– Malu é assim, a única coisa que sabe da vida é que odeia o próprio nome. – Minha mãe comentou se dirigindo a Igor. Pronto, começou, pensei. Minha mãe se indignava por eu não escolher qual faculdade fazer e por não me interessar por nenhum cursinho, além do de inglês que eu havia terminado a algum tempinho. Não era minha culpa não ter descoberto minha vocação ainda, oras. Eu não me preocupava tanto porque tinha tempo para pensar. E não tinha culpa se nenhuma profissão se encaixava ao meu perfil atual.
– Mãe... Eu sei o que vou fazer na vida. Faculdade.
– Mas não sabe do que.
– Tenho tempo pra decidir. Já conversamos sobre isto. – A olhei esperando que ela se tocasse que não era hora para ouvir seus sermões. Ela voltou a olhar para Igor e sorriu.
– Faculdade de Astronomia? Que diferente.
– Nem tanto... – ele sorriu e olhou para mim, desviei os olhos. Irritada com a minha mãe, que babava por Igor, com Cecília, por exibi-lo toda orgulhosa, com Karol, por olhar meiguinha para ele e ser receptiva. Raiva de mim por... Por tantas coisas! E raiva dele, principalmente e inteiramente dele. Eu sentia um ódio ferver dentro de mim, misturado com o turbilhão de sentimentos e pensamentos que era minha cabeça. Meu estômago embrulhava e terminar de comer a salada de maionese da minha mãe tornou-se impossível. – Eu realmente gosto de estrelas.
– Você podia me levar no planetário. – Karol se intrometeu na conversa; ignorando o clima tenso entre mim e minha mãe como uma típica criança de 5 anos, tentando se livrar das verduras.– Eu gosto de estrelas também.
– Podíamos ir todos, quem sabe... – ele sorriu para Karol, carismático. Revirei os olhos, bebendo um copo de refrigerante e tentando de todo o jeito não olhar naquela direção, ou simplesmente enfiar um garfo na minha testa. Ninguém percebia como isso era desagradável. Que inferno!
– Parece ótimo. Que tal amanhã?
– Amanhã não. – Sem poder me conter, abri minha bocona. Xinguei baixinho quando todos me olharam. Infelizmente minha mãe veio com a pergunta mais difícil:
– Por quê? – vasculhei alguma desculpa boa na minha mente. Infelizmente eu era uma péssima mentirosa.
– Bem... É que... Eu vou sair. – sorri orgulhosa da minha grande desculpa.
– Pra praia? – Ceci se intrometeu, me olhou com um olhar sarcástico. – Você vai todo dia para praia.
– Eu não vou à praia amanhã. Vou a outro lugar.
– Que outro lugar? Que eu saiba todas suas 'amigas' viajaram e o Alexandre também.
– Não conheço só eles. – Eu não conseguia mentir, então só ficava nessas evasivas.
– Você vai. – Minha mãe disse sorrindo, mas eu sabia que ela haveria ameaças depois. Armei uma bela carranca para ela, que ignorou placidamente.
– Podemos ir outro dia. – Igor tentou apaziguar as coisas. Olhei para Igor tentando entender qual era o problema dele. – Aí não tem problema.
– Depois de amanhã! – Ceci disse animada. Senti vontade de desaparecer. Não respondi nada, e eles voltaram a conversar. Assunto? Praia. Eu? Martírio.
– Faz o que no tempo útil?
– Hãn... Eu surfo.
– Surfa?
– Arran.
– Surfa pra manter a forma?
– Não. Na verdade não. Quando comecei a surfar era bem magrelo e tinha horror a academia, sempre achei chato. Mas eu gostava um pouco de esportes, mas não tinha muito jeito. Mas eu amo o mar, achei a solução perfeita. Aprendi a surfar. Manter a forma é apenas um bônus.
– Você deve ter muitas garotas em cima de você.
– Não. Não.
– Como existe gente mentirosa nesse mundo, viu... – Eu disse baixinho. Alguns pares de olhos viraram para mim.
– Você disse algo?
– Não. Claro que não! – Corei e ele sorriu tristonho. A conversa retornou, minha mãe parecia definitivamente conquistada. Eu estava já cansada disso. Me levantei.
– Com licença. Vou dormir.
– Já? Mas nós vamos assistir a um filme.
– Eu aluguei um romance lindo, filha. Você ia amar. – ri ironicamente. Eu não gostava de romances, só quando tinha vontade de chorar. E ainda mais assistir o filme com esses dois? Eram piadas demais pra uma noite só.
– Eu prefiro dormir. Minha cabeça parece que vai explodir e tudo o mais. Boa noite pra vocês;
– Boa noite. – A voz de Igor saiu sussurrada, como antigamente. Até mesmo vislumbrei o sorriso dele se afastando. Dois furinhos nos cantos de suas bochechas quando ele sorria abertamente. Me virei, sem olhar na direção dele, sentindo meu coração sufocar em meu próprio sangue quente. Subi as escadas correndo e tranquei a porta do quarto. Eu estava superconsciente da minha cabeça latejando, ainda sentindo a adrenalina pulsando em meu corpo. Fechei os olhos, procurando pensar em qualquer outra coisa. Formulas matemática, golfinhos, terroristas, um trapiche... Mas estava realmente difícil. Me concentrei no sangue martelando forte na minha cabeça, dos braços pulsando, nas pernas tremulas. E do coração se rebelando. Batendo dez vezes mais forte do que o normal. Péssimo sinal.
– Droga! – puxei um travesseiro e o apertei junto à cabeça. Fechando os olhos. Lembrei da minha promessa. Sem lágrimas. Sem lágrimas... Difícil. Elas molhavam meus olhos mesmo quando estavam fechados. Sentia como se tivesse areia em meus olhos e as lágrimas seriam para expulsá-las. Abri os olhos olhando o teto e dando de cara com um céu azul que toldava meus olhos e com o cheiro de maresia que inundava meu nariz desde um ano atrás. E confusa, com os cílios molhados, comecei a pensar em uma forma de fugir ao encontro de depois de amanhã.
Claro que antes de dormir prometi a mim mesma não ir a praia, não sair de casa, nem conversar com Ceci, nem nada do tipo. Uma coisa eu tinha conseguido, eu não falei com Ceci. Vi minha mãe no café da manhã que me deu uma bronca sobre ser educada que eu fiz questão de ignorar, mas foi tudo. Claro que eu não consegui cumprir as outras duas promessas. Foi impossível ficar em casa olhando pro teto e tendo pensamentos depressivos, então, fui para praia. Que era meu refúgio. Gostava da agitação e calmaria do mar, do cheiro. Da areia entre meus dedos. De ouvir o mar batendo na areia, ou de encontro com as grandes pedras. De andar pelo píer quando ele estivesse vazio, o mar balançando levemente abaixo de mim e eu ver lá longe minha sombra. Ou apenas sentar em um banquinho afastado, ou numa toalha de praia e ver o mundo passar devagarzinho junto com o tempo enquanto eu lia um livro qualquer.
Eu estava sentada em um banquinho, usando um vestidinho solto e velhinho e um all star no pé, pra não perder o costume de ter conforto. Com o livro de ontem nas mãos. Minha cabeça dava voltas e eu fiquei olhando as pessoas passarem, sem realmente vê-las. Raras vezes eu prestava atenção em alguém e me perguntava intimamente sobre como era sua vida, tentando esquecer a minha. O dia estava estupidamente quente e eu sentia o suor se formar na minha testa em pequenas gotículas, limpei-as com a palma da mão. A manhã estava indo embora para dar lugar a uma daquelas tardes de calor sufocante em que nós, moradores de Santa Bárbara, uma pequena cidade do Rio de Janeiro, já estávamos acostumados. O sol machucava meus olhos e me cegava, me deixando meio sufocada e tonta, e eu estava prestes a me levantar e ir embora, me refugiar na frente do meu ventilador salvador e refrescante lá no meu quarto. Até que uma silhueta surgiu, parando a minha frente e tapando o sol.
– Oi. – Aquela voz feriu meus ouvidos, mas respirei fundo, cansada. Olhei para cima, colocando a mão no rosto para enxergar melhor sua forma. Lá estava ele, as mãos no bolso da bermuda e uma expressão indecifrável no rosto, os cabelos estavam mais curtos do que da última vez, reparei.
– O que você quer? – eu disse, a voz controlada. Mas eu estava meio que surpresa.
– Posso me sentar?
– Não. Melhor você ir embora.
– Quanta delicadeza. – ele disse, ignorando minha recusa e se sentando no banco. Um sorriso irônico ameaçava surgir em seu rosto.
– Obrigada. Agora responda.
– Quero falar com você. – ele se sentou no banco ao meu lado. O encarei pelo canto do olho.
– Sério? Falar comigo? Pensei que você só queria minha permissão para trocar um papinho com o banco.
– Você é uma figura, Malu. – bufei, virando o rosto e abraçando meu livro. Esperando que ele se tocasse e simplesmente fosse embora.
– Vai mesmo continuar tentando ignorar minha presença?
– Estou tendo sucesso? – arrisquei olhá-lo de canto do olho. Um sorriso surgia em seus lábios.
– Não.
– Droga...
– Malu...? – ele sussurrou, a voz me fazendo estremecer. Dei de cara com seus olhos que pareciam abrigar naquele tom de dourado, toda a fúria de um mar de Titãs, mesmo não sendo azuis. Seu olhar firme, mas ao mesmo tempo implorativo me lembrou os livros que eu havia lido sobre o Egito antigo, sobre o milagre das águas e rios, da riqueza e beleza do ouro. Os olhos de Igor eram de um mar banhado em ouro, talvez um riacho límpido que matava a sede de milhões de Malu's, como num daqueles meus sonhos infelizes. Seus olhos me acariciaram inicialmente e em seguida a saudade me deu uma bela bofetada imaginária. O seu cheiro me atingiu com força, misturado com a fragrância de alguma colônia desconhecida por mim. Não sei por que, ou talvez sabendo até demais, senti o sangue ferver. De raiva, era por isso que eu tremia segurando meu livro e sentia meus olhos umedecerem, eu tentava me fazer acreditar. Cerrei os lábios. Só de raiva. Apenas raiva. – Malu...
– Eu.
– É que... Eu só...
– Só o que? – O interrompi, prevendo as palavras que sairiam da sua boca. – Não quer que eu conte para minha irmã sobre as férias do ano passado?
– Ela é uma garota legal.
– Não tanto assim, confia em mim. Ela é legal às vezes, tipo... Nas horas que ela dorme e etc. – Não consegui achar graça na minha ironia. – É, ela é legal... Sei disso porque conheço ela há uns 15 anos.
– Eu juro que não sabia que ela era sua irmã.
– Isso teria mudado alguma coisa?
– Você não faz ideia. – ele olhou na direção oposta que eu. Ficamos por alguns minutos em silêncio. Compartilhando uma intimidade que não deveria existir.
– Não devíamos estar tendo essa conversa. – suspirei. Era estranho, bizarro, irreal, errado, íntimo demais. Esse momento não devia estar acontecendo, não dessa forma. Porque isso já havia acontecido tantas vezes há um bom tempo atrás. Nós dois em um banco, sentados, olhando um para o outro esperando que todas as respostas viessem com um olhar. Antigamente seria com um beijo. O mundo faria sentido quando eu me afogasse no mar dourado de seus olhos, minhas angústias e inseguranças afogadas em um sorriso aberto e aconchegante, fazendo par com seu abraço. Mas agora... O sentido era que éramos dois estranhos que se conheciam bem demais. E não devia ser assim. Não quando ele era meu novo cunhado. Não quando os olhos da minha irmã, que mesmo não tão íntima ou amiga, brilhavam tanto ao mencionarem o nome dele. Como se ele fosse o presente mais bonito, mais desejado e amado. Definitivamente, não devia ser assim. Cravei minhas unhas recém-cortadas na capa do meu velho livro. – Quer saber... Somos dois desconhecidos. É isso que somos.
– Como? – ele parecia surpreso em ouvir a minha voz.
– Você não me conhece, eu não te conheço. Acredite nisso, que todos os outros acreditarão. – proclamei, rindo de mim mesma.
– Mas eu te conheço.
– Conhecia... Agora você não faz ideia do que eu sou.
– Porque você sempre vem com essas conversas confusas?
– Não estou sendo clara o bastante? Não me importa que esteja com Ceci, por mim, que se exploda tudo isso. Só não quero ter que ficar contando isso e aquilo para ela. Tendo que dar qualquer tipo de satisfação ou explicação. Não vou ficar no caminho de vocês, estou falando sério. Quero que você colabore pelo bem da sua namorada. Está claro agora? – ele demorou alguns segundos olhando para mim, me encarando. Como se tentasse me ler. Me mantive firme. Ele soltou um suspiro baixo, o rosto reclinado alguns centímetros para perto de mim.
– Está.
– Ótimo.
– Só porque está claro não signifique que eu goste. – Porque ele simplesmente não calava a boca? Porque diabos eu queria que ele continuasse falando somente para que eu ouvisse sua voz? Céus, eu sou tão estúpida!
– Não precisa gostar, precisa obedecer.
– Desde quando ficou tão autoritária?
– Não sou autoritária.
– Não? Só se for pra você...
– Ninguém está obrigando a ficar perto de mim, a senhora ditadora. – Certo. Talvez eu tenha exagerado um pouquinho... Ou muito. Enfim, eu tinha o direito. Olha o que eu estava passando!
– Uau, seu exagero me encanta
– Cala a boca. – Nos calamos. Olhei pelo canto do olho, ele ainda estava me encarando. Os cabelos castanhos claros, quase caramelo, fazendo contraste com os olhos, possuíam algumas esparsas mechas aloiradas por causa do sol balançavam por causa do vento. Os olhos castanhos adquiriam um tom de ouro queimado, que acontecia quando ele ficava preocupado, isso também não mudou.-
– Olhe, vamos fazer do seu jeito. Só não quero que, sei lá, as coisas fiquem estranhas entre nós.
– Isso é possível?– engasguei com um riso de escárnio. – É possível essa situação não ser estranha?
– Vamos ao menos tentar.
– Tentar o que?
– Nos dávamos bem.
– Sem chance. Definitivamente não. Essa eu passo. Não vou ser sua amiga.
– Por quê? Não vamos fingir que não nos conhecemos, não quero isso. É criancice. Você é uma garota legal e eu quero me redimir por tudo. Não que faça alguma diferença, mas... Veja, vamos ali na lanchonete, comer algo, conversar...
– Não dá, Igor. – balancei a cabeça, suspirando. Minhas mãos foram parar no meu cabelo, fechei os olhos. Deixando as palavras escaparem, como sempre faço. – Se eu to conversando agora com você é por causa da minha irmã. Não posso me fazer de sua amiguinha. Eu não esqueci tudo, sabe... Não se preocupe com o que minha irmã vai achar se eu me afastar do convívio com o namorado dela, bem... Você entendeu. Ela já esta acostumada com minha natureza antipática.
Abri os olhos, desviando o olhar em seguida. Me levantei, sentindo a atmosfera carregada. O vento mais forte do que antes. Quanto tempo estávamos nesse banco? Comecei a andar, mal sentindo meus pés, mas com o peso do mundo nas costas.
– Malu?
– O que é agora?– falei alto, irritada com sua voz. Ofendida pela sua presença. Indignada com minhas atitudes, porque parei. Olhei para ele acidamente, que parecia imune ao meu pior olhar. Ele carregava arrependimento nos olhos e imaginei o quão isso devia pesar para ele. Eu era um estorvo tão grande. Para todos, querendo ou não.
– Eu tenho alguma chance de você me desculpar? Por mais remota que ela seja?-
– Eu...
– Por favor. – Minha voz embargou, tudo girou rapidamente, fora de órbita e parou. Por favor, ele havia dito antes. Por favor, eu havia pedido quando meu coração fora quebrado, um dos clichês mais odiados por mim. Por favor, era o que eu pedia quando fechava os olhos. Um pouco mais de sonho, por favor. Um sonho doce, por favor, com ares de passado. Queria também, por gentileza, por desejo e necessidade, conseguir olhar para ele e não sentir raiva. Arrancar a amargura do peito, mas algo arranhava as bordas do meu coração, o orgulho gritava em minha cabeça. Eu não superava.
– Não dá. Eu não consigo. – arrastei as palavras, marcando elas cansativamente na minha língua com um gosto esquisito e poeirento. Bebi do orgulho e do despeito. Virei as costas, os olhos cheios de lágrimas, a garganta inchada. Deixei-o para trás. Novamente... Andei sem rumo pela praia, parando em um lugar em que o vento atingia meu rosto com força. Vi as nuvens escurecerem e a chuva vir de mansinho, as nuvens escuras tomando conta do céu rapidamente. Procurei pensar que era noite, que eu olharia para cima e veria um caminho de estrelas e que assim não doeria. Não doeria porque eu sabia que era uma noite de mentira, assim como as estrelas. Não me decepcionaria, porque não esperava nada. Como eu não esperava que Igor me machucaria um dia... O mar se agitou e eu senti algo em mim estremecer. Me abracei antes o vento frio. Sentei na areia, olhando o mar. A agitação, os surfistas correndo animadamente para o mar em menção das possíveis grandes ondas. Algumas garotas na praia rindo e acenando para seus namorados mais corajosos. As mães tirando os filhos de perto do mar e alguns lamentando a tempestade que se aproximava estragando sua tarde de sábado. Me deixei ficar lá, o pescoço dolorido, o peito sofrido estendido diante da minha noite de mentira. Só lembrando...
Arrumei minha cadeira de praia nova; firmando seus pés com firmeza na areia. Totalmente desajeitada coloquei minha bolsa e sacolas na cadeira ao lado, igualmente firmada no chão. Ajeitei me na cadeira e me estiquei, satisfeita com a brisa gostosa do fim de tarde no rosto. O sol havia abrandado e o céu tinha a coloração de um azul anil calmante, as nuvens passavam devagarzinho como que dançando sobre o céu e o mar parecia sorrir para mim.
Eu estava de férias com meu pai, sua namorada e o irmão dela. Eles decidiram vir para a praia, bem longe da capital, para passar o Ano Novo então estávamos hospedados em um hotel. Um hotel bem legal na verdade, novo, com um bom atendimento e com grande movimentação de turistas. Olhei para frente, avistando o surfista que eu tinha visto mais cedo. Ele se equilibrava com facilidade entre ondas numa intimidade assustadora. O invejei, não gostava de entrar no mar. Gostava de senti-lo em minhas canelas, seu cheiro e adorava olhá-lo. Mas morria de medo de mergulhar naquela imensidão azul, aparentando muitas vezes fúria, como se me convidasse para me perder lá dentro. E eu tinha pavor de me afogar. Evitava piscina e o mar, então? Inimigo, mas ao mesmo tempo amigo querido e conhecido.
Pra ser sincera, a única coisa com grande concentração de água que eu encarava era a banheira, adorava minha banheira. Talvez eu só tivesse medo das ondas e em como elas arrastavam tudo por perto. Convidando-os devagarzinho para embarcar dentro do mar. Assim como aquele surfista. Comecei a observá-lo por distração, apenas. Só distração... Não o olhava porque ele parecia maravilhosamente lindo e atlético. É claro que não! O olhava porque ele surfava bem. Bem demais! Depois de algum tempo me 'distraindo' acabei sentindo fome e fui vasculhar minha bolsa. Abrindo nada mais nada menos que... Um lanche do Mc Donalds. Eu sabia que era porcaria, fazia um mal tremendo para a saúde, eu até gostava de salada, sempre comia verduras desde pequena. Mas; céus, não resistia a um bom lanche do Mc Donalds! Eu parecia uma caipira da cidade, no meio da praia com minha caixinha do...
– Mc Lanche Feliz? – Uma voz rouca disse acima de mim.
Dei um pulo na cadeira. Olhei para cima, dando de cara com o garoto da prancha. Ele respondeu a pergunta em meus olhos de forma rápida, como se realmente soubesse o que eu estava pensando. – Você estava sozinha e seus olhos pareciam me chamar, então... Aqui estou eu.
– Meus olhos te chamando? – controlei uma risada. Começamos bem nosso contato, pensei. Uma cantada desse calibre? Uau. Me apaixonei. – Nossa, cara... Essa foi realmente péssima.
– Tem razão. – ele fez uma careta momentânea, mas sorriu diante da minha sinceridade. Ainda molhado; e céus, como ele estava bem só de sunga. Firmou a prancha no chão ao lado da outra cadeira, tirou minhas bolsas e sacolas e colocou no chão e sentou-se ao meu lado. Olhando o mar...
– Ei, essa cadeira é minha. – reclamei, ele sorriu luminosamente, se ajeitando na cadeira.
– Eu sei, não achei que você se importaria.
– Mas eu me importo.
– É só um pouco, para eu pensar.
– Pensar em que?
– Numa cantada boa o suficiente para te convencer a ficar comigo. – ele inclinou a cabeça, olhando em minha direção.
– Entre as duas cantadas, escolho a primeira.
– Isso é um sim?
– Não... Isso é um: cale a boca e volte para o mar, amigo golfinho. – ele soltou uma risada alta e melodiosa. O encarei, ele continuou largado na cadeira. Eu não podia negar que ele era bonito com seu porte físico atlético; cabelos curtos e castanho-aloirados e sorriso aberto. Sem poder me conter sorri de volta.