No império do Eldorado existe uma tradição que o casal deve dançar e no final da música se beijar, mas isso não acontecerá comigo.
Laurent recusou com a afirmação de que estava cansado, a única pessoa com quem ele realmente dançou foi Alice, no dia em que a conheceu.
Eu estava de pé, as empregadas andando de um lado para o outro como uma dança silenciosa. Uma ajustou o glamouroso vestido dourado no meu corpo, a outra colocou joias caras que acabara de receber do Marquês e assim sucessivamente, todas fizeram seu trabalho com perfeição.
Daquele dia em diante, não pouparia nenhuma despesa quando o assunto fosse eu mesma. Lembro que na minha vida anterior as empregadas não se importavam comigo, vivia trancada no escritório para administrar a contabilidade e com isso minha aparência se deteriorou quando cortei gastos com vestidos, joias e produtos importados, tirando minha autoridade e fazendo com que todos que trabalhavam lá me ignorassem.
Trazendo-lhe um prato de comida de má qualidade, criando fofocas sobre sua senhoria e não se curvando para mim, tudo seria completamente revertido com a minha chegada!
Assim que terminaram o serviço, todas saíram com uma reverência, eu dei um suspiro curto acompanhado de um sorriso enquanto dava uma boa olhada no quarto antes de sair.
A casa do Marquês, que originalmente pertencia ao meu avô, foi fruto de muitas lembranças felizes com minha querida mãe.
O quarto principal que um dia usei quando criança agora pertencia à Alice, e o de minha mãe era de Susana, mas um dia eu faria questão de expulsá-los daqui.
Desci lentamente as escadas acompanhada de Nina, a única coisa que se ouvia eram os sons das minhas sapatilhas na sala enorme.
Lá fora todos me esperavam, minha irmã cercada de empregadas, Susana e o Marquês.
Aqueles sorrisos falsos de Alice me irritaram. Ela foi a primeira a se aproximar e me abraçar gentilmente.
- Irmã, eu vou sentir sua falta - confessou melancolicamente.
- Não se preocupe, eu irei visitá-la sempre que sentir sua falta - Dei-lhe um sorriso e depois me afastei.
Voltei minha atenção para o marquês que estava ao lado de Susana, ela me observava com satisfação, como se imaginasse que além de me mandar embora da mansão, eu também viveria infeliz.
Curvei-me respeitosamente, tão graciosa quanto a etiqueta elevada que tinha conhecimento por viver lendo livros durante toda a adolescência da vida que me tiraram.
- Pai, mãe, chegou a hora, preciso ir agora para não me atrasar - levantei-me, fixando o olhar na destruidora de lares e no falso marquês - desejo-lhes muita saúde e prosperidade, não decepcionarei vocês.
E então, com um sorriso no rosto, entrei na carruagem ao lado de Nina, sinalizando para o cocheiro partir.
A viagem foi tranquila, uma onda de silêncio permeou minha mente enquanto escutava apenas o farfalhar das árvores e minha respiração ofegante, demonstrando o quão nervosa eu estava.
O dia em que todos zombaram de mim, apostando que logo estariam preparando meu funeral e queimando incenso.
A carruagem diminuiu a velocidade e então olhei pela janela para a bela residência que nos cercava.
Nina parecia surpresa, mas minha expressão permaneceu suave, eu já estava cansada daquele lugar, pode-se dizer conhecer tudo com a palma da minha mão.
Pouco tempo depois, desci os pequenos degraus, como na minha vida anterior, com uma dúzia de empregadas esperando por mim.
Dei uma boa olhada em uma das janelas, era exatamente onde ficava o escritório de Laurent.
Segurei em meu belo vestido, pressionando-o levemente com os dedos de ambas as mãos, e atravessei a grande porta.
- O mestre está esperando por você, Senhora - uma das empregadas afirmou.
Eu imediatamente parei, meu corpo estremecendo com o pensamento de que encontraria Laurent depois de tudo o que aconteceu comigo.
"Lembro-me perfeitamente que na época em que cheguei a esta residência, não o encontrei no mesmo dia, então por quê...?" Meus pensamentos se dissiparam com o discreto pigarro de Nina.
Eu imediatamente endireitei meus ombros e acenei para a criada que então nos levou para a sala de estar.
Quando entrei no local, voltei minha atenção para a silhueta de um homem parado na janela, de costas para mim, enquanto tomava outro gole de seu whisky caro.
- Sua graça, a senhora chegou... - e então, com essas meras palavras da empregada, quase imediatamente laurent se virou.
Ele fixou os olhos nos meus, os mesmos olhos que outrora me observavam com frieza, mas que naquele momento me lançavam um pouco de compaixão.
"Esqueci o quão bonito ele era devido a tudo o que aconteceu" pensei enquanto o observava se aproximar de mim naquele terno justo que absolutamente deixava seu corpo musculoso um pouco mais à mostra do que o normal.
Minha garganta estava seca, meu coração acelerado e minha respiração pesada, essa definitivamente era a chama sem fim que um dia desencadeou dentro de mim.
O desejo profundo de senti-lo, o que eu sempre quis, mas só Alice realmente tinha... O amor de Laurent.
Este homem tinha cerca de vinte e três a vinte e cinco anos, como era de se esperar, era extraordinariamente majestoso, com um ar assertivo que exalava um imponente senso de prestígio de alguém nobre.
- Então você é a Srta. Helena, filha do Marquês e minha noiva, certo? - Laurent franziu a testa, sua compaixão se foi tão rápido quanto meu desejo de ter seu amor pelo menos uma vez - devo dizer-lhe para não criar sentimentos ou expectativas sobre nossa união...
Atirei-lhe um leve sorriso no canto dos meus lábios e me aproximei com um aceno.
- Sinto muito se o fiz pensar dessa forma, mas para mim vossa graça nunca será mais que uma oportunidade para estabelecer minha posição na alta sociedade. - Olhei para sua expressão evidentemente surpresa e então caminhei até a porta.
Pela primeira vez o duque sentiu o que era ser rejeitado de alguma forma, ele provavelmente teria minhas palavras martelando em sua mente por um longo tempo.
Voltei minha atenção para uma de suas muitas criadas que estavam na sala enquanto mantinha a cabeça erguida para mostrar-lhes alguma autoridade como noiva do duque.
- Não precisa colocar outro prato na mesa para o jantar hoje à noite, não estou com fome. - ordenei com firmeza, saindo do local ao lado de Nina enquanto os olhos daquele homem permaneciam em mim.