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A Profecia Dele, o Espírito Estilhaçado Dela
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Capítulo 4

Amélia POV:

Quando voltei à superfície, o mundo era um borrão branco. O cheiro de antisséptico atacou minhas narinas, puxando-me ainda mais para uma consciência dolorosa. Minha cabeça latejava, uma dor surda que ressoava a cada batida do meu coração. Meu braço esquerdo, meu lado e minhas pernas gritavam em protesto enquanto eu tentava me mover. Ataduras, apertadas e restritivas, envolviam meu corpo.

Uma enfermeira, uma mulher de rosto gentil com olhos cansados, entrou no quarto. "Você está acordada", disse ela suavemente, sua voz cheia de uma gentileza profissional. "Vá com calma. Você tem várias lacerações, um hematoma profundo no lado e uma concussão leve. Você tem sorte, dadas as circunstâncias."

Sorte. A palavra tinha gosto de cinzas. Sorte por ter sobrevivido ao último ato de crueldade de Bernardo. "Circunstâncias?" Eu grasnei, minha garganta rouca.

Ela hesitou, seu olhar caindo para o prontuário em sua mão. "Você foi trazida após um incidente em sua residência. Supostamente, você caiu. Há alguém para quem possamos ligar? Um parente próximo?"

Fechei os olhos, uma risada amarga borbulhando em meu peito. "Não", sussurrei, a palavra oca e vazia. "Eu não tenho família." Bernardo era a única família que me restava, e foi ele quem me colocou aqui. A traição era tão completa, tão absoluta, que era quase cômica.

A enfermeira assentiu, um lampejo de pena em seus olhos, antes de se desculpar silenciosamente. Sua partida me deixou em um silêncio estéril, sozinha com os fantasmas do meu passado. As palavras insensíveis de Bernardo, as profecias distorcidas do guru, o sorriso triunfante de Cíntia - tudo girava em minha mente, uma sinfonia atormentadora. Ele nem se deu ao trabalho de me visitar. Claro que não. Eu era apenas um incômodo, uma ponta solta.

A porta se abriu com uma súbita e chocante brusquidão, fazendo-me estremecer. Cíntia estava lá, seus olhos arregalados, um olhar falso de preocupação estampado em seu rosto. Ela correu para a minha cabeceira, sua voz um sussurro teatral. "Amélia! Oh, minha querida, eu estava tão preocupada! Bernardo me contou o que aconteceu. Coitadinha, você deve ter ficado tão desorientada."

Meu sangue gelou. A pura audácia de sua performance. "Desorientada?" Eu respondi, minha voz plana, desprovida de emoção. "Ou talvez empurrada?"

Ela ignorou minha farpa, insistindo. "Bernardo ficou tão chateado. Mas o guru disse que foi para o melhor, uma limpeza necessária de energia negativa da casa. Ele disse que sua angústia era simplesmente uma manifestação de sua própria turbulência interna." Ela balançou a cabeça, um suspiro ensaiado escapando de seus lábios. "Ele até disse que você tentou me machucar, me empurrando."

Meus dentes se cerraram. "Ele disse o quê?"

Antes que eu pudesse reagir, ela estendeu a mão, sua mão pousando diretamente no meu lado enfaixado. Uma dor aguda e excruciante me atravessou, fazendo-me ofegar. Senti um suor frio brotar em minha testa.

"Oh, Amélia, sinto muito, muito mesmo!" ela chorou, afastando a mão com horror fingido. "Esqueci onde você estava machucada! Sou tão desajeitada!" Seus olhos, no entanto, brilhavam com um prazer malicioso.

Eu a encarei, minha mão batendo na dela, empurrando-a com uma força surpreendente. "Pare com isso, Cíntia. Não finja. Eu sei o que você é. E eu sei o que você fez." Minha voz era um rosnado baixo, cheio de um veneno que eu não sabia que possuía. "E eu sei que a 'doença' dos seus bebês foi uma desculpa conveniente para destruir meu jardim, não foi? Mais um dos seus esquemas patéticos."

Seu sorriso desapareceu. Seu rosto endureceu, uma máscara de malícia calculada substituindo a falsa preocupação. "Oh, você percebeu, não foi? Garota esperta." Ela se inclinou, sua voz caindo para um sussurro baixo e provocador. "Sim, foi. E funcionou perfeitamente, não é? Assim como todo o resto. Bernardo e eu, fomos feitos um para o outro. O guru disse, e agora temos a prova. Dois filhos lindos e saudáveis."

Ela riu, um som seco e quebradiço. "Sabe, Bernardo e eu estamos juntos há anos. Mesmo quando ele estava 'com' você, eu sempre fui aquela para quem ele voltava. Aquela em quem ele confiava. Aquela que ele realmente amava." Ela se aproximou, seu hálito cheirando levemente a perfume doce, um contraste gritante com suas palavras amargas. "Aqueles abortos? Ele estava comigo todas as vezes. Celebrando nosso futuro, enquanto você lamentava um passado que ele nunca quis de verdade."

Minha mente cambaleou, uma súbita onda de náusea, mais aguda e potente do que antes, me invadindo. Os abortos. As noites em que Bernardo estava "trabalhando até tarde" ou "meditando com o guru". Ele estava com Cíntia. Celebrando. Enquanto eu sangrava, sofria, morria por dentro. A pura depravação disso.

Um grito primitivo rasgou minha garganta, cru e descontrolado. Minha mão voou para cima, alimentada por uma onda de raiva pura e não adulterada, e conectou-se com sua bochecha com um tapa retumbante. O som estalou na sala estéril.

Cíntia gritou, agarrando o rosto. Sangue brotou de seu lábio partido. Nesse exato momento, a porta se abriu. Bernardo estava lá, seus olhos ardendo, uma fúria que eu nunca tinha visto dirigida a mim gravada em seu rosto.

"Amélia!" ele trovejou, correndo para o lado de Cíntia. "O que você fez?" Ele embalou o rosto de Cíntia, sua preocupação palpável, seu olhar nunca encontrando o meu.

Minha mente, embora ainda cambaleando, entrou em foco. Bernardo não acreditaria em mim. Ele nunca acreditou. Mas eu tinha algo que poderia provar. Minha mão tateou sob meu travesseiro, puxando meu celular. Eu o ergui, meu dedo pairando sobre o botão de gravação.

"Não se preocupe, Bernardo", eu disse, minha voz tremendo, mas ganhando força. "Eu tenho provas. Tudo o que ela acabou de dizer? Está tudo aqui. Cada verdade feia e nojenta."

Os olhos de Cíntia se arregalaram, um lampejo de pânico genuíno cruzando seu rosto. Sua fachada cuidadosamente construída rachou, revelando o medo por baixo.

Uma satisfação sombria, fria e aguda, cortou meu desespero. Eu não tinha mais nada, nem família, nem filhos, nem jardim. Mas eu tinha isso. Este era meu último pedaço de dignidade, minha última chance de expor suas mentiras.

A expressão de Bernardo escureceu, sua mandíbula se contraindo. Ele deu um passo ameaçador em minha direção, seus olhos agora fixos no meu celular. Assim que ele se lançou, Cíntia ofegou, agarrou a cabeça e desabou no chão em um desmaio dramático.

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