Capítulo 6 Entrando onde não fui chamado.

"Nikolay Turgueniev"

Estamos conversando sobre a nossa vida pessoal. Chega de falar sobre trabalho! Paul está me contando sobre sua filha incrível, que já está em treinamento a alguns anos. Ela quer muito trabalhar com seu pai e não aceita bem o fato de que mulher precisa estudar e ser alguém. Ela se sente capacitada o suficiente para entrar nos negócios e isso me faz admira-la sem nem a conhecer, sua teimosia foi herdada do pai.

Nikolay: Com licença, preciso ir ao banheiro. –Eles acenam e eu sigo sozinho.

Próximo ao banheiro, vejo um cara provavelmente bêbado importunando uma jovem. Deve ser alguma garçonete. Mas algo me chama a atenção quando me aproximo. É a mesma garçonete que nos serviu, a com um rosto angelical, a novata. E o que me faz ficar ainda mais interessado é na sua voz suave e aveludada, falando gentilmente com seu agressor.

Elisa: O senhor pode me soltar por favor ? Temo que tenha bebido muito.

Ela fala educadamente, mas o cara não quer soltar. Ele sabe bem o que quer e eu como homem também. Ele a olha de cima abaixo e eu paro onde estou, analisando a situação. Ele empurra ela contra a porta a levando para dentro, fecho meus olhos controlando minha respiração, não preciso arrumar confusão por alguém que não conheço. Não devo me meter, onde não fui chamado, penso como um mantra, para me impedir de ir lá. Mas é vão... Homens de verdade não deveria forçar nenhuma mulher, qual a graça que isso tem ? E antes de me dar conta, estou dentro do banheiro feminino. Ele está com uma mão no pescoço dela e a outra dentro de sua blusa, apalpando seu seio. Ela me encara com o mesmo rosto sereno, inocentemente. Mas não vejo qualquer expressão de repulsa, apenas seu rosto amedrontado. Me aproximo lentamente e ele se vira para me encarar, mas me parece indiferente.

Saco minha arma e coloco em sua cintura o cano de ferro bem gelado. Falando as palavras lentamentes em seu ouvido, parece uma piada mas o homem forte é pequeno demais para mim e ele apenas é forte demais, deve pesar em torno de cem quilos, para um metro e setenta. E a menina parece minúscula ao seu lado.

Nikolay: Acho melhor você soltar a moça, se não quiser que seus miolos estejam em cada parede desse banheiro. –Falo em um sussurro, mas meu tom não é nada convidativo.

Ela me olha de um jeito que ninguém nunca me olhou. O cabelo preso em um rabo de cavalo, um rosto pálido e olhos pequenos como o de uma pessoa oriental. Seus olhos são azuis como o mar, seu rosto é fino, nariz e lábios pequenos, mas porém carnudos. Seu corpo parece uma obra de arte esculpida, pernas bem torneadas e peitos pequenos. Ela usa uma regata branca que dá para ver todo o contorno do seu sutiã, sua calça jeans bem justa e sua pequena bolsa de lado jogada no chão com um trench coach bege, mostra o quão nervosa ela está. O cara vira um pouco a cabeça pra mim sem solta-la.

Desconhecido: Pra que isso, cara ? Podemos nos divertir juntos! –Diz ele, com um meio sorriso.

Nikolay: Eu não preciso forçar mulher alguma, elas mesmo vem até mim.

Desconhecido: Se não quer se divertir da o fora. –Ele rosna.

Esse cara só pode achar que estou brincando. Levanto minha arma de sua cintura, e coloco na sua cabeça, percebo ele estremecer. Talvez agora ele perceba o quão sério, estou sendo.

Minha paciência começa a se esvair. Quando estou prestes a puxar o gatilho, ele a solta. Ela pega suas coisas e sai correndo sem olhar para trás. E eu saio em seguida, atrás dela.

Quando chego na nossa sala, me deparo com um barulho ensurdecedor e totalmente reconhecível. –Se abaixem, são tiros! –Uma garçonete muito agitada grita enquanto corre para se esconder.

Yakov me vê e vem ao meu encontro, eu saco minha arma e correspondo. Ao observar que tem vários homens armados, percebo que concerteza meus homens foram feridos. Paul se junta a nós, e cada um ficamos protegidos por uma mesa, mais dois dos nossos segurança, se aproximam com suas armas metralhando quem passa pela frente. Olho para os lados e vejo várias pessoas deitadas no chão, que porra é essa ?

Yakov: Nick, você precisa sair agora! –Ele exclama.

Nikolay: Não vou te deixar aqui. – Falo direto.

O barulho dos tiros se aproximam e nos levantamos, se ficarmos aqui, vamos morrer. Estamos em cinco agora e eles são mais ou menos quinze. Revidamos o quanto podemos, mais um cara alto e moreno dispara contra mim, sinto meu peito queimar, mas atiro de volta o derrubando. Filho da puta, acho que me acertou. Yakov tem razão, preciso sair. Me viro para a direita em direção aos banheiros, por trás tem um pequeno corredor, com uma saída para os fundos, eu corro por ele. Eu saio em um beco, está escuro demais, as luzes dos postes parecem ter sido apagadas.

A forte dor crescente em meu peito, me faz desintesificar o ritmo, me encosto em uma parede do estreito beco e procuro meu celular, mas não o encontro.

"Elisa Nowak"

Saio correndo daquele banheiro, não acredito que aquele cara ia fazer comigo, o mesmo que aconteceu com Eva. Eu saio para o estreito corredor, em busca de ar, meu celular vibra compulsivamente no meu bolso e eu o retiro, quando ouço um som estridente e abafado.

Não sei porque, mas meu corpo libera uma adrenalina e quero correr, mas meu corpo trava. Entro no terceiro beco e pego meu celular.

"Khaled"

Khaled: O que aconteceu ? – Ele fala baixinho.

Elisa: Um homem me agarrou. – Murmuro de volta. – Porque você está

Khaled: Não estou sozinho. Onde você está ?

Elisa: Voltando para casa.

Khaled: Já que está bem, me avise assim que chegar em casa.

Elisa: Está bem!

Começo a caminhar para sair, quando sinto algo agarrando nas minhas pernas. Olho para o chão e ao vê o que acho que seja um homem, puxo minha perna com força e acabo tropeçando e caindo no beco. Com impacto que minhas costas batem contra a parede, sinto uma dor aguda nela. Eu acendo a tela do meu celular e olho para o homem deitado, é o mesmo homem que me ajudou. Minha mente grita para correr e deixá-lo ali, mas ao mesmo tempo, ela grita para ajudá-lo.

Em uma guerra interna, eu olho para os lados do beco ainda escuro. Os sons de tiros ainda estão fixos, mas concentrados dentro do bar. Eu não penso duas vezes em mexer nele.

Elisa: Consegue caminhar ?

Murmuro baixinho próximo ao seu ouvido, ele não fala nada. Em resposta segura minha mão firme.

Elisa: Acho que isso é um sim!

Eu faço o máximo de força que consigo para levantá-lo, mas esse cara é pesado a beça. Ele se apoia em mim e se mantém de pé, com seu braço pelo meu pescoço, andamos lentamente. O carro de Khaled, está estacionado daqui a dois becos, se andarmos rápidos, conseguiremos sair daqui.

Elisa: Você precisa me ajudar, estamos perto do meu carro. Se você se esforçar, conseguiremos sair. Se não, te largo aqui e vou sozinha.

Observo ele concordar com a cabeça e se manter o mais firme possível, acelerando seus passos. Depois de uma eternidade, chegamos ao carro. Eu destravo, abro a porta do passageiro e o coloco dentro e entro em seguida.

Olhando de um lado para o outro, para ver a movimentação, eu dou partida e dirijo como nunca dirigi antes. O mais rápido que posso, olhando sempre o retrovisor para ver se não estou sendo seguida. Esse homem deve ser algum CEO bilionário sofrendo um atentado, como passa nas notícias. E agora estou frita também, para que fui ajudá-lo ? Calma, Elisa. Se acalme, uma boa pessoa não liga para quem está ajudando, ela apenas o faz e isso é ser complacente.

Ela para em uma farmácia vinte e quatro horas, quinze minutos depois. Ela pega alguns materiais, como soro fisiológico, gases... E volta para o carro, indo para o apartamento. No elevador, eles sobem para o 6° andar e alguns minutos depois.

Eu olho para o homem deitado sobre minha cama, ele parece morto. Sua boca está pálida, assim como seu rosto, ele não me parece ser daqui, seus traços são muitos diferentes. Mas ele está machucado, preciso ajudá-lo. Pela primeira vez vou ter um paciente de verdade. Um ser humano que precisa de ajuda. Ainda sem saber o que fazer, resolvo mandar uma mensagem para Jenny.

Elisa: Jenny, está acordada ?

Espero ansiosamente ela responder, mas ela não visualiza. Quando desisto e resolvo colocar a mão na massa, minha tela se ilumina com uma mensagem, é ela.

Jenny: Lise, tá acontecendo alguma coisa ? – Teclo imediatamente uma resposta.

Elisa: Estou com um homem no meu apartamento, ele está ferido. Levou um tiro, o que eu faço ?

Jenny: Leva ele em um hospital, rápido.

Elisa: Não posso. Não sei o que ele fez.

Jenny: Então... Eu também não sei o que fazer, quer que eu avise a Kate ?

Elisa: Não! Isso não, por favor. Não fala nada pra ninguém, ok ?

Espero que ela realmente não fale nada, Kate pode parecer muito boa. Mas ela não é, ela é uma fera e pode vim aqui e chutar esse pobre coitado para fora.

Jenny: Tudo bem, não vou falar nada. Mas me mantenha informada, ok.

Confirmo que sim e resolvo então, cuidar dele eu mesma. Pego as medicações que comprei e coloco na mesa de cabeceira. Pego a faixa, as gases e o soro, volto para a cozinha, pego uma faca e uma tesoura, toalhas e uma bacia com água.

Elisa: Pronto, isso vai ter que servir.

Eu volto para o quarto e começo a desabotoar sua blusa de botões Meus cabelos atrapalham um pouco e eu o prendo em um coque bem preso. Eu olho atentamente para o sangue em seu corpo, ele é bem musculoso. Eu passo a toalha molhada limpando o sangue que está seco, ele não se mexe.

Elisa: Espero que não seja tarde. – Penso enquanto limpo.

Quando tudo está limpo, eu observo uma extremidade elevada abaixo do seu ombro direito.

Elisa: O que é isso ? Uma bala ?

Passo minha mão por cima e tenho a convicção que aquilo é uma bala.

Elisa: Preciso retirar. Ou devo apenas deixá-la no lugar ?

A não é hora de ficar indecisa e sim fazer alguma coisa. Procuro álcool no meu guarda roupa mas não encontro.

Elisa: E agora ? Preciso esterilizar está faça.

Mas um pensamento me ocorre.

Elisa: Vodka, preciso de um pouco de vodka.

Eu corro de volta para a sala e pego uma garrafa, voltando em seguida para o quarto, esterilizo a faca e a tesoura.

Elisa: Eu preciso fazer uma incisão na pele dele, para que com a ajuda da tesoura, puxar a bala.

Após posicionar a faca em seu peito, uma mão segura com força em meu braço. Forte o suficiente para que eu solte a faca. Meu pulso dói muito, eu não aguentaria segurar.

Nikolay: Quem é você ?

Ele fala com uma voz grossa e assustadora. Nunca ouvi ninguém falar assim, e ele é Russo. Me levanto rapidamente da cama, segurando meu pulso. Eu trouxe um russo desconhecido para meu apartamento.

            
            

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