Vendida - Parte 1
img img Vendida - Parte 1 img Capítulo 9 "Amigas para sempre "
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Capítulo 11 "O que mais pode acontecer a uma garota que já está machucada " img
Capítulo 12 "O que está acontecendo " img
Capítulo 13 "Apenas atração " img
Capítulo 14 "Eu quero muito mais..." img
Capítulo 15 "Você beija muito bem" img
Capítulo 16 "Garantia de quê " img
Capítulo 17 "Quem é você, Pedro " img
Capítulo 18 "O acordo de milhões" img
Capítulo 19 "Romance proibido " img
Capítulo 20 "Bronca da irmã mais nova " img
Capítulo 21 "O que estão me aprontando " img
Capítulo 22 "A melhor noite da minha vida " img
Capítulo 23 "Uma noite de princesa " img
Capítulo 24 "Finalmente minha primeira vez " img
Capítulo 25 "Um beijo que só a lua pode lembrar" img
Capítulo 26 "Dormindo de conchinha" img
Capítulo 27 "Eu quero você" img
Capítulo 28 "Emocionada " img
Capítulo 29 "Flagrando a irmã com o melhor amigo " img
Capítulo 30 "O mesmo Pedro de antes " img
Capítulo 31 "Sonhar não é errado" img
Capítulo 32 "Uma noite sem vergonhas" img
Capítulo 33 "Uma noite com o irmão da melhor amiga" img
Capítulo 34 "Uma festa ou enterro " img
Capítulo 35 "Um monstro que... chora " img
Capítulo 36 "Loucura de irmãos ou... traição " img
Capítulo 37 "Estamos namorando img
Capítulo 38 "O inferno seria bom se você estivesse lá." img
Capítulo 39 "Era tudo uma mentira " img
Capítulo 40 "Lucas do mal " img
Capítulo 41 "Em quem ele deve acreditar " img
Capítulo 42 "A despedida mais dolorosa" img
Capítulo 43 "O presente incrível da adorável Mia" img
Capítulo 44 "Eu te amo" img
Capítulo 45 "Uma noite inesquecível" img
Capítulo 46 "Eu também te amo" img
Capítulo 47 "A vingança " img
Capítulo 48 "Eu escolhi te amar para sempre" img
Capítulo 49 "Livre " img
Capítulo 50 "Boquinha de Mel" img
Capítulo 51 "Mais uma vez... sozinha " img
Capítulo 52 "Entre deuses e monstros, acho que sou um anjo no jardim do mal" img
Capítulo 53 "A surpresa que ele fez para mim... acho que nunca verei" img
Capítulo 54 "O que é pior que a morte " img
Capítulo 55 "Uma despedida silenciosa" img
Capítulo 56 "Às vezes o amor é sobre deixar ir" img
Capítulo 57 Epílogo - "Não é o fim, e sim um novo começo" img
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Capítulo 9 "Amigas para sempre "

Capítulo 8

Muitas vezes uma consequência não é derivada de uma única escolha. Às vezes várias escolhas carregam a culpa por algo ruim que acabara ou deixou de acontecer.

É como essa situação que me vejo agora. Pedro é culpado por ter me deixado sozinha naquela noite, por ter me machucado e por estar me mantendo em sua casa à força. Mas nada disso teria acontecido se não fosse pelo meu pai drogado, que deixou que me levassem, carregando outra parte da culpa. Mas ele não chegaria a esse ponto se não fosse por mim... Se a minha mãe não tivesse morrido com o meu nascimento... ele não chegaria a esse ponto. Então de certa forma, eu também carrego culpa pelo o que está me acontecendo.

Passei parte da noite em claro, pensando e tentando acalmar a tempestade em meu coração, tentando achar uma forma para lidar com tudo isso. Quando acordei fui surpreendida por um bilhete que estava ao meu lado na cama. Nele tinha o nome de Mia, e quando li o seu conteúdo senti um aperto no peito:

"Bom dia. Espero que esteja melhor. Precisei sair para resolver assuntos escolares, mas logo estarei voltando. Eu sinto muito por tudo Emma, eu fiquei apavorada ao pensar no que poderia ter acontecido com você ontem a noite, porém fiquei mais tranquila quando Ph voltou para casa após ter "interrogado" aquele homem e me falado sobre o que descobriu. Assim que eu chegar prometo que vou te ouvir, se quiser, é claro. Deixei comida para você na cozinha, e a porta vai ficar destrancada. Um beijo da sua mais nova amiga, Mia."

Um sorriso fraco aparece em meus lábios, ao mesmo tempo que a preocupação ronda a minha mente. Quer dizer, se Mia não está em casa, significa que ficarei sozinha com quem estiver aqui? Caso ele esteja, eu não quero esbarrar com ele. Por isso talvez seja melhor eu ficar aqui no quarto até que Mia chegue e eu possa finalmente comer.

Fiquei na cama por alguns minutos, mexendo no celular, até que meu estômago roncou e eu voltei a pensar na possibilidade de descer para pegar comida. Qual a chance de, se eu for rapidamente para baixo, ser vista por ele? Eu não quero pagar para ver o que ele quis dizer com aquelas palavras antes de sair desse quarto.

Caramba, não seria muito mais fácil se Mia apenas tivesse deixado a comida aqui, mesmo que ficasse fria?

Suspiro e resolvo descer a escada, olhando ao redor apreensiva. Até agora não ouço nada além dos meus próprios passos, porém quando me aproximo do fim da escada, começo a ouvir o som de uma risada. O que me deixa encabulada é o fato dessa risada me soar familiar, como se eu tivesse a ouvido durante boa parte da minha vida. Tento descer mais alguns degraus em direção a sala, apenas para ver quem ali está, até que ouço a voz de Pedro, dizendo algo de forma calma.

O meu coração acelera em meu peito, e levada pela adrenalina e medo, me viro de costas e tento fazer o caminho de volta sem fazer barulho.

- Olha ela. A Cinderela finalmente está acordada!

Tirando o fato da minha mente ter percebido que seria Bela adormecida ao invés de Cinderela, eu fiquei em choque por reconhecer a voz que estava sendo direcionada na minha direção.

Nathalia! Eu tenho certeza que se trata dela. Quando me viro de volta na direção dos dois, me pergunto o motivo dela estar aqui, ainda mais ao lado de Pedro, como se fosse uma visita agradável.

Ela estaria aqui para tentar me ajudar? Estaria enganando ele, ou ele descobriu que eu abri a boca e agora vai sumir com ela? Meu Deus, faria sentido depois do que ele me disse ontem sobre fazer com que eu me arrependesse das minhas palavras.

O sorriso que aparece em seus lábios revela que independente do que seja, ele está tramando algo que definitivamente eu não vou gostar.

- O que está fazendo aqui? - Pergunto para Nathalia, esperando que seja a primeira opção.

Ela levanta do sofá com um sorriso enquanto Pedro continua sentado me encarando. Eu apenas a observo confusa.

- Eu estive em sua casa essa manhã. - Diz ele jogando sobre a mesinha de centro uma caixinha que eu reconheço de imediato.

Essa é a caixinha que a minha mãe deixou para mim, onde guardo a carta que ela escreveu antes da sua morte, junto com algumas jóias que nunca tive coragem de usar. Baratas, porém com um valor sentimental enorme.

Dou um passo na direção deles, decidida a pegar a caixa, porém sou interrompida por Nathalia que diz de forma ríspida:

- Onde pensa que está indo?

A encaro sem conseguir entender a entonação da sua voz e o que realmente está acontecendo aqui.

- O que está acontecendo? Por que estão com essa caixa?

Pedro brinca com o anel em seus dedos com um sorriso de canto, como se tirasse sarro da minha cara.

- Estava debaixo da sua cama. Como você guarda algo tão "importante" como uma carta da sua mãe morta debaixo da cama?

Arregalo os meus olhos sentindo uma batida do meu coração falhar.

- Como sabe disso? - Pergunto já me sentindo nervosa, porém pelo seu sorriso enquanto me encara, não há muito o que presumir além do que óbvio.

Nathália apenas sorri pondo uma mão sobre o ombro de Pedro, e logo vejo ela sentar-se em uma das suas pernas, tirando qualquer dúvida que antes eu tinha.

- Por que está fazendo isso? Você não era minha amiga? - Pergunto com lágrimas nos olhos.

Ela apenas abre a caixinha e tira a minha preciosa carta junto com um colar de pássaros que segundo meu pai, era o que a minha mãe mais usava. E ela sabe disso! Sabe quanto é importante para mim.

- "Eu não mereço essa carta", "Minha mãe morreu por minha causa". Isso é o que você dizia, não é? - Ela murmura pondo o colar sobre o seu pescoço com um sorriso que agora me parece doentio. - Não acha que ele combina mais comigo?

Sinto minhas mãos tremerem à medida que ela fala.

- Meu Deus! Tudo isso é por controle? Apenas para mostrar que está no controle?! - Questiono alarmada esperando por uma resposta de Pedro, mas quem toma a frente é Nathalia.

- Ah, não começa! Primeiro que você sempre tem tudo o que quer, dessa vez não vou deixar que consiga tudo em suas mãos.

- O quê?! - Rio sem conseguir acreditar que ela está falando sério. - Eu tenho tudo o que eu quero? Acha que eu quero estar aqui? Eu sequer tenho o controle da minha própria vida!

Ela revira os olhos sem dar importância. Como ela pode agir assim sabendo de tudo da minha vida? Sabendo como é difícil lidar comigo mesma e por tudo o que venho passando durante anos? Depois de ter me visto tendo diversas crises de ansiedade, chorando e com falta de ar? Como pode agir assim depois de ver as marcas que eu fiz em mim mesma? Como...?

- Me poupe desse seu discurso de merda. - Ela diz entregando a carta para Pedro que apenas observa a nossa discussão com um sorriso de canto. - Esse colar... ele é o que a sua mãe mais usava, não é? Bem, você já disse tantas vezes que se culpa pela morte dela, então não pode merecer, não é?

Ela levanta e caminha até uma pequena lixeira próxima do sofá, segurando o colar em suas mãos.

- O que está fazendo? Era da minha mãe! Foi uma das poucas coisas que me sobrou!

Ela faz beicinho como se estivesse com pena de mim, porém logo um sorriso se desenha em seus lábios e ela olha para Pedro, como se pedisse permissão.

Sinto todo o sangue do meu corpo gelar, me impedindo de mexer sequer por um centímetro. Uma pontada na cabeça me lembra o desastre que vai ocorrer dentro de mim caso ela dê um fim a esse colar ou essa carta, que é o fio de esperança que me impede de fazer uma besteira comigo mesma. Que me faz ter vontade de viver...

Não consigo evitar de olhar para Pedro em silêncio, como uma súplica desesperada e silenciosa. Eu poderia fazer tudo o que ele quisesse...tudo... mas ele não pode deixar que ela faça isso!

- Pedro... - Sussurro sentindo uma lágrima deslizar pela minha bochecha.

Eu pude sentir uma certa fraqueza no fundo do seu olhar, mas isso não foi o bastante para que ele a impedisse...

- Ah, me dá isso aqui.

Ela pega a carta da sua mão e rapidamente a deixa em pedacinhos enquanto me encara com um sorrisinho. Eu a encaro com a boca aberta, sentindo meu coração se apertar no peito, uma dor como se eu tivesse acabado de levar uma facada. Eu gostaria de a pôr para fora, mas não consigo fazer nada além de encarar Nathalia e sentir a dor e escuridão me consumindo.

Ela ergue uma sobrancelha e enquanto eu encaro os pedacinhos de papel esvoaçando pelo ar enquanto cai lentamente, ela aproveita para torar a corda do colar com sua própria força.

- Assim está melhor.

O som do pingente de pássaros caindo do no chão por alguns segundos se torna algo mais intenso que o normal na minha cabeça, como um zumbido insuportável perto do meu ouvido.

As palavras que estavam escritas naquele papel... foram as últimas palavras da minha mãe para mim. E eu nunca vou saber os seus verdadeiros sentimentos quanto a mim, ou o que ela queria me dizer. Tudo isso por minha culpa... por conta da minha teimosia, de nunca ter a lido, nunca vou saber...

Acho que nunca me senti tão perdida... essa era a minha chance de sobreviver. Era o meu objetivo na vida, e agora ele está despedaçado bem na minha frente.

Uma forte dor na minha cabeça faz com que eu feche os olhos assim que ouço o som da porta da frente se abrindo. Porém não fico na sala para ver quem acabara de chegar, e apenas saio correndo, ignorando o murmúrio vindo de uma outra voz que eu bem conhecia. Mia estava ali, mas eu não quero continuar para que me vejam assim.

Não quero que me vejam... nunca mais.

Me tranco em meu quarto com lágrimas quentes deslizando pela minha bochecha. A dor na minha cabeça é tão intensa que eu grito de dor, a segurando e a pressionando enquanto tento manter a sanidade. Eu estou tendo uma crise... Eu só queria poder acabar com tudo isso, com toda essa dor. Eu tentei me convencer que havia uma chance de eu ser feliz caso eu recomeçasse, mas agora tudo parece perdido... Estou afogada em mais dor, e não aguento mais.

Sem que eu percebesse, eu estava jogando um vaso de vidro contra a parede, chorando desesperadamente enquanto tentava lembrar de um único momento em que fui importante para alguém, para que valesse a pena continuar nesse mundo cruel. Mas nada!

Ajudei Nathalia diversas vezes na sua vida, mas agora ela me odeia e me culpa por algo. Meu pai... mas ele nem faz questão de me ter por perto. A minha mãe está morta e Karen logo encontrará uma nova babá para a sua filha!

Eu não faço falta para ninguém... ninguém...

Encaro com lágrimas nos olhos os cacos de vidro no chão, e é quando as lembranças de quando cortei minha pele pela primeira vez vem na minha mente como um enorme soco. Lembro que foi quando tive a minha primeira crise de ansiedade depois de brigar com meu pai e ele jogar na minha cara que a culpa pela morte da minha mãe foi inteiramente minha. Eu quis morrer! Estava tão entorpecida pela culpa e dor que nem percebi quando comecei a me cortar, porém lembro que senti alívio, como se a dor física me fizesse esquecer da dor no meu coração. Então busquei por mais alívio...

Agora eu só queria que alguém entrasse por essa porta e me impedisse de fazer o que quero. Que me dessem uma chance de poder ser feliz, mesmo que eu nunca saiba o que a minha mãe sentia por mim. Eu só queria que alguém me dissesse que está tudo bem, e que eu sou importante... mas já era tarde.

Foi tarde demais quando me tranquei no banheiro com aquele caco de vidro afiado e comecei a encarar meu pulso. Foi tarde demais quando por dentro, eu já havia desistido...

Foi tarde demais para mim...

            
            

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