Esse era o 4.º dia depois da minha viagem no tempo, e algo especial aconteceu. Não tenho certeza se é algum tipo de sonho interligado, ilusões ou apenas paranoia pré-retorno, mas lembro da vida anterior de alguém ou talvez seja até de mim mesma, são alguns fragmentos que insistem em confundir minha cabeça...
Pelo que entendi até agora, meu suposto nome era Sarah, uma estudante universitária e de uma família influente na cidade A do século XXI. Eu adorava ler livros e jogar otomes no meu celular e usava a universidade como pretexto para me divertir neste mundo ficcional.
Para falar a verdade, minha vida atual é muito parecida com o jogo favorito que Sarah tinha no celular, no começo era a saga de uma autora da 'internet' e depois ficou muito famoso a ponto de ganhar uma adaptação.
A história consistia na mesma situação em que vivo, para não dizer idêntica, uma das poucas coisas que mudou foi o nome de alguns personagens.
Uma bela dama chamada olívia como protagonista, com seus cabelos loiros platinados que chamavam a atenção onde quer que estivesse. Embora fosse a principal, ela "roubou" o marido de sua irmã que sofreu uma morte trágica por inveja e ciúmes.
Tanto no livro quanto na adaptação otome, a olívia que seria Alice, foi descrita como a mulher mais bonita e gentil de todo império, ela nunca provou ser ruim, porque as personalidades não combinam? Talvez ao fazer tudo isso, o autor teve outra ideia, algo que não era visível aos olhos simplistas. Para entender, era preciso se ver além das aparências...
A verdadeira vilã sempre foi a olívia, sua irmã era apenas uma garota maltratada pela madrasta e que perdeu a mãe muito cedo. Sem o amor do pai, viu a necessidade de ter o afeto de um homem e o mínimo carinho que o duque lhe proporcionou, foi o suficiente para se apaixonar.
Essa pessoa da minha memória morreu muito jovem, mas ela foi tão infeliz quanto minha situação atual.
Ninguém em sua família acreditava em sua capacidade e seu pai a via apenas como uma mercadoria de lucro e benefícios. Sua mãe morreu muito jovem, Sarah também tinha uma madrasta e um meio-irmão chamado Nathaniel que a molestou várias vezes secretamente.
A universidade era na verdade uma desculpa para sair da residência e evitar temporariamente qualquer casamento arranjado, os livros e otomes eram apenas uma diversão de longo prazo para esquecer os abusos constantes.
Pouco tempo depois, seu pai, influenciado pelo meio-irmão dela, decidiu tirar-lhe o direito de estudar e trazê-la de volta para casa. Ele tinha planos de casar Sarah com o filho mulherengo de um de seus acionistas mais importantes da empresa.
Sarah não aguentava mais ser abusada por Nathaniel e não ter o poder de decidir seu próprio destino, tendo uma overdose após ingerir vários comprimidos fortes de dormir na tentativa de parar todos os danos que sofreu.
- Ela perdeu a vida da forma mais trágica do que qualquer outra pessoa - cerrei o punho e cravei minhas unhas na palma da mão - não sei como estamos conectadas, se é uma ilusão ou uma vida passada, mas eu prometo que não vou deixar ninguém me controlar.
- Nina - chamei em alto e bom tom, então uma empregada entrou em meus aposentos.
Eu a observei com ternura enquanto ela caminhava em minha direção. Nina é minha empregada pessoal, antes de minha morte ela foi a única que continuou ao meu lado até o fim.
Apesar de jovem, sua morte foi precoce e na residência do Marquês. Alice a acusou de roubar uma de suas joias, não pude deixar de vê-la sendo punida conforme os gostos da minha irmã.
Nina levou 40 chicotadas e também foi entregue a alguns guardas como forma de entretenimento, ela não resistiu e no final morreu em minhas mãos.
"Desta vez, não vou permitir que a mesma coisa aconteça com você..." pensei interiormente, uma dor profunda penetrou em meu peito ao lembrar de tudo que ela sofreu por estar ao lado de uma senhora inútil como eu.
- Nina, escolha o vestido mais gracioso e ordene em meu nome que as empregadas coloquem um prato extra na mesa. Hoje, devo jantar com minha adorável madrasta e irmã. -
Ela ficou evidentemente surpresa, mas apenas acenou com a cabeça e caminhou até o meu guarda-roupa que estava no canto do quarto.
A surpresa dela era de se esperar, já que eu sempre fazia minhas refeições diárias aqui. Era meado de junho, meu pai saíra para trabalhar, eu me lembrava bem dessa época.
Quando voltasse na próxima semana, apresentaria a proposta de noivado.
Eu sabia perfeitamente que não havia como escapar daquele casamento arranjado e da troca entre mim e Alice. Mesmo que eu não tivesse uma decisão sobre o assunto, desta vez seria diferente.
Ainda amo o duque, mas agora com certeza o farei se apaixonar por mim e, quando isso acontecer partirei seu coração, fazendo-o sofrer o mesmo tratamento que sofri, a amargura da desilusão por parte de alguém que ama com todo seu coração.
Desta vez tive que pensar maior, não quero ser uma mera duquesa, quero ser a princesa herdeira deste vasto império.
Devo ter influência absoluta sobre os nobres e poder máximo para completar minha vingança.
- Não devo hesitar em usar ninguém para o meu benefício, não importa o meio e sim o resultado final... - falei baixinho para mim mesma com um sorriso presunçoso.