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A Profecia Dele, o Espírito Estilhaçado Dela
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Capítulo 8

Amélia POV:

O aperto de Bernardo era como ferro, torcendo meu braço, enviando uma nova onda de dor através do meu corpo ainda em recuperação. Ele me empurrou para trás, com força, contra um pilar de mármore. O impacto fez meus dentes rangerem, e uma dor aguda subiu pela minha espinha. Minha cabeça latejou, embaçando minha visão por um momento.

"Louca?", engasguei, me endireitando, meus olhos ardendo com lágrimas não derramadas e fúria desenfreada. "Você me chama de louca? Você destruiu meu jardim, orquestrou meus abortos, deu os nomes dos meus filhos aos seus filhos bastardos, e agora você profana minhas últimas memórias com essa bruxa!" Apontei um dedo trêmulo para Cíntia, que agora soluçava teatralmente, embalando o bebê que gritava. "Você é um monstro, Bernardo Hodge! Um monstro frio e calculista! Eu te desprezo! Queria nunca ter te conhecido!"

As palavras, cruas e venenosas, rasgaram minha garganta, alimentadas por anos de dor reprimida e pela picada de sua traição final. Cada mentira, cada fachada cuidadosamente construída que ele havia erguido, desmoronou naquele momento. Não havia como voltar atrás.

Ele me encarou, seu rosto uma máscara de incredulidade, depois uma frieza doentia e familiar se instalou em seus olhos. Um lampejo de algo como mágoa, rapidamente substituído por um distanciamento arrepiante. Ele sempre fora tão cuidadoso em manter sua imagem, seu exterior perfeito. Meu desabafo, minha honestidade crua, o havia estilhaçado. E ele me odiava por isso.

Lágrimas, quentes e imparáveis, escorriam pelo meu rosto. Eu estava em espiral, perdendo o controle, mas não me importava. Esta era a verdade, finalmente liberada. Com um grito primitivo, lancei-me sobre ele, arranhando, batendo, desesperada para infligir até mesmo uma fração da dor que ele me causou.

Ele me repeliu facilmente, sua força muito superior ao meu estado enfraquecido. Ele segurou meus pulsos com uma mão, prendendo-me contra o pilar, seu rosto a centímetros do meu. "Você está verdadeiramente perturbada, Amélia", ele rosnou, sua voz baixa e perigosa. "Este surto violento, este ódio irracional... O guru estava certo. Você está atormentada por espíritos sombrios. Você precisa de limpeza."

Cíntia, sempre oportunista, fungou dramaticamente. "Oh, Bernardo, ela precisa de ajuda. Pelo bem dos meninos, ela precisa ser purificada."

Seus olhos, frios e duros, encontraram os meus. "De fato. É para o seu próprio bem, Amélia." Ele estalou os dedos. "Seguranças! Levem-na. Preparem a sala silenciosa. Chamem o Padre Miguel. Ela precisa de um exorcismo."

Exorcismo. Meu sangue gelou, uma nova onda de terror me invadindo. Ele ia me submeter a outra "limpeza espiritual", outro ritual de tormento.

Dois seguranças corpulentos apareceram, agarrando-me rudemente. Eles me arrastaram pela mansão, meus protestos abafados por suas mãos pesadas. Lutei, gritei, chutei, mas foi inútil. Eles eram muito fortes, muitos.

Eles me levaram para uma ala isolada da casa, um quarto sem janelas com paredes grossas e acolchoadas. Padre Miguel, um homem de rosto severo em vestes escuras, estava esperando, ladeado por vários de seus discípulos. Ele me olhou com um misto de pena e convicção severa.

"Criança", ele entoou, sua voz profunda e ressonante, "você está perturbada. Sua alma está inquieta, seu coração consumido pela amargura. O mal dentro de você deve ser expulso."

"Não há mal dentro de mim!", gritei, lutando contra os guardas. "Há apenas dor, gravada ali pelo seu mestre!"

Ele balançou a cabeça, seus olhos inflexíveis. "A negação é o primeiro sintoma de uma profunda aflição espiritual. Preparem-na."

Os discípulos se moveram, mãos poderosas me contendo. Eles me forçaram a deitar em uma laje de pedra no centro da sala. Eu me debati e gritei, mas foi inútil. Eles eram implacáveis. Padre Miguel cantava em uma língua que eu não entendia, sua voz aumentando em intensidade. Então, um líquido de cheiro fétido foi forçado entre meus dentes cerrados. Água benta, ele chamou. Queimou minha garganta, fazendo-me engasgar e ter ânsias.

O ritual foi um pesadelo sem fim. Eles me despiram, deixando-me exposta, humilhada. Eles me açoitaram com finos galhos de salgueiro, cantando orações a cada chicotada, alegando expulsar o mal da minha carne. Minha pele ardeu, depois sangrou, depois ficou dormente. Fechei os olhos, tentando me dissociar, flutuar para longe da dor lancinante, da degradação total. Eu estava mal consciente, meu corpo uma tela de vergões carmesins.

Então veio o fogo. Eles me arrastaram, meio morta, da laje. O chão brilhava, um leito de brasas incandescentes estendido diante de mim. A voz do Padre Miguel trovejou: "Ande, criança! Ande pelo fogo purificador! Deixe as chamas queimarem as influências demoníacas!"

Gritei, um som cru e animal, enquanto eles forçavam meus pés sobre as brasas escaldantes. A dor estava além de qualquer coisa que eu já havia imaginado, um inferno ardente e consumidor que subiu pelas minhas pernas, por todo o meu corpo. Eu me contorci, tentei me afastar, mas o aperto deles era inflexível. Minha mente estalou, um mecanismo desesperado de autopreservação. Senti minha consciência recuar, desprendendo-se da realidade agonizante, até que apenas um eco fraco e distante de dor permaneceu.

Quando finalmente acabou, eu era uma casca. Meu corpo, um mapa de queimaduras, pele açoitada e hematomas. Eu estava vagamente ciente de ser levantada, carregada. A sala silenciosa, o canto, a dor excruciante - tudo se misturou em uma memória horrível.

Acordei em um quarto de hospital, mais uma vez. Mas desta vez, era diferente. Nenhuma entrada dramática de Cíntia. Nenhuma declaração fria de Bernardo. Apenas a eficiência silenciosa das enfermeiras, seus rostos gravados com preocupação. Meu corpo era uma massa de ataduras, minha cabeça uma sinfonia latejante de dor. Eu estava totalmente sozinha.

Uma notificação vibrou no tablet fornecido pelo hospital, deixado na minha mesa de cabeceira. Era de Bernardo. Uma mensagem curta e impessoal: "Sua purificação está completa. Que seu espírito encontre paz. O guru envia seus cumprimentos."

Então, outra notificação. A rede social de Cíntia. Uma foto dela e de Bernardo, sorrindo, segurando os gêmeos. "Tão grata por nossa família linda e harmoniosa", dizia a legenda. "As energias negativas finalmente foram expelidas."

Meus dedos, tremendo levemente, moveram-se pela tela. Encontrei o perfil de Bernardo. Bloquear. Depois o de Cíntia. Bloquear. Meu último ato de desafio, um rompimento silencioso de laços. A notificação então apareceu: "Seu divórcio está finalizado." Estava datado de dias atrás. O documento pré-assinado, minha última esperança, havia sido usado.

Naquela noite, encontrei um pequeno isqueiro e uma lixeira de metal no meu quarto. Com um esforço meticuloso, juntei cada fotografia, cada cartão, cada memória tangível de Bernardo e nossa vida juntos. Eu os vi queimar, as chamas consumindo seu sorriso enganador, suas promessas vazias, seu amor distorcido. Cada brasa cintilante era um pedaço do meu passado, virando cinzas.

Na manhã seguinte, comprei uma passagem só de ida para o lugar mais distante que minhas parcas economias podiam me levar. Um destino aleatório, qualquer lugar longe daqui. Enquanto o avião decolava da pista, deixando para trás o horizonte cintilante de São Paulo, fechei os olhos e sussurrei uma oração silenciosa: Que eu nunca mais o veja.

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