/0/2666/coverbig.jpg?v=0e04d4d6483a5b7e4f4a70bc2415231b)
Mas os olhos de Kevser estavam serenos e calmos, e antes que Hülya pudesse concluir o que dizia, Kevser a calou, pendido para que ambas se sentassem juntas. Hülya já previa uma bronca daquelas, mas as palavras de Kevser eram brandas e tranquilas.
"Você sabe que a trouxemos para cá para fazer parte da família, para estudar, sonhar, conquistar seus objetivos e não para ser uma de nossas empregadas, nem muito menos ama de leite de Yeliz, você entende isso?!", Hülya se sentia amada como a muito tempo não era, e apenas balançou a cabeça confirmando que havia entendido o que Kevser dizia.
Suspirando profundamente Hülya completou "Por favor me perdoe, isso não voltará a ocorrer" Kevser acariciou seu rosto sorrindo, ela emanava uma paz surpreendentemente que Hülya não conseguia explicar, fazendo com que permanecesse tranquila.
Kevser sorri e diz "se você quiser, não há nenhum problema em amamentar Yeliz, mas não quero que sinta que isso é uma obrigação, pois não é. Meu leite secou a um mês e não pude mais amamenta-la. Estamos alimentando-a com leite industrializado, ela não se adaptou muito bem ao leite animal. Se sinta à vontade, mas só se estiver realmente à vontade, é claro! Mas nunca se sinta obrigada a nada, Ok?!"
Hülya sorriu concordando com Kevser, ela queria que seu leite fosse o alimento para Yeliz, depois de ser tão bem aparada por eles, podia de alguma forma retribuir o amor e o carinho com que aquela família a havia recebido, pois, agora essa família seria a sua família.
Timidamente Hülya sorriu, não podia deixar de perguntar a Kevser o que a fez ampara-la daquela forma, "Por que? Por qual motivo? Por que eu?" Indagou Hülya. Kevser sorriu ao responder "talvez porque nossas histórias são semelhantes, e poderiam até mesmo ter destinos iguais" disse ela.
Um ponto de interrogação surgiu na cabeça de Hülya, Kevser vendo, entendeu que precisava se abrir com ela, se quisesse que a jovem fizesse o mesmo. "Hülya! Eu me casei com Atakan eu tinha a sua idade, dezessete anos, não nos amávamos, foi um casamento arranjado. Eu estudava e estava perdidamente apaixonada por um colega da escola" completou suspirando ao lembrar da ilusão da adolescência.
"Mas meu pai já havia realizado um acordo com a família de Atakan, ele estudava medicina na época. O casamento foi muito rápido, Atakan também não estava apaixonado, mas havia se curvado as tradições de sua família. Eu queria estudar psicologia na época, e depois que me casei Atakan proporcionou isso para mim." Disse Kevser com um sorriso ao se lembrar do marido.
"Talvez se eu tivesse me entregado a paixão eu estaria nas mesmas circunstancias que você hoje. E quando te olho me vejo de certa forma através de você, como se fosse um espelho. Depois de casada, e com o tempo realmente o amor veio. Não é um amor arrebatador como na adolescência, é calmo e tranquilo." Disse revelando seus segredos para Hülya.
"E Atakan... Ele... Ele não me tocou até que eu estivesse convicta em me entregar a ele. Fizemos a pouco tempo oito anos de casados, mas somente a quatro anos consumamos nosso casamento. Por isso Kerem tem três anos, logo que consumamos nosso casamento, fiquei gravida, e agora tivemos Yeliz." Disse ela um pouco envergonhada.
Completou dizendo "Descobri a felicidade em minha família, no amor do meu marido, no sorriso dos meus filhos. Mas talvez minha realidade tivesse sido diferente. E me colocando em seu lugar, penso que ao te ajudar, estaria me ajudando de alguma forma." Suspirou ao terminar sua história.
Hülya estava sem palavras, completamente estarrecida, jamais imaginaria que Kevser e Atakan não se amavam, pois ao conhece-los viu o quanto eram felizes juntos. Se surpreendeu ao saber que poderia ter para ela uma saída digna, que não fosse a rua.
Elas se aproximaram e no silêncio se abraçaram, como se uma reconfortasse a outra, nascia ali uma amizade que iria bem mais longe do que a própria vida de ambas. Não era o sangue que as unia, mas sim o amor e a cumplicidade de uma vida toda de agradecimentos.
Hülya tinha absoluta certeza que nada do que fizesse, seria capaz de retribuir o que Kevser fez por ela. Mas lutaria com todas as suas forças para se tornar merecedora da confiança que eles colocaram sobre ela. Breve voltaria a estudar, e assim poderia procurar sua pequena e trazê-la para junto de si.
Havia sinais de esperança, talvez um futuro promissor, tranquilo e realizador. Hülya sabia que era pedir demais, para que eles a ajudassem a buscar sua pequena na Abadia, na Itália. Por um instante seu semblante se tornou vazio e triste, Kevser sabia muito bem por onde vagavam seus pensamentos, mas queria saber realmente quais eram os monstros na vida da jovem.
Hülya suspirou profundamente, como se tentasse organizar seus pensamentos e desabafar a Kevser seus medos. Os olhos de ambas se chocaram e então uma lágrima escorreu pelo rosto da jovem, "Bem... Eu... Eu... Me entreguei, talvez nem tenha sido por amor, pois a dor que sinto em estar separada da minha pequena é bem maior. Bem maior... do que quando fui abandonada ou expulsa de casa pelo meu pai."
Ela respirou fundo, como se fosse um sacrifício grande respirar, Kevser a puxou para seu colo, colocando a cabeça da menina em suas pernas enquanto acariciava seus longos cabelos, "Não se preocupe Hülya! Encontraremos uma maneira de buscar sua pequena". A jovem não podia acreditar no acabava de ouvir, sendo tomada pela emoção, rogou a Allah* (Deus), que as unisse outra vez.