No entanto, a mulher à sua frente mudou de expressão quase que imediatamente, agora com uma carranca que revelava as rugas da idade em seu rosto maquiado.
Levantando-se do trono, a elegante senhora caminhou até sua filha e quando chegou perto o suficiente, segurou suas delicadas mãos.
- Filha, não seja boba, o amor não vai garantir a estabilidade de nosso povo e reino. - declarou melancolicamente, deixando a tristeza transparecer.
Amália olhou-a nos olhos, sabia o orgulho da mãe que definitivamente não faria isso se o reino não estivesse em risco. No final, era por esse mesmo motivo que sua filha deveria ir ao império de Eldorado para criar uma aliança, com o favor da família real que tinha total influência sobre todos os pequenos reinos e o maior exército militar, seus súditos prosperariam.
- Então, devo fazer o príncipe herdeiro se apaixonar por mim? - retrucou com um beicinho.
A rainha beliscou sua bochecha rosada, abrindo um fraco sorriso logo depois.
Por dentro ela estava orgulhosa por sua filha saber da situação difícil em que o reino estava e abrir mão de sua própria felicidade para garantir o bem-estar da família Allaire.
- Não bobinha, que tal pensarmos em um alvo diferente? Alguém que tenha tanto favor quanto o herdeiro de Eldorado? - murmurou.
...
O Duque percorrerá os exuberantes corredores do Palácio Real.
O belo homem franziu a testa ao ver a silhueta de uma jovem do outro lado do corredor, apertando os olhos para ver melhor enquanto dava passos lentos para fora da escuridão, a mesma sombra que escondia suas feições faciais.
Ao se aproximar, Laurent ficou surpreso com essa garota cujo nome ele nem sabia.
Aquele longo cabelo platinado nunca visto antes, que enquanto ela andava, deslizava sob o pequeno sopro de vento que vinha da janela aberta.
Olhos grandes, pele branca como a neve e um corpo esbelto, com todos esses detalhes, definitivamente herdeira de uma grande família. E caso sua aparência não fosse suficiente para supor que ela tinha um pai influente, bastava olhar para a maneira que andava, o vestido deslumbrante que usava e a quantidade de joias em volta de sua pele.
"O que essa pessoa está fazendo nos corredores do Palácio Real? Tem o apoio de alguém aqui?" pensou levemente corado.
Seus pensamentos se dissiparam e então ele impediu a desconhecida de atravessar para o outro lado, especificamente para o corredor onde alguns dos aposentos reais estavam localizados.
- Senhorita, desculpe minha ignorância e grosseria, mas posso saber seu nome? - questionou com uma reverência cavalheiresca.
A figura por um momento teve um acesso de raiva, mas todo aquele ódio se dissipou assim que olhou para aquela pessoa majestosa que embora com ações grosseiras, falou de maneira tão gentil.
Ombros largos, cabelo azul escuro e graciosidade até nos menores movimentos, realmente de tirar o fôlego.
"Considerando que é tão bonito e está no palácio, ele deve ser algum nobre importante" pensou consigo mesma enquanto retribuía a reverência respeitosamente.
A fragrância masculina daquele homem a deixou desorientada, uma presença tão intensa que encarava sem desviar.
Olhando discretamente para aquele seu terno vermelho fino, era perceptível o abdômen atlético e curvilíneo, o mesmo que lhe deixou engolindo em seco.
Traços firmes, sobrancelhas grossas, tudo o que sonhava em um cavalheiro, ela poderia até considerar fazer dele seu amante de serviços pessoais no futuro.
- Alice Laviolette, filha do Marquês Laviolette. - Ela respondeu com admiração nos olhos - posso saber o seu nome, nobre senhor?
A figura riu baixinho de sua formalidade, e então concordou com a cabeça.
"Então essa jovem é obviamente irmã de Helena. Eu devo tratá-la bem, nós somos uma família a partir de agora!" Considerou com o mais profundo respeito.
- Duque Laurent, chefe da família Montagne ao seu serviço. - declarou educadamente, fazendo uma pausa pouco depois. - Você é da família Laviolette, então deve ser a irmã da minha noiva. Agora, se me dá licença, preciso resolver um assunto pendente.
Antes que Alice pudesse dizer qualquer outra coisa em resposta, o homem curvou-se rapidamente e depois se retirou, deixando-a em completo choque.
Até onde sabia, os rumores diziam que o homem era feio e velho, como ele nunca aparecia em nenhum evento, ela definitivamente achava que aquela informação ridícula que corria por todos os círculos sociais fossem verdadeiras.
Seu corpo tremeu e então a figura caiu no chão ainda incrédula enquanto processava a informação que corria em sua mente.
No fundo ela estava zangada porque sua meia-irmã tinha conseguido um nobre tão majestoso quanto esse.
Desde o início ela poderia tê-lo, se não tivesse enviado aquela maldita em seu lugar para casar, o duque da família Montagne seria definitivamente seu.
- Não há motivo para esquecer meu propósito original por causa de um homem... afinal, escolhi um peixe muito maior do que aquela puta da Helena. - confidenciou tremulamente a si mesma enquanto apertava a seda do vestido sob o próprio corpo com as mãos.
Depois de um tempo, Alice se recompôs, levantando-se do piso de mármore com carpete vermelho e olhando ao redor para se certificar de que ninguém havia visto aquela cena tão humilhante.
Mas diante daquela situação inesperada, mal podia esperar pelo dia marcado para o chá entre as jovens aristocratas, o acontecimento que servia de pano de fundo para uma revelação. No fundo de seu coração o verdadeiro triunfo seria ver sua meia-irmã sofrer de forma miserável enquanto implora por clemência e esse desejo não estava muito distante de acontecer.