MEU CUNHADO
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Capítulo 7 07

– Está... arrependido de ter ficado comigo? – gaguejei as palavras, sentindo que tinha feito tudo errado. Que não deveria ter dito aquilo. Que o estava assustado. Que em algum momento eu estragara tudo.

– Não! Claro que não. É só que... Eu tenho que contar uma coisa, que eu venho adiando há muito tempo. Mas eu ficava com... medo, porque.... Não era importante. Na verdade, não é importante. Só... Eu te amo, Malu. Eu realmente te amo, acredita em mim. – Ele me segurou pelos ombros e eu me livrei, dando dois passos pra trás.

– Você está me assustando! Igor... Me explica logo o que ta acontecendo? – Meu coração se acelerou e uma angústia começou a se apoderar de mim.

– Igor! – Alguém gritou ao longe. Vi uma garota animada caminhando a frente de Pablo, que parecia querer detê-la. Ela era muito bonita. Da idade de Igor, os cabelos eram negros, lisos e compridos. Tinha um sorriso no rosto delicado e, ao chegar perto, abraçou Igor com força. – Senti tanta a sua falta! Eu sinto muito, muito... Por tudo. Eu fui uma idiota, mas não quero ficar mais longe de você. Então vim te fazer uma surpresa e acabar logo com esse tempo tão idiota. Senti tanta a sua falta; amor...

Então para minha surpresa ela tentou beijá-lo. Igor a afastou e eu fiquei ali, boquiaberta. Estática. Sem saber o que fazer. Tentando encontrar minha respiração e meu batimento cardíaco. Dei dois passos para trás, esbarrando em Pablo atrás de mim, que aparecera do nada.

– Quem é essa, Igor? – A garota perguntou, finalmente me notando e parecendo surpresa. Ainda segurando as duas mãos de Igor, e me analisando, confusa. Igor ficou sem falar e eu tive medo da sua resposta. Me enchendo de coragem perguntei:

– Quem é você?

– Eu sou a Mônica, namorada do Igor.

Senti minha cabeça rodar um pouco e firmei os pés pra não tropeçar, minha respiração parando por alguns instantes. Tentei encaixar sua frase na minha cabeça, transformá-las em algo que fazia sentido, mas fora impossível. A encarei, vendo sua expressão também confusa com minha reação. Voltei meu olhar para Igor, que parecia angustiado ao me encarar. Sua expressão de culpa me provando que ela estava certa, mas eu não conseguia acreditar, não queria. Mônica continuou me olhando, a expressão agora ficando desconfiada.

– Namorada? – A encarei que assentiu, também confusa com minha reação. Minha voz parecia tremula, perdida, como eu. – Do Igor?-

– Eu não menti!

– Mentiu! Você mentiu. – disse, baixinho. Meu peito subindo e descendo em espamos que eu não conseguia controlar. Só o que eu conseguia pensar é que eu fora enganada, ludibriada, feita de boba, tinha sido usada. Sempre soube, em tudo que eu lia, nas histórias de amor que vivi, ao ver o casamento dos meus pais chegando ao fim, nos livros, filmes e etc, que amor não era mentira. E todas as vezes que ele sorria, me agradava, me abraçava, se declarava e me beijava, era tudo mentira. Fruto de traição, da omissão, eu fora enganada. E... céus, amor não mentira. Então definitivamente, o que Igor sentia por mim não era amor. Não era. Essa certeza parecia que ia me matar. – O tempo todo você mentiu...

– Igor... Como assim mentiu?– A garota se intrometeu.– Me explica.

Ela podia pedir satisfações, ela era a namorada dele. Eu fora só um joguete, uma brincadeira, apenas. Eu me sentia tão estúpida, tão... enganada. Dei alguns passos para trás e virei as costas. Senti um par de braços me puxando.

– Malu... por favor.

– Você mentiu. Me fez dizer tudo aquilo e... Eu não acredito. – Ele segurou meu braço, me desvencilhei, a voz raivosa. Sentindo a raiva se misturar com minha tristeza e humilhação, me dominando. – Me solta, não aguento olhar pra sua cara. Esquece.

– Só me escuta. – Ele me puxou novamente, segurando meu braço. Me impedindo de correr. Seus olhos vermelhos e também meio nublados. O tom de areia escurecendo.

– Não importa o que você diga! Eu não me importo, eu não quero saber. Eu nunca vou te perdoar Igor, nunca mais. Esquece as últimas semanas, esquece tudo, esquece de mim. Esquece! Eu não... Não acredito que pode fazer isso comigo. – sibilei. Puxei meu braço com força, me livrando do seu aperto e desatei a correr pela praia, me afastando. Sentindo as lágrimas molharem meu rosto. Sentei na areia, próxima a algumas pedras, sentindo a maré baixa molhar as pontas dos meus dedos. Comecei a chorar, lembrando das hesitações, de quando seu humor mudava bruscamente. Ele tinha namorada! Era esse o motivo dele me olhar daquele jeito, com culpa, amargura, medo... Que droga de amor que nada! Eu fui um passatempo, um passatempo até a namorada chegar.

Fiquei lá não sei por quanto tempo, água agora molhando os meus pés, eu não me importei. Estava meio insensível e soluçava; sem poder controlar as lágrimas. Traída, humilhada, enganada. Era assim que eu me sentia. Senti alguém se sentando ao meu lado, me encolhi mais ainda. Olhei pelo canto do olho, visualizando a camisa de Pablo. Olhei para cima, sem vergonha das lágrimas que escorriam pelos meus olhos, não conseguia sentir vergonha perto de Pablo. Os grandes olhos verdes extremamente claros de Pablo me trouxeram lembranças e vi que ele sentia pena.

– Você sabia, não é?

– Ele é meu melhor amigo. – Ele deu de ombros. – Eu sei tudo sobre ele.

– Então você mentiu pra mim também.

– Ele não mentiu para você, ele... omitiu.

– Uma namorada? Como alguém omite uma coisa dessas? Ele estava ficando... comigo!-

– Então, há alguns dias ela ligou pra ele, dizendo que queria voltar. – adivinhei o resto da história, parecia bem simples. – Ó, que simples! Então... É só me dar o fora e tudo fica bem...

– Não foi bem assim. Você ta certa em partes, ela começou a ligar, ele ignorou por que... bem, ele estava com você! Mônica nunca achou que eles terminaram, só perderam o contato. Ela sempre foi... um pouco egoísta. Ela sempre pensa no que é melhor para ela. – Colocar a garota como culpada e Igor como o coitado. Típico. Pablo analisou minha expressão por alguns segundos. – Sei o que está pensando, que estou defendendo ele, mas não é isso. Eu vi como ele se sentiu culpado com essas ligações, como ele não sabia o que fazer, como ficou absolutamente confuso. Conheço Igor há anos e sei que ele verdadeiramente gosta de você, só que ele já gostou dela por muito tempo. Ele estava confuso e perdido.

– Se ele gostasse tanto de mim assim, tinha me contado tudo. – disse, baixinho.

– E você entenderia?

– Entender que ele gosta de uma garota há muito tempo, quer esquecer então dá em cima da primeira idiota que aparece na frente dele e engana ela durante semanas? – falei irritada, seca e ríspida. – Não, eu não entenderia. Eu não entendo. Eu não quero entender! Eu só... Quero fingir que ele não existiu. Não quero me sentir tão patética assim.

– E você vai conseguir?

– Eu tenho que conseguir. E só uma droga de amor de férias, isso passa. Sempre passa.

– Quantos garotos você já amou e quantas vezes você já superou?

– E quem disse que eu o amo? Eu não o amo, não posso amar alguém tão egoísta. – menti para Pablo e para mim, nenhum de nós dois acreditou. Eu era deplorável mentindo.

– Está na cara que você ama ele. Vocês dois são egoístas, mas gostam demais um do outro. – Ouvir Pablo dizendo isso e saber que ele tinha chances de dar certo me magoava mais ainda. Limpei meu rosto, me sentindo fraca, querendo ficar sozinha.

– Vai embora, Pablo. Não preciso ouvir isso.

– Malu, eu sinto muito.

– Não sinta. Eu não preciso disso. Realmente não preciso. – Não precisava da pena de ninguém. Nunca precisei. Sempre fora sozinha e os olhos de pena me davam nojo, quase alergia. Eu fugia deles, por isso, quando vi esse mesmo olhar de 'pobre garota' no rosto de Pablo não suportei ficar ali. Me levantei, pegando minha sandália e começando a andar de volta ao hotel. Minha cabeça latejava por causa das informações e pelo tanto que eu acabei chorando. Me sentia destroçada, meu ego ferido, meu coração despedaçado, partido.

No caminho vi Igor sentado no banco, naquele lugar que nos beijávamos pela primeira vez. Em frente ao hotel.

Ao avistá-lo cabisbaixo, fiz menção de dar meia volta, mas ele me viu primeiro. Provavelmente me seguiria por toda a praia, o único lugar que eu poderia me refugiar seria no meu quarto de hotel. Então caminhei rápido, sempre olhando pela frente, passando pelo banco sem lhe dirigir sequer um olhar. Totalmente aflita, querendo me manter longe dele, de seu toque. Infelizmente ele se levantou e segurou meu braço, com muita força.

– Me solta. – choraminguei, a voz chorosa. Percebi que chorava. Orgulhosa do jeito que sou, limpei os olhos com a mão livre para que ele não visse as lágrimas.

– Malu, por favor... Me escuta. – notei um certo desespero em sua voz, que me afligiu ainda mais. Só o que eu queria é que ele sumisse, me deixasse sozinha.

– Me solta.

– Eu queria...

– Cala a boca! Você não quer nada! Não poderia querer nada! Você é um idiota. Me deixa em paz! – puxei o braço com força, sentindo um pouco de dor, sua mão apertava meu braço com força demasiada.

– Solta ela. Agora! – Uma voz alta chegou perto. Aquele garoto, o do 'hey', estava parado próximo a mim. Aquele mesmo garoto que tentara puxar conversa comigo diversas vezes, que era gentil e cavalheiro, que parecia sempre charmoso, mas também distante por conta de Igor.

– Você não tem nada haver com isso. – Igor disse, ríspido. O outro garoto continuou parado, mostrando definitivamente que não iria embora.

– Solta ela.

– Você ta me machucando! – gritei e Igor soltou meu braço imediatamente. Cambaleei para trás e o garoto do 'hey' me puxou pelo pulso, me fazendo ficar atrás dele.

– Malu... – Igor sussurrou, a expressão aparentando estar triste.

– Você não ouviu a garota dizendo pra você deixar ela em paz? Porque eu ouvi! Sai daqui, agora.

– Não se mete... – Igor parecia ameaçador e isso me assustou. O garoto deu um passo à frente e eu me agarrei a seu braço, o puxando para trás. A expressão de Igor vacilou.

– Vai embora, Igor. Você não existe mais para mim. Me deixa em paz. – Eu disse, a voz firme. Puxei o garoto pelo braço, que ainda encarava Igor com determinação. Quando virei às costas comecei a chorar mais ainda, ele passou os braços pelo meu ombro e me puxou para o lado oposto a entrada no hotel. Acabamos parando em uma mesa, com um grande guarda sol, que fazia parte da propriedade do hotel. Limpei as lágrimas, querendo não me sentir tão patética assim. Era a terceira pessoa que me vira chorar desesperadamente assim, por um cara ainda por cima. A antiga eu estaria rindo ou quem sabe chorando de vergonha dessa minha eu do presente.

– Não sai daqui, eu já volto. – Ele avisou. Olhei-o, piscando, que sumiu dentro do hotel. Olhei para o alto, olhando o guarda-sol e tentando fazer as lágrimas não escorrerem. Concentrando-me totalmente nisto, respirando fundo e me acalmando. A água dos meus olhos desaparecendo lentamente. – Cheguei.

Ele voltou, sentando-se no banco, o olhei curiosa quando ele depositou um enorme pote de sorvete de chocolate e duas colherzinhas na mesa. Além de uma barra de chocolate enorme ao lado.

– O que é isso?

– Antidepressivos. São bem eficientes, confie em mim. – Ele sorriu, um sorriso aberto e acolhedor e eu tentei sorri de volta. Ele abriu o pote e pegou uma colher, parecendo confortável mesmo nessa situação constrangedora e levou a colher cheia até a boca, fazendo um gesto para que eu o imitasse. Peguei a colher, sentindo a mão trêmula. Levei até a boca, até o chocolate parecia ter um gosto amargo. – Eu até poderia perguntar o que aconteceu, mas isso não é da minha conta.

– Obrigada, de verdade. – Levei a colher a boca novamente, sem saber o que dizer. Grata pelo sorvete e pela ajuda, por ele parecer se importar um pouco. – Não tenho nem como te contar, ainda não entendi tudo muito bem. E a história é muito grande.

– O pote de sorvete é bem grande e eu tenho a tarde livre. Não tenha pressa se isso for te ajudar.

– Costuma ser tão gentil assim?– Ele sorriu, dando de ombros. – Como é seu nome mesmo?

– Alexandre.

– Eu sou a...

– Malu. Eu sei, ele disse. – abaixei a cabeça, constrangida.

– Pois é. – Ele continuou esperando que eu dissesse alguma coisa. – Desculpe Alexandre, mas não sei se quero explicar o que aconteceu. Não acho que vá ajudar.

– Tudo bem. – Ele empurrou o pote de sorvete e percebi que ele ficaria ali por um bom tempo. Fiquei sem falar nada, sem cabeça para conversar. Apenas me empanturrando de sorvete, percebi agora que o gosto não era tão amargo. Estava bom, embora minha língua estivesse começando a ficar anestesiada por causa do gelado. Ele começou a falar de assuntos leves para me distrair e ficamos surpresos em saber que ele morava na mesma cidade da minha mãe. Continuamos conversando, ele parecia disposto a me distrair. Mas estava difícil, eu diria impossível. Eu me sentia desgastada e exausta, emocionalmente e fisicamente falando.

– Alexandre, desculpe... Mas eu preciso me deitar.

– Ta bom. Qualquer coisa... Eu to por aí.

– Certo. Obrigada. – sussurrei, me levantando.

– Disponha. – sorri me levantando. Ele acenou levemente. Enquanto eu me afastava, sentindo a tristeza voltando. Tentei me apegar à raiva, mas a dor da traição era pior. Saber que não tinha direito de me sentir traída fazia eu me sentir ainda mais diminuída e idiota. Subi de elevador e, surpresa, encontrei Cristina, próxima a minha porta. Seus olhos analisaram minha expressão cuidadosamente.

– O que houve com você? Porque seus olhos estão tão vermelhos?– Porcaria! Era só o que eu precisava, Cristina me perturbar por conta disto. Abaixei a cabeça e caminhei para a porta, mas Cristina bloqueou o caminho. Um sorriso irônico e ácido preenchendo a face. – É por causa daquele seu novo namoradinho surfista? Oh, pobrezinha. Ele cansou de você?

– Sai da frente!

– Isso é bem normal ele te dar um fora. Não fique triste, eu vi como ele era lindo... Muito para você. Aceite querida, não fique se lamentando. – senti os olhos arderem e a garganta apertar. Eu não precisava ouvir isso, não precisava mesmo. – Aceite que você é bem sem graça e isso aconteceria mais cedo ou mais tarde.

– Sai da frente! – A empurrei, que cambaleou. Se apoiando na porta ao lado para não cair. Sua voz voltando-se a mim carregada de desprezo:

– Cuidado, ridícula! Seu pai vai adorar saber que você me empurrou, ainda mais no meu estado!

– Estado? Que estado?

– Seu pai ainda não te contou, queridinha? Você terá mais um irmãozinho... – parei com a mão na maçaneta, absolutamente chocada. Engoli em seco e entrei no quarto, batendo a porta com força. Respirei fundo, sentindo o choro voltar com ainda mais força. Tentando digerir a nova informação. A desgraçada destruída a minha família e ainda engravidava do meu pai. Olha que coisa perfeita! Ainda mais esse dia. Definitivamente, não era meu dia de sorte. Nem o de azar. Era o de puro sofrimento. Me joguei na cama, me encolhendo e fiquei ali, sentindo raiva, dor, humilhação, vergonha. Eu queria desaparecer! Eu nunca me sentira tão idiota na vida, nem tão magoada. Nunca me sentira tão abandonada. Mais do que isso, era decepção. Porque o único cara que eu confiei fizera isso comigo? Eu devia ser mesmo muito idiota.

Ouvi batidas na porta e ignorei.

– Malu? – Ouvi a porta ranger e percebi que meu pai entrara no quarto. – O que aconteceu?

– Vai embora. – choraminguei; a cara enfiada no travesseiro.

– O que aconteceu? Cristina me contou que...

– Para de falar dela, pai! – Só a menção do nome dela me fazia sentir repulsa. – Eu não quero saber dela.

– Mas ela vai ser sua nova...

– Não! Ela nunca vai ser a minha mãe! – levantei, sentindo raiva preencher cada poro do meu corpo. – Não sei onde você estava com a cabeça quando achou que trazer nós duas pro mesmo hotel ia adiantar alguma coisa! Eu a odeio e ela me odeia! Não está óbvio? Eu odeio ela, pai.

– Você só esta chateada. – Nesses momentos, era só isso que meu pai dizia. Minhas brigas com Cristina era pura e inteiramente chateação, para ele algum dia nos daríamos bem. Como se isso fosse claro e óbvio e definitivamente, isto me tirava do sério.

– Para de falar como se me entendesse pai. O tempo todo foi assim, você não entende, nunca vai entender. – engoli em seco, respirando fundo. – Eu não a suporto e sei que ela não vai sair da sua vida. Nem quero isso, mas... Não tente me fazer ser amiga dela, eu não posso! Eu não quero! Eu só... Quero sumir, pai.

– Cristina é uma boa moça e ela...

– Vai ter um bebê. É eu já sei. Não sei se posso lidar com isso agora, pai. – Ver Cristina ficando cada vez mais grávida e feliz com sua família, esfregando isso na minha cara, um bebê como prova de sua felicidade. E ainda mais... Havia Igor. Queria manter a maior distancia possível dele e só via um jeito de fazer isso.

– O que esta dizendo? – Meu pai me olhou confuso e eu abaixei a cabeça.

– Eu quero ir embora. Eu quero passar um tempo com a mamãe. Você disse que eu poderia fazer isso quando eu quisesse. Eu quero. Eu quero ficar um tempo longe, eu quero ir embora.

– Maria... – Meu pai segurou minha mão e eu me livrei disto. Odiava meu nome. Ele o dizer agora não adiantava nada.

– Não me chama de Maria. Por favor... Por favor.

– Sua mãe vai ficar feliz em você passar um tempo com ela. – Ele sorriu, tristonho. O abracei, sem dizer nada.

– Obrigada. – fechei os olhos, me sentindo feliz e despedaçada ao mesmo tempo. Eu iria ficar longe desse lugar e... Iria sentir falta desse lugar, da minha casa com meu pai, mas era só isso que eu sentira falta. De lugares. Na verdade, eu só queria ter memória seletiva e esquecer, esquecer tudo. De preferência essas ultimas férias

******

Acordei da minha divagação, me levantando da areia. Meu celular vibrou, era uma mensagem de Alexandre, avisando que chegaria dali a dois dias de viagem. Ele estava passando as férias naquele mesmo hotel onde nos conhecemos. Alexandre e eu viramos bem amigos, só amigos. Eu deveria ser a única amiga de verdade dele e bem. As outras era amigas com 'benefícios.' Alexandre tinha algo que atraia mulheres, era super galinha, mas comigo ele era um amor. Se tornara meu melhor amigo, alguém com quem sair, que me apresentara a colegas que me chamavam pra um passeio de vez em quando, me tirando da minha apatia e solidão. Embora nenhum desses colegas fosse considerado meu amigo, só colegas. Eu não conseguia confiar em ninguém. Alexandre era a única exceção, masculina e humana do meu verdadeiro horror a pessoas. Na medida do possível, vivíamos por aí, implicando um com o outro desde que bem... Desde que eu mudei para a casa de minha mãe

Claro que me acostumar com a nova rotina e o modo mais controlador da minha mãe não foi fácil, ela sempre vigiava meus passos e tentava ser participativa, o que meu eu antigo tinha horror, mas eu acabei superando. Meu pai tem um novo filho, um menino, de alguns meses. David, eu acho. Cristina parece ter amadurecido, porque na última vez que eu a vi ela acabou sendo gentil comigo, embora eu ainda ache que foi para impressionar meu pai. Sobre as férias do ano passado, só Alexandre sabia delas. Para minha mãe e colegas, eu tinha sofrido uma decepção amorosa e só. O fato de ser estranha me afastar das pessoas não era justificado por causa de férias e um garoto idiota. Bem, era isso que eu dizia a eles. Querendo, ou não, o conhecer me mudou. Mas eu já tinha superado isso também. Ou era isso que eu gostaria. Era isso que tentava me convencer.

Chequei minhas mensagens no celular mais uma vez, havia algumas de minhas 'colegas', mas nada específico. Coisas sobre a escola. Entediada e ainda meio melindrada com a conversa com Igor, resolvi voltar para casa e além do mais eu estava com fome e nem tinha dinheiro no momento. O céu escurecia ainda por cima, um belo lembrete que eu devia chegar em breve em casa antes que começasse a chover. Mas nessa altura, ao relembrar tudo, de maneira quase apática, já chovia dentro de mim.

****

Entrei em casa, avistando os pés de Ceci no sofá. Respirei fundo, já me preparando. Ela estava assistindo televisão, alguma série provavelmente, parecia entretida, mas olhou para mim enquanto eu passava.

– Já almoçamos. – Ela avisou, quando eu estava prestes a ir para meu quarto.

– É, eu percebi. São quase 4 horas.

– Não vai comer nada? Posso fazer algo para nós...

– Não. Não estou com fome. – Na verdade, eu estava com fome, mas eu sabia o que significava esse convite de Ceci. Significava que ela queria conversar comigo, algo sério. Por isso ela cozinharia, como para compensar. Minha irmã podia ser bem previsível. E além do mais, ela estava parecendo mais com ' nova namorada de Igor' do que 'minha irmã mais velha'. Estar ciente disso me deixava angustiada e talvez um pouco irritada, mas procurei deixar pra lá. Tudo isso não tinha nada a ver comigo agora.

– Eu faço questão. Vai Malu, me deixa fazer algo pra nós, por favor? – implorou ela, os olhos castanhos parecendo ainda maiores. Suspirei, vencida. Sabendo que não poderia escapar disso de qualquer maneira.

– Ta bom, então. – Ela levantou do sofá em um pulo e eu a segui para a cozinha. Sentando no balcão e vendo-a preparar as coisas.

– Malu... O que você achou do Igor? – revirei os olhos, já esperando algo assim.

– É obrigatório responder essa?

– Essa e todas que virão. – gemi contrafeita. Ela me olhou, esperando a resposta. Respirei fundo, procurando um adjetivo chegasse a condizer com Igor. Tentando passar longe de coisas negativas que a deixariam irritada e blá blá.

– Ele é... Normal.

– Normal?

– É, ele é normal.

– Você odiou ele, não é? Nem adianta negar, eu vi como você ficou distante, como se ele fosse indesejável. Como se você quisesse nunca tê-lo conhecido. – Ela tagarelou, parecendo um pouco irritada. – E isso só na primeira vez que ele veio aqui. E eu me pergunto... Porque você odiou ele? O que ele tem de errado? O que há de errado com você? Com nós? O que ele fez?

– São muitas perguntas.

– Porque tratou ele como indesejável? – Ela disse, fazendo a pergunta mais difícil, e pegando os ingredientes para um super sanduíche á lá Ceci e começou a cortar o pão.

– Talvez porque ele seja indesejável. – sussurrei baixinho, totalmente irônica. Fiz cara de paisagem ao me deparar com o olhar bravo de Ceci. Respirei fundo, a encarando. – Certo. Eu não tratei ele mal, eu só... Não tratei ele bem. Foi meio termo, normal ué.

– Você o ignorou totalmente! – Ela acusou. Só podia ser brincadeira isso. – Ele tentou fazer amizade com você.

– Ponto pra ele! Causou boa impressão em você. O que mais importa?– olhei para a lâmpada, tentando me concentrar em qualquer outra coisa e não nas qualidades que eu conhecia dele.

– Você poderia ter sido mais legal com ele. Bem mais legal!

– Coitadinho... Tendo que lidar com a cunhada problemática. Tadinho, tadinho.– ironizei. Ela passou maionese nos sanduíches com força demais.

– Não é questão de você ser problemática. Isso todo mundo sabe que você é.

– Obrigada pela parte que me toca. – coloquei a mão no coração, me curvando em agradecimento. Isso pareceu a irritar ainda mais.

– É só que... Ele não merecia isso. Você poderia ter sido mais legal. – olhei para ela indignada. Já estava sendo extremamente difícil não quebrar a cara dos dois e ainda tenho que ouvir isso?

– Você tem sorte de eu falar com ele. Então... Não enche. – pulei do balcão, chateada e morrendo de raiva.

– Os sanduíches! – Ceci gritou. Quando eu já estava na porta do meu quarto.

– Guarde para o bom garoto que é seu namorado! A irmã problemática e malvada não merece!– bati a porta com força, sentando na cama e abrindo meu livro com violência. Completamente indignada com toda essa situação.

Ouvi uma batida de leve na porta, ignorei. A cara de Ceci apareceu na porta e ela acabou entrando. Com o prato de sanduíches e um copo de refrigerante numa bandeja. Ela se sentou na cama.

            
            

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