Então... Unindo toda a coragem do meu ser estiquei a mão, fria e trêmula, até o rosto dele, acariciando a sua bochecha de leve. Os olhos dele se fecharam por alguns segundos, até se fixarem nos meus, com algo mais do que surpresa, algo que eu não soube definir. Lentamente puxei seu rosto, cada vez mais próximo ao meu. Fechei os olhos, ainda guiando seus lábios até mim. Até que algo deu errado. Senti uma mão no meu pulso, que tirou a minha mão do rosto dele com firmeza. Abri os olhos assustada. Ele desviou o olhar. Boquiaberta, senti a vergonha e a humilhação me tomando por completo.
– O que eu fiz? – soprei as palavras. Sentia o sangue subir rapidamente até meu cérebro. Me deixando tonta. Repassei o que tinha feito... Como eu fui ridícula! Eu sou ridícula.
– Nada. Você não fez nada. – Além de passar vergonha, pensei.
– Pensei que você quisesse também.– murmurei baixinho. Eu sentia mais do que humilhação. Era raiva, raiva, porque eu pensei que ele queria algo. Parecia, ele dava todos os sinais. E agora... Fazia isso. Eu me sentia enganada e quando eu me sentia enganada, eu ficava igualmente irritada e com raiva. Me levantei, exasperada. E saí andando, batendo o pé. Me sentindo ridícula e humilhada.
– Malu! Espera... – ignorei seus protestos e continuei andando. Senti dois braços me virando.– Me desculpe, eu...
– Já entendi, você não quer.
– Eu quero!
– Eu já entendi. E quer saber? Já chega. Me deixa ir. – puxei o braço, me soltando e recomeçando a andar.
– Me deixa, ao menos, me explicar.
– Não tem o que explicar! Eu já entendi! Me fez de idiota.
– Eu não te fiz de idiota. Não tem nada a ver!
– Deixa pra lá. Não quero mais saber, ok? – falei enquanto continuava andando.– Vamos fingir que nada disso aconteceu. Melhor! Vamos fingir que nunca nos conhecemos. Parece bom pra mim.
– Espera! – Ele me segurou novamente e puxei o braço ainda mais com força.
– Já chega, ta legal? Não pode ficar me manipulando pra você se divertir as minhas custas. – Eu sentia uma raiva poderosa mesclada à humilhação dentro de mim. Eu me sentia enganada, me sentia patética e não conseguia controlar as palavras que saltavam da minha boca, expondo meus pensamentos embaralhados. Basicamente, eu estava descontrolada.– Admita... Fez de propósito não é? Me fez querer, para depois simplesmente... Aff. Isso é ridículo. Não sei por que estou conversando com você. Com certeza é a última vez!
– Você não entende!
– Tem razão. Não entendo. Odeio bipolaridade, porque eu sou bipolar. Se já é difícil lidar comigo mesma. Imagina com mais um. Não dá. – respirei fundo, tentando me acalmar. – Sério. Esquecendo tudo nesse instante. Vamos fingir que nunca nos conhecemos.
– Você é mesmo muito drástica e dramática. – Ele disse, parecendo agora também alterado.
– Quer saber? Me erra! – saí andando e deixei um Igor estático atrás de mim. Ao longe ouvi um resmungo de raiva. Sem poder me conter olhei para trás e percebi que ele estava sentado na areia, curvado. Recomecei a andar, prometendo a mim mesma que deixaria a droga desse dia para trás, na areia. Claro que isso foi meio que impossível.
No meu quarto, de banho tomado e penteando os cabelos, a imagem de Igor não saia da minha mente. Como se estivesse gravado na minha retina aquela sua expressão exasperada e irritadiça. E o pior, eu não conseguia sentir raiva dele só por ele ter me constrangido daquele jeito. Eu sentia raiva de mim mesma também, sentia raiva por ficar imaginando como seria nosso beijo. Sentindo raiva de só imaginar como seria o gosto, a textura... Patética.
Joguei a escova de cabelos de lado, totalmente frustrada. Me deitei na cama, puxando um travesseiro, deitando a cabeça nele e abraçando-o. Suspirei. Minha janela estava aberta e ventava suavemente, um vento suave que assobiava de leve, misturado com os barulhos da noite, me deixando arrepiada e serena. O vento por sua vez trazia o cheiro do mar. Percebi horrorizada que Igor tinha cheiro do mar, e a brisa suave me lembrava da sensação do toque dele em minha pele, em meu pulso... Fechei os olhos, irritada, frustrada, magoada e chateada comigo mesma. Não era possível eu ter me apegado a algo que eu conhecia há apenas um dia. Depois de muito me revirar na cama, acabei adormecendo, com o nome dele na minha mente.
Acordei confusa e com as costas doloridas. Mais uma vez eu tinha dormido de mal jeito. A janela estava aberta e trazia o cheiro do sol. Sentei na cama, me espreguiçando. Senti um estalo nas costas e percebi que a dor melhorara. Me levantei, de olhos fechados e saí tateando pelo quarto até chegar ao banheiro. Molhei o rosto, e tentei abrir os olhos, ainda pesados. Gemi diante a minha imagem no espelho, descabelada, com a cara inchada. Ainda com o cérebro quase parando entrei no banho, quente. Depois do banho, agora mais desperta fui me trocar. Parei no quarto, e vi a sandália cheia de areia. Imediatamente comecei a me lembrar da noite anterior e corei furiosamente, de raiva. Bufei e fui até a minha mala, escolhendo a roupa. Tentando pensar em tudo, menos nele.
Me vesti, ainda nervosa e peguei meu celular. Três chamadas do meu pai e uma mensagem de texto dele pedindo para eu ir tomar café. Viu como sou popular? O único que me liga e manda mensagens é o meu pai. Abri a porta e saí do quarto, evitando olhar para a porta ao lado. Desci de escadas, com dor de cabeça, aproveitando minha ressaca moral. Eu sentia raiva e vergonha, ainda. Eu tinha que parar com isso, ficar remoendo coisas passadas. Eu tinha que esquecer, ignorar, mas era difícil. Vi meu pai sentado em uma mesa, com Carlos ao lado. Sentei ao lado deles, sem dizer nada.
– Bom dia. – Os dois disseram.
– Oi.
– Se divertiu na noite passada?– Carlos perguntou, interessado demais. Dei de ombros.
– Chegamos tarde ontem. – Meu pai falou. Será que ninguém percebia que eu não queria papo?
– Eu não vi vocês chegando, dormi cedo.
– Hum.
– Pois é. – E assim, a conversa com meu pai se encerrou. Ignorei-os e só comi meu café da manhã, sonolenta e raivosa.
– Vai pra praia hoje? – levantei os olhos do prato, surpresa. Meu pai nunca foi de muitas palavras e na verdade ele me deixava bem a vontade.
– Não.
– Então vai andar naquele calçadão?
– Também não. – Respondi, voltando ao meu prato.
– Isso é ruim. Eu comprei um skate para você lá no centro da cidade, porque sei que você não trouxe o seu. E imaginei que você iria gostar de andar hoje, já que não está tão quente para ficar na praia. – olhei para o meu pai, agora sorrindo de orelha a orelha. Levantei da mesa e corri para abraçá-lo.
– Obrigada, pai! – Ele riu sem graça e eu me afastei. – Onde está?
– Lá em cima, no meu quarto. Vá pegar.
– Certo. – Praticamente corri até o elevador e depois até o quarto do meu pai. Abri a porta e me deparei com uma Cristina meio verde sentada na cama, tinha a cabeça baixa, e um aspecto meio doentio. – Você está bem?
– Não é da sua conta.
– Wow, que amor e carinho.
– O que você quer?
– Meu skate. – continuei parada na porta, batendo o pé. Ansiosa para me livrar de sua presença rapidamente.
– Ah, seu pai me deixou irritada em comprar essa droga pra você.
– Só fala logo onde tá. – Ela apontou pra um canto do quarto, peguei a sacola grande e imediatamente saí do quarto, batendo a porta. Fui até meu quarto e abri a porta, e abri a sacola. Era um skate bonito e ajeitado, os trucks eram largos o que me daria mais estabilidade, o deck era pequeno condizente com meu aspecto físico. Realmente um skate com um aspecto meio profissional. Era perfeito e firme. Sorri, agora mais animada. Teria algo para me distrair. (...)
Eu estava andando a algumas horas de skate no calçadão que tinha aqui e dado algumas voltas pelo quarteirão. Era um lugar bonito e eu tinha conseguido me distrair de outros assuntos. Mas agora, sentada no banco, sozinha, várias coisas passavam pela minha mente. Como seriam minhas férias. Em Igor. No jeito dele sorrir e como ele me fazia rir. Em como havia tanto para conversar. No beijo mal sucedido. Na raiva. Muita raiva.
– Pensativa? – levei a mão ao coração tamanho o susto que levei.
– Quer me matar?
– Não, não mesmo. – Não olhei para ele, na verdade eu não queria olhá-lo. A voz já era ruim o suficiente. Ficamos em silêncio por alguns segundos. – Por que não olha pra mim?
– Por que você não vai embora?
– Porque eu não quero.
– Eu não quero algo também. Não quero você aqui.
– Queria conversar com você.
– Não temos o que conversar.
– É claro que temos. Não sei você, mas ontem fiquei remoendo aquela coisa que aconteceu na praia a noite inteira. Não quero dormir mal de novo hoje.
– Claro, não quer ficar com dor na consciência. Pobrezinho.– Ironizei.
– O que espera que eu te diga ou faça? Por que eu não sei! – A voz dele era meio implorativa. Olhei os meus pés, constrangida e nervosa. – Não haja como se me conhecesse bem.
– É, eu não te conheço. Esse é o problema.
– Olha pra mim! – olhei para ele, assustada com seu tom de voz. O que eu vi me assustou, ele tinha os olhos brilhantes, os lábios vermelhos e enquanto falava fazia gestos exagerados com a mão. Senti o coração acelerar.– Mas poderia conhecer e... Cara. Eu sinceramente não sei explicar o que houve. Eu queria ter um motivo pra explicar, mas você não entenderia, não tenho como explicar. Eu só... Eu só...
– Não sabe por que fez aquilo. Tudo bem. – suspirei. – Não estou com raiva, não mais. Também não quero mais pensar nisso.
– Me desculpe.
– Você não foi meu primeiro beijo mal sucedido. Não haja como se tivesse tanta importância. – ri sem vontade.
– Se não teve tanta importância porque ficou tão chateada? – O tom de convencimento em sua voz me irritou.
– Eu não fiquei chateada!
– Não?
– Mas é claro que não! Seu metido, arrogante. Não sei por que parei pra tentar conversar com você. – Me levantei do banco, mais uma vez irritada.
Peguei o skate e estava prestes a andar e sair dali o mais rápido possível, quando uma mão segurou meu braço, me puxando pra perto e colocando tão rápido nossos lábios que eu fiquei alguns segundos sem conseguir ter alguma reação. Irritada tentei me soltar, empurrando seus ombros, mas sua mão, cravada na minha nuca e puxando meus cabelos, me impediram de tentar novamente. Fiquei estática até que senti a sensação dos seus lábios, a textura e, finalmente, o gosto... Meio mole deixei o skate cair e me entreguei ao beijo, minha mão prendendo-se em sua camiseta com força. Sentindo meu coração explodir correspondi o beijo com tanta intensidade quanto ele me beijava. Me senti derreter no peitoral másculo dele e quando sua mão apertou minha cintura com força, esqueci meu próprio nome. Eu só queria me fundir ali, queria que aquilo não acabasse. Cedo demais ele se afastou, colocando o queixo na minha testa. Continuei de olhos fechados.
– Ainda com raiva?
– Arran.
– Jura? – abri os olhos, me deparando com os seus lábios próximos aos meus. Próximos demais, respondi a primeira coisa que veio a minha mente, mecanicamente.
– Arran.
– Tenho o remédio certo para sua raiva. – Ele sorriu por alguns segundos, então colou nossas bocas novamente. Os lábios pedindo passagem vigorosamente, um braço me apertando na cintura e o outro na nuca... E eu procurei esquecer. Esquecer a raiva, esquecer tudo. Só aproveitar o momento.
Eu e Igor continuamos juntos pelas próximas semanas. Nossa situação não estava resolvida, digamos assim. Nunca paramos para conversar sobre namoro, claro que o assunto surgia diversas vezes, mas preferi deixar rolar... Sem me preocupar agora, com as consequências. Estava sendo um verão divertido e leve, e botar implicações em relacionamento me deixava meio ansiosa. Eu sempre fui uma pessoa desconfiada, tanto que nunca havia possuído um namorado. Sempre preferindo a solidão, ou simplesmente beijos ocasionais. E logo, os garotos perdiam interesse por mim e eu, claramente, não me importava. Igor estava sendo paciente, até certo ponto de vista. Mas parecia sempre me dar indiretas sobre como seria futuramente.
Nossas tardes se resumiam a passeios na praia, assistir algum filme no cinema, troca de beijos e carícias e conversas despreocupadas. Só que nos últimos dias nosso tempo juntos tinha diminuído significativamente. Igor e seu amigo, Pablo, haviam começado o trabalho voluntario no Planetário, então ele passava suas tardes lá e nos encontrávamos apenas a noite.
Hoje eu iria visitar o lugar, logo de noite, porque como ele disse "tudo se tornava mais bonito". Me arrumei no espelho, querendo ficar bonita. Difícil, eu nunca me considerei muito bonita. Eu nunca me achei sequer bonita. Eu tinha potencial pra ser bonita, mas o conjunto da obra não ajudava. Olhos castanhos, cabelos compridos e escuros, baixa e magra, mas não magra de um jeito delicada... Tinha ali mais carne do que eu queria. E além do mais eu era desajeitada e esquisita. Não era skatista, nem totalmente nerd com meus livros e definitivamente não era meiga. Eu era... esquisita. Única definição que se encaixava com meu perfil. Me limitei a esquecer a aparência. Se Igor, lindo do jeito que era, estava comigo era por que eu devia ter algo atrativo, oras! Ou ele era simplesmente retardado e idiota.
Optei por descer as escadas, ao invés de pegar o elevador, já que esse era um dos raros dias que eu me sentia disposta e animada. Cantarolei uma música baixinho; pensando em Igor e totalmente distraída, então... Acabei esbarrando em Carlos no caminho.
– Aonde você vai?– Seu tom de voz semi-irritado me deixou confusa e até mesmo irritada.
– Isso não é da sua conta. – tentei contorná-lo, ele não deixou. Limitando-se a ficar parado a minha frente. Suspirei, vencida. – Já que você prefere ser tão intrometido e faz tanta questão. Te digo o que vou fazer... Vou dar uma volta.
– Aonde?
– Não enche, Carlos.
– Percebi que anda saindo muito com um garoto aí.
– Para de querer tomar conta da minha vida, ta bom?
– Seu pai ia gostar de saber.
– Olha Carlos, não sei por que você está pagando de preocupado. O que eu faço ou deixo de fazer só diz respeito a mim. Não enche, ta legal? – passei por ele rapidamente, deixando-o irritado para trás. Carlos andava com essa mania de achar que eu devia algum tipo de satisfação para ele. Saí do hotel, satisfeita por não topar com mais ninguém. A pequena conversa com Carlos já fora suficientemente desagradável. (...)
Acompanhei as pessoas de uma excursão pelo Planetário. Era um lugar extremamente interessante. Com maquetes gigantes e extremamente bem feitas do universo. Havia também telescópios que causavam curiosidade e assombro, além das outras atrações didáticas e extremamente divertidas. Admirada com todo o lugar não toquei em nada, me limitei a olhar, entendo agora porque Igor gostava tanto desse lugar. Havia algum tipo de fascínio sobre os objetos, sobre as histórias e informações. E havia também toda aquela beleza, e todo aquele mistério... Era interessante e instigante. Aumentava minha curiosidade e eu me deixei levar pela curiosidade enquanto andava por todo o Planetário.
Parei em frente a uma tela gigante, que tomava toda a parede, em que mostrava o Sistema Solar e depois uma grande chuva de meteoros, como num grande telão de Tv. Mais parecido com aqueles de cinema. Parecia que se eu esticasse as mãos, poderia tocar as estrelas. Eu sorri boba, sentindo como se estivesse realmente fora de órbita.
– Gostou? – dei um pequeno pulo, sendo tirada brutalmente da minha pequena divagação. E me deparei com um Igor sorridente, ainda usando o uniforme do lugar.
– Que susto!
– Desculpe.
– É tão... maravilhoso. – sorri para a tela e senti ele me olhando, olhei para ele e dei de cara com um daqueles seus sorrisos abertos e tortos.
– Você acha?
– Óbvio.
– Vem, quero te mostrar um lugar. – Ele segurou minha mão, que parecia ridiculamente pequena na sua, que eu apertei com força e passos por alguns corredores e depois subimos algumas escadas. Entramos numa sala extremamente grande, com um telescópio bem no centro, o maior que eu já vira. As paredes tinham quadros explicativos, janelas perpendiculares de vidro e o teto era aberto, dando espaço para o telescópio.
– Uau. – olhei ao redor, me soltando de Igor, que caminhou até o telescópio gigante.
– Quer ver?
– Posso mesmo?
– Claro. – Ele me guiou até o telescópio segurando na minha cintura e o arrumou para que eu pudesse ver. O céu há essa hora já estava escuro, então eu pude distinguir as estrelas de forma clara. Até demais. Elas queimaram em meus olhos, seu brilho intenso e de uma beleza inacreditável e quase hipnótica. Era como se eu tivesse com a cara colada no céu.
– Incrível!
– É lindo, não é?
– Muito! – Então ele começou a explicar sobre as estrelas, que eu mal escutei. Concentrada demais em como elas pareciam bonitas. Percebi que Igor parara de falar e tirei os olhos do telescópio, agora concentrada em sua expressão.
– O que foi?
– Você.
– O que eu fiz?
– Tudo, você fez tudo.
– Não estou entendendo nada, Igor. – sorri, um pouco corado.
– Como não? Você mudou tudo, tudo para mim. Fez com que eu me sentisse o cara mais sortudo do mundo em um momento que eu nunca pensaria que isso aconteceria.
– Algum de nós tem que fazer a diferença, não é? – Eu disse, irônica. Mas sentindo-me mais do que feliz.
– Metidinha. – Ele disse, me puxando para um abraço. Passei os braços pelo seu pescoço, que logo foi beijado levemente. – Tenho sorte de te ter, alguém a quem realmente amar.
Fiquei em silêncio, sentindo o coração quase arrebentar de tanto sentimento. Eu me sentia em um turbilhão de sentimentos sempre que estava com aquele garoto. Como se não fosse exatamente eu mesma. Mas uma Malu mais alegre, mais viva e sem dúvidas, mais feliz.
– Eu te amo. – sussurrei, consciente que era uma das maiores verdades que eu já havia dito. Dane-se que o conhecia poucas semanas, nunca me sentira assim.
– Eu te amo mais.
– Você é o primeiro que diz isso: Eu te amo. – deitei a cabeça em seu peito, aproveitando o momento.
– Quer dizer que nenhum cara te disse isso?
– Até disseram... Mas você é o único que eu acreditei.
– É porque é verdadeiro.
– Espero que seja mesmo. Senão vou ter que acabar com você. – ameacei de brincadeira.
– Está duvidando? – olhei para ele, que tinha as sobrancelhas unidas.
– Não, quer dizer... – respirei fundo. Eu estava sempre esperando que alguém me fizesse de boba. Estava acostumada com as pessoas fazerem isso. Eu confiava em Igor, mas ao mesmo tempo tinha medo do que aconteceria quando o verão acabasse. – Não sei.
– Sabe por que vamos ter certeza que é verdadeiro? Porque não vai acabar. Eu não vou deixar acabar, não vou deixar de te amar.
– Sem promessas. – Não quero me machucar, pensei. Na verdade, promessas sempre pareceram serem feitas para serem quebradas. E eu não queria isso, de jeito nenhum.
– Estou prometendo a mim mesmo.
– Você não existe, sabia?
– Existo. Existo por você.
– Adoro quando você fica meloso assim. – mordi o lábio e ele fez uma careta adorável.
– Cala a boca e me beija logo, sua metida. – sorri e apertei a camisa na base da sua cintura, ficando na ponta dos pés. Ele segurou meu rosto com as mãos e eu encostei meus lábios no dele. Beijando, sem pensar duas vezes, sem pensar em mais nada.
Ir embora com Igor para casa só deixou a noite ainda mais interessante. Ainda mais porque decidimos ir embora a pé. Viemos caminhando durante uma hora, e pela primeira vez, a garota mais sedentária do mundo, não se sentiu cansada. Eu ficava mais cansada pelas risadas que acabava soltando no caminho. Igor estava bem humorado, contando casos engraçados e fazendo piadas idiotas, mas que me divertiam muito. Volta e meia parava para me beijar ou me cutucar, provocando ondas de xingamentos inocentes e logo após isso alguns beijos.
Entramos no hotel entre risadas e de mãos dadas e nos deparamos com meu pai. Igor apertou minha mão com força e meio tenso, já que meu pai nos encarava com os braços cruzados e a expressão indecifrável, hostilidade emanando da sua postura séria. Engoli em seco, odiava quando meu pai olhava assim; era assustador, porque raras vezes meu pai se irritava, pior... Raras vezes ele se preocupava em saber onde estou. E me pegar assim no flagra era estranhamente assustador.