Capítulo 4 Reunião em família

Se passou uma semana desde a última vez que almocei com Susana e Alice.

Era 21 de junho, início do verão. Nesse mesmo dia meu pai voltaria de viagem e apresentaria a proposta, acompanhado da influência de minha madrasta sobre ele para a decisão final.

Embora inevitavelmente a decisão sobre o casamento fosse inalterável, eu ainda poderia discutir a troca, assim não seria desmoralizada por ninguém nesta casa.

Meu vestido era rosa-claro com pequenas pedras brilhantes, acompanhado por um par de luvas brancas e um chapéu de couro para o sol.

Lembro-me perfeitamente deste dia, a data em que minha desgraça começou.

Inocente como qualquer outra garota que não conhecia a família que tinha, chorei e fiz uma cena para não me casar com o tirano do duque, mas no final troquei de lugar com minha irmã mesmo assim.

Para dizer a verdade, aquele casamento arranjado me pertencia desde o início como filha legítima do Marques. Mas se desde a morte da minha mãe ela foi trazida para esta casa e eu fui tratada como uma bastarda a ponto de nem as empregadas se importarem comigo, por que eu deveria ir no lugar dela?

Como minha madrasta e minha meia-irmã que provavelmente já estavam do lado de fora, eu me retirei da residência para esperar o marquês antes que alguma empregada viesse me chamar.

Nina estava me esperando na porta de dentro para me acompanhar como empregada doméstica.

Saí ao lado dela, o sol estava tão forte que me deixaria com tonturas se ficasse muito tempo ali.

Diferente de mim, Alice estava cheia de joias por todo o corpo e com várias criadas ao seu redor, seus movimentos mostravam majestosidade ao balançar o guarda-chuva rosa-claro que ela passará para a empregada segurar, achei estranho que a serva que sempre a acompanhava não estivesse ao lado dela, talvez algo tivesse acontecido.

Susana olhou-me com o cenho franzido, mas se recompôs quando notou uma carruagem tão bonita quanto ouro maciço, caminhando em direção à residência.

Logo, estávamos todas lado a lado, curvando-nos quando um homem alto e esbelto desceu com um sorriso.

- Bem-vindo de volta pai... - Falei tão baixo que soou como um sussurro, dizer 'essa palavra' para alguém que não me amava e apenas me tratava como moeda de troca era nojento.

O marquês apenas assentiu rapidamente. Quanto a Alice, a filha bastarda de sua amante, ela recebeu um abraço fraternoso, pegando o braço do homem e o escoltando para dentro da mansão.

Estava na hora do almoço, com Risoto de Quinoa Branco que veio com abobrinha, aspargos, alho-poró e muitas outras iguarias.

"Um verdadeiro banquete", pensei ao dar mais uma mordida no penne curry com azeite de trufas brancas, ou seja, uma massa que só os nobres poderiam provar pelo preço e alta qualidade.

- Comigo também trouxe uma proposta de casamento. - Todos na mesa se calaram com a iniciativa do marquês de desposar uma de suas filhas, mas as criadas tinham em mente que provavelmente não seria Alice, dependendo do status e influência do nobre.

Dei um sorriso sorrateiro, aquele velho era bom com as palavras, não demorou muito para trazer o assunto à tona.

- Um casamento arranjado por Vossa Majestade entre a jovem primeira senhorita da mansão do Marquês e o Duque Laurent. - ele continuou.

Ao dizer 'Primeira Senhorita da Mansão do Marquês', ele se referia à filha legítima, que, internamente, seria a posição de sua filha predileta.

Ao ouvir as palavras de seu pai, Alice estremeceu ao pensar em se casar com aquele homem que diziam ser um velho tirano, que devido a seus excessos de raiva mataria qualquer um sem misericórdia.

Embora fosse tudo mentira, isso era de se esperar, considerando que o homem nunca apareceu em público. Na minha outra vida depois do nosso casamento, ele comparecera em um evento social pela primeira vez e vendo o quanto estava errada, Alice fez de tudo para conquistá-lo e tirá-lo de mim.

Eu sabia que Susana estava prestes a abrir aquela maldita boca para ajudar sua filha bastarda, mas eu não a deixaria ter essa ideia desta vez para me humilhar como qualquer outra.

- Pai, aceito de bom grado este casamento. - Concordei gentilmente.

Alice pareceu surpresa, mas sua tensão diminuiu, assim como sua mãe, que aparentava ter diminuído um pouco menos sua raiva depois daquele momento.

- Bom, muito bom. Vejo que você está trabalhando duro para esta família Helena, farei os preparativos. - Ele argumentou com uma risada.

"De nada papai, garanto que também vou trabalhar duro para alcançar meu objetivo" pensei enquanto observava Alice sutilmente.

Então arregalei meus olhos tão azúis quanto um diamante lapidado quando notei que algo estava errado.

"Por que Alice não estava usando o presente que o pai deu a ela antes de sair de viagem? Lembro perfeitamente que ela esperou aquele dia para usá-lo" e então, apertei meu vestido com força ao recordar de um detalhe importante.

21 de junho, retorno do Marquês à residência e o furto de que Nina foi acusada, sofrendo as consequências logo depois.

Pensei tanto em como reagiria ao pedido de casamento que esqueci algo tão importante... A única serva que esteve ao meu lado antes do renascimento, não a veria morrer mais uma vez.

Era surpreendente que a empregada pessoal de Alice não estivesse ao seu lado todo esse tempo, este era o momento perfeito de distração.

Por ordem de sua senhorita, aquela criada colocaria a joia no meu quarto e tentaria me acusar de alguma forma, mas Nina diria que foi ela quem pegou a joia por interesses pessoais, deixando minha meia-irmã mais do que satisfeita com o fim horrível da empregada mais fiel que estivera ao meu lado.

- Pai, não me sinto bem, talvez seja por causa do sol. O Senhor sabe como minha saúde é frágil, então vou me retirar primeiro. - Levantei tentando me controlar ao máximo e fiz uma reverência, retirando-me logo em seguida.

Corri para o quarto segurando o vestido, Nina estava bem ao meu lado, aquela criança ingênua parecia bastante confusa com minhas ações.

Assim que entramos no quarto, fiz questão de trancar a porta e então rapidamente olhei ao redor.

- Nina, lembra das joias que Alice recebeu de nosso pai antes da viagem? Ajude-me a procurar em todos os lugares, não temos muito tempo. - Ordenei eufórica.

Sabia que esse dia chegaria, mas fui pega de surpresa, nem lembrava onde tinham escondido aquele presente. Nós não poderíamos demorar muito, sabendo que eu estava de volta ao meu quarto, Alice encontraria uma maneira de levar todos para o cômodo em um curto espaço de tempo.

Ajoelhei-me no chão para olhar debaixo da cama, a figura parecia atordoada, mas continuou procurando sem questionar.

E com isso, o tempo se passou, a hora havia finalmente chegado, em poucos minutos todos estariam lá para nos pegar em flagrante.

"Vamos Nina, lute por sua vida" pensei interiormente enquanto mordia o lábio inferior.