- Desculpe-me por ela irmã, mas minha serva relatou que há rumores de governantas que testemunharam sua criada pegar a joia que papai me deu e trazê-las para o seu quarto - ela retrucou, segurando minhas mãos enquanto seus olhos lacrimejavam - como meu presente realmente desapareceu, eu trouxe todos aqui para esclarecer o mal-entendido e provar sua inocência.
Alice era tão ruim em atuar, não conseguia nem esconder a arrogância que a dominava, esperando que minha pequena protegida desse sua vida por mim.
- Isso é improvável, e mesmo que seja verdade, sua empregada deve aprender boas maneiras - argumentei com uma expressão séria.
- De qualquer forma, agora eu tenho permissão para entrar, certo? - Alice sussurrou em meu ouvido. - Procurem!
Logo depois, inúmeras empregadas entraram no cômodo, vasculhando cada canto do local minuciosamente, tomando cuidado para não quebrar nada.
Todo o quarto estava imaculadamente arrumado, elas procuraram por algum tempo e acabaram não encontrando nada.
Com essa situação, o sorriso presunçoso de Alice desapareceu, fazendo-a vacilar ao encarar sua trêmula empregada.
- Bem, parece não haver nada aqui... - Argumentei enquanto olhava minha meia-irmã nos olhos.
Por sorte, antes que eles chegassem, encontrei o par de brincos dentro do guarda-roupa e então mandei Nina colocá-lo no quarto de Sarah, confidente de Alice.
Foi prazeroso ler sua mente através de sua expressão, perguntando-se o que exatamente aconteceu para o objeto não estar lá.
- Sinto muito por esse mal-entendido irmã, devo me retirar. - ela declarou com uma ligeira reverência.
- Espere! - levantei a voz, impedindo-a de sair com todos os olhos imersos que observavam a situação. - Você e sua empregada vasculharam meu quarto em busca do precioso presente de papai e não encontraram nada. Elas não deveriam procurar nos outros quartos? Talvez um dos funcionários se confundiu e era outra pessoa e não Nina
Peguei suas mãos delicadas que suavam frias, seu corpo tremia levemente, Alice tinha percebido que eu estava tramando algo, mas naquele momento não era mais possível fazer nada a respeito.
- Eu faço questão de acompanhá-la. Que tal começarmos com a empregada que fez a acusação? - Indaguei. - Mãe, o que a senhora acha?
Susana olhou brevemente para o Marquês que ainda estava solene diante da situação e assentiu.
Embora relutante, Alice foi obrigada a me acompanhar até os aposentos de sua criada. Afinal, ela tinha feito uma cena no meu quarto, tinha que me seguir sem reclamar.
Chegando lá, as empregadas que antes revistavam meu quarto, fizeram o mesmo com o da empregada pessoal de Alice.
E então, algum tempo depois, uma das figuras pegou algo debaixo das cobertas...
Um par de brincos de diamantes, tão lindos quanto o vasto céu azul. Todos que estavam lá ficaram chocados com a situação que estava acontecendo.
Naquele momento, Alice percebeu que o seu próprio plano havia de alguma maneira sido usado contra ela.
A bela jovem tinha apenas uma opção, colocar toda a culpa em sua empregada pessoal, caso contrário a situação se voltaria contra ela e, no final, ficaria evidente que havia armado para Helena.
Alice cerrou os dentes, virou-se e levantou a mão, dando um grande tapa na garota de uniforme doméstico padronizado.
- Como você pode tramar algo tão diabólico contra minha irmã? - questionou com uma voz estridente - Pai, como devemos lidar com ela?
"Uau, agora estou realmente impressionada com sua atuação. Ela realmente foi capaz de se livrar da empregada que esteve sempre ao seu lado, ao menos é bom para algo além de ser uma amante sem vergonha!" Falei interiormente para mim mesma, enquanto assistia à cena se desenrolar.
- Hum... Considerando a situação atual, que tal Helena decidir o que fazer? - O homem pigarreou - afinal, foi ela quem quase foi enquadrada.
Isso realmente mudou o jogo, o Marquês fez exatamente o que eu tanto ansiava...
Todo mundo estava esperando uma decisão, por um tempo me perguntei uma possibilidade de colocar uma pessoa do meu lado para servir a Alice, agora isso ficaria ainda mais fácil.
- Basta vender a empregada para um prostíbulo. - falei olhando para ela - quanto a uma nova empregada pessoal para minha irmã, deixe esse assunto comigo.
O marquês assentiu, parecia concordar com minha decisão. Não foi o mesmo para Alice, ela me encarou com aqueles olhos brilhantes, pude ver a raiva em sua expressão.
Eu tinha que encontrar uma maneira de resolver a situação com minha meia-irmã bastarda, explicar algo razoável para ela e fazê-la pensar que eu sou uma jovem ingênua e tola. Caso contrário, ela não confiaria em uma serva escolhida por mim ao seu lado, encontrando uma maneira de se livrar dela.
- Bem, já que está tudo resolvido, vamos voltar - respondeu Susana - quanto a esta empregada, façam o que Helena mandou.
Fiz uma reverência para minha madrasta e para o marquês e então dei alguns passos à frente.
- Vou me retirar. Eu estava prestes a me arrumar com a ajuda de Nina para dormir um pouco, estou muito cansada - afirmei com uma voz rouca.