes ofuscantes, dos gritos de alegria, da verdade monstruosa. Passei por convidados surpresos, seus rostos um borrão de confusão e pena. Corri, cegamente, para a noite fria de São Paulo, o ar fresco não fazendo nada para limpar a névoa sufocante em minha mente.

Não parei até chegar ao Parque Ibirapuera, desabando em um banco frio sob um imponente ipê. As lágrimas vieram então, quentes e ardentes, uma torrente de luto, raiva e profunda traição. Meu peito arfava a cada soluço, cada respiração um eco doloroso da vida que eu quase criei, dos sonhos que eu tolamente acalentei. Quatro vezes. Quatro pequenas vidas, extintas antes que tivessem a chance de respirar, tudo por causa de uma profecia distorcida e da ambição fria de um homem. Bernardo havia orquestrado meus abortos, deliberada e sistematicamente. Não era meu corpo me falhando; era ele.

Lembrei-me do dia em que conheci Bernardo. Eu era uma artista em dificuldades, recém-saída da faculdade, meus pais se foram, me deixando com nada além de uma pequena herança e uma montanha de luto. Ele havia encomendado uma peça minha, uma grande ilustração botânica para sua nova sede corporativa. Ele tinha visto meu trabalho em uma pequena exposição de galeria, uma série de peças delicadas e vibrantes retratando rosas raras. Ele tinha sido tão gentil, tão compreensivo com minha natureza introvertida.

"Sua arte", ele havia dito, sua voz suave, "fala de resiliência, de beleza emergindo da dificuldade. Assim como você, Amélia."

Eu fiquei lisonjeada, desarmada por sua atenção. Ele me ofereceu um contrato exclusivo, um belo estúdio, um senso de pertencimento que eu não sentia desde que meus pais morreram. Ele me tirou da beira do desespero, ou assim eu pensava. Eu me apaixonei por ele, por seu charme, pelo senso de segurança que ele oferecia. Eu confundi seu fascínio com amor, sua proteção com cuidado genuíno. Ele me pediu em casamento, ajoelhando-se dramaticamente em meio a um campo de flores silvestres que ele alegou ter cultivado só para mim. "Você traz luz para a minha vida, Amélia", ele sussurrou, colocando um anel em meu dedo. "Meu guru previu. Você é minha parceira predestinada."

Eu derramei meu coração e alma naquele casamento, convencida de que estava construindo um futuro, uma família. Eu celebrei nossos aniversários, lamentei nossas perdas, acreditei em cada mentira reconfortante que ele proferiu. E agora, a verdade brutal arranhava minhas entranhas: eu não era nada além de um adereço, um acessório temporário em sua narrativa cuidadosamente construída.

Arrastei-me para casa, a grande mansão agora parecendo um túmulo. Meus pés se moviam mecanicamente, um passo após o outro, cada um um testemunho do peso do que eu agora sabia. Cheguei ao quarto principal, o espaço que havíamos compartilhado, agora manchado por sua traição. Meus olhos pousaram na pequena caixa ornamentada na mesa de cabeceira de Bernardo. Dentro havia um único documento legal, nítido. Um acordo de divórcio em branco, pré-assinado por Bernardo, dado a mim anos atrás como um "símbolo de confiança", uma garantia de que ele nunca me manteria cativa.

Meus dedos tremeram enquanto eu o pegava. Um símbolo de confiança. Agora, era um símbolo da minha fuga. Era isso. Não havia mais nada para mim aqui.

            
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