Capítulo 6 A FORÇA

Do outro lado da cidade, no porto em Istambul, um menino de oito anos lutava para sobreviver, a fome e ao frio. Aykan era o caçula da família Hassan, possuía uma irmã de dez anos, Pinar. Ela ficava encarregada dos afazeres de casa enquanto que Aykan provia o que comeriam naquele dia. Já que seu pai se encontrava debilitado e doente, piorando exponencialmente depois que Canan havia o abandonado.

Sua mãe tinha fugido de casa com outro homem, deixando Akin doente em casa com os filhos. Ele estava em um tratamento intenso contra um câncer na qual havia acometido seus pulmões, o tabaco em excesso, havia contribuído grandemente para esse estado ruim de saúde, uma vez que a grande maioria da população do país era feita por fumantes, como costume local, Akin não era diferente, possuía o péssimo habito de fumar.

O homem não abria mão de suas tragadas diárias, de seu charuto e de seu café turco durante o dia, ao acordar, após o almoço, ao entardecer e a noite. Acompanhado do álcool seu estado de saúde piorou muito. E com o tratamento a convivência com os filhos se tornou insuportável.

Akin bay* (Senhor) se tornou um homem fechado as próprias emoções e intolerante. As surras em Pinar eram constantes, com Aykan no porto, Akin descontava em Pinar toda a raiva que possuía por Canan. Talvez fosse pela semelhança, Pinar possuía os cabelos claros e lisos, os olhos em um tom de mel, possuindo a pele clara.

Já Aykan se assemelhava ao pai, possuía os cabelos pretos e os olhos como se fossem duas pedras, na cor do mais escuro whisky. Contrastava perfeitamente com a pele branca do garoto. A labuta no porto mês a mês, estava o tornando rígido e inflexível, recluso em seus sentimentos.

Mesmo com tudo que havia passado Aykan jamais havia derramado uma só lágrima. Ele não se permitiria sofrer, ele retirava da magoa a força necessária para seguir, e à medida que a magoa crescia dava lugar ao ódio, ele se tornava mais imponente, indestrutível e inescrupuloso.

A vida em família era sombria. A nevoa que Canan deixou quando os abandonou pairava ainda sobre a casa. Com o passar dos anos, a medida que Aykan crescia, os embates se acirravam entre ele e seu pai. Pinar não possuía forças para se defender do pai, afastando-se completamente dele, mesmo assim por diversas vezes ele insistia em agredi-la e insulta-la.

Aykan a defendia do pai, mas seu trabalho era por muitas vezes extenso, impedindo de conviver em família. Mas em um dos embates entre pai e filho, duras palavras foram trocadas, desde daquele momento o pai havia emudecido e se isolado dentro de seu quarto escuro. De certa forma aquilo trouxe alivio, pois, Pinar não seria violentamente agredida pelo pai e Aykan podia trabalhar tranquilamente.

O velho Arif controlava o porto, e Aykan preencheu todas as lacunas que ele precisava. Aos poucos o menino demonstrava um talento nato para a liderança e para os negócios. Ele era um trator, um trem desgovernado pronto a passar por cima de quem fosse para alcançar seus objetivos, porém era leal a Arif e ao que aprendera com ele.

Aykan era imparável, o velho Arif arriscava dizer que Aykan era invencível. Embora a rigidez do menino o preocupasse, ele se via através de Aykan quando jovem. Arif sem família ou filhos, se viu sozinho e já havia o escolhido para ser seu sucessor ali naquelas docas.

Além de Arif, sua figura paterna, embora seu pai ainda estivesse vivo, porém, incomunicável. Aykan tinha seu fiel amigo e braço direito Aslihan, ambos cresceram juntos, um sempre ajudando o outro. Aslihan era mais velho que Aykan uns quatro anos a mais que ele.

Mesmo assim Aslihan o respeitava com um líder daquele lugar. E assim os anos foram passando, Aykan despreza e usa as mulheres que passavam por seu caminho ao seu prazer, ele havia jurado a si mesmo que jamais amaria. Depositando todo seu ódio em noitadas violentas. Nunca seria dado as caricias, era um selvagem, incapaz de amar e se deixar ser amado ou tocado por alguém.

Aos poucos ele foi criando seu império, enriquecendo com muito trabalho, esforço e com certa influência de Arif. Aslihan não era diferente, igualmente prosperava juntamente com o amigo. Mas ambos eram diferentes. Aslihan era discreto, não apreciava a ostentação, nem as noitadas regadas álcool e mulheres que Aykan costumava a ir.

Em seu coração havia um nome tatuado, porém, era impronunciável. Não sabia se era correspondido, e talvez não fosse uma boa ideia envolver-se. Ainda tinha pouca idade, da qual considerava ideal para um casamento. Uma vez que seu interesse era tê-la era por toda sua vida, como dona e mulher da sua casa. Mas isso era um sonho muito distante para ele.

Aslihan era alto esguio, com um corpo forte, órfão e gastava grande parte de seus recursos com ajuda humanitária. Aykan achava aquilo tudo uma grande besteira, enquanto acumulava riqueza e poder, fazendo com que seu sobrenome Hassan ecoasse por toda Ásia, Europa e Oriente Médio.

Não havia quem ousasse cruzar o seu caminho, as transações milionárias de armas, munição e ouro, eram maquiadas por diversas empresas de faixada. Assim como a Construtora Hassan. Embora o dinheiro não surgisse de uma maneira legal, ele tinha seus métodos para lava-los.

A única empresa da família que era completamente limpa era a de Pinar. A família tinha uma habilidade única para desenho. E Pinar se especializou em designer joias, bolsas e sapatos de luxo. Mesmo que o impulso primário tenha sido dado pelo irmão. Ela se posicionou fincando os pés no mercado da moda e ali se realizava profissionalmente, já que pessoalmente sua vida era um fracasso. Aykan acompanhava seus desenhos e palpitava em alguns deles, sua irmã era a única mulher que merecia seu respeito, amor e proteção.

Enquanto Pinar desenhava objetos, Aykan projetava no papel desenhos reais, rostos, lugares, sua memória fotográfica, era o passo à frente de seus inimigos e rivais. Não havia que o ele queria e não conseguisse, não havia desejo que fosse satisfeito. Sua sede por poder era sem limites, não possuía nenhum tipo de amor a própria vida, arriscava-se seu corpo e sua alma por aquilo que acreditava.