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Chego no térreo e saio do elevador, correndo. Ainda sinto dor em meus braços, onde ele apertou. Olho para os dois lados, sem saber direito para onde ir. Então localizo onde Matt estacionou o carro dele e ando até lá. Paro por alguns minutos pensando se deveria esperar por ele ou ir embora. Por um lado, não sei como voltar para casa, e não posso me dar o luxo de ficar pagando taxi toda hora, tenho que economizar dinheiro até descobrir como vou me virar, e sei que é muito longe para ir andando.
Porém, se eu ficar aqui esperando, e quem descer primeiro for o Rafael com o grupo dele, depois daquela cena que ele causou, não sei do que é capaz de fazer. Pensei que fosse um cara legal, mas cada vez mais ele se mostra ser alguém que não presta, o que só me prova que não posso confiar em ninguém. Ninguém mesmo.
Então tomo minha decisão, vou embora para casa, nem que seja andando. Por mais que Matt tenha tentado me defender, ele poderia ter feito muito mais, todos eles. Mas só permaneceram olhando o tempo todo, não sei se poderia confiar neles. Começo a andar a rua, em direção à praia. Foi bom ter visto tudo lá de cima, pelo menos posso achar o litoral e andar nele, sei que se o percorrer, uma hora chego em minha casa. Ando o mais rápido que minhas pernas curtas permitem, tentando não pensar em nada. Sinto o celular vibrar em meu bolso, decido não me dar o trabalho de olhar, não sinto vontade de falar com absolutamente ninguém agora. Depois de passar um bom tempo andando, começa a ficar calor, e paro para retirar meu casaco.
Um carro para ao meu lado e buzina para mim, fico com raiva e solto um xingamento, então a janela abre e vejo Morena sorrindo para mim.
- Nossa, é assim que você recepciona os amigos que vieram te dar uma carona?
- Como você me achou?
- Nos dividimos para procurar você, demorou um pouco, tínhamos assumido que não tinha ido muito longe. Mas para quem tem um metro e meio, você anda muito.
Olho para ela com desprezo.
- Eu tenho um metro e cinquenta e cinco.
- Quase acertei. – diz ela rindo – Vai entrar ou não?
Paro por um segundo, quase recusando sua proposta por ter me chamado de baixinha. Então deixo meu orgulho de lado e entro. O carro dela é bem parecido com o do Matt, não conheço o modelo, porém ele só tem dois lugares e é bem baixo. Assim que fecho a porta, a vejo pressionar algo em seu ouvido e falar que me achou, que ia me levar para praça. Então percebo que ela anda com algo muito parecido com um fone sem fio em seu ouvido, e uma pulseira de metal em seu pulso. Um radiocomunicador. Acho estranho, que tipo de pessoa usa um desses em seu dia-a-dia? Talvez durante o trabalho, porém não para sair com os amigos. Ela me percebe encarando sua pulseira.
- Gostou? Invenção minha, a pulseira tem um microfone e um rastreador, é só tocar no aparelho do ouvido que o microfone ativa. Também criei uma versão de colar desses.
- Por que vocês andam com radiocomunicador?
- Quando precisamos uns dos outros, é mais fácil falar pelo radio do que fazer uma ligação.
- Você precisa deles o tempo todo?
Ela ri, quase como se eu tivesse contado uma piada.
- Eu não preciso de ninguém. Mas as vezes podemos ter uma emergência de trabalho. Chegamos.
Olho em volta, estamos em um estacionamento a frente da praça do centro da cidade, do lado contrario da lanchonete.
Ela estaciona o carro e sai dele, antes que eu pudesse perguntar algo que comprometesse ela. Porém eu saio do carro e corro na direção dela.
- Você trabalha com o que?
- Resumidamente, computação.
- E inventora aparentemente.
- Para que fazer só uma coisa, se você pode fazer várias?
Ela fala sorrindo, então se vira para mim.
- Você é boa no que?
Eu fico atordoada por um instante, nunca tinha pensado direito nisso. Talvez em fazer negócios. Sempre fui boa em convencer os outros a fazer as coisas da maneira que eu queria. Mas não é exatamente uma habilidade.
- Não sei exatamente. Ainda não descobri.
Ela sorri para mim, como se soubesse de algo que eu não sei.
- Vamos descobrir depois, apesar de que já tenho um palpite em mente.
Começamos a andar uma ao lado da outra, até a praça do outro lado da rua. Percebo que ali era o lugar onde eu tinha pego o taxi ontem, tento afastar o pensamento. Assim que entramos dentro da praça, percebo que Rafael tinha falado uma coisa certa, era uma praça movimentada. Tinha bastante gente conversando em todos os lugares, porém a parte do cinema estava quase vazia. Começo a andar naquela direção. Morena me acompanha genuinamente surpresa.
- Você já veio aqui antes?
- Rafael me trouxe ontem a noite, nós comemos na lanchonete.
Assim que sento em um sofá e ela senta do meu lado, a percebo incomodada, mordendo o lábio, como se quisesse perguntar algo.
- Você pode perguntar qualquer coisa que quiser. - Falo, apesar de não ter certeza se irei responder.
Ela se mexe um pouco do meu lado, claramente incomodada.
- O que aconteceu com vocês dois? O que ele te contou?
Hesito antes de responder, apesar de já saber o que ela iria perguntar, não sabia exatamente se queria contar. Mal a conheço, porém fui eu que falei que ela podia perguntar o que quisesse. Então contei tudo, o inicio da noite, que foi muito bom, e como eu o acusei, e ao invés de negar, ele acusou o meu pai. Morena escuta tudo sem parar em nenhum momento para fazer perguntas, e assim que termino de contar, fica um silencio a nossa volta.
Até que ela me surpreende.
- Acho que você devia falar com ele.
- O que? - Minha voz sai mais alta que o normal, meio aguda, mas não consigo esconder a surpresa. – Você viu o que ele fez comigo lá em cima.
- Eu não estou dizendo que ele está certo, mas você não está nem um pouco curiosa? Ele sabe quem você é, e ele quer se explicar, então escute ele, isso não significa que você precisa perdoa-lo.
Aceno a cabeça lentamente, assimilando o que acabei de ouvir, percebo que ela está certa. Só ouvir não vai fazer mal a ninguém. E não acho que ele vá tentar me machucar de novo. Talvez eu marque com ele em algum outro momento, quando eu esfriar minha cabeça. Antes que eu pudesse dizer algo, vejo o grupo que estava conosco lá em cima se aproximar. Ao invés de ficar com raiva, por ninguém ter tentado intervir, decido ficar o mais calma possível, brigar com mais gente não vai adiantar de nada agora. Então forço um sorriso assim que eles chegam.
Gabriel que está sorrindo e conversando com os outros, chega perto de mim e diz:
- Belo chute, poderia ter ficado para terminar o serviço, mas foi até melhor você ter saído.
Fico confusa, sem entender o que ele quis dizer, me viro para Morena, esperando uma explicação. Ela desvia o olhar do meu e começa a parecer bem interessada em sua pulseira. Tento procurar o olhar de Matt, porém vejo que ele não está ali. Seu irmão, Miguel, está e não parece nem um pouco feliz, está com os braços cruzados e com ódio estampado no rosto, me encarando. Por um segundo achei que tivesse com raiva de mim, mas não poderia, eu não fiz nada a ele, nunca nem conversamos. Volto para o Gabriel, esperando sua explicação.
- O que você quer dizer com isso?
Ele olha confuso entre Morena e eu.
- Você não contou a ela?
Morena continua muito interessada em sua pulseira. Nem levanta para olhar o Gabriel, simplesmente balança a cabeça. Ele passa a mão em seus cabelos loiros, impacientemente.
- Depois que você saiu, Rafael ia atrás de você, Matt foi atrás dele e o socou, então virou uma bagunça, todo mundo começou a brigar. Demorou um tempo até que eu e o Lima conseguíssemos apaziguar a briga.
Mordi meu lábio por medo de perguntar, se foi uma briga tão feia e Matt não está aqui, estaria ele muito mal? Começo a reparar nos garotos, alguns tem uns hematomas, mas nada demais.
Assumi que Lima fosse o garoto com quem Gabriel tivesse conversando, eles pareciam os mais calmos entre todos quando eu sai. Então decido perguntar logo.
- Cadê o Matt? Ele se machucou?
Gabriel sorri, como se eu tivesse dito algo impossível de acontecer.
- Ele tá bem, a medida do possível, se machucou e foi ao hospital.
- Se ele está bem, por que foi ao hospital?
- Ele torceu o pulso quando deu uma surra no Rafael. Mas Laura dá um jeito rápido nisso, ela tem o poder da cura.
- Entendi.
Aceno a cabeça e não faço mais perguntas, entretanto não consigo deixar de pensar que isso é minha culpa, eu provoquei isso. Exceto que se alguém tivesse o afastado de mim antes, eu não teria chutado ele. Fico quieta enquanto eles começam a se agrupar em volta da gente e conversar entre si. Só falo quando perguntam algo diretamente a mim, e com respostas curtas. Até que meu celular toca e me separo de todos para atender. Matt. Atendo a ligação e ao mesmo tempo sinto uma mão me puxando com força até um canto. O que faz eu derrubar meu celular no chão. Levanto a cabeça para encontrar Rafael.
- Você fez eu derrubar meu celular.
- Eu te dou outro.
Respiro fundo e dou um passo para o lado, tentando sair de perto dele e ir atrás do meu celular.
- Já disse que te dou outro. - Ele repete, se colocando a minha frente.
- Eu não quero nada de você! Quero meu celular.
- Tudo bem, eu busco seu celular e você conversa comigo, tá bem?
- Não tenho escolha aparentemente.
Ele sai de perto de mim e eu começo a procurar o pessoal com o olhar, encontro eles, porém estão tão absortos em sua conversa que duvido que sequer sentiram minha falta. Vejo Rafael retornar com meu celular na mão, e também percebo que ele está tocando. Faço menção de pegar para atender e ele afasta o celular de mim, colocando-o no alto onde não consigo alcançar. O que não é muito difícil, considerando minha altura e a dele. Olho com raiva dentro de seus olhos.
- Você me escuta, e eu te devolvo seu celular.
Bato o pé impacientemente e cruzo meus braços. Sei que Morena falou para escutá-lo, e sei que não tem mal nenhum nisso. Mas sua postura convencida e cheia de confiança, como se tivesse acima de mim, me dá raiva.
- Te dou cinco minutos.
Ele abaixa a mão e coloca o celular no bolso de sua jaqueta, percebo que ela está machucada, provavelmente por conta da briga. Então abro um sorriso e não consigo evitar.
- Soube que se envolveu em outra briga.
Ele sorriu.
- Não foi exatamente eu que comecei.
- Pois eu penso justamente o contrário. Você tem quatro minutos agora.
- Olha, me desculpa por hoje mais cedo, não devia ter feito aquilo. Eu estava nervoso, e precisava falar com você.
- Tem outras maneiras de chamar atenção de uma garota além de ser um completo babaca.
- Eu sei que fiz errado, mas me escuta, primeiro eu não queria falar aquilo do seu pai, me desculpa. – Ele parecia claramente nervoso, ficava passando a mão nos cabelos, e desviava o olhar de mim. – E você estava certa, eu trabalho com coisas ilegais, não mato ninguém ou algo do tipo, eu só...
Ele olha em volta, como se achasse que alguém pudesse estar nos ouvindo. Eu provavelmente deveria estar com medo, mas não sinto isso, não sou idiota, já sabia isso desde ontem. Como também suspeito que Morena, Matt e os outros também estão metidos no mesmo meio. Sei que ele já deve ter matado alguém, roubado alguém. Mas não sou santa, sei que ninguém é isento de culpa, do mesmo jeito que eu estava certa sobre ele, ele também estava certo sobre meu pai, que sonega impostos e desvia dinheiro da empresa para enriquecer. Descobri isso faz alguns anos, quando entrei em seu escritório escondida. Porém não iria contar isso a ele, justamente agora. E não é como se ele fosse fazer algo comigo na frente de todo mundo. Então olho para ele com a sobrancelha erguida.
- Continue.
- Tudo bem, eu faço alguns roubos, e lido com outras coisas, não importa agora. O que aconteceu foi que seu pai me contratou pra te vigiar.
Não consigo evitar e começo a rir, até parece que meu pai contrataria um pirralho para me vigiar. Com o dinheiro que ele tem, poderia chamar detetives particulares profissionais.
- Você deveria arranjar uma desculpa melhor.
- Eu estou falando sério, Milena, seu pai e Lima, o meu chefe, tem contato já faz tempo. Um pouco antes de você chegar, ele ligou para gente e pediu que um dos garotos a vigiasse quando você chegasse, ficasse perto de você como um amigo, e passasse tudo que você faz a ele. Quando Lima me escolheu, eu falei diretamente com seu pai, e ele me mandou todas as informações que tinha sobre você.
Reviro meus olhos, ainda em descrença.
- Como se meu pai se importasse comigo.
Rafael coloca suas mãos em meus braços, e me vira para eu ficar de frente a ele.
- Escuta, ele quis que você ficasse em segurança.
- Eu já te escutei, agora devolve meu celular.
Ele pega o celular na mão, mas não me devolve. Começo a sentir raiva, por ele sequer sugerir isso, como se eu fosse acreditar, sinto raiva por dar uma chance a ele de se explicar, e ele mentir de novo para mim, sinto raiva por ele praticamente me obrigar a ouvi-lo. Tento pegar o celular de sua mão, porém ele não me entrega. O que só aumenta mais ainda minha raiva.
- Me devolve agora!
- Não vou devolver, você não acredita em mim.
- Nosso acordo era, eu te escutava, você me deixava em paz. Eu te escutei e você só me falou besteiras. Agora me deixe em paz.
- Milena, olha, se você for comigo, eu posso te provar...
- EU NÃO VOU COM VOCÊ A LUGAR NENHUM! QUERO QUE DEVOLVA A DROGA DO MEU CELULAR E SUMA DA MINHA FRENTE!
Começo a gritar o mais alto que consigo, não aguento mais essa situação. Só quero sair daqui. Quando percebo que ele não vai me dar o celular, faço menção de sair, mas ele vai a minha frente, impedindo meu caminho. Empurro ele com força, mas ele mal sai do lugar, e é quando meu celular voa para atrás dele, caindo na mão de uma garota. Deixando tanto eu, quanto ele surpresos, porém só aproveito a oportunidade para sair do canto aonde ele me prendia e corro na direção da garota.
Não a tinha visto se aproximar antes, porém com o movimento da praça é difícil notar qualquer pessoa especifica. Exceto que ela chamava bastante atenção, tinha uma estatura normal, porém seus cabelos longos eram pintados em um tom de azul chamativo, quando chego perto percebo que é do mesmo tom que seus olhos. Ela veste um top branco com uma calça de couro, o que deixa seu corpo bonito.
Antes de falar qualquer coisa com ela, me aproximo calmamente, não sei se ela é só uma intrometida roubando celulares na cara dura, ou se ela era minha heroína particular que veio me resgatar em meio aos meus gritos.
Assim que estou perto dela, ela abre um sorriso e estica a mão com meu celular.
Heroína.
- Muito obrigada, achei que fosse ficar naquilo para sempre.
- Sem problemas, já tive brigas com o Rafael antes, mas meu irmão cuidou disso para mim. Fico feliz por ajudar outra garota.
Começo a rir, provavelmente essa era a garota que ele tinha me falado sobre ontem.
- Acho que conheço a história. Prazer, Milena.
- Talita. Não sabia que eu estava tão famosa.
- Aparentemente, você tem algo de especial, assim como todas as mulheres.
Ela ri, junto comigo, vejo uma pessoa se aproximar de nós, pensando que era o Rafael, me viro agressivamente e já começo a pedir para me deixar em paz.
- É assim que você recepciona as pessoas que levaram uma surra por você agora?
Me jogo em cima do Matt para abraça-lo, fico feliz que ele esteja bem, apesar de só ter quebrado o braço, ele fica surpreso, mas me abraça de volta. Sinto uma familiaridade, como se tivesse em casa e finalmente pudesse respirar. Tudo nele me remete a essa estranha familiaridade, como se eu o conhecesse minha vida inteira. É possível sentir isso com alguém que acabou de conhecer? Como se ele fosse mais sua família do que sua própria família jamais foi?
Me afasto dele e conto sobre o que Talita acabou de fazer.
- A Talita está sempre salvando donzelas indefesas.
- Como assim? – Eu pergunto.
- Semana passada ela fez uma cadeira voar em cima de um cara que estava tentando beijar uma garota a força. – Disse o Matt sorrindo.
- Esse era um babaca. - Talita comenta comigo, como se contasse um segredo.
- E na outra semana, ela jogou uma televisão em cima de um cara...
- Que estava perturbando a Luana, se eu não fizesse isso, acho que ela mesmo fazia, mesmo não tendo meu poder.
- E também devo lembrar o que você fez com o cara que tentou namorar as gêmeas ao mesmo tempo?
- Ah para. Até que eu fui legal com ele. Ganhou pontos pela coragem. Pena que perdeu todos eles com a falta de noção.
Ouço as histórias dela e começo rir, passamos um bom tempo conversando, até que nos despedimos dela e vamos em direção a garagem na qual eu tinha saído com Morena.
- Morena e os outros tiveram que ir embora, tinham uma coisa importante a fazer. Eu te levo para casa.
- Tudo bem.
Entramos em seu carro e ele começou a dirigir, comecei a pensar em algo no caminho.
- Você e Miguel são só meio irmãos, né?
Ele levanta uma sobrancelha intrigado.
- Sim.
- Como vocês se conheceram?
- Na verdade, nos conhecemos desde que eu nasci, eu sou o mais novo. A mãe dele procurava o nosso pai e acabou nos encontrando quando minha mãe estava grávida de mim. Aparentemente ele tinha acabado de sumir novamente. Minha mãe diz que acha ele voltou para Itália, mas nunca descobriu onde estava, nem tentou. Então nossas mães nos criaram juntos.
Aceno minha cabeça e me viro para ele.
- Por que Miguel não gosta de mim?
Ele demora a responder, claramente incomodado com a situação.
- Por que você acha isso?
- Não sei, só uma intuição.
Ele respira fundo e passa a mão no cabelo.
- Ele só é mais reservado, depois que você o conhecer, vai ver uma pessoa completamente diferente.
Ele para o carro na calçada oposta à minha casa, e fica quieto de repente, encarando a garagem reservada a mim. Sigo seu olhar, e vejo uma moto estacionada lá. A moto do Rafael. Fico sem reação, e Matt sai do carro o mais rápido possível, pedindo para eu esperar no carro. Percebo que ele olha em volta, e sobe as escadas, provavelmente a procura de Rafael.
Eu não consigo tirar os olhos da moto, quase como se me hipnotizasse, saio do carro e vou em direção a ela.
Quando chego perto, vejo que a chave está amarrada ao guidão, e o capacete que eu usei ontem repousa em cima da moto. Pego ele em minhas mãos e quando o viro, vejo que tem um bilhete dentro. Desdobro ele e leio rapidamente.
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Milena,
Sei que fui um completo idiota com você em diversas ocasiões. Porém eu te contei a verdade e espero que acredite em mim. Estou te deixando com minha moto na esperança que melhore um pouco sua vida aqui, e assim você possa me perdoar pelo ocorrido.
Sei que é difícil acreditar no que eu falei, porém tenho como te provar. Também tenho informações, coisas que seu pai escondeu de você. Está tudo em um arquivo, e poderíamos roubá-lo. Mas se formos fazer isso, você não pode contar para ninguém. E quando eu digo ninguém é ninguém mesmo. Eu estaria correndo risco somente de escrever essa carta para você com esse tipo de informação.
No verso da folha te deixei meu endereço e meu número para caso você decida seguir adiante com isso.
Do fundo do meu coração, mil perdões.
Sinceramente,
Rafael.
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