Poderia ser até um vestido considerado simples, mas para aquela situação eu não poderia usar mais do que isso, senão não teria trajes adequados para nenhum evento social.
Desci o corredor, meu coração batendo forte enquanto caminhava lentamente para a sala de estar.
Eu estava chegando mais perto, o aroma do fettuccine de cogumelos me fez lamber os lábios. Aquele era um prato simples servido no almoço para pessoas com dinheiro, consistia em massa com molhos, temperos e diferentes tipos de cogumelos.
Normalmente meu almoço não chegava nem perto, o máximo que eu conseguia eram alguns pedaços de bacon e ovos mexidos.
As servas abriram o portão de madeira maciça, dei alguns passos à frente e me curvei suavemente em respeito.
- Mãe, desejo-lhe muita saúde e paz. Hoje vim acompanhar a senhora e minha irmã nesta pequena refeição da tarde. -
Ela assentiu com um sorriso falso e eu apenas sentei algumas cadeiras depois, tentando ficar o mais longe possível.
A encarei discretamente, apertando meu punho com força. Por que eu deveria chamar aquela puta de mãe? Em toda a minha vida tive apenas uma mãe, a legítima proprietária daquela residência!
Eu nunca conheci meu avô, mas quando criança minha mãe sempre me contava histórias sobre ele antes de me colocar para dormir. Até onde sei, ele se tornou um bom amigo do antigo imperador.
O antigo Marquês foi um homem com grande influência, propriedades, terras e mansões. Tudo foi passado para a filha Lilian Laviolette, que logo depois se casou com Franco, um nobre de família decaída.
O pai de Lilian acabou morrendo defendendo o império em uma guerra contra os bárbaros, e ela acabou tendo uma linda filha a quem deu o nome de Helena.
Os anos se passaram e sua saúde acabou piorando. Lilian não conseguia mais fazer nenhum esforço e, para sua surpresa, o marido que tanto amava tinha uma amante que também engravidou ao mesmo tempo que ela.
Com sua morte, todos os bens foram passados para o homem, desde terras, dinheiro e títulos. A amante e a filha ilegítima foram colocadas dentro da residência e tratadas com mais dignidade do que a própria Helena, que acabou se tornando a suposta bastarda em posição social.
Com o passar do tempo, até as empregadas deixaram de tratá-la com respeito, Alice tomou seu lugar no coração de seu pai e todas as oportunidades que teve fez questão de mostrar estar acima dela.
- Então irmã... - a bela garota me deu um sorriso caloroso - por que você está almoçando conosco?
- Por quê? - questionei categoricamente - não estou autorizada?
Alice foi pega desprevenida, ela parecia surpresa com minhas palavras e então deu uma risadinha enquanto tomava seu suco mais uma vez.
- Você deve estar brincando, certo irmã? - ela disse enquanto deslizava as mãos pelo cabelo - Eu só perguntei isso porque você se tranca no quarto e não costuma fazer suas refeições conosco.
Dei outra mordida no fettuccine de cogumelos enquanto observava as empregadas. Toda a atenção estava voltada para mim porque geralmente não saía do quarto.
- De qualquer forma, a partir de hoje estarei fazendo minhas refeições cotidianas aqui. - falei com satisfação ao notar seu olhar irritado.
Alice não estava nem um pouco feliz que eu a veria diariamente em todas as refeições. Mas o que ela poderia fazer? Era uma questão tão trivial, minha irmãzinha não poderia simplesmente me impedir, não importa quanta autoridade ela tivesse na residência do Marquês.
Olhar para ela me dava nos nervos, geralmente os vilões não eram tão bonitos, certo? Mas neste caso, aquela cadela era tão bela que poderia capturar o coração de qualquer homem poderoso.
Estava no meio de uma bomba-relógio, no futuro uma hesitação da minha parte colocaria minha posição como Duquesa em risco. Qualquer oportunidade de fazer Alice se curvar aos meus pés, eu faria com prazer.
Capturar o coração do duque não era suficiente, ele devia estar tão loucamente apaixonado que se ajoelharia e daria sua vida por mim. Aproveitando seu poder para alcançar o príncipe herdeiro, esta é minha chance de mudar meu destino de uma vez por todas.
Eu estava com inveja de Alice, ela era linda, elegante e graciosa, poderia ter qualquer homem que quisesse e mesmo nessa situação desfavorável eu não fiz nada contra ela em minha vida passada. Então, por que ela me odiava tanto a ponto de cobiçar o que era meu? Comparado com minha meia-irmã, eu não tinha nada, como aquela garota pôde ser tão miserável e armar algo contra a pessoa que a apoiou mesmo com inveja?
"Essas pessoas, todos eles... um dia vão se curvar a mim!"
- Helena! - a Sra. Susana chamou com firmeza - o que você está pensando para ficar tão desatenta?
Minha expressão séria anterior se dissipou e em seu lugar um sorriso caloroso se formou em meus lábios.
- Nada mãe, só pensei o quão delicioso o Fettuccine com Cogumelos é! - afirmei.
- Certo. O Marquês deve estar de volta em uma semana, prepare-se adequadamente para recebê-lo em vez de ficar confinada naquele quarto. - Ela franziu a testa enquanto falava, tomando outro gole de sua bebida.
Isso não foi um pedido, era uma ordem. E quando falou para 'preparar-me adequadamente', a marquesa quis dizer para não causar problemas e saber o meu lugar.
Levantei-me da cadeira e fiz uma leve reverência, depois caminhei até a porta.
- Não precisa se preocupar, ficarei tão quieta quanto um rato. - retruquei sutilmente, saindo logo em seguida e deixando o silêncio absoluto na sala.