Capítulo 3 4- Lua.

Karol

Antendi a mesa onde tinham algumas meninas, do outro lado da lanchonete entrou uma mulher loira. A Paulinha tirou a bunda dela da cadeira e foi atender a mulher, coisa que era muita raridade.

Fiquei só observando de longe enquanto atendia as pessoas. Depois de um tempo entraram alguns vapores e logo atrás deles o Noronha, ele se sentou do lado da mulher. Me condenei por ser tão lerda. É claro que aquela era a primeira dama da Rocinha, exatamente como o Magrinho me disse.

Paulinha: Karol minha filha, vem anotar o pedido dos meninos aqui. – Ela gritou de lá. Trinquei os dentes engolindo toda a minha vontade de xingar, o destino querendo me estressar as oito horas da manhã.

Fui até lá e sorri pra os homens sentados na mesa, a mulher nem sequer olhou na minha cara e eu também não fiz muita questão. Coisa mais besta, se ela soubesse que o marido vive atrás de mim não me olharia assim.

Karol: O que vocês vão querer? – Perguntei segurando o caderninho.

Xx: Trás sete mistos quente, cinco croissant e cinco sucos de maracujá novinha. – Concordei.

Karol: Vão querer mais alguma coisa?

Aline: Trás um sanduíche pra mim fofinha.

Karol: Falou, patroa. – Murmurei e sorri de lado. Virei as costas pra sair, mas parei quando escutei a voz enjoada dela.

Aline: Tu tá debochando de mim? – Me virei e dei uma risada.

Karol: Você acha que eu perco o meu tempo dessa maneira? – A mulher ficou vermelha na hora, quando ela ia se levantar o Noronha a empurrou de volta na cadeira.

Ele sussurrou alguma coisa no ouvido dela que eu não consegui ouvir e nem sei se queria também. Voltei pra bancada e entreguei os pedidos para o Alessandro, ele que preparava todos os pedidos, tem a mesma idade que eu e também faz medicina veterinária. As vezes eu costumo brincar dizendo que nós somos almas gêmeas e vamos casar do tanto que nós fazemos tudo igual, mas o Ale é gay, se bem que nem parece.

Ele me entregou os pedidos prontos em uma bandeja depois de alguns minutos, levei tudo até a mesa e organizei lá.

Xx: E aí mina, rola contato não? – Concordei. Ele tirou o celular do bolso e me entregou, coloquei o meu número e salvei o contato.

Karol: Qual é o seu nome? – Entreguei o celular de volta e ele sorriu.

Xx: L7, mas tu pode me chamar de amor da tua vida.

Noronha: Qual foi Alan? Deixa a menina trabalhar na dela.

Sai de lá pra não vomitar com tanta hipocrisia, a mulher do cara bem do lado dele e ele fazendo essas palhaçadas. Fui atender as outras mesas cheia de tédio, trabalhar pra me manter, mas que eu goste eu não gosto. Pérolas de ter nascido pobre.

[...]

Subi o morro andando junto com o Alessandro. Hoje a aula tinha sido super interessante e didática e eu achar isso é uma raridade, porque pense numa pessoa preguiçosa pra estudar.

Alessandro: Qual foi Karol? Vamos brotar no baile da Colômbia hoje? – Fiquei pensando no que o Noronha tinha dito sobre ir lá em casa hoje a noite, é melhor eu nem estar lá quando ele chegar mesmo.

Karol: Só vou em casa tomar um banho e me arrumar, te mando uma mensagem e a gente pede um Uber pra lá. Pode ser? – Ele concordou.

O cara que tinha pedido o meu número hoje mais cedo passou de moto igual uma bala, não sei porque todos os caras desse morro acham que moto é avião.

Karol: Aquele cara que passou na moto pediu meu número hoje mais cedo lá na lanchonete. – Comentei sabendo que se o menino tivesse algum podre o Alessandro me falaria. Acho que o Ale é a pessoa mais fofoqueira e FBI desse morro, todo mundo ele conhece, sabe do passado, da família.

Alessandro: Tô ligado, ele é puto mais caiu na minha que tem uma pegada do caralho. Karol: Já experimentou?

Alessandro: Queria eu mona, queria eu. – Ele sorri negando. – Eu fico por aqui nega, até daqui a pouco. – Concordei, mandei beijo no ar pra ele que só sorriu como resposta.

Fui o resto do caminho até a minha casa sozinha, era na rua de trás da casa do Alessandro e não tinha tanto perigo ir só a noite. Peguei a chave de casa dentro da minha mochila e abri a porta, liguei a luz e gritei vendo a figura do Noronha deitado no meu sofá novo.

Karol: Quer me matar seu desgraçado? Como é que você entrou aqui hein?

Noronha: Vai se arrumar logo, a gente tem que voltar cedo. – Neguei. Joguei a minha mochila no sofá e coloquei as mãos na cintura.

Karol: Vai pra sua casa, se tu quer mulher pra ser mandada lá você encontra.

Noronha: Minha paciência contigo hoje tá pouca Karol, faz o seguinte, tu não quer tanto que eu te deixe na tua? Cola comigo ali só hoje e eu te deixo em paz.

Karol: Você tá mentindo!

Noronha: Eu me garanto mandada, tu tem vinte minutos pra se arrumar se não eu te enfio dentro do carro do jeito que tiver.

Me enfiei dentro do banheiro e fui tomar um banho rápido, lavei os meus cabelos nas pressas. Ódio e ódio, apenas.

Enrolei uma toalha no cabelo e outra no corpo, passei pra o quarto e escolhi um vestido de alcinha colado no corpo. Eu já tinha usado ele umas duas vezes e acho que valoriza muito todas as minhas curvas, como uma boa sereia.

Finalizei o meu cabelo, coloquei uma argola prata e passei o meu lily. A meta é ter um Good Girl, mas o meu saldo no banco me impede de luxar tanto. Calcei uma réplica do Jordan preto e voltei pra sala vendo o Noronha agora sentado jogando no celular.

Ele guardou o aparelho no bolso assim que me viu e se levantou. Saímos de casa, tranquei a porta e guardei a chave dentro da minha bolsa. Ele entrou em um carro preto estacionado na frente da casa da minha vizinha e eu entrei logo depois.

O Noronha deu partida no carro e foi dirigindo em direção a entrada do morro, olhei pra ele surpresa.

Karol: Não é perigoso pra você sair daqui, não? E se a polícia te pegar na pista? – Ele sorriu negando. A primeira vez que eu vi ele rindo tão espontaneamente.

Noronha: Brabão é o que tentar me pegar na pista. – Ele colocou uma das mãos na minha coxa, engoli em seco e fiquei encarando o rosto dele. – Perigo mesmo é verem nós dois juntos dentro do morro com aquele bando de povo fofoqueiro.

Karol: Mas também, né? Você é casado, não tem nem porque a gente tá saindo agora pra início de conversa.

Noronha: Eu quero te conhecer melhor mandada.

Karol: Você deveria conhecer melhor a sua esposa! – Que saco. Se arrependimento matasse eu já estaria enterrada uma hora dessa.

Fomos o resto do caminho em silêncio. O Noronha parou o carro em um estacionamento perto da praia. Ele desceu do carro e eu fiz o mesmo seguindo ele, paramos de andar quando chegamos em frente ao mar.

O Noronha se sentou na areia e eu me sentei do lado dele.

Karol: Porque aqui? – A praia estava vazia, o vento frio soprava com força.

Noronha: Esse é um dos lugares que eu venho pra pensar, tá ligada? Qualquer dia desses eu te levo pra conhecer os outros.

Karol: Você disse que ia me deixar em paz Noronha.

Noronha: Brisado em tu do jeito que eu tô, tu acha mesmo que eu ia conseguir? – Dei de ombros e fechei os olhos sentindo o friozinho gostoso que fazia aqui. – Na hora que eu bati o olho em tu, eu peguei a visão de que tu era pra mim.

Karol: Você é maluco, isso sim.

Noronha: Kaio.

Karol: O que?

Noronha: Me chama de Kaio.

Ele se levantou, segurou na minha mão e me puxou pra eu levantar também. O Noronha foi me puxando até a beiradinha do mar, lá ele apontou pra o reflexo da lua na água.

Noronha: É isso o que eu venho ver aqui. – Concordei e sorri, era lindo.

A gente se encarou e eu comecei a sentir a tensão se formar, o Noronha colocou uma mão na minha cintura e apertou firme o local. Ele tentou se aproximar, mas eu recuei.

Ele segurou no meu queixo com uma certa força e me deu um selinho. Forcei o meu corpo para trás e me afastei dele.

Karol: Você é casado! Pelo amor de Deus para com isso, respeita a sua mulher.

Noronha: Eu e Aline só tamo junto pela dívida que eu tenho com ela, a mina salvou a minha vida e eu devo máxima consideração. Agora tu acha que eu e ela temos alguma coisa? Nem olhar pra cara um do outro dentro de casa a gente olha mais e depois que eu te conheci só piorou. Eu brisei em tu pô, vamos tentar um bagulho no escondido?

Karol: Você só pode tá é doido, me leva pra casa na moral. – Ele negou e se aproximou novamente de mim.

Dessa vez noronha segurou na minha cintura mais forte, sua outra mão veio pra minha nuca e ele aproximou os nossos rostos me beijando. Sua língua invadiu a minha boca em um beijo feroz. Ele me pegou no colo e eu acabei rodeando as minhas pernas na sua cintura por impulso. Parei o beijo com alguns selinhos e fechei os olhos me condenando mentalmente por ter gostado.

Karol: Esse foi o maior erro da minha vida. – Murmurei.

Noronha: É errado, mas é gostoso pra caralho, não é não? – Concordei sorrindo.

Já tava no inferno, eu ia abraçar o capeta só por hoje.

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